terça-feira, 12 de julho de 2011

Mãos em Prece - (Monja Coen)


"Ao acordar, amanhecer com as mãos em prece. Ao deitar, anoitecer com as mãos em prece. Dia e noite, noite e dia, mãos em prece. Qual a prece mais bonita, mais forte, mais querida?


Antes e depois de comer, de beber, de se lavar. Antes, depois e durante o encontro, a louvação, agradecimento, prece, oração.

Liturgia, orgia, casamento, união. Funeral, memorial, enterro, cremação. Prosa, poesia, canto, encanto, desencanto. Sor­risos tristes e alegres. Lágrimas do bem e do mal.

Ante Buda e todos santos, purificados, sagrados. Ante os Seres Iluminados. Iluminando as mãos.

Mãos de cuidar e de acolher. Mãos de escrever e de ler. Mãos de lavar, de plantar, de colher e comer. Mãos dos sem mãos. Mãos de mil mãos.

De mãos postas não podemos bater ou roubar. De mãos postas não matamos nem ferimos. De mãos postas ficamos simples, humildes, completos, íntegros.

Palma com palma. Sem bater e batendo palmas. Qual o som de uma só mão? Mão imensa. A mão de Buda. Somos a mão sagrada. Impossível pegar armas. Possível desarmar armadilhas.

Palmas com palmas. Lado a lado, a grande ciranda. Inter-religião. Todos unidos na grande festa da Terra.

Mãos em prece. O gesto de grande singeleza. Prece de ora­ção. Ora pro nobis. Por nós oramos. Oração que pede, que agradece. Entregando-se ao sagrado. Pede perdão e perdoa. Doando e sendo doado.

Reclama e inflama o peito de dor. Relaxa e encontra a paz do amor.

A oração do silêncio, em silêncio, que penetra o mais pro­fundo do fundo sem fundo do Ser.

Sendo as mãos em prece. Sendo a prece. Sendo as mãos. O corpo todo são as mãos. Os olhos são preces abertas. Chagas que absorvem as guerras, ataques, maldades. E não se fecham jamais.

Os olhos sãs mãos em prece. Juntando pedaços, retalhos. Amorosidade transcendente.

Seus olhos, meus olhos. Suas mãos, minhas mãos. Sempre em prece. Aquece.

Quem vê e quem faz. Mãos em prece.

Soluçando pelo sofrimento do mundo. Mãos em prece.

Agradecendo pelas graças desta vida. Mãos em prece.

Não dão murros. Mãos em prece.

São seguras. Acolhem, cuidam, doam, compartilham. Res­peitam, humildes apelos. Identidade, ora ação. Ação pura, sem intenção de ganho. Mãos em prece.

Coração em prece. Corpo-mente em prece. Mundo em prece. Terra em prece. Submundo em prece. Extraterrestres em prece. Universo em prece. 0 único verso, verbo ser - é foi será - ação.

Prece. Unidade. Atividade de receber, acolher, cuidar, com­partilhar. Não-dualidade em toda diversidade.

De mãos em prece agradeço a você que lê a minha pobre intimidade. Neste livro, nestes contos, nestas indagações e pro­cura, fui revelando, insegura, os segredos de mim mesma. São momentos de amargura, momentos de ternura.

Ofereço de mãos postas a toda humanidade. Se for de alguma valia, poderá se tornar uma pequena gota alterando a reali­dade.

Agradeço a Buda e a sucessão de monges, monjas, leigos e leigas, meus professores, mestres e mestras, família, DNA, criação, criaturas de todas as espécies, no caminho sempre.

Mãos em prece. Agradece"