segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Fazer Renascer o Natal - (Frei Beto)

"O melhor da festa é esperar por ela, diz o provérbio. O melhor do Natal é ter passado por ele, sentem muito sem dizer. É insuportável a fissura, a loucura e o desequilíbrio desencadeados pelas festas de fim de ano. O consumo e compras compulsórias de produtos, o apetite compulsivo de comilanças, a máscara da alegria estampada no rosto para encobrir o bolso furado, a corrida aos espaços de lazer, as estradas engarrafadas com mortes no trânsito e pedágios caríssimos, as filas intermináveis nos supermercados, os sinos de papel envoltos nas fitas vermelhas dos shoppings centers, aquela mesma musiquinha marota, tudo satura o espírito.


Seria este anticlima um castigo divino à nossa reverência à figura de Papai Noel?

Natal é pouco verso e muito reverso. Em pleno trópico e no verão, nossa imitação enfeita de neve de algodão a árvore de luzinhas intermitentes. O estômago devora castanhas, nozes, avelãs e amêndoas, quando a saúde pede saladas, legumes e principalmente jejuns e purificações.

Já que o espírito arde de sede daquela Água Viva do poço de Jacó (João 4), afoga-se o corpo em álcool e gorduras buscando, em vão, alimentar o vazio existencial. A gula de Deus busca, em vão, saciar-se no ato de se empanturrar na mesa.

Talvez seja no Natal que nossas carências fiquem mais expostas. Damos presentes sem nos dar, sem cuidarmos de nós, recebemos sem acolher, brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, damos a mercadoria um valor que nem sempre reconhecemos nas pessoas. No íntimo, os verdadeiros buscadores, estão inclinados à simplicidade da manjedoura. O mal estar decorre do fato de nos sentirmos mais próximos dos salões de Herodes, de nossas ilusões, medo e de sonhos que desistimos

No Brasil, este Natal é de Reis “magros”. A nação, condenada a sustentar todo tipo de parasitas, corruptos, governantes e economistas que sacrificam o povo, dá as costas às alegrias do presépio para trilhar, com recessão, salários diminutos e tributos aumentados; instituições incompetentes e falidas que cuidam de legislar a seu favor, o caminho do Calvário.

Sem que fôssemos consultados, o Brasil foi vendido ao capital da pirataria especulativa, que saqueia nossas bolsas, quebra nossas pequenas e médias empresas, leiloa nosso patrimônio público, dilapida nosso sistema de ensino e gangrena o da saúde, segurança e "justiça". E ainda nos insistem em nos convencer de que esta é a melhor rota para o futuro e que devemos votar naqueles que seqüestram nossos anseios de felicidade.

Mudemos nós o Natal. Abaixo o Papai Noel, viva o Menino Jesus! Em vez de presentes, presença – junto à família, aos que sofrem, aos enfermos, aos soropositivos, às famílias das vitimas de crimes, às crianças de rua, aos dependentes de drogas, aos deficientes físicos e mentais, aos excluídos.

Façamos da ceia, cesta a quem padece de fome e do abraço laço de solidariedade a quem clama por justiça. Instalemos o presépio no próprio coração e deixemos germinar Áquele que se fez pão e vinho para que todos tivessem vida com a fartura e a alegria.

Abandonemos a um canto, a árvore morta coberta de lanjetouras e plantemos no fundo da alma uma oração que sacie nossa fome de transcendência.

Deixemo-nos, como Maria, engravidar pelo espírito de Deus. Então, algo de misteriosamente novo haverá de nascer em nossas vidas."

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como atrair a felicidade para a sua vida - (Gilberto Cabeggi)

"Tudo o que existe em sua vida, existiu um dia em sua mente. Ou ainda, tudo o que você pode conceber, pode realizar. Isso lhe soa familiar?

Com certeza, você já teve uma ou mais experiências que comprovaram isso em sua vida. Basta buscar em sua memória e surgirão situações que se concretizaram em sua vida depois de você tê-las imaginado e desejado intensamente.

Seus pensamentos são a matéria-prima das suas realizações. Você pensa e deseja verdadeiramente e as condições para a realização dos seus desejos surgirão. Então, se você quer ser feliz, sinta-se feliz. Quando você mantém pensamentos felizes, atrai para si a felicidade.

Mas, se tudo é tão simples, por que existem tantas pessoas que se sentem infelizes? Simplesmente porque elas buscam a felicidade nos caminhos errados. Ou melhor, até buscam a felicidade nos caminhos certos, mas com as atitudes erradas. Lamentavelmente, a grande maioria das pessoas, quando questionadas se são felizes, apenas responde “Um pouco”, “Mais ou menos”, “De vez em quando”, “Não sei”, “Às vezes”, “Acho que sim”... Na verdade, poucos se sentem realmente felizes ou têm consciência da felicidade que possuem.

As pessoas acham que a felicidade não é possível e por isso sofrem muito. Por não acreditarem que podem ser felizes, arrastam-se pela vida, sem viver tudo aquilo a que têm direito e se negando a possibilidade de terem um relacionamento amoroso feliz, de serem profissionais realizados, de terem uma família harmoniosa, de gozarem de boa saúde, de serem mental e espiritualmente mais equilibrados. Reclamar só atrapalha. Se você pensa em coisas tristes, isso é tudo o que vai ter. Quando você reclama que não é feliz, ou não admite que o é, a felicidade fica de longe, apenas à espera do momento que você lhe der permissão para entrar em sua vida.

Pense por alguns instantes: quando você se sentiu feliz, o que havia em seus pensamentos? Apenas felicidade, é claro, associada àquela situação que lhe proporcionou aqueles momentos felizes. Não poderia ser diferente. Se você ousou, naqueles momentos felizes, arriscar um pensamento de tristeza, com toda a certeza a felicidade se desfez instantaneamente.

Mas não se assuste! A felicidade é assim tão volátil, mas é totalmente recuperável. Basta você lembrar que a contrapartida dessa situação também é verdadeira. Isto é, se você está triste, lembre de uma situação feliz e automaticamente passará a ser feliz.

Não existem impedimentos se o que você deseja é ser feliz. Apenas aqueles em que você acredita. Então, que tal rever, e até mesmo mudar, suas crenças quanto à felicidade e se candidatar a receber uma boa dose dela do universo? Acredite: a felicidade é para você também.

Mas, além de ter consciência do seu direito a ser feliz, é preciso também que você tome posse da felicidade. E, para ajudá-lo a fazer isso o mais rápido possível, tenho aqui algumas dicas.

Dica número 1: Goste daquilo que você tem. Para ser feliz, é imprescindível que você aprecie as coisas que já estão em sua vida. É importante ter sonhos e metas, sim. Mas não deixe para ser feliz apenas quando realizá-los. O agora é o seu momento de glória. E contém a sua possibilidade real de ser feliz.

Dica número 2: Deixe nas mãos de Deus. Para ser feliz é imprescindível que você tenha fé verdadeira e deixe que o Criador cuide do seu amanhã e da solução das dificuldades ditas “sem solução”. Não se trata de cruzar os braços e esperar que Deus resolva tudo. O que é preciso é entregar nas mãos Dele tudo aquilo que está fora do seu alcance resolver. As preocupações roubam a sua felicidade, por isso são inadequadas. A sua ocupação, amparada na fé, tem o poder de fazê-lo mais feliz.

Dica número 3: Saboreie as coisas boas da vida, apesar das possíveis dificuldades. Para realmente ser feliz é imprescindível que você reserve um espaço em sua vida para apreciar as coisas boas que existem ao seu redor. Se você ficar esperando que as dificuldades acabem para começar a viver feliz, sua vida vai passar sem que você a tenha desfrutado. É preciso que você entenda e aceite que as dificuldades existem e sempre existirão. Mas não são impedimentos para a sua felicidade.

Na verdade, não importa quais sejam os motivos que o levaram a crer na infelicidade. O que realmente tem importância é você saber que sempre é possível reverter essa situação. Que é possível passar a acreditar na felicidade e, como conseqüência, passar a ser mais feliz.

Os obstáculos estão aí para serem superados. E quando você os superar, novos obstáculos surgirão. Afinal, eles fazem parte da sua vida; eles são a própria vida. Superá-los faz parte do seu processo de tornar-se ainda mais capaz de alcançar a felicidade.

Você pode ser feliz. Tudo depende apenas da sua atitude. Tudo começa com o seu sentimento de gratidão pelo que existe de bom em sua vida e pela sua consciência de que tudo, inclusive as coisas que não lhe agradam, são obras suas.

Assuma a responsabilidade perante sua vida e seja grato por todas as oportunidades de crescimento que ela lhe oferece. A gratidão traz consigo o sentimento de satisfação e o torna mais feliz."



Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=12222
Gilberto Cabeggi é escritor, autor do livro “Todo Dia É Dia de Ser Feliz”, pela Editora Gente.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Entrega ... - (Elisabeth Cavalcante; baseado em texto do Osho)

"Entregar-se em confiança aos desígnios da existência, é uma das lições mais importantes que temos a aprender, em nossa jornada em direção ao autoconhecimento.


E um dos aprendizados mais belos também, pois nos torna ligados de forma indissociável ao mistério da vida, aquela dimensão sobre a qual não temos qualquer controle.

Mas, para isto, precisamos desenvolver uma fé inabalável e uma atenção permanente aos sinais que a vida nos envia. Sem isto certamente nos enredaremos nos artifícios e nas ilusões criados pela mente, e perderemos a chance de experimentar o melhor da vida.

Todas as vezes em que nos sentirmos perdidos, à procura de uma resposta para nossos problemas cotidianos, precisamos aprender a relaxar, permanecer em silêncio, à espera de que as respostas surjam de algum lugar.

E elas sempre surgem para aqueles que confiam, ainda que não seja no tempo desejado pelo ego. A impaciência e a ansiedade são os maiores inimigos da entrega, pois nos impedem de aguardar serenamente pelas respostas que desejamos.

Não por acaso a meditação é algo quase impossível para pessoas ansiosas. Muitas buscam nesta prática um antídoto para sua ansiedade, mas o primeiro passo que precisam aprender é permanecer em silêncio, sem qualquer expectativa. A ação neste caso se torna inútil e o maior obstáculo para que possam perceber as respostas que a intuição lhes envia.

Entregar-se significa desarmar todas as defesas e deixar que uma nova dimensão se abra para nós, aquela em que as palavras, assim como as ações, se tornam dispensáveis. É no silêncio que nossa verdadeira essência se revela."






"Existem coisas que só acontecem, que não podem ser feitas. O fazer diz respeito a coisas muito banais, mundanas. Você pode fazer alguma coisa para ganhar dinheiro; pode fazer alguma coisa para ser poderoso, pode fazer alguma coisa para ter prestígio; mas não pode fazer nada quando o assunto é amor, gratidão, silêncio.

É importante entender que o "fazer" significa o mundo, e o não fazer significa aquilo que está além deste mundo - onde as coisas acontecem, onde só a maré o arrasta para a praia. Se você nadar, a coisa não acontece. Se você fizer algo, estará na verdade cooperando para que ela não aconteça; porque todo fazer é mundano.

Muito poucas pessoas chegam a conhecer o segredo do não fazer e a deixar que as coisas aconteçam. Se você almeja grandes coisas - coisas que estão além do pequeno alcance das mãos humanas, da mente humana, das capacidades humanas -, então você terá que aprender a arte do não fazer. Eu a chamo de meditação.

....E a meditação significa basicamente o início do não fazer, relaxar, seguir a maré - ser apenas uma folha na brisa, ou uma nuvem se movendo no céu.

....Lao-Tsé chegou à iluminação sentado sob uma árvore. Uma folha tinha acabado de cair; era outono e não havia pressa; a folha voava ao sabor do vento, devagar. Ele observou a folha. A folha foi caindo até chegar ao chão, e enquanto observava a folha caindo e pousando no chão, de algum modo ele também foi se aquietando. Desse momento em diante, ele se tornou um não fazedor.

.... Todo o ensinamento de Lao-Tsé se assemelhava ao do rio: siga a corrente seja para onde ela for, não nade. Mas a mente sempre quer fazer alguma coisa, porque desse modo o crédito vai para o ego. Se você simplesmente seguir a maré, o crédito vai para a maré, não para você. Se você nadar, você pode ter um ego maior: "Eu consegui atravessar o canal da Mancha!"

Mas a existência o dá à luz, lhe dá a vida, lhe dá amor; lhe dá tudo o que é precioso, tudo o que não pode ser comprado com dinheiro. Só aqueles que estão prontos para dar todo o crédito pela sua vida à existência percebem a beleza e as bênçãos do não fazer.

....É uma questão de ausentar-se como ego, de deixar as coisas acontecerem. Entregue - essa palavra contém toda a experiência.

.....Criamos uma sociedade que acredita somente no "fazer", enquanto a parte espiritual do nosso ser morre à míngua porque precisa de algo que não se faz, mas acontece.

.... nós damos um jeito em tudo, transformamos tudo num "fazer" e o resultado final é que aos poucos a hipocrisia se torna uma característica nossa. Nós nos esquecemos completamente que se trata de hipocrisia.

E na mente, no ser de uma pessoa que é hipócrita, qualquer coisa do mundo do não fazer é impossível. Você pode continuar fazendo mais e mais; você se tornará quase um robô.

Portanto, sempre que você passar, subitamente, por uma experiência de acontecer, encare-a como uma dádiva da existência e faça desse momento o arauto de um novo estilo de vida.

Simplesmente reserve alguns momentos das 24 horas do dia, quando não estiver fazendo nada, simplesmente deixe que a existência faça algo a você. E as janelas começarão a se abrir para você, janelas que o ligarão com o universal, o imortal". (OSHO)

sábado, 20 de novembro de 2010

Mantras e Sons Vocálicos - (Luis Fabio Miranda, FRC)

"Encontramos certa confusão entre os termos Mantras e Sons Vocálicos - e com frequência uma simplificação ao apresentá-los ao iniciante como sinônimos - mas veremos que também é muito fácil diferenciá-los, principalmente através da forma de aplicação e dos seus objetivos específicos.


Ambos - Mantras e Sons Vocálicos - são ferramentas onde a base é o som. Muito já se falou sobre o poder do som. Várias tradições - inclusive indígenas - afirmam que ele é um elemento tão importante que estaria ligado à formação do mundo. Até mesmo a ciência refere-se a um "Big Bang", na origem ao Universo. Mas, afinal, o que é o som?

Para o ser humano, som é uma vibração aproximadamente entre 20 e 20.000 ciclos por segundo (medida também chamada de "hertz", cuja abreviação é Hz), propagando­se da fonte que o produz até estimular o tímpano, que transmite a informação ao cérebro, onde ela é interpretada. Outros animais têm faixas diferentes de percepção; no caso dos cães, por exemplo, eles conse­guem ouvir vibrações de até 100.000 Hz e assim podem ser chamados através de apitos inaudíveis para as pessoas. Além disso, há muitas espécies em que as orelhas se movem, ampliando a sua área de alcance. Nos morce­gos, elas captam o retorno das ondas que eles próprios emitem, permitindo o seu deslocamento preciso e alimentação, mesmo na total ausência de luz. Assim, genericamente podemos definir som como uma faixa vibratória que afeta de certa forma tanto a matéria quanto os seres vivos, vegetais, animais e o Homem.



O poder do som em nossas vidas

Todos sabemos muito bem o quanto somos influenciados pelo som, seja por aqueles bruscos, que nos alertam e mesmo protegem - como um estampido, uma buzina, um grito - ou pelos suaves e harmoniosos, que conseguem alterar até o nosso estado de espírito - como um riacho, um acorde, um canto. Especialmente a música, pode mudar nossa disposição, exaltando-nos, entriste­cendo-nos e mesmo nos emocionando até provocar lágrimas.

O som inclusive nos facilitou construir a linguagem, para estabelecer uma comunicação sofisticada com nossos semelhantes, num patamar incrivelmente superior aos demais seres vivos, sem a qual a civilização não teria tido as mesmas condições de surgir e se desenvolver tanto. A ciência avalia que o Homem, fisicamente, já possuía as caracterís­ticas atuais há mais de cem mil anos. A constituição do corpo e do cérebro não teriam mudado significativamente desde então. A civilização, porém, é bem mais recente; ela apareceu há cerca de dez mil anos, depois da estruturação da linguagem, que permitiu a transmissão do conheci­mento, de geração a geração e de povo a povo. Quando a linguagem ganhou a forma escrita, houve um avanço ainda maior, com a fixação do conhecimento e sua transmissão através do tempo e do espaço. Todo este processo culminou no mundo atual, onde minúsculos chips eletrônicos armazenam bibliotecas inteiras e pesquisadores comuni­cam-se instantaneamente, mesmo vivendo em países ou continentes muito distantes, podendo realizar trabalhos em conjunto ou complementares, evitando duplicidades e colaborando para o crescimento exponencial do conhecimento humano.

Mas, voltando ao som: a Tradição ensina que certas combinações sonoras são parti­cularmente eficazes no campo psíquico para atingir objetivos específicos, como o estado meditativo ou os patamares mais elevados da consciência. Aplica-se também aqui o fenômeno conhecido como ressonância, onde uma determinada vibração entra em harmo­nia com níveis de oitavas superiores, fora do alcance de qualquer ouvido.


Símbolo do OM,
considerado o Mantra
do qual se originaram
todos os outros.


Com relação aos sons da Tradição, podemos então analisar e comparar oriente e ocidente:

O termo "MANTRA" é original do sânscríto, combinando MAN (pensar) com TRA (instrumento). Mantras são sons, sílabas, palavras, frases ou mesmo textos, mais conhecidos como ferramentas para a meditação. São utilizados através da entoa­ção, mas podem ser também murmurados, mentalizados, copiados em papel, sempre com a mesma finalidade. Conforme o caso, a vocalização dos Mantras pode ser acompanhada por instrumentos musicais ou mesmo palmas. O resultado é semelhante ao de certas práticas ocidentais de orar até a exaustão: a repetição de sons, palavras e frases, após minutos e mesmo horas, induz determinado estado mental devido à mono­tonia, uma vez que um ato simples e contí­nuo provoca certa anestesia ou indiferença ao próprio ato, como já cientificamente provado. O objetivo de tal prática é suprimir a instabi­lidade da consciência e assim atingir a condição em que a mente está pura, vazia: consciente, mas não-reativa. E o que chama­mos "estado neurofisiológico da meditação". Mas há Mantras para induzir outras condi­ções como: relaxamento, sono profundo, concentração, alegria, exaltação, e ainda aqueles destinados a criar, proteger, energizar, purificar e até mesmo curar. Estima-se que esta prática tenha surgido há alguns milhares de anos, entre o povo do vale do Rio Indo, região noroeste da índia. Mas talvez não seja originária dali, porém tenha sido levada para a região por outra civilização mais antiga. Provavelmente, em tempos ancestrais, os Mantras constituíssem fórmulas mágicas, com a finalidade de afastar certas forças ou eventos e atrair aquilo que era desejado.

Quanto ao tamanho ou extensão, há dois tipos de Mantras: o primeiro é aquele simples, curto, até mesmo monossilábico, chamado BIJA (semente). Como exemplo, podemos citar o "OM", de suma importância, uma vez que ele é considerado "a palavra das palavras", "o passado, o presente e o futuro", ` o mundo inteiro, com tudo o que existe ou que venha a existir", "o Mantra original, do qual se originaram todos os outros". Há um poema antigo que diz:

OM é o arco
a ALMA é a seta
BRAHMA é o alvo
cumpre feri-lo
constantemente

O segundo tipo de Mantra é o complexo, longo, como frases ou textos védicos recita­dos em seu idioma original, o sânscrito.

Quanto aos efeitos, os Mantras podem ser JAPA (repetição) - para introspecção - ou KIRTAN (cântico) - para extroversão, festivos. A chamada "Meditação Trans­cendental", criada por Maharíshi Mahesh Yogi, que ficou conhecido mundialmente como o guru do grupo The Beatles nos anos 60 do século XX, baseia-se na repetição de um Mantra específico, pessoal, indicado por um professor e supostamente o mais ade­quado àquele que o utiliza.

Para os leitores que desejarem se apro­fundar no estudo dos Mantras, a Diffusion Rosicrucienne, da França (www.drc.fr), oferece um livro escrito por Thierry Guinot: "L;Univers des Mantras" (0 Universo dos Mantras), ainda não traduzido para o português. Embora possua 576 páginas, e pareça um tratado, com muitas ilustrações e diagramas, o livro propõe-se a ser apenas um resumo da vastíssima bibliografia existente sobre o assunto, principalmente no oriente. Muito didático, apresenta o conhecimento passo a passo, desde o conceito da "Palavra Perdida" - tão familiar aos estudantes de Misticismo - até a análise da origem, estrutura, tipos e aplica­ções dos Mantras. 0 texto vai além do princípio científico de que "o som é produ­to de vibrações", afirmando que o som existe por si mesmo, associado a cada fase dos mundos físico, psíquico e espiritual, sendo percebido desta forma direta por aqueles que desenvolveram tal capacidade. Assim sendo, as vibrações que ouvimos seriam apenas a liberação, em oitavas ressonantes inferiores, do que já pre-existe, podendo então ser captado pelo sentido mais grosseiro da audição. Em trechos muito místicos e mesmo poéticos, o autor faz comparações, mostrando o quanto a palavra é poderosa, seja quando é logos, que descende e cria, seja quando é prece, que ascende e reintegra.


Sons Vocálicos

Os Rosacruzes não utilizam Mantras em seus exercícios e experimentos, mas sim Sons Vocálicos. A Grande Loja de Língua Portuguesa disponibiliza um CD, que pode ser adquirido inclusive por não-Membros, com as entoações praticadas pelos estu­dantes da Ordem, gravadas na Câmara do Rei da Grande Pirâmide do Egito. Utili­zando tais sons, é possível observar de imediato que eles produzem uma sensação geral de bem-estar, pois todos são bené­ficos; alguns acalmam, tranquilizam, e outros tonificam, elevam a vitalidade.

Som Vocálico, ao contrário do que muitos pensam, não se refere à voz, como pode ser constatado através da consulta a um dicio­nário, mas sim às vogais, ou seja, aquilo que as pessoas em geral conhecem como A, E, I, 0, U, mas que os linguistas desmembram, em cada idioma, para uma análise detalhada, não necessária a este nosso estudo. Em inglês, fica ainda mais clara a exata signifi­cação da expressão e o fato de não se referir à voz: vowel sound (som de vogal) e não vocal sound (som vocal).

Desta forma, qualquer som que inclua pelo menos uma vogal seria um "som vocálico". Na verdade, quando não se utilizam as vogais costuma-se dizer que não temos "som", mas "ruído". Através do estudo e da experimentação, ao longo de sua história milenar, os Rosacruzes encon­traram doze Sons Vocálicos que estimulam os doze Centros Psíquicos do corpo. Para um perfeito entendimento do que são os Centros Psíquicos - e sua diferenciação dos chamados "Chacras" - sugerimos a leitura do artigo já citado no início deste trabalho. Os Sons Vocálicos Rosacruzes são os seguintes: OM, AUM, RA, MA, THO, EHM, EH, KHEI, MEH, EHR, MAR e THA. Cada um deles é entoado em nota musical apropriada. Existem mínimas variações sobre os doze sons e também há algumas combinações que podem ser feitas entre eles, gerando um tipo de cântico, como fica claro na audição do citado CD, que enfatiza a visualização para um melhor aproveitamento da sua prática.

Assim, a primeira diferença entre Mantras e Sons Vocálicos está em sua quantidade: há um número imenso de Mantras, porém existe um conjunto pequeno, bem definido, de Sons Vocálicos Rosacruzes.

Alguns estudantes da Ordem confun­dem Mantras com Sons Vocálicos princi­palmente porque o Mantra "OM" é usado pelos Rosacruzes como Som Vocálico. Porém, mesmo quando se utiliza o mesmo som, no caso, o "OM", a aplicação e o objetivo são muito diferentes.

Vejamos primeiro a diferença com relação à aplicação: o Mantra é repetido por minutos ou mesmo horas. Os praticantes utilizam inclusive o "japa mala" ("cordão de repetição", chamado também "rosário indiano"), um colar com 108 pedras, para acompanhar as séries que fazem. 0 Som Vocálico é entoado geralmente apenas três vezes (em alguns casos específicos, um pouco mais, mas em geral não chegando a dez repetições).

Com relação ao objetivo, como vimos, a função dos Mantras é conduzir um estado profundo de meditação, pelo fenômeno da monotonia, ou - no caso de um Kirtan - euforia, com base no mesmo principio. Outros Mantras têm outra finalidade: relaxamento, sono, concentração, alegria, exaltação, criação, proteção, energização, purificação, cura... Os Sons Vocálicos Rosacruzes são utilizados principalmente para estimular e desenvolver gradativamente e de forma segura os Centros Psíquicos, provocando certos efeitos desejados pelo estudante, ao longo do tempo, como a ampliação ou expansão da consciência, maior equilíbrio, paz, saúde e felicidade.

Este é mais um dos fascinantes assun­tos que fazem parte dos Ensinamentos Rosacruzes.


Autor: LUIS FABIO MIRANDA, FRC
Fonte: Revista – O Rosacruz

O rio e o oceano - (Osho)

"Diz-se que, mesmo antes de um rio

cair no oceano, ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada:
os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados,
e vê a sua frente um oceano tão vasto
que entrar nele nada mais é
do que desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.

O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano
é que o medo desaparece,
porque apenas então o rio saberá que
não se trata de desaparecer no oceano.
Mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento
e por outro lado é renascimento.

Assim somos nós.
Voltar é impossível na existência.
Você pode ir em frente e se arriscar .
Coragem!"

Palavras de sabedoria - O nome SAI - (Sathya Sai Baba)

O nome SAI


Numa de suas temporadas em Brindavan, seu segundo ashram, Sathya Sai Baba falou sobre si mesmo, em 19 de junho de 1974, explicando o significado de seu nome:

Ao redor de um guia espiritual, naturalmente se reúnem aqueles que querem obter experiência e conhecimento - este local, onde habitam o guia e os aspirantes, denomina-se ashram, na Índia. "Deus é inescrutável. Ele não pode ser percebido no mundo objetivo externo; Ele está no coração de cada ser. Pedras preciosas devem ser procuradas nas profundezas do solo; elas não flutuam em pleno ar. Procure Deus nas profundezas de si mesmo, e não na tentadora e caleidoscópica Natureza. O corpo é concedido a você para este elevado propósito; mas, você está atualmente fazendo um uso impróprio dele, como a pessoa que cozinhava sua comida diária na vasilha de ouro cravejada de jóias que chegou a suas mãos como relíquia de família.

O homem exalta Deus como onipresente, onisciente e onipotente, mas, ele ignora Sua Presença nele mesmo! É claro, muitos se aventuram a descrever os atributos de Deus e O proclamam como sendo assim e assado; mas, esses atributos são somente suas próprias suposições e os reflexos de suas predileções e preferências.

Quem pode afirmar que Deus é isso ou aquilo? Quem pode afirmar que Deus não é tal forma ou possuidor de tal atributo? Cada um pode adquirir da vasta extensão do oceano somente o quanto pode ser contido no vasilhame que levar até a praia. A partir dessa quantidade, pode-se conhecer um pouquinho daquela imensidão. Cada religião define Deus dentro dos limites que demarca e então alega conhecê-Lo todo. Como os sete cegos que falavam do elefante como um pilar, um abanador, uma corda ou um muro, porque eles entravam em contato com apenas uma parte e não podiam compreender o animal inteiro, similarmente, as religiões falam de uma parte e afirmam que essa visão é completa e total.

Só há uma religião, a Religião do Amor

Cada religião esquece que Deus é todas as Formas e todos os Nomes, todos os atributos e asserções. A religião da Humanidade é a soma e a substância de todas essas fés parciais; portanto, existe somente uma Religião e essa é a Religião do Amor. Os vários órgãos do elefante que, para os buscadores sem visão da sua verdade, pareceram separados e distintos, foram todos fomentados e ativados por uma única corrente sanguínea; as várias religiões e fés que se sentem separadas e distintas são todas fomentadas por uma única corrente de amor.

O sentido da visão não pode ver a Verdade. Apenas pode fornecer informação falsa e turva. Por exemplo, muitos observam Minhas ações e começam a declarar que Minha natureza é assim e assado. Eles são incapazes de avaliar a santidade, a majestade, e a realidade eterna que Eu Sou. O poder de Sai é ilimitado; manifesta-se eternamente.

Todas as formas de 'poder' residem nas palmas das mãos de Sai.

Mas, aqueles que declaram ter Me entendido, os intelectuais, os Yogis (praticantes de Yoga), os Pandiths (eruditos), os Jnaanis (sábios), todos eles estão conscientes apenas do menos importante, o casual, a manifestação externa de uma parte infinitesimal desse poder: os chamados 'milagres'! Eles não desejaram entrar em contato com a Fonte de todo Poder e toda Sabedoria, que está disponível aqui em Brindavan. Eles estão satisfeitos quando garantem uma chance de exibir seu conhecimento dos livros e alardear sua erudição em Ciência Védica, sem perceber que a Pessoa da qual os Vedas emanaram está entre eles, para seu próprio bem. Em seu orgulho, eles ainda pedem por mais oportunidades! Os Vedas são as Escrituras Sagradas indianas que contém os princípios e a sabedoria do Sanathana Dharma (Religião Eterna Universal), que constitui a raiz e essência de todas as religiões.

'Derrotas' experimentadas pelos Avatares são parte do Lila

"Avatar" significa "Encarnação Divina". Entenda melhor lendo o artigo "O que é Avatar".

É difícil traduzir em poucas palavras o conceito sutil de Lila. O mundo pode ser pensado como "Lila" no sentido de "Jogo Divino". Podemos pensar em "Lila" como "divertimento", "entretenimento" ou "brincadeira" de Deus. Este tem sido o caso, em todas as épocas. As pessoas podem estar muito próximas (fisicamente) do Avatar, mas, vivem suas vidas sem se dar conta de sua fortuna; elas exageram o papel dos milagres, que são tão triviais, quando comparados com Minha glória e majestade, quanto um mosquito é em tamanho e força, comparado ao elefante sobre o qual pousa. Portanto, quando vocês falam sobre esses 'milagres', eu dou risada por dentro, de compaixão, por vocês tão facilmente se permitirem perder a preciosa consciência da Minha Realidade.

Meu poder é incomensurável; Minha verdade é inexplicável, insondável. Eu estou anunciando estas coisas sobre Mim, porque a necessidade surgiu. Mas, o que Eu estou fazendo agora é apenas a dádiva de um 'Cartão de Visitas'! Deixem-me dizer a vocês que declarações enfáticas da Verdade por Avatares foram feitas com tanta clareza e tão inconfundivelmente assim somente por Krishna. Apesar da declaração, vocês vão reparar, na história do próprio Krishna, que Ele submeteu-se a derrotas em Seus esforços e empenhos, em algumas poucas ocasiões; vocês deverão notar ademais que aquelas derrotas também eram parte do drama que Ele havia planejado e que Ele mesmo dirigiu.

Por exemplo, quando muitos Reis suplicaram a Ele que evitasse a guerra com os Kauravas, Ele confessou que Sua Missão na Corte dos Kauravas para assegurar a paz havia 'falhado'! Mas, Ele não havia desejado que tivesse sido bem sucedida! Ele havia decidido que a guerra deveria ser empreendida! Sua Missão tinha a intenção de punir a cobiça e iniqüidade dos Kauravas e de condená-los perante o mundo inteiro.

Krishna foi um Avatar que viveu na Índia há cerca de 5000 anos atrás.

Nome da facção cobiçosa e iníqua que perdeu a guerra contra os virtuosos Pandavas, na batalha em que Krishna ensinou a Bhagavad Gita ao guerreiro Arjuna, guiando-o para a vitória.

'Não anseie de Mim triviais objetos materiais'

Agora, Eu devo dizer a vocês que, durante o advento deste Avatar Sai, não há lugar nem mesmo para tal 'drama' com cenas de fracassos ou derrotas! O que Eu quero, deve acontecer; o que Eu planejo, tem que acontecer. Eu sou Verdade (Sathya); e a Verdade não tem necessidade alguma de hesitar, ou temer, ou curvar-se.

'Querer' é supérfluo para Mim. Minha Graça, pois, está sempre à disposição dos devotos que têm Amor e Fé firmes e constantes. Desde que Eu me movimento livremente entre eles, falando e cantando, até mesmo intelectuais são incapazes de compreender Minha Verdade, Meu Poder, Minha Glória, ou Minha real Missão como Avatar. Eu posso resolver qualquer problema, seja o quão espinhoso for. Eu estou além do alcance da investigação mais intensa e da avaliação mais meticulosa. Somente aqueles que reconheceram Meu Amor e experimentaram esse Amor podem afirmar que vislumbraram Minha Realidade. Assim, o Caminho do Amor é a estrada Real que leva a humanidade a Mim.

Não tentem Me conhecer através dos olhos externos. Quando você vai a um templo e fica diante da Imagem de Deus, você reza de olhos fechados, não é? Por que? Porque você sente que somente o olho interno da Sabedoria pode revelá-Lo a você. Portanto, não anseie de Mim triviais objetos materiais; mas, anseie por Mim, e você será recompensado. Isso não significa que você não deva receber quaisquer objetos que Eu dê, como sinal da Graça oriunda da plenitude do Amor.

Eu devo dizer a vocês por que Eu dou esses anéis, talismãs, rosários, etc. É para sinalizar a ligação entre Mim e aqueles aos quais foram dados. Quando a calamidade cai sobre eles, o artigo vem a Mim num flash e retorna noutro flash, levando de Mim o remédio da Graça da proteção. Essa Graça é disponível para todos que Me chamam através de qualquer Nome ou Forma, e não meramente para aqueles que vestem esses presentes.

O Amor é a ligação que conquista a Graça.

Não existe criatura sem Amor

Considerem o significado do nome, Sai Baba. Sa significa 'Divino'; ai ou ayi significa 'mãe' e Baba significa 'pai'. O Nome indica a Divina Mãe e o Divino Pai, assim como Saamba-shiva, que também significa Mãe e Pai Divinos. Seus pais físicos exibem Amor com uma dose de egoísmo; mas, este 'Mãe e Pai' Sai derrama afeição ou reprimendas, apenas para levá-los rumo à vitória na luta pela auto-realização.

Desse modo, este Sai veio em função de realizar a suprema tarefa de unir a humanidade inteira como uma família através dos laços da irmandade, e de afirmar e iluminar a Realidade Átmica de cada ser para que se revele a Divindade que é a base sobre a qual repousa todo o Cosmos, e de instruir a todos a reconhecer a Herança Divina comum que conecta cada ser humano com cada ser humano, de modo que o ser humano possa soltar a si mesmo do animal, e elevar-se à Divindade que é sua meta. Referente a Atma, a Divindade, que reside em todos os seres e lhes dá vida.

Eu sou a encarnação do Amor; Amor é o Meu instrumento. Não existe criatura sem Amor; a mais inferior ama a si mesma, pelo menos. E este 'si mesmo' é Deus. Então, não existem ateístas, ainda que alguns possam não gostar dEle ou recusá-Lo, assim como doentes de malária não gostam de doces ou diabéticos recusam a ter qualquer coisa a ver com doces! Aqueles que se envaidecem como ateístas irão um dia, quando sua doença tiver passado, saborear Deus e reverenciá-Lo.

Eu tive que dizer a vocês muitas coisas sobre Minha Verdade, porque Eu desejo que vocês gostem de contemplar estas coisas e extraiam alegria delas, de modo que sejam inspirados a observar e cumprir as disciplinas estabelecidas por Mim e progridam em direção à Meta da Auto-realização, a Realização do Sai que brilha em seus corações."


Fonte:  http://www.sathyasai.org.br

Ouvir com o coração - (Sri Prem Baba)

"O trabalho que realizo acontece através do silêncio, e não das palavras. Utilizo as palavras como uma ferramenta - é o meu sacrifício, porque sei que você não pode compreender o silêncio.  Mas, aquilo que tenho para compartilhar só é possível através do silêncio.  Se você se prende às palavras, perde aquilo que estou transmitindo.  E somente se você estiver conectado a mim, através do coração, poderá receber o que estou transmitindo.


Utilizo as palavras com a esperança de que, pouco a pouco, você possa olhar para mim, para o meu interior; para que você possa me perceber verdadeiramente.

Aquilo que está sendo transmitido, o está sendo além da mente.  Se você tenta me entender com a sua mente, perderá algo.  Assim, procure escutar com o coração - apenas ouvir o que estou dizendo não lhe ajudará. As palavras não promoverão transformação. Você tem lido tantos livros e ouvido tantos discursos e continua o mesmo.

O que promove a transformação é o poder que emana do coração. Então, leve o escutar para o plano do sentimento.  Não me ouça como quem assiste a uma aula, mas como quem ouve o vento, o canto dos pássaros, o rio correndo. Essa atitude evoca a presença e o coração, e assim você pode receber, e algo verdadeiramente pode acontecer. Só assim você é possível romper o círculo vicioso do amor imaturo gerado pela sua identificação com a mente.

O amor é a ponte.

Para isso, se faz necessário confiar, de ter um “quê” de fé.  Confiar é escutar com o coração, e não com a sua mente duvidosa, questionadora, julgadora. Não há problemas em querer continuar assim por mais algum tempo. Porém, a transformação só pode ocorrer se você abrir um espaço e se tornar vulnerável.

Se você se relacionar comigo como um aluno, se esforçará para aprender; mas não é certo que isso ocorrerá, porque você está tentando se melhorar, e essa tentativa está no futuro. Eu estou lhe dizendo que a única possibilidade de se melhorar está aqui e agora.

Só quando você abandona as suas tentativas de se melhorar, é que, de fato, melhora. Enquanto estiver agindo como um “aluno tentando melhorar”, nada poderá acontecer de verdade.  Quando você estiver se movendo em minha direção como um amante se dirige na direção de outro amante, algo poderá acontecer.  (risos)

Esse é um mistério da relação guru-discípulo.

Nesses dias, percebi-me apaixonado pelo meu guru, e nesse estado de amor eu bebia cada palavra que Ele me dizia, e pude perceber que as palavras não eram nada perto do que ele me estava transmitindo. Mas foi o amor que sinto por ele que me fez viver essa experiência. Enquanto estava me relacionando como um aluno, estava preso às palavras, tentando acertar e fazer direito; ainda havia uma criança ferida tentando ser importante - esse é um fenômeno que ocorre no plano da mente.

Mas o mistério só é revelado no plano do coração.  A vida não é algo para ser entendido com a cabeça: é um mistério a ser vivenciado e desfrutado.  E o único caminho que permite essa vivência é o caminho do coração. Mas, em algum momento, você se desviou desse caminho e se deixou envenenar pela sua mente. Você deixou o coração de lado.

Assim, a única possibilidade de achar a saída do labirinto da mente é por meio do coração. Não procure entender o que eu digo, apenas sinta o que transmito."

domingo, 14 de novembro de 2010

Desapego, Transitoriedade das coisas e Segurança - (Xamã Alba Maria)

"A Xamam, em seus 25 anos de trabalhos contínuos ,aprendeu a arte de estar com sua guiança e segui-La. Em momentos preciosos senta e partilha o que lhe é revelado. Em um jorro ardente de inspiração, as respostas às inquietas questões que os buscadores lhe apresentam são respondidas de forma tranquila e profunda. Usufrua de alguns desses momentos...








Buscador/a: Eu preciso te escutar falar sobre o desapego.
Alba: Desapegar-se é poder perceber o vazio interior que é preenchido pelo divino. O fazer porque é o tempo do fazer, mas não buscar no ato a perpetuação dele mesmo. Permitir que as forças do Universo dirijam a vida e tudo que nele existe, ser o rio que flui para o oceano que tudo acolhe e tudo sabe. Práticas simples podem ajudar neste aprendizado. O ato de podar uma árvore, ou cozinhar um alimento podem ser práticas extremamente reveladoras. Você pratica o ato e permite que o objeto se libere de você mesma, que a árvore siga o fio dela mesma, que o alimento seja ingerido por todos. Que você dê à luz ao seu/ua filho/a e permita que ele/a se vá. Porque você não é dono/a dele/a, você foi o suave instrumento para que ele/a pudesse vir a este planeta, mas verdadeiramente ele/a é filho/a da Existência. Na Índia eu vejo as pessoas desenharem mandalas nas portas todas as manhãs, e durante o dia as pessoas pisam ali, o vento leva o desenho, mas não importa, no dia seguinte lá estão os/as devotos/as fazendo aquela maravilhosa composição novamente O estado do desapego envolve você se libertar do outro, do olhar do outro, da crítica do outro, quebrar o espelho e tocar em si próprio/a.






Buscador/a: Alba, eu sei que quero mudar, mas quando dou o primeiro passo me bate uma insegurança e eu retorno ao meu conhecido jogo. O que devo fazer?
Alba: Essa é uma tomada de decisão muito séria. Mudar significa se conhecer, trilhar um caminho desconhecido, portanto sem nenhuma “segurança”. Eu nunca compreendi o que as pessoas chamam de segurança, porque a vida não nos oferece nenhuma segurança, Deus/a ou outro nome que se queira dar não assina embaixo do nosso cotidiano. Ele/a não nos diz:” olha, você vai viver com essa pessoa durante tantos anos, você vai viver até o dia tal, etc.etc.” Teu emprego não te dá segurança, pois o que é hoje, amanhã não é mais. Sendo assim, o que nos cega a ponto de estarmos sempre em busca de uma pseudo segurança? Será que é tão difícil para nós percebermos que estamos aqui, no planeta Terra como simples passageiros? Que por termos pernas e não raízes como árvores devemos sempre mudar, cambiar de valores, de espaços e de relacionamentos? Somos crianças brincando em um jardim de Deus/a e nos travestimos de adultos cheios de humores, mas sem nenhuma consistência espiritual. Confundimos tudo e podemos perceber isto em determinadas reuniões onde ser sério, sisudo, mal humorado é sinal de sensatez, de confiabilidade. Mas quem nos assegura que aquela seriedade, aquela sisudez não é sinal de doença, de uma prisão de ventre, de um sexo mal resolvido? Estacionamos na fase infantil emocional e espiritual, buscando um pai e uma mãe que nos assegure, que nos proteja dos perigos de assinarmos embaixo de nossos atos. Como crianças famintas em busca de super heróis, buscamos fenômenos, milagres, grandes acontecimentos sem termos a percepção de que o herói somos nós, a jornada é absolutamente de nossa inteira responsabilidade. Perdemos a capacidade de brincar, de rir e sonhar, porque estas virtudes ficam destinadas aos loucos e insensatos ou no máximo às crianças. Delegamos o ato de ousar, de gargalhar aos personagens que não levamos a sério. Isto é o que chamo insensatez, insegurança, porque Deus brinca, a vida brinca, a natureza gargalha e explode em festa e luz. Não existe segurança em nada, tudo é mutante, somos mutantes, somos seres em evidente e constante mutação. Imagine que somos energia materializada, nosso corpo é luz em alta densidade, somos átomos em constante e infinito movimento."




Fonte: http://xamaalbamaria.blogspot.com/search?updated-max=2009-07-16T00%3A40%3A00-03%3A00&max-results=8

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Qual é a linguagem do amor?!? - (Rosana Braga)

"Quando estamos vivendo um sentimento importante por alguém, desde um simples flerte, passando por um caso, um namoro, um casamento ou até uma separação... creio que as perguntas que mais nos fazemos são: Como agir? O que falar? Como falar? O que demonstrar e o que esconder? Devo escancarar meu coração ou fingir que nem ligo? Essas perguntas surgem especialmente quando o que sentimos não é correspondido!

Enfim, poderia resumir questões como essas numa única pergunta: qual é a linguagem do amor?

E eu diria que a linguagem do amor é a mais simples e, ao mesmo tempo, a mais complexa que pode existir... porque é a linguagem do coração! Mas cairia, inevitavelmente, num abismo, tão profundo e surpreendente que todas as nossas perguntas encontrariam-se novamente sem respostas prontas, óbvias ou fáceis de serem obtidas!

E isso aconteceria porque o coração de uma pessoa é o que ela tem de mais precioso e, ao mesmo tempo, mais distante... Tal qual um tesouro que Deus nos deu, mas com uma condição: para que possamos usufruir dessa riqueza, muito teremos de nos dedicar e de nos empenhar para desbravar o caminho do coração...

Portanto, diante de questões como as que citei acima, eu começaria dizendo que precisamos ir por partes! Primeiro, conseguindo entender e enxergar que nesse caminho até o coração (onde estão as nossas respostas), vamos colocando muitos obstáculos, milhares dele, sem nos darmos conta...

É como se eu dissesse que nossa mente cria, até como forma de se defender daquilo que não conhece muito bem, alguns inimigos para o coração, como o orgulho, a vaidade e o egoísmo. Esses inimigos agem em nossa mente, criando situações e nos fazendo imaginar pelo outro, tirando conclusões precipitadas e renegando os nossos sentimentos mais genuínos e puros.

Deixamo-nos contaminar por esses inimigos, tomamos atitudes mascaradas e, por fim, nos sentimos absolutamente insatisfeitos e tristes. Obviamente, na maioria das vezes, não percebemos que estamos permitindo essa contaminação... Pelo contrário, consideramos nossos sentimentos contaminados como legítimos e perdemos a essência, o contato com a fonte: o coração!

Devo admitir que diferenciar uma voz da outra é uma tarefa extremamente difícil e requer trabalho para toda a nossa existência. Confundimos essas vozes freqüentemente e fazemos isso porque o coração exige todo o nosso potencial, toda a nossa inteligência, tanto a mental quanto a espiritual e a emocional.

O coração conhece nossa verdadeira força e não aceita menos do que podemos, enquanto a vaidade e a tendência a racionalizar nos satisfazem com atitudes imediatistas, tomadas de emoções equivocadas e parciais, senão injustas e distorcidas.

A vaidade não nos deixa ver o essencial; o orgulho nos revela apenas sentimentos mesquinhos, pequenos e que não nos fazem felizes em hipótese alguma. Traz-nos apenas uma sensação de satisfação momentânea, mas logo depois nos remete ao vazio e à estagnação.

No entanto, quando conseguimos ouvir a voz do coração, sabemos que nossa felicidade não está no que nos fazem ou nos dizem. Está em nossas próprias atitudes, em nossos próprios sentimentos e em nossas próprias intenções.

Certamente escrever tudo isso é infinitamente mais fácil do que praticar, mas é uma questão de consciência, de treino. Como disse anteriormente, conseguir ouvir o coração é tarefa para toda nossa existência e errar hoje não anula nossa chance de acertar amanhã (e vice-versa). Todos nós sentimos raiva, nos deixamos ofender e magoar e isso é absolutamente humano e compreensível.

Talvez, ao ler esse artigo, você fique com a impressão de que não sabe ouvir o seu coração, mas a verdade é que todos nós sabemos e, ao mesmo tempo, não sabemos. Isto é, o coração sempre fala, mas o orgulho também sempre fala. Nós é que vamos, aos poucos, ajustando o som de um e de outro, até que consigamos deixar que o coração fale mais alto.

E isso não significa ser bobo, correr pros braços de quem já não nos quer ou insistir num relacionamento que já acabou... Mas significa parar de tentar encaixar nossas atitudes em regras, como se o amor fosse um jogo, onde um deve ganhar e o outro, perder!

O amor é o mais nobre sentimento que pode existir... E é nesse sentimento, que existe dentro do nosso coração, que devemos nos basear para fazer nossas escolhas, seja para tentar ou para desistir, seja para falar ou calar, mas sempre, sempre nos baseando no que realmente sentimos e não no que queremos fazer com que o outro sinta!"




Texto adaptado do livro Alma Gêmea
Rosana Braga é Escritora, Jornalista e Consultora em Relacionamentos Palestrante e Autora dos livros "Alma Gêmea - Segredos de um Encontro" e "Amor - sem regras para viver", entre outros.
http://www.rosanabraga.com.br/ e Comunidade no Orkut
Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=2928

sábado, 30 de outubro de 2010

Patañjali, o tântrico - (Pedro Kupfer)

"Recebi recentemente uma interessante mensagem de um praticante fazendo, em nome do Yoga tântrico, uma série da categóricas afirmações sobre o Yoga Sutra. Dentre outras coisas, afirmava o colega que a obra clássica de Patañjali não menciona prana, chakras, nadis nem kundalini. Como discordo completamente dessa opinião, escolhi deliberadamente o título provocativo deste texto, com o objetivo de instigar a curiosidade do amigo leitor em relação ao pouco conhecido vínculo entre o Yoga Clássico de Patañjali e o Yoga tântrico (do qual o Hatha faz parte). Digo isso porque chamar Patañjali de “tântrico” pode ser considerado uma blasfema em certos círculos de Yoga, já que há algumas pessoas que têm medo da kundalini e de todos os assuntos relacionados a esta força.


Assim como o praticante que me motivou a escrever sobre este interessante assunto, muitas pessoas estão acostumadas a ver o Yoga de Patañjali como algo distante das muitas formas de Yoga tântrico que são praticadas hoje em dia, das quais o Hatha é a mais conhecida. O fato é que o Yoga Sutra menciona sim, explicitamente, chakras, nadis e prana. No entanto, não dá aos chakras o nome de chakras, nem os lista na ordem ou segundo a nomenclatura que recebem do tantrismo. Igualmente, fazendo este texto alusão à kundalini, não usa esse nome para designar a força potencial que conduz à iluminação. Considerando que Patañjali viveu muitos séculos antes dos primeiros textos de Yoga tântrico serem escritos, acreditar que isso pudesse acontecer seria uma atitude inocente da nossa parte.

É sabido pelos estudantes de Yoga que diversos termos foram utilizados por diferentes autores para se referir aos mesmos princípios, como é o caso da identidade entre Purusha e Atman, o que acontece, por exemplo, no próprio Yoga Sutra ou na Bhagavad Gita. Também é conhecido o fato de que certos termos mudam de significado de acordo com o contexto e a época em que são usados. Um exemplo é a palavra chitta, que no Yoga Sutra de Patañjali designa o complexo intelecto-ego-mente, e no Tattva Bodha de Shankaracharya, a capacidade de lembrar. Neste caso, a linguagem que Patañjali usa para se referir àquilo que o tantrismo chama de chakras, nadis e kundalini, é bem diferente do vocabulário dos próprios textos tântricos, como era de se esperar.

A modo de introdução poderíamos dizer igualmente que o chamado Yoga tântrico, do qual nasceu o Hatha, possui uma riquíssima linguagem figurada, chamada sandhabhasha, “linguagem crepuscular”, ou ainda abhiprayika vachana, “afirmação intencional”. O obscuro desta linguagem, cheia de metáforas que são de difícil compreensão se não tivermos à mão os códigos corretos para decifrá-las, pode levar o estudante a pensar que está diante de algo totalmente diferente da tradição maior do Yoga, representada pelo Yoga Sutra e os textos anteriores a ele. Assim, kundalini, que simboliza o despertar da consciência, é descrita como uma serpente ígnea que “dorme” no centro de energia da base da coluna vertebral, chamado muladhara chakra. Os chakras são centros de força vital que se encontram ao longo do eixo central do corpo, e estão ligados por uma série de canais energéticos chamados nadis, que coincidem em grande parte com os meridianos da energia mencionados na medicina chinesa.

No entanto, o fato da iluminação ser comparada nos textos tântricos à ascensão de uma serpente de fogo pelo canal central de energia que é a contraparte sutil e vital da coluna vertebral, não significa que os humanos tenhamos uma cobra guardada na ponta inferior da coluna vertebral que pode explodir a qualquer momento. O fato dos chakras serem descritos nos textos como “rodas” de energia não significa que esses dispositivos vão aparecer numa ressonância magnética, como alegam alguns céticos que tentam desqualificar este sofisticado modelo do psiquismo humano. Kundalini, chakras e nadis devem ser corretamente compreendidos: eles são representações simbólicas da potencialidade psíquica humana, que deve ser cuidadosamente desenvolvida.

Alguns praticantes de Tantra Yoga tendem a enxergar a si próprios e ao sistema que professam como algo isolado da tradição maior. No entanto, o vínculo entre a visão tântrica e o não-dualismo do Vedanta, que permeia todas as escrituras do Yoga, aparece já nas primeiras Upanishads. A Katha Upanishad (II:1,10) afirma: “O que está aqui, está lá; o que está lá, está igualmente aqui”. Ora, acontece que este ensinamento é praticamente idêntico ao que aparece num texto medieval tântrico chamado Vishvasara Tantra: “O que está aqui, está em toda parte. O que não está aqui, não está em parte alguma”.

O grande estudioso indiano T. M. P. Mahadevan, afirma em sua obra Outlines of Hinduism (p.180): “No Kularnava Tantra, Shiva diz a Parvati que não há diferença entre a filosofia religosa do Tantra e a verdade do Veda: tasmati vedatmakam shastram viddhi kaulatmakam priye: “Portanto, Ó querida, saiba que a Escritura que é da natureza do Veda é da natureza do Tantra”.” Fica assim, portanto, estabelecida a relação entre o Tantra e o conhecimento ancestral dos Vedas, que é claramente não-dual.

É verdade que o Tantra resgata elementos ancestrais, que datam do culto à Magna Mater, a Grande Deusa, cujos elementos estão presentes ao longo do continente eurasiático desde o paleolítico. Há alguns meses foi achada na Alemanha mais uma escultura da Grande Deusa feita de marfim de mamute, que data de pelo menos 35.000 anos atrás, batizada “Vênus de Hohle Fels”. No entanto, não devemos pensar que a literatura do tantrismo seja oriunda daquela recuada data. Aquilo que chamamos Tantra, segundo o estudioso Mircea Eliade (Yoga: Imortalidade e Liberdade, pág. 171), surgiu entre os séculos IV e VI da nossa era. Admite-se atualmente que os textos daquilo que conhecemos hoje como Yoga tântrico tenham surgido a partir do século IX d.C. Dentre eles, os mais importantes são o Kularnava, o Kalachakra, o Guhyasamaja, o Vishvasara, o Sadhanamala, o Mahanirvana Tantra e o Satchakra Nirupana, este último atribuído ao sábio Purnananda Swami de Assam, e datado do século XVI. Ou seja, todos estes textos são muito posteriores, mas muito mesmo, à obra de Patañjali, que data do século IV a. C.


O Yoga “tântrico”, antes de Patañjali.
Se, por outro lado, continuarmos nossa procura pelo Yoga de inspiração “tântrica” nas Upaniads, iremos nos encontar com algo muito parecido com ele na Shvetashvatara, a “Upanishad do Cavalo Branco” (shveta = “branco”, ashva = “cavalo”), uma das primeiras e mais importantes. Vejamos alguns poucos trechos deste shastra: “Mantendo o corpo firme, como as três partes eretas [tronco, pescoço e cabeça], o sábio dirige os sentidos e a mente ao interior do coração. Brahman é o barco em que ele atravessa o rio do medo.” (II:8). “Controlando sua força vital (prana), com seus movimentos controlados, o sábio inspira pelas narinas, com a respiração restringida. Livre de distrações, que ele controle sua mente, como o condutor controla os cavalos rebeldes.” (II:9). “Não conhece doença, velhice nem sofrimento aquele que forja seu corpo no fogo do Yoga. Atividade, saúde, libertação dos condicionamentos, circunspeção, eloqüência, cheiro agradável e pouca secreção, são os sinais pelos quais o Yoga manifesta seu poder.” (II:12-13).

O primeiro parágrafo faz clara alusão à importância do alinhamento postural durante a prática de Yoga. Uma das maneiras mais eficientes de se manter a conexão com o coração mencionada no texto, é justamente cultivando-se uma postura ereta e relaxada. A segunda citação deixa clara a conexão entre pensamento e respiração, outro dos temas fundamentais do Hatha. Essa conexão aparece de forma clara na Hatha Yoga Pradipika (II:2): “Enquanto a respiração (prana) for irregular, a mente permanecerá instável; quando a respiração se acalmar, a mente permanecerá imóvel e o yogi conseguirá a estabilidade. Por conseguinte, deve-se controlar a respiração [praticando-se o pranayama]”. Em outro trecho (IV:21), a mesma obra afirma: “Aquele que detém o alento, detém também o pensamento. Aquele que domina o pensamento, domina igualmente o alento.”

A idéia de forjar o corpo no fogo do Yoga, presente no terceiro trecho aqui citado, é central à prática do Hatha, que busca a transubstanciação do corpo mortal em um corpo divino, com a dureza do diamante (vajradeha). Essa idéia está presente na Gheranda Samhita (I:24): “Assim como um jarro de argila crua, jogado neste mundo, o corpo decai rapidamente. É preciso endurecé-lo, forneando-o no fogo do Poder, para fortalecé-lo e purificá-lo”.

A “vitória” sobre o sofrimento, a velhice e a morte também é um tema recorrente na literatura do Hatha. A lista dos benefícios advindos da prática que aparece na Shvetashvatara Upanishad é similar em tom e conteúdo a muitas outras que aparecem nas obras posteriores: “A perfeição do corpo físico [manifesta-se como] beleza, graça, força, e a dureza e o brilho do diamante”, Yoga Sutra de Patañjali (III:47).

“Quando se aperfeiçoa o Hatha Yoga, aparecem os seguintes sinais: agilidade física, brilho no rosto, manifestação da vibração sutil interior (nada), olhar penetrante e claro, saúde, controle do fluido seminal (bindu), aumento do fogo digestivo e total purificação das nadis”. Hatha Yoga Pradipika, II:78. Em outro trecho (III:30), esta mesma obra diz que certas práticas do Yoga “protegem contra a morte e a velhice, aumentam o fogo gástrico e proporcionam poderes paranormais (siddhis).”

A Katha Upanishad (II:3,16), um dos mais antigos textos de Yoga de que temos conhecimento, descreve um fenômeno curiosamente similar ao da ascensão de kundalini ao longo do eixo central da coluna vertebral, conforme descrita nos textos tântricos posteriores: ““A partir do coração, surgem os cento e um caminhos (nadis) da força vital. Um deles conduz ao topo da cabeça. Esse caminho conduz à imortalidade. Os outros, à morte”.

Desfazer o anáhata granthi, o “nó” energético do chakra cardíaco, é outro processo ligado ao despertar de kundalini que aparece citado na mesma obra (II:3,15): “Desfazendo os nós que estrangulam o coração, o mortal torna-se imortal. Essa é a síntese dos ensinamentos das escrituras”.

Da mesma maneira, a Maitri Upanishad indica a prática de pranayama como o meio mais importante para se alcançar a estabilidade da mente. O texto chega a mencionar a prática que seria conhecida posteriormente como khechari mudra, que consiste em recolher e elevar a língua, pressionando-a no palato mole, como forma de evitar que o bindu, néctar lunar, se disperse a partir do soma chakra. Esta é uma das principais práticas dos Yogas tântricos, como o Hatha e o Laya Yoga. Nesse sentido, concluímos que o Yoga tântrico não está separado nem é diferente de outros métodos como o Mantra ou o Ashtanga Yoga. Essas formas de Yoga, bem como outras não mencionadas, se entremeam e interpenetram num grau tão profundo que é quase impossível diferenciá-las.


De volta ao Yoga Sutra.
Como o amigo leitor já deve saber, o Yoga Sutra não é um texto para iniciantes. Assim sendo, o estilo em que está escrito evita, dentre outras muitas coisas, a descrição detalhada do processo do despertar de kundalini, bem como deixa de mencionar listas completas de itens como os cinco pranas, os sete chakras, etc. No entanto, as meditações e diferentes maneiras de usar chakras, nadis e pranas, estão listadas no terceiro capítulo, enquanto que a manipulação da energia vital (prana) e o fruto dessa prática, aparece com detalhes no fim do segundo capítulo. O manipura é chamado nabhi chakra ("chakra do umbigo", III;30), o anahata é chamado hrdaye ("do coração" III:34), o vishuddha é chamado kantha kupe ("poço" da garganta, III;31), o sahasrara é chamado murdha jyoti ("luz [que brilha] na cabeça", III, 33). Patañjali propõe, no sutra III:32, uma meditação na kurma nadi.

O primeiro dos sutras acima mencionados diz: “[Meditando sobre] o chakra do umbigo, ganha-se conhecimento sobre a estrutura do corpo.” O segundo ensina: “[Aplicando samyama na] região do coração [anahata chakra], o yogi adquire conhecimento de sua própria consciência”. O terceiro: “[Exercendo samyama sobre] o centro da garganta [vishuddha chakra], cessam a fome e a sede”. O quarto aforismo reza: “[Meditando na] luz do alto da cabeça [sahasrara chakra] obtém-se a visão dos siddhas, [seres que atingiram a perfeição]”. O último dos acima citados diz: “[Pelo samyama sobre] kurmanadi (meridiano da “tartaruga”, na traquéia), o yogi estabiliza seu corpo”. A kurma nadi, ou meridiano kurma, é o condutor do kurma vayu, a força vital responsável pela visão, o piscar dos olhos e a estabilidade, tanto corporal quanto emocional e mental. Ela é localizada entre a traquéia e a parte posterior da depressão jugular. O kurma vayu é bem conhecido na tradição do Yoga tântrico: uma menção a ele aparece na obra The Serpent Power (O Poder Serpentino), de Sir John Woodroffe (p. 78).

O prana é mencionado em I:34: “Ou, pela expiração e a retenção do prana [a mente pode igualmente estabilizar-se]”. O udana vayu, um dos cinco pranas, bem conhecidos pelos praticantes de Yoga tântrico, está mencionado exatamente com esse nome em III:40: “Pelo domínio do ar vital udana desenvolve-se o poder de levitação sobre a água, o lodo, os espinhos e demais”. Há uma série de cinco sutras, começando em II:49, que menciona explicitamente o processo de manipulação do prana através do pranayama, que curiosamente culmina numa interessante descrição da visão da “luz interior” (prakasha). Eles são os seguintes: “O pranayama consiste na regulação da inspiração e da expiração. [O pranayama consta de] modificações externas, internas ou retenção [da força vital]. É regulado por lugar, estação e número [e torna-se progressivamente] mais prolongado e sutil. O quarto tipo [de pranayama, chamado kevala kumbhaka] transcende as esferas interna e externa. Assim, dissipa-se o véu que encobre a luz [do conhecimento]... e a mente torna-se apta para a concentração”.

Até onde sabemos, kundalini ativa, dentre outras formas, se manifesta como uma luz brilhante, exatamente como descreve o texto acima. Devemos considerar que a descrição deste fenômeno nos Sutras seja apenas uma coincidência, em relação ao processo de despertar de kundalini que o Yoga tântrico ensina? Depois de estudar este texto com atenção, podemos concluir que o sábio Patañjali sim, menciona no Yoga Sutra os temas chakras, nadis e prana. Portanto, como praticantes de Yoga tântrico, acredito que não devamos desconsiderar o que Patañjali tem a dizer sobre aquilo que praticamos.

Afirmar o contrário é teimar em separar e ver de forma parcial e compartimentada uma tradição muito ampla e única, que se manifestou ao longo dos milênios de diversas maneiras e através de diversas linguagens simbólicas. Espero, com este texto e as comparações que ele apresenta, ter contribuído para o aprofundamento da correta compreensão dessa vasta, única e profunda corrente tradicional que é o Yoga. Acredito que, para essa compreensão, é de imensa utilidade perceber a continuidade dessa tradição para além das diferentes linguagens simbólicas que foram usadas ao longo do tempo para transmiti-la, ao invés de nos centrar nas diferenças, rótulos e métodos, que podem criar abismos entre os praticantes. Namaste!"



Autor: Pedro Kupfer - 01 de Janeiro de 2010
Fonte: www.cadernosdeyoga.com.br

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

As Carícias e o Iluminado - (José Ângelo Gaiarsa)

"Chega de viver entre o medo e a Raiva! Se não aprendermos a viver de outro modo, poderemos acabar com a nossa espécie.

É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante e competitivo, mostrar amor é... um mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar, cobrar... Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro- e pronto! O pesquisador B. Skinner mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos recompensados; aqueles baseado na dor precisam ser reforçados sempre senão desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de começarmos um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.

Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar - com o outro. Tudo tem que ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...

Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que as estrelas num céu invernal.

"Desejo", do latim de-sid-erio, provém da raiz "sid", da língua zenda, significando ESTRELA, como se vê em sideral, relativo às estrelas.

Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde vai, conhecer a direção...

"Gente é para brilhar", diz mestre Caetano.

Gente é, demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais complexa máquina neuromecânica do Universo conhecido. Diz o Psicanalista que todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência.

A mim parece que sofremos de mania de pequenez.

Qual o homem que se assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu primo..."Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que a nossa estrela determina.

O Medo - eis o inimigo.

O medo, principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos - sempre pronto a criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente dele.

Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele também pode tentar ser livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem correntes de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal - invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até elogiam!

Por que vivemos fazendo isso uns com os outros - vigiando-nos e obrigando-nos - todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado - pequenos, pequenos. Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos a ser, todos, anões. Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?

Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes, inaparentes, "normais"- normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego- melhor ainda. Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal...

Quem é o iluminado?

No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportável para todos os próximos, que são indignos.

Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade"(convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.

Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.

Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor, porque sorri e é feliz.

Como pode, esse louco?

Como pode estar - e viver! - sempre tão fora da realidade - que é sombria, ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados, desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...

Ah! Os outros...

(Fossem todos como eu, tão bem-comportados, tão educados, tão finos de sentimentos...) O que não se compreende é como há tanta maldade num mundo feito somente de gente que se considera tão boa. Deveras, não se compreende.

Menos ainda se compreende que de tantas famílias perfeitas - a família de cada um é sempre ótima - acabe acontecendo um mundo tão infernalmente péssimo.

Ah! Os outros... Se eles não fossem tão maus - como seria bom...


Proponho um tema para meditação profunda; é a lição mais fundamental de toda a Psicologia Dinâmica:

Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem se fomos bem tratados.
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se só fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos ou ele acaba.
Amar o próximo não é mais idealismo "místico"de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar ou liquidaremos com a nossa espécie.
Ou aprendemos a nos tratar bem - a nos acariciar - ou nos destruiremos.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias ... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu espelho!

Carícias... Envolvência ( quem não se envolve não se desenvolve...), ondulações, admiração, felicidade, alegria em nós - eu e os outros.

Energia poderosa na ação comum, na co-operação. Na co-munhão.

Só a União faz a força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse FAZER o que essas verdades nos sugerem, em vez de críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.

Nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - o nos danamos - todos juntos."




Fonte: http://www.agenciapar.com.br/

sábado, 2 de outubro de 2010

Karma é fatalidade? - (Pedro Kupfer)

"Na tradição shivaísta, Garuda, o deus-águia, aparece como guardião do deus Shiva. Um antigo texto chamado Shiva Purana conta que, uma vez, Garuda, montando guarda no alto do Monte Kailash, morada de Shiva, reparou num pequeno pássaro que cantava entre as rochas. O poderoso deus-águia ficou maravilhado pelo contraste entre a majestade da vasta cordilheira do Himalaia e a delicadeza dessa pequena criatura. Disse para si mesmo: 'Que maravilhosa é natureza! A mesma Consciência que criou as imensas montanhas, fez igualmente este pequeno pássaro, e ambos são igualmente admiráveis'.


Nesse mesmo momento, Yama, o Senhor da Morte, apareceu na distância, cavalgando seu búfalo negro. Garuda reparou que o deus da Morte, ao se aproximar, olhou com curiosidade para o pequeno pássaro ao passar, mas continuou andando, pois ia ao encontro de Shiva. Considerando aquele olhar de Yama como um presságio da morte para o pequeno pássaro, Garuda, cujo coração é cheio de compaixão, decidiu salvá-lo. Pegando com delicadeza o frágil pássaro entre suas poderosas garras, voou para muito longe, até a beira do rio Ganges. Lá, encontrou um lugar que lhe pareceu suficientemente seguro, com abundante água, vegetação e alimento. Deixando o pássaro sobre uma rocha, retornou para seu posto no alto do Monte Kailash.

Quando o Senhor da Morte estava retornando do seu encontro com Shiva, Garuda perguntou-lhe: 'Yama, quando você chegou, observei que se deteve para observar aquele pequeno pássaro. Posso saber porque?' Yama respondeu: 'Quando olhei para o pássaro, soube que ele iria imediatamente encontrar a morte nas mandíbulas de uma serpente píton. Como esse tipo de serpente não vive aqui, no alto do Monte Kailash, achei isso muito curioso'. Novamente, Garuda maravilhou-se, desta vez, pela inevitabilidade do karma.



Definindo o karma
Lendo esta historinha, podemos pensar que karma seja uma espécie de destino inevitável. No entanto, a idéia de karma como destino ou fatalidade está longe do que esta palavra sânscrita realmente significa. Karma quer dizer 'ação', e define não apenas as coisas que fizemos e fazemos, mas igualmente os resultados que derivam dessas ações. Esse termo é usado para definir o princípio de causa e efeito que rege todas as relações no universo. Esse conceito abrange absolutamente todos os feitos dos homens e suas conseqüências ao longo do tempo, em nível coletivo e individual.

A doutrina do karma é uma das mais profundas contribuições do pensamento oriental à humanidade nos campos da metafísica, a ética, a espiritualidade e a visão da relação entre o homem e o universo. Podemos definir o karma como uma lei de responsabilidade pessoal, da qual ninguém pode fugir, e que funciona por si mesma. A lei do karma nos ensina que qualquer ação que façamos inevitavelmente produzirá frutos. Dependendo da natureza das nossas ações, esses frutos serão bons ou não.

A intenção daquele que age determina o caráter moral da ação e suas conseqüências. Por exemplo, ferir alguém sem intenção não gera uma retribuição negativa no futuro. A visão que surge da lei do karma está baseada na razão e não na fé cega: ela fornece uma explanação razoável e racional para o sofrimento humano, já que se considera que o karma opera autonomamente, guidado pelo livre arbítrio de cada um e que, conseqüentemente, aquilo que somos hoje é o resultado do que fizemos ontem. Portanto, não há fatalidade ou destino marcado.

Podemos distinguir as seguintes regras na lei do karma:
1. Atos bons produzem frutos bons. Atos errôneos produzem resultados errôneos.
2. Boas ações conduzem à felicidade. Ações contra o bem comum levam ao sofrimento.
3. Quem age bem, torna-se bom. Quem age equivocadamente, sofre e faz sofrer.
4. Os resultados das ações são limitados. Portanto, os karmas se esgotam, cedo ou tarde.
5. Cada um constrói sua própria vida e seu próprio destino.
6. Aquele que realiza uma ação colhe inevitavelmente seus resultados.



Liberdade, ação e conseqüência
A lei do karma nos ensina que somos dotados de livre arbítrio e que cada um é responsável por seus próprios atos, e arquiteto do seu próprio destino. Precisamos aprender a usar a nossa liberdade em consonância com o bem comum, de maneira que possamos evitar machucar, ferir ou fazer sofrer os demais seres vivos: homens, animais e plantas.

Um antigo texto védico chamado Shatapatha Brahmana (VI:2:2:27), afirma que 'todos os homens nascem neste mundo moldados por si mesmos'. Isso significa que cada um traça seu próprio destino. As ações passadas podem condicionar o presente, mas nunca determinar o futuro de maneira fixa ou inamovível.

Aceitar com gratidão os resultados das nossas ações, quaisquer eles forem, é a essência do Karma Yoga, o Yoga da ação consciente. Podemos escolher o que fazemos, mas não temos escolha sobre os resultados das nossas ações, pois elas já aconteceram. Isso é regulado pela lei do karma. Não existem nem julgamento, nem juiz. Somente leis imutáveis.

Podemos usar nossa liberdade para definir o que fazemos, mas não temos escolha nem liberdade em relação aos resultados das nossas ações. Porém, o grande problema é que não sabemos disso, e ficamos o tempo todo tentando manipular os resultados. Ficamos constantemente tentando mudar aquilo que não pode ser mudado. Isso é uma fonte de infelicidade e sofrimento contínuo e nasce, em última análise, da incapacidade de perceber que existe uma limitação em nossos poderes, e uma diferença entre o que pode e o que não pode ser mudado.



Um mundo para chamar de seu?
É preciso compreender que não estamos no controle de nada. Nós não acrescentamos nem um só grão de areia às praias, não contribuímos com uma só gota de água à imensidade dos oceanos, nem sequer construímos nosso próprio corpo. Essas realidades foram recebidas por nós, seres vivos, junto com o presente da vida. Constatando isto, compreendemos que:
1. não controlamos a natureza,
2. não controlamos o que os demais fazem, e
3. não controlamos nossas próprias emoções.

Podemos aprender, sim, a administrar as emoções, mas não as controlamos. Não podemos nadar contra a corrente. Precisamos aprender a relaxar, respirar e ir com o fluxo. O mesmo vale em relação à maneira mais saudável de lidar com nossas emoções. Compreendendo isto, e honrando a fonte do oceano das emoções, poderemos eliminar as resistências internas e fontes de conflito, compreendendo que há coisas que precisamos aceitar como são por não podermos mudá-las (os resultados das ações), e que há coisas que podemos sim modificar (a escolha das ações que estamos fazendo agora).

Quando compreendemos que as leis da natureza regulam os resultados das ações, relaxamos, e vemos tudo como expressão da graça da criação. Assim aprendemos a aceitar em paz e com gratidão o que estiver fluindo em nossa direção, relaxamos e aceitamos tudo o que vem e vai, tudo o que ganhamos ou perdemos. Nunca cresceremos interiormente se não soubermos aceitar, se não pararmos de nos defender ou atacar, se não pararmos de ver o mundo como um lugar hostil.



Aceitação é a chave
A atitude de aceitação grata é o que abre o coração. Deveríamos aprender a aceitar, e esquecer crenças e padrões mecânicos como 'eu deveria ter feito isto', 'estou arrependido', etc. Ao invés disso, poderíamos pensar 'isto é o que eu fiz ou disse, e foi o melhor que podia fazer ou dizer, dadas as circunstâncias', ou 'sou totalmente perfeito dentro da minha imperfeição'.

Ao mesmo tempo, precisamos ter certeza de não estarmos fugindo às nossas responsabilidades, nem escapando das funções que devemos desempenhar, pois tanto as responsabilidades quanto as funções nos ajudam a crescer. Somente poderemos ser felizes ao aceitarmos as coisas como são, e aceitarmos a realidade como ela é. Assim, poderemos viver uma vida feliz e livre de conflitos, agindo de modo consciente, em harmonia com os valores universais e compreendendo as leis naturais, que regem toda a existência. Namaste!"



Autor: Publicado originalmente na revista Prana Yoga Journal: www.eyoga.com.br
Fonte: www.yoga.pro.br

Entrevista com o mestre Dalai Lama - (Adam Yauch)

Sua Santidade Tenzin Gyatso, o 14° Dalai Lama do Tibet, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1989. Adam Yauch é integrante dos Beastie Boys e co-fundador do Milarepa Fund. Texto gentilmente cedido por Adriano Morallis.

Adam Yauch: Poderia falar sobre a responsabilidade universal?

Dalai Lama: Eu acredito que o perdão, a bondade e a compaixão são qualidades importantes porque sevem como um fundamento para a calma e estabilidade mentais, e o futuro da humanidade depende disso. É meu dever, como cidadão deste planeta, contribuir o melhor que eu puder para a o bem-estar universal. A tecnologia está transformando o mundo em uma comunidade global e todos nós estamos relacionados uns com os outros. Muitas das questões atuais, tais como a destruição do meio ambiente e os sistemas econômicos em vigor, transcendem as fronteiras e portanto são questões globais. Então, todos precisam compartilhar de um senso de responsabilidade universal. Sempre achei que as pessoas são as mesmas, em todos os lugares. As diferenças de raça, cultura e religião não são importantes. Já que somos todos os mesmos, precisamos ter um senso de responsabilidade pelo bem-estar de cada um.

AY: E como poderíamos ver o entendimento budista de interdependência nos termos de direitos humanos?
DL: A violação dos direitos humanos hoje é um sintoma com causas subjacentes; então, para reduzir ou remover completamente as violações dos direitos humanos, precisamos lidar primeiro com suas causas. Poderiam ser motivos políticos ou econômicos. Em alguns casos, as violações de direitos humanos podem ser baseadas em vingança pessoas ou por parte dos governantes. Então, poderiam haver muitos motivos subjacentes para as violações dos direitos humanos.

AY: Poderia falar um pouco sobre a situação do Tibet?
DL: Sim, mas primeiro devemos achar alguma base comum para o nosso diálogo e nossas negociações. Estou pronto para negociar, em qualquer lugar, a qualquer hora, sem pré-condições. A coisa mais importante, em qualquer lugar ou hora, é um ambiente livre para trocar diferentes idéias. A independência pertence legitimamente aos tibetanos. Desde que os chineses ocuparam o Tibet, e apesar de algumas mudanças positivas, as pessoas têm sofrido tremendamente, imensamente. Como resultado, a maioria do povo tibetano, incluindo os jovens comunistas tibetanos, não querem viver sob a dominação chinesa. Mas também não é realista pensar na independência completa. Então, eu estou procurando um Caminho Intermediário.

AY: Nós não estamos esperando muito para lidar com esta situação?
DL: No conflito bósnio, senti que a comunidade internacional estava atrasada. Estes eventos infelizes tinham muitas causas e condições que tomaram anos para se desenvolver. Se tivéssemos tomado conhecimento na época em que estas causas e condições estavam se desenvolvendo, talvez teria sido muito mais fácil lidar com elas. Exceto se nós fizermos uma investigação no nível causal, exceto se nós tivermos uma atenção específica, muitas vezes não é muito visível o que está errado. Não é sempre óbvio que as causas estão construindo uma crise potencial; depois percebemos que deveríamos ter tido maior atenção com o que estava acontecendo.

AY: Eu ouvi você dizer, em entrevistas anteriores, que as autoridades chinesas, apesar de terem causado tanto destruição no seu país, têm sido um grande mestre para você. Muitas vezes, no Ocidente, é realmente mais fácil ver seus inimigos como inimigos e seus amigos como amigos.
DL: Os conceitos de "amigo" e "inimigo" realmente dependem de muitas condições. A verdade é que o status de nossos amigos e inimigos pode mudar em um ano, uma década ou muitas décadas. Nossos inimigos não são necessariamente inimigos permanentes, nem nossos amigos são amigos permanentes. Acho que nossas percepções de "amigo" e "inimigo" dependem de nossas atitudes mentais. Na realidade, inimigos e amigos não possuem um status permanente. Por causa disso, você pode se encorajar em práticas de troca de idéias, que podem permitir que você faça a mudança dentro de si.

AY: Os não-budistas podem praticar essa troca de idéias?
DL: Os cristãos acreditam que todos os seres foram criados por Deus; então, mesmo no senso cristão, todos os seres são irmãos e irmãs. Nessa base, você pode praticar a troca de idéias. Mesmo os não-cristãos podem praticar a troca de idéias com seus amigos. Mas não sei sobre estender isso aos seus inimigos (risos). Talvez você deva esperar até que o inimigo lhe dê um presente (mais risos).

AY: Foi difícil ser reconhecido como o Dalai Lama quando era jovem?
DL: Como um jovem garoto, às vezes eu pensava que seria mais fácil ser uma pessoa comum do que ser o Dalai Lama. Geralmente, eu tinha esses sentimentos sozinho em minha sala no Palácio Potala, que era muitas vezes frio e desconfortável. Eu queria ver as crianças voltando para casa, após cuidarem dos animais, e ouvi-las cantando e rindo, enquanto eu tinha que ficar sentado em minha sala solitária e recitar orações difíceis. Mas quando cresci, eu entendi o objetivo da vida, que para mim é viver pelo benefício da humanidade e dos seres suscetíveis. Os humanos têm inteligência e determinação, e podemos usar estas qualidades para encarar nossos problemas. Também é bom que existam os desafios, pois deste modo podemos exercer estas qualidades. Deste ponto de vista, saber que somos capazes de solucionar nossos próprios problemas pode nos dar força interior.

AY: Como nós, enquanto indivíduos, podemos contribuir para melhorar o mundo?
DL: Eu sinto que, como indivíduos, precisamos desenvolver a compaixão e um senso de fraternidade. Por compaixão, não entendo simplesmente como sentir complacência. A compaixão propriamente dita significa um sentimento de proximidade com os outros e, junto com isso, um senso de responsabilidade. Acredito que, ao nascer, todos os seres humanos estão livres da ideologia mas não da afeição. Apesar do ódio e dos sentimentos negativos serem parte da natureza humana, o amor e a compaixão dentro de nós são ainda maiores.




Autor: Adriano Morallis
Fonte: www.dalailama.org.br/ensinamentos/adam.php

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Arte de Viver - (Osho)

"O homem nasce para atingir a vida, mas tudo depende dele. Ele pode perdê-la. Ele pode seguir respirando, ele pode seguir comendo, ele pode seguir envelhecendo, ele pode seguir se movendo em direção ao túmulo - mas isso não é vida. Isso é morte gradual, do berço ao túmulo, uma morte gradual com a duração de setenta anos. E porque milhões de pessoas ao redor de você estão morrendo essa morte lenta e gradual, você também começa a imitá-los. As crianças aprendem tudo daqueles que estão em volta delas e nós estamos rodeados pelos mortos. Então temos que entender primeiro o que eu entendo por 'vida'. Ela não deve ser simplesmente envelhecer. Ela deve ser desenvolver-se. E isso são duas coisas diferentes. Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse direito.

Desenvolver-se significa mover-se a cada momento mais profundamente no princípio da vida; significa afastar-se da morte - não ir na direção da morte. Quanto mais profundo você vai para dentro da vida, mais entende a imortalidade dentro de você. Você está se afastando da morte: chega a um momento em que você pode ver que a morte não é nada, apenas um trocar de roupas ou trocar de casas, trocar de formas - nada morre, nada pode morrer. A morte é a maior ilusão que existe.

Como desenvolver-se? Simplesmente observe uma árvore. Enquanto a árvore cresce, suas raízes crescem para baixo, tornam-se mais profundas. Existe um equilíbrio; quanto mais alto a árvore vai, mais fundo as raízes vão. Na vida, desenvolver-se significa crescer profundamente para dentro de si mesmo - que é onde suas raízes estão.

Para mim o primeiro princípio da vida é meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar. E a infância é o melhor momento. À medida que você envelhece, significa que você está chegando mais perto da morte, e se torna mais e mais difícil entrar em meditação. Meditação significa entrar na sua imortalidade, entrar na sua eternidade, entrar na sua divindade. E a criança é a pessoa mais qualificada porque ela ainda está sem a carga da educação, sem a carga de todo o tipo de lixo. Ela é inocente. Mas infelizmente a sua inocência está sendo considerada como ignorância. Ignorância e inocência tem uma similaridade, mas elas não são a mesma coisa. Ignorância também é um estado de não conhecimento, tanto quanto a inocência é. Mas também existe uma grande diferença que passou despercebida por toda a humanidade até agora. A inocência não é instruída - mas também não é desejosa de ser instruída. Ela é totalmente contente, preenchida...

O primeiro passo na arte de viver será criar uma linha de demarcação entre ignorância e inocência. Inocência tem que ser apoiada, protegida - porque a criança trouxe com ela o maior tesouro, o tesouro que os sábios encontram depois de esforços árduos. Os sábios têm dito que se tornaram crianças novamente, que eles renasceram...

Sempre que você perceber que perdeu a oportunidade da vida, o primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência. Abandone o seu conhecimento, esqueça as suas escrituras, esqueça as suas religiões, suas teologias, suas filosofias. Nasça novamente, torne-se inocente - e a possibilidade está em suas mãos. Limpe a sua mente de todo conhecimento que não foi descoberto por você mesmo, de todo conhecimento que foi tomado emprestado dos outros, tudo o que veio pela tradição, convenção, tudo o que lhe foi dado pelos outros - pais, professores, universidades. Simplesmente desfaça-se disso. Novamente seja simples, mais uma vez seja uma criança. E esse milagre é possível pela meditação.

Meditação é apenas um método cirúrgico não convencional que corta tudo aquilo que não é seu e só preserva aquilo que é o seu autêntico ser. Ela queima tudo o mais e o deixa nu, sozinho embaixo do sol, no vento. É como se você fosse o primeiro homem que tivesse descido na Terra - que nada sabe e que tem que descobrir tudo, que tem que ser um buscador, que tem que ir em peregrinação.

O segundo princípio é a peregrinação. A vida deve ser uma busca - não um desejo, mas uma pesquisa: não uma ambição para tornar-se isso, para tornar-se aquilo, um presidente de um país, ou um primeiro-ministro, mas uma pesquisa para encontrar 'Quem sou eu?'. É muito estranho que as pessoas que não sabem quem elas são, estão tentando se tornar alguém. Elas nem mesmo sabem quem elas são neste momento! Elas não conhecem os seus seres - mas elas têm um objetivo de vir a ser. Vir a ser é a doença da alma. O ser é você e descobrir o seu ser é o começo da vida. Então cada momento é uma nova descoberta, cada momento traz uma alegria. Um novo mistério abre as suas portas, um novo amor começa a crescer em você, uma nova compaixão que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade a respeito da beleza, a respeito da bondade.

Você se torna tão sensível que até a menor folha de grama passa a ter uma importância imensa para você. Sua sensibilidade torna claro para você que essa pequena folha de grama é tão importante para a existência quanto a maior estrela; sem esse folha de grama, a existência seria menos do que é. E essa pequena folha de grama é única, ela é insubstituível, ela tem a sua própria individualidade.

E essa sensibilidade criará novas amizades para você - amizades com árvores, com pássaros, com animais, com montanhas, com rios, com oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais rica enquanto o amor cresce, enquanto a amizade cresce...

Quando você se torna mais sensível, a vida se torna maior. Ela não é um pequeno poço, ela se torna oceânica. Ela não está confinada a você, sua esposa e seus filhos - ela não é confinada de jeito algum. Toda essa existência se torna a sua família e a não ser que toda essa existência seja a sua família, você não conheceu o que é a vida. - porque homem algum é uma ilha, nós estamos todos conectados. Nós somos um vasto continente, unidos de mil maneiras. E se o nosso coração não está cheio de amor pelo todo, na mesma proporção a nossa vida é diminuída.

A meditação lhe traz sensibilidade, uma grande sensação de pertencer ao mundo. Este é o nosso mundo - as estrelas são nossas e nós não somos estrangeiros aqui. Nós pertencemos intrinsecamente à existência. Nós somos parte dela, nós somos o coração dela.

Em segundo lugar, a meditação irá lhe trazer um grande silêncio - porque todo o lixo do conhecimento foi embora, pensamentos que são partes do conhecimento foram embora também... Um imenso silêncio e você é surpreendido - esse silêncio é a única música que existe. Toda música é um esforço para manifestar esse silêncio de algum modo.

Os videntes do antigo oriente foram muito enfáticos a respeito da questão de que todas as grandes artes - música, poesia, dança, pintura, escultura - são todas nascidas da meditação. Elas são um esforço para, de algum modo, trazer o incompreensível para o mundo do conhecimento, para aqueles que não estão prontos para a peregrinação - presentes para aqueles que ainda não estão prontos para partirem na peregrinação. Talvez uma canção possa despertar um desejo de ir em busca da fonte, talvez uma estátua.

Na próxima vez que em você entrar em um templo de Gautama Buda ou de Mahavira, sente-se silenciosamente e olhe a estátua... porque a estátua foi feita de tal forma, em tal proporção que se você olhá-la, você cairá em silêncio. É uma estátua de meditação; não é a respeito de Gautama Buda ou de Mahavira...

Naquele estado oceânico, o corpo toma uma certa postura. Você próprio já observou isso, mas não estava alerta. Quando você está com raiva, você observou? seu corpo tomou uma certa postura. Na raiva você não pode manter as suas mãos abertas: na raiva, a mão se fecha. Na raiva você não pode sorrir - ou você pode? Com uma certa emoção, o corpo tem que seguir uma certa postura. Pequenas coisas estão profundamente relacionadas no interior...

Uma certa ciência secreta foi usada por séculos, de modo que as gerações futuras pudessem entrar em contato com as experiências das gerações mais velhas - não através de livros, não através de palavras, mas através de algo que vai mais profundo - através do silêncio, através da meditação, através da paz. À medida que seu silêncio cresce, sua amizade cresce, seu amor cresce; sua vida se torna uma dança, momento a momento, uma alegria, uma celebração.

Você já pensou sobre o porquê, em todo o mundo, em toda cultura, em toda sociedade, existem uns poucos dias no ano para a celebração? Esses poucos dias para a celebração são apenas uma compensação - porque essas sociedades tiraram toda a celebração de sua vida e se nada é dado para você em compensação, sua vida pode tornar-se um perigo para a cultura. Toda cultura criou alguma compensação e assim você não se sentirá completamente perdido na miséria, na tristeza... Mas essas compensações são falsas. Mas no seu mundo interior pode existir uma continuidade de luz, canções, alegria.

Sempre lembre-se que a sociedade o compensa quando ela sente que a repressão pode explodir em uma situação perigosa se não for compensada. A sociedade encontra algum jeito de lhe permitir soltar a repressão. Mas isso não é a verdadeira celebração, e não pode ser verdadeira. A verdadeira celebração deveria vir de sua vida, na sua vida.

E a celebração não pode estar de acordo com o calendário, que no primeiro dia de novembro você irá celebrar. Estranho, o ano todo você é miserável e no primeiro dia de novembro, de repente, você sai da miséria, dançando. Ou a miséria era falsa ou o primeiro de novembro é falso.; ambos não podem ser verdadeiros. E uma vez que o primeiro de novembro se vai, você está de volta em seu buraco negro, todo mundo em sua miséria, todo mundo em sua ansiedade.

A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes por todo o ano. Somente então você pode se desenvolver, você pode florir. Transforme pequenas coisas em celebração... Tudo o que você faz deveria expressar a si próprio; deveria ter a sua assinatura. Então a vida se torna uma celebração contínua.

Inclusive se você adoece e você está deitado na cama, você fará daqueles momentos de repouso, momentos de beleza e alegria, momentos de relaxamento e descanso, momentos de meditação, momentos para ouvir música ou poesia. Não há necessidade de ficar triste porque você está doente. Você deveria estar feliz porque todo mundo está no escritório e você está na cama como um rei, relaxando - alguém está preparando chá para você, o samovar está cantando uma canção, um amigo se oferece para vir e tocar flauta para você. Essas coisas são mais importantes do que qualquer remédio. Quando você está doente, chame um médico. Mas, mais importante, chame aqueles que o amam porque não existe remédio mais importante que o amor. Chame aqueles que podem criar beleza, música, poesia à sua volta, porque não existe nada que cure como uma atmosfera de celebração.

O medicamento é o mais baixo tipo de tratamento. Mas parece que nós esquecemos tudo, assim nós temos que depender dos medicamentos e ficar rabugentos e tristes - como se você estivesse perdendo uma grande alegria que havia quando você estava no escritório! No escritório você era miserável - simplesmente um dia de folga, mas você também se agarra à miséria, você não a deixa ir.

Faça todas as coisas criativas, faça o melhor a partir do pior - isso é o que eu chamo de arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um amor, um desfrute, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de toda a sua vida.

Os últimos toques... sua morte não será feia como ordinariamente acontece todo dia com todo mundo. Se a morte é feia, isso significa que toda a sua vida foi um desperdício. A morte deveria ser uma aceitação pacífica, uma entrada amorosa no desconhecido, um alegre despedir-se dos velhos amigos, do velho mundo...

Comece com a meditação e muitas coisas crescerão em você - silêncio, serenidade, êxtase, sensibilidade. E o que quer que venha com a meditação, tente trazer para a sua vida. Compartilhe isso, porque tudo o que é compartilhado cresce mais rápido. E quando você atingir o momento da morte, você saberá que não existe morte. Você pode dizer adeus, não existe nenhuma necessidade de lágrima de tristeza - talvez lágrimas de felicidade, mas não de tristeza."