quinta-feira, 30 de abril de 2009

Eros e Psique - (Fernando Pessoa)


"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."

O Girassol - (Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, em "O Guardador de Rebanhos")


"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

quarta-feira, 29 de abril de 2009

La bailarina del templo" - Shokry Mohamed

"La ví bailando en la oscuridad,
bailaba para si misma,
y vive consigo misma.
La ví bailar y oí sus suspiros.
La ví bailar en silencio,
bailaba sin música, sin melodía.
Bailaba sobre los ritmos del silencio asesino.
Bailaba sobre la luz de la extrema oscuridad.
Se movía de un sitio a otro.
Sin esposas ni ataduras,
solo, existía ella
y nada sino ella.
Dejó de moverse en la oscuridad,
se sentó en el suelo
para recuperar el aliento.
El aliento se agotó
en el gran baile,
el baile de si misma."
(La bailarina del templo" - Shokry Mohamed)





segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fique com o Desconhecido - (Papaji)


"Tudo que você é apegado, tudo que você ama,
Tudo que você sabe, algum dia irá embora.
Saber isso, e que o mundo é a sua mente
onde você cria, brinca, e sofre
é conhecido como discriminação.
Discrimine entre o Real e o Irreal,
O conhecido é irreal e vai ir e vir
Então fique com o Desconhecido, o Inalterável, a Verdade."


"Deixe que haja PAZ e AMOR entre todos os seres do universo.
Deixe que haja PAZ, deixe que haja PAZ.
OM Shanti, Shanti, Shanti"


"Ser é o que você é
Você é aquele Insondável
Onde toda experiência e conceitos aparecem.
Ser é o Momento em que não há o ir e vir.
Isto é o Coração, a Fonte, o Vazio.
Isto brilha de Si, por Si, em Si.
Ser é o que dá o sopro a Vida.
Você não precisa procurar por Isto, Isto está Aqui.
Você é Isto através do que você procura.
Você é Isto que você procura !
E Isto é Tudo o que é.
Somente o Ser é."


"Você é Aquele que está cônscio
Da consciência dos objetos e idéias.
Você é Aquele que é ainda mais silencioso do que consciente.
Você é a Vida que precede o conceito de vida.
Sua natureza é silencio e isto não é alcançável,
Isto sempre é.
Você é o Vazio, a Suprema Essência:
Remova o Vazio do Vazio
Deixe somente o Vazio pois não há nada além disso.
Vazio está entre o “é” e o “não é”
E nada esta fora do Vazio então isto é Cheio.
Para ser Livre, você precisa da firme convicção
De que você é este Substrato, esta Paz, este Vazio.
Tudo emerge disso,
Baila em volta disso
E retorna para Isto.
Como o Oceano emerge numa onda para dançar,
Assim, você é este Vazio Dançante!"

Você usa muleta? - (Glauco Tavares)

(escrito em São Paulo, no dia 19 de Março de 2009)

"Durante a minha leitura do livro "Como um místico amarra os seus sapatos" uma, das várias histórias, me chamou a atenção:

"Foi a muito, muito tempo. Num casebre muito pobre junto aos portões de entrada da cidade vivia um eremita. Ele era venerado como um asceta santo, muitas pessoas procuravam seus conselhos. Até o rei já tinha ouvido falar dele. Ele quis conhecer esse homem de qualquer maneira. Um dia ele foi até o casebre e perguntou-lhe se não queria mudar-se para o palácio.

- Se o senhor quiser -respondeu o eremita - Posso ir a qualquer lugar.

O rei ficou surpreso, mas não deixou isso transparecer. Ele havia imaginado que o eremita aceitaria seu convite. Um verdadeiro eremita não deveria recusar a oferta? O rei começou a ter dúvidas. Mas como ele já havia feito o convite, levou o homem ao palácio onde mandou que lhe preparassem um belo quarto e uma boa refeição.

E o que fez o eremita? Ele usufruiu do belo quarto e da boa comida. No dia seguinte também, e no seguinte ao seguinte. Esse homem, que dizia ser um asceta, deixou-se tratar muito bem no luxuoso palácio. O rei estava profundamente decepcionado. Depois de uma semana ele falou diretamente ao estranho hóspede:

- Desculpe-me, mas simplesmente não consigo entender como você, um asceta, pode viver em um palácio. Qual a diferença entre você, um homem santo, e eu, um rei?

- Se o senhor quer ver a diferença, então venha comigo para fora da cidade.

Os dois se puseram a caminho. Caminharam por muito tempo sobre campos ensolarados, bosques úmidos e aldeias isoladas. E quanto mais caminhavam, mais impaciente o rei ficava. Quando anoiteceu ele pediu ao eremita insistentemente que finalmente respondesse à sua pergunta.

- Eu lhe direi apenas uma coisa - respondeu ele - Não voltarei mais. Seguirei adiante. O senhor virá comigo?

O rei sacudiu a cabeça.
- Não posso. Não posso abandonar meu reino e meu palácio. Além disso tenho uma família.
- Está vendo a diferença? Eu posso seguir adiante, não deixei nada para trás. Desfrutei das comodidades do palácio. Mas não me apeguei a elas. Por isso eu posso agora seguir adiante.
- Por favor, não faça isso - disse o rei - Volte comigo ao palácio.
- Para mim não faz diferença se volto ao palácio com o senhor ou sigo adiante. Mas se eu voltar, também voltarão suas dúvidas. Por isso, por amor ao senhor, eu seguirei adiante."

Esta história me fez refletir se estamos realmente prontos para largarmos tudo e mesmo assim ainda sermos felizes. No Yoga este conceito é conhecido como Santosha, contentamento e aceitação, ou seja, nossa felicidade e nossa paz independente da situação externa.

Não pensei sobre isso no sentido de sermos um eremita e abandonarmos o mundo, mas no sentido de aceitarmos as mudanças do ciclo da vida e nos conformarmos com as novas situações, que nem sempre vão ao encontro de nossas expectativas.

Mas vejo que muito mais do que nós deixarmos algo, seria o nosso entendimento de deixarmos ir embora algo ou alguém o que não nos pertence. Tenho como ponto de observação a seguinte frase quando estou nestes momentos de aceitar ou não o distanciamento de algo: "O universo é sábio. O que for meu por direito divino venha até o mim, o que não for, que ele leve embora".

Como disse acima, tenho momentos que estou pronto e outros não, por isso ainda faço uso desta frase. Mas vejo isso como algo positivo, pois se consigo ter este discernimento é sinal que estou no caminho certo para trabalhar com meu apego. Pois estou atento a ele e consigo enxergar a hora que ele está presente e a hora que não está. Sendo assim, fica mais fácil lidarmos com algo que conhecemos do que com um fantasma, neste caso o "fantasma do apego".

Outra pergunta que me fiz foi com relação ao desequilibrio que estas mudanças da vida causam em nossa felicidade. Refleti e percebi que usamos várias "muletas" para nos sentirmos felizes: o trabalho, o status social, o relacionamento, os filhos, o carro, o relógio, o celular de última geração dentre várias outras. Por isso, quando a vida nos retira algo que funciona como uma "muleta" nos ficamos infelizes. Qual a muleta que você está usando para manter a sua felicidade?"

Fonte: Blog de Glauco Tavaares - http://glaucotavares.blogspot.com/2009/04/voce-usa-muleta.html

domingo, 26 de abril de 2009

Músicas que "tocam a alma"!

"Quando o coração de alguém começa a rir, muitos outros corações começam a ser tocados"

Raga Anandi Kalyan - (Ravi & Anoushka Shankar)




So Much Magnificence - (Miten & Deva Premal)




Quando a gente ama - (Oswaldo Montenegro)

domingo, 19 de abril de 2009

Você precisa do passado - (Papaji - Traduzido por Shanti)


“Você precisa do passado e pensamentos para sofrer,
Você não precisa de nada para ser livre
O peso do passado descansa em seu peito e destrói sua vida e sua liberdade.
Remova-os encontrando a origem do pensamento EU.
A liberdade o espera, mas você esta engajado em alguma outra coisa
Não se amarre a qualquer coisa do passado ou do futuro, porque isso não funciona!
Seja apegado somente a este Momento.
Quando você segura alguma outra coisa alem de sua verdadeira natureza
Você se sentira em distúrbio
Por apegar-se a coisas passageiras
Você declara a você mesmo
Que não é a completude em que tudo está
Possuir é um véu, uma mentira
Ser é totalidade, dessa forma não é possível possuir ou desejar
Todos são budas, você tem que quebrar o apego, a identificação,
Você deve renunciar, senão você trapaceia com você mesmo
Na roda da vida e da morte com todos os seus apegos
O apego é um demônio, o apego é um problema
Porque nosso apego acaba sendo nossa realidade
Somente em Satsang isso é removido
Não deixe sua mente ir para fora do seu coração!
Todo mundo esta perdido nestes apegos de fora,
Não somente você.
Se qualquer desses apegos dá a você felicidade e paz mental
Então esteja com ele, pois não é chegado o tempo de deixa-lo.
Mas se você vê a cobra picando seu calcanhar, então é o tempo de deixa-lo.
Não tem uso experimentar o que já foi experimentado.
Se você sabe que o fogo queima, não tem necessidade de ser queimado novamente.
Igual a isto, evite apegos como o fogo porque eles queimarão você.
Quando sua intoxicação depende de alguma outra coisa, você esta enganando a
você mesmo.”


“Somente a Verdade é e você é Ela!
Você é a Consciência imutável onde todas as atividades acontecem.
Negar isso é sofrer, saber disso é Liberdade. E não é difícil realizar isso porque essa é sua
Verdadeira Natureza. Simplesmente pergunte ‘QUEM SOU EU?’, e observe
cuidadosamente.
Não faça esforço, nem emita nenhum pensamento. Olhe internamente, aproxime-se com
toda devoção e fique no Coração. Continue vigilante e você verá que nada aflora. Este é o
truque de como manter a mente quieta e alcançar a Liberdade. Isto não leva tempo porque a
Liberdade é sempre Aqui. Você simplesmente deve observar: de onde surge a mente? De
onde vem os pensamentos? Qual é a fonte do pensamento? Então você poderá ver que tem
sido sempre Livre e que tudo tem sido um sonho”.

Eu confio que vocês todos são leões -- (Papaji)


"Toda ignorância começou com os pastores. Pastores são para
ovelhas. Eu confio que vocês são leões. Leões não são para serem arrebanhados;
aonde eles andam é sua própria trilha. Não há rebanho de leões; há somente
rebanho de ovelhas. Vocês são todos leões – então vá pelo seu caminho. Não
andem em caminhos batidos feito ovelhas; um após o outro. Não sigam nenhum
caminho. Leões, não seguem um ao outro como as ovelhas.
A maioria das pessoas são ovelhas, seguem pastores pelo mundo
todo. A religião começou com pastores e as pessoas os seguem como ovelhas.
Mas aonde vocês forem serão leões, e não há caminhos para leões. Onde o leão
andar, é o caminho. Para o leão o não-caminho, é o único caminho. Então não se
coloque no meio de ovelhas precisando de um pastor. O seu caminho é o nãocaminho
– isso é saber quem você é. Isto é não seguir como uma ovelha. Este é
um novo caminho, decididamente desconhecido. Uma vez conhecido, isto é bem
conhecido. Aquele que sabe completou o propósito do esforço de toda vida
humana. Ele é feliz e em paz. Ele aproveita ambos: aqui e depois.
Por favor, não se torne uma ovelha. Não siga ninguém. Não olhe aqui
e ali. Não olhe para nenhum lugar. Pare de procurar. Pare toda sua imaginação
pelo futuro e conceitualização do passado. Mantenha seu ser neste momento, que
é um não-momento.
Descubra de onde esse momento vem, de onde o tempo vem, de onde
o pensamento surge, e você verá que você sempre esteve em casa. Você não
precisa de mais nada!"

PAPAJI – Trecho de Satsang
Traduzido em amor e gratidão por Shanti

Sonhos - Por Sadhu Arunachala (Major Alan Chadwick)




“Somos feitos da mesma coisa que os sonhos e nossa curta vida é rodeada por
um sono.”
(Shakespeare)


Shakespeare realmente sabia sobre o que estava falando e isto não era
somente efervescência poética. Maharishi costumava dizer exatamente a mesma
coisa.
Suponho que eu tenha questionado Bhagavan sobre esse assunto com
mais freqüência do que outros, apesar de algumas dúvidas sempre
permanecerem para mim. Ele sempre avisou que assim que uma dúvida fosse
esclarecida, outra surgiria no lugar da primeira, num processo sem fim.
“Mas Baghavan”, eu repetia, “sonhos são desconexos, enquanto que o
estar acordado continua de onde havia parado e é tido por todos como algo
contínuo”.
“Você diz isso nos seus sonhos?” Bhagavan perguntava. “Eles pareciam
perfeitamente consistentes e reais enquanto aconteciam. Somente agora,
enquanto acordado, é que você questiona a realidade da experiência. Isto não tem
lógica.”
Bhagavan se recusava a ver a menor diferença entre os dois estados, e
nisso ele concordava com todos os grandes Videntes Advaitas. Alguns
questionaram se Sankara não teria traçado uma linha de diferença entre estes
dois estados, mas Bhagavan persistentemente negava isto. “Sankara só fez esta
divisão aparente para o propósito de uma exposição mais clara”, Maharishi
explicava.
Mesmo que eu tentasse alterar meu modo de perguntar, a resposta que eu
recebia era sempre a mesma:
“Coloque suas dúvidas dentro do próprio sonho. Você não questiona o estar
acordado quando você está acordado, você o aceita. E o aceita da mesma
maneira que você aceita os seus sonhos. Vá além desses dois estados, e do
terceiro – o sono profundo. Estude-os a partir daquele ponto de vista. Você está
estudando uma limitação do ponto de vista de outra limitação. Poderia algo ser
mais absurdo? Vá além de todas as limitações, e então volte com suas dúvidas.”
Apesar disso, as dúvidas ainda permaneciam. De algum jeito, eu sentia,
enquanto sonhava, que havia algo de irreal nos sonhos; não era sempre, mas
alguns lampejos vez ou outra.
“Isso também não vive acontecendo com você enquanto você está
acordado?” Bhagavan perguntava. “Às vezes você não sente que o mundo em
que você vive e as coisas que estão acontecendo não são reais?”
Mais uma vez, apesar de tudo isso, a dúvida persistia.
Porém, em uma manhã, me aproximei do Baghavan e, para seu
encantamento, entreguei-lhe um papel, onde estava escrito o seguinte:
“Bhagavan se lembra que eu expressei minhas dúvidas sobre a
semelhança entre o sonhar e o estar acordado. Na manhã de hoje, a maior parte
dessas dúvidas foram esclarecidas pelo seguinte sonho, que me pareceu
particularmente objetivo e real:
Eu estava discutindo filosofia com alguém e pontuei que todas as
experiências eram subjetivas, e que não havia nada além da mente. A outra
pessoa negava, mostrando o quão sólido as coisas eram e quão reais as
experiências pareciam, e que isso não poderia ser somente imaginação.
Eu respondia: ‘Não, nada é mais do que um sonho. Sonhar e estar
acordado são exatamente a mesma coisa.’
‘Você diz isso agora’, ele respondeu, ‘mas você nunca diria uma coisa
dessas no seu sonho.’
E então, eu acordei.”
De “Call Divine”, Março de 1954
(Tradução livre: Dênis Elias)

sábado, 18 de abril de 2009

No amor ... - (Jalaluddin Rumi)


"Sai do círculo do tempo
e entra no círculo do amor.
Desce à rua das tavernas
e senta entre os beberrões.

Se queres a visão secreta,
fecha teus olhos.
Se desejas um abraço,
abre teu peito.

Se anseias por uma face com vida,
rompe este rosto de pedra.
Por que hás de pagar o dote da vida
a essa velha bruxa, a terra?

Mil gerações já gozaram
do que agora tens.
Prova a doçura em tua boca
que antes foi flor, abelha e mel.

Vamos, aceita esta pechincha:
dá uma única vida
e leva uma centena."




"Existe melhor solução que a loucura?
Cem âncoras despedaçadas por causa da loucura.

Quantos pela razão se tornaram infiéis?
Alguém jamais viste infiel por loucura?

A tristeza engordou, então vai, torna-te louco,
A tristeza definha por causa da loucura.

À taverna aonde vão os loucos de amor,
Vá logo, e toma da taça oferecida pela loucura.

Infelizes, foram eles, e sem nenhum proveito,
Os sultões turcos, privados da loucura.

Felizes e vitoriosos, amados da fortuna,
os ginetes guerreiros, por causa da loucura.

Tu sobes aos céus, semelhante à Jesus,
Se tens por auxílio a pluma da loucura.

Ó tu, Chams de Tabriz, impelido por teu amor,
Cem portas se me abriram pela loucura"




"Dentro deste mundo há outro mundo
impermeável às palavras.
Nele, nem a vida teme a morte,
nem a primavera dá lugar ao outono.

Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes,
até mesmo as rochas e as árvores exalam poesia.
Aqui, a coruja transforma-se em pavão,
o lobo, em belo pastor.

Para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes;
e se queres passear por esses lugares,
basta expressar o desejo

Fixa o olhar no deseto de espinhos
Já é agora um jardim florido!
Vês aquele bloco de pedra no chão?
já se move e dele surge a mina de rubi

Lava tuas mãos e teu rosto
nas águas deste lugar,
que aqui te preparam um fauto naquete.
Aqui, todo ser gera um anjo;
e quando me vêem subindo aos céus
os cadáveres retornam à vida.

Decerto viste as árvores crescendo da terra,
mas quem há de ter visto o nascimento do Paraíso?
Viste também as águas dos mares e rios,
mas quem há de ter visto nascer
de uma única gota d'agua
uma centúria de guerreiros?

Quem haveria de imaginar essa morada,
esse céu, esse jardim do paraíso?
Tu, que ouves este poema, traduze-o.
Diz a todos o que aprendeste neste lugar"




Sama III/IV
"Viemos girando
do Nada, espalhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculo
e nós ao centro dançamos com elas.
Como a pedra do moinho,
em torno de Deus
gira a roda do céu.
SEGURA UM RAIO DESSA RODA E TERÁS A MÃO DECEPADA!!

Girando e girando
essa roda dissolve todo e qualquer apego.
- Não estivesse apaixonada, ela mesma gritaria - BASTA! até quando há de seguir esse giro?
Cada átomo gira desnorteado, mendigos circulam entre as mesas,
cães rondam um pedaço de carne,
o amante gira em torno
de seu próprio coração.

Envergonhada diante de tanta beleza,
giro ao redor de minha vergonha.

Vem!
Ouve a música do Sama.
Vem unir-te ao som dos tambores! aqui celebramos:
Somos todos a verdade!

Em êxtase estamos.
Embriagados, sim, mas de um vinho que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós em nada parecerá ao que somos.
Giramos e giramos em êxtase.
esta é anoite do Sama
Há luz agora - Luz! Luz!

Eis o Amor verdadeiro
Que diz à mente: adeus.
Este é o dia do adeus.
- Adeus! Adeus!

Todo coração que arde
nesta noite
é amigo da música.

Ardendo por teus lábios
meu coração
transborda de minha boca.

Silêncio!
És feito de pensamento, afeto e paixão.
O que sobra é nada além de carne e ossos.

Por que nos falam de templos de oração, de atos piedosos?
Somos o caçador e a caça,
outono e primavera, noite e dia,
o Visível e o Invisível
Somos o tesouro do espírito.
Somos a alma do mundo,
livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos do tempo nem do espaço
nem mesmo da terra que pisamos.
No amor fomos gerados,
No amor nascemos."

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"Qualquer caminho é apenas um caminho, e não há ofensa para si ou para outro em abandoná-lo se é isto que o seu coração diz a você...
Olhe para cada caminho bem de perto, estudando-o cuidadosamente.
Experimente-o quantas vezes achar necessário.
Então pergunte a você mesmo, e somente a você mesmo uma questão: "Esse caminho tem um coração? Se ele tem, é um bom caminho; se não tem, é inútil".
D. Juan, "brujo" Yaqui, orientador de Carlos Castañeda

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Amor - (Khalil Gibran)



~ O Amor ~
(Gibran Kahlil Gibran)
"Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança."

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ensinamentos - (Sri Nisargadatta Maharaj)

"A verdadeira felicidade não pode ser encontrada em coisas que mudam e se vão. Prazer e dor se alternam inexoravelmente. A felicidade vem do Eu Real e pode ser encontrada somente nele. Encontre o seu Eu Real (swarupa) e tudo mais virá com ele."




Você tem apenas dois caminhos: você pode dar o seu coração e mente à auto-descoberta, ou aceitar as minhas palavras com confiança e agir com base nelas. Em outras palavras, ou você tornar-se completamente auto-centrato, ou completamente não-auto-centrado. É a palavra “completamente” que é importante. Você deve ser extremo para alcançar o Supremo.

Existe um caminho aberto a todos, independentemente de seu estágio e estilo de vida. Todos estão conscientes de si mesmos. O aprofundamento e alargamento da autoconsciência é o caminho real. Quer você chame isso de plena consciência, testemunhar, ou apenas atenção – é para todos. Ninguém é imaturo para isso e ninguém falhará.

Você não é nada observável ou imaginável. No entanto, sem você não pode haver nem percepção nem imaginação. Você observa o coração sentindo, a mente pensando, o corpo agindo – o próprio ato de perceber mostra que você não é o que percebe. Pode haver qualquer experiência, qualquer percepção sem você?

Falando genericamente, existem dois caminhos: externo e interno. Ou você vive com alguém que conhece a Verdade e se submete completamente à sua influência e instrução, ou então você busca o guia interior e segue a luz interior onde quer que ela o leve. Em ambos os casos os seus desejos pessoais e medos devem ser desconsiderados. Você aprende ou por proximidade ou por investigação, o caminho passivo ou ativo.

Rejeite todos os pensamentos exceto um: o pensamento “eu sou”. A mente irá se rebelar no início, mas com paciência e perseverança ela sucumbirá e permanecerá quieta. Uma vez que você torne-se silencioso, as coisas começarão a acontecer naturalmente e bem naturalmente, sem nenhum interferência de sua parte.

Mantenha em mente o sentimento “eu sou”, mergulhe nele, até que sua mente e esse sentimento tornem-se um. Através de tentativas repetitivas você esbarrará no equilíbrio correto de atenção e afeição, e sua mente ficará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento “eu sou”. O que quer que faça, diga, ou pense, este sentimento de ser imutável e terno permanece como o pano de fundo da mente, sempre presente.

Se você confia em mim, acredite quando eu lhe digo que você é a pura Percepção que ilumina o campo da consciência e seus infinitos conteúdos. Perceba isso e viva de acordo com tal verdade. Se você não acredita em mim, então se volte para dentro e investigue “quem sou eu?” ou então concentre sua mente no “eu sou”, que é o ser puro e simples.

Qualquer vício ou fraqueza que nós descobrimos e entendemos suas causas e natureza é superado pelo nosso próprio saber; o inconsciente se dissolve ao emergir ao consciente.

Assim que você perceber que a pessoa nada mais é do que uma sombra da realidade, mas não a realidade em si, você cessa de sofrer e preocupar-se. Você concorda em ser guiado de dentro, e a vida se torna uma jornada rumo ao desconhecido.

Tudo o que é, sou eu, tudo o que existe, é meu. Antes de todos os inícios, após todos os fins – EU SOU.

Para saber o que você é você precisa primeiro investigar e saber o que você não é. E para saber o que você não é você precisa observar-se cuidadosamente, rejeitando tudo o que não necessariamente acompanha o fato básico: “eu sou”. [...] Separe de forma consistente e perseverante o “eu sou” do “isto” e “aquilo”, e tente sentir o que significa apenas ser, sem ser “isto” ou “aquilo”. Todos os nossos hábitos vão contra isto, e a tarefa de lutar contra eles é longa e às vezes difícil, mas a clara compreensão ajuda muito.

Nutrir idéias como “eu sou um pecador” ou “eu não sou pecador”, é pecado. Identificar-se com o particular é todo o pecado que há. O impessoal é real; o pessoal surge e desaparece. “Eu sou” é o Ser impessoal. “Eu sou isso” é a pessoa. A pessoa é relativa, enquanto que o puro Ser é fundamental.

Quando você começa a questionar o seu sonho, o despertar não está longe.

Minha experiência é que tudo é felicidade. Mas o desejo por felicidade causa dor. Assim, a felicidade se torna uma semente de dor. Todo o universo de sofrimento nasce do desejo. Abandone o desejo por prazer e você nem mesmo saberá o que é a dor.

Tudo deve ser levado ao escrutínio e o desnecessário deve ser cruelmente destruído. Acredite em mim, não pode haver destruição demais. Pois na Realidade nada possuí valor intrínseco. Seja apaixonadamente desapaixonado – isso é tudo.

Assim como o gosto do sal está em todo o grande oceano, e cada gota de água do mar carrega o mesmo sabor, assim cada experiência me dá o toque da realidade, a realização sempre nova de meu próprio ser.

A humildade e o silêncio são essenciais a qualquer buscador, por mais avançado que seja.

Na verdade cada passo lhe traz ao seu objetivo, porque estar sempre a caminho, aprendendo, descobrindo, desdobrando, é seu eterno destino. Viver é o único propósito da vida. O Eu Real não se identifica com sucesso ou fracasso – a própria idéia de tornar-se isso ou aquilo é impensável.

Ninguém jamais falha no Yoga. A batalha é sempre ganha, pois é uma batalha entre o verdadeiro e o falso. O falso não tem chance alguma. [...] Tudo é uma questão de ritmo de progresso. Os rápidos não são melhores que os lentos. Amadurecimento rápido e amadurecimento devagar alternam. Ambos são naturais e certos. [...] Ainda sim, tudo isto está na mente apenas. Como eu vejo, não há nada disso. No grande espelho da consciência as imagens surgem e desaparecem, e apenas a memória lhes dá continuidade. E a memória é material – destrutível, perecível, passageira. Sobre essa fundação frágil nós construímos nosso sentimento de existência pessoal – vago, intermitente, ilusório.

Assim como um homem que tem dor de cabeça conhece a dor e também que ele não é a dor, eu também conheço o sonho, eu sonhando, e eu não sonhando – tudo ao mesmo tempo. Eu sou o que sou antes, durante, e depois do sonho. Mas o que eu vejo no sonho, isso eu não sou.

A própria idéia de ir além do sonho é ilusória. Por que ir a lugar algum? Apenas perceba que você está sonhando um sonho que chama de mundo, e pare de procurar por saídas. O sonho não é seu problema. Seu problema é que você gosta de uma parte do sonho mas não da outra. Ame tudo, ou nada, e pare de reclamar. Quando você vir o sonho como um sonho, terá feito tudo que é necessário fazer.

Você precisa de maturidade de mente e coração, e ela vem através da aplicação esforçada, na sua vida diária, de tudo aquilo que você tenha aprendido, por menor que seja.

A vida é o supremo Guru; esteja atento a suas lições e obedeça a suas instruções. Quando você personaliza a sua fonte, você tem o Guru exterior; quando você toma os ensinamentos diretamente da vida, o Guru está no interior. Lembre, questione-se, reflita, viva com ele, ame-o, cresce nele, cresça com ele, faça-o seu – o ensinamento de seu Guru, interior ou exterior.

A mente pura vê as coisas como elas são – bolhas na consciência. Essas bolhas estão aparecendo, desaparecendo, e reaparecendo – sem ter uma existência real. Nenhum causa em particular lhes pode ser apontada, já que cada uma é causada por todos e afeta a todas.

O que foi alcançado poderá ser perdido novamente. Apenas quando você realizar a verdadeira paz, a paz que você nunca perdeu, esta paz permanecerá contigo, já que ela nunca esteve longe. Ao invés de buscar algo que você não tem, descubra aquilo que você nunca perdeu.

A felicidade de ser completamente livre é indescritível.

Esses são todos sinais de um crescimento inevitável. Não tenha medo, não resista, não atrase. Seja o que você é. Não há nada a temer. Confie e tente. Experimente honestamente. Dê uma chance ao seu verdadeiro Ser para que ele molde a sua vida. Você não se arrependerá.

O que é o nascimento e a morte senão o início e o fim de uma seqüência de eventos na consciência? (...) Tenha o seu ser fora deste corpo de vida e morte e todos os seus problemas cessarão. Eles existem porque você acredita que nasceu para morrer. Desiluda-se e liberte-se. Você não é uma pessoa."

Ensinamentos - (Ramana Maharshi)


"Pode haver espaço, pode haver tempo, exceto para mim mesmo?
O espaço e o tempo me atam, apenas se sou o corpo.
Eu não estou em nenhuma parte, eu sou sem tempo.
Eu existo em toda parte e sempre"



"Se a pessoa se entregar completamente, não sobrará ninguém para fazer perguntas ou para ser levado em consideração. Ou os pensamentos são eliminados agarrando-se o pensamento raiz, o “eu”, ou a pessoa se entrega incondicionalmente ao Poder Maior. Esses dois são os únicos caminhos rumo à Realização."



"Seu dever é SER, e não ser isso ou ser aquilo. “Eu sou o que eu sou” resume toda a verdade. O método é “fique em silêncio”. O que significa o silêncio? Significa destrua-se, pois qualquer forma é causa de problemas.

Não há mistério maior que este: que sendo a Realidade nós buscamos alcançar a Realidade. Nós pensamos que existe algo ocultando a Verdade e que isso deve ser destruído a fim de que possamos atingir a Verdade. É ridículo. Chegará o dia em que você vai rir de todos os seus esforços pretéritos. Aquilo que será no dia em que você rir também é aqui e agora.

A liberação, que é bem-aventurança, é natural a todos

A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação.

Apenas o ego é prisão, e a sua própria natureza,

livre do contágio do ego, é liberação.

Não há engano maior do que acreditar que a liberação,

Que está sempre presente como a sua verdadeira natureza,

será alcançado em um tempo futuro.

Até mesmo o desejo pela liberação é fruto da ilusão.

Portanto, permaneça em silêncio.

Se você permanecer como mera consciência, “eu sou”, a ignorância não existirá. Portanto, a ignorância é falsa; apenas a Consciência é real.

Para a aquietação da mente não há nenhum outro meio mais eficaz do que a auto-inquirição. Através dos outros métodos a mente apenas parecerá ter se aquietado, mas não será extinta; ela surgirá novamente.

Este é o método direto. Todos os outros métodos só podem ser praticados retendo-se o ego, e neles surgem muitas dúvidas, enquanto que a pergunta última é apenas atacada no final. Mas neste método, a pergunta última é a única pergunta e ela é levantada desde o começo.

A auto-inquirição o leva diretamente à Auto-Realização, pois remove os obstáculos que fazem você acreditar que o Eu Real ainda não foi alcançado.

A diferença entre a meditação e a auto-inquirição é que a meditação requer um objeto sobre o qual se foca a atenção, enquanto que na auto-inquirição há apenas o sujeito e nenhum objeto.

Pedir que a mente destrua a mente é como fazer do ladrão o policial: ele irá com você e vai parecer que ele prendeu o ladrão, mas nada será feito. Então o que você precisa fazer é olhar para dentro e ver de onde a mente surge. Uma vez que você vir a Fonte da mente, ela desaparecerá.

O primeiro pensamento a surgir na mente é o pensamento-eu. Todos os outros inumeráveis pensamentos surgem apenas depois do pensamento-eu e têm nele sua origem. Em outras palavras, apenas depois do pronome de primeira pessoa, “eu”, surgir, é que os pronomes de segunda e terceira pessoa, “tu” e “ele”, ocorrem para a mente; estes não subsistem sem aquele.

Como todos os outros pensamentos só podem surgir depois do aparecimento do pensamento-eu, e como a mente nada mais é do que um conglomerado de pensamentos, é apenas [voltando a atenção ao pensamento-eu] através da inquirição “Quem sou eu?” que a mente será extinta. Além disso, o pensamento-eu – implícito na investigação “Quem sou eu?” – destruirá todos os outros pensamentos e, como a vareta usada para avivar a fogueira, no final ele mesmo será consumido.

Você não precisa eliminar nenhum falso “eu”. Como pode o “eu” eliminar a si mesmo? Tudo o que você precisa fazer é encontrar a Fonte do “eu”, e permanecer lá. O seu esforço só pode levá-la até este ponto. A partir daí o Transcendental vai tomar conta de si mesmo. Você não pode fazer mais nada então. Nenhum esforço pode chegar até Ele.

O pensamento-“eu” é como um fantasma que, apesar de ser impalpável, surge simultaneamente com o corpo, vive e desaparece junto com ele. A consciência “eu sou o corpo/este é meu corpo” é o falso eu. Abandone-a. Você pode fazer isso buscando a fonte do sentimento “eu”. O corpo não diz “eu sou”. É você que diz “eu sou o corpo”. Descubra o que é este “eu”; busque sua fonte e ele desaparecerá."

sábado, 4 de abril de 2009

A maestria dos humores - O Segredo do Anel

"Pensar que “Eu sou a mente”, é ser não perceptivo. Saber que a mente é apenas um mecanismo exatamente como o corpo, saber que a mente está separada... A noite chega, a manhã vem: você não fica identificado com a noite. Você não diz, “eu sou a noite”, não diz “eu sou a manhã”. A noite chega, a manhã chega, o dia vem, novamente a noite vem. A roda prossegue girando, mas você permanece alerta sabendo que você não é nenhuma dessas coisas.

O mesmo é o caso com a mente. Raiva vem, mas você esquece e fica zangado. Ambição chega, você esquece e se torna a ambição. Ódio vem, você esquece e se torna o ódio. Isso é falta de percepção.

Percepção é observar que a mente está cheia de ambição, cheia de raiva, cheia de ódio ou repleta de desejos, mas você é simplesmente um observador. Então você pode ver a ambição surgindo, tornando-se uma grande nuvem escura, depois dispersando-se – e você permanece intocado. Quanto tempo isso pode durar? Sua raiva é momentânea, sua ambição é momentânea, seu desejo é momentâneo. Basta observar um pouco e você ficará surpreso: tudo isso vem e vai. E você fica aí impassível, tranquilo, calmo.



A coisa mais básica a ser lembrada é que, quando você está sentindo-se bem, em um estado de êxtase, não comece a pensar que isso vai ser seu estado permanente. Viva o momento de forma tão feliz e alegre quanto possível, sabendo perfeitamente bem que isso veio e irá passar, assim como uma brisa entra em sua casa, com toda sua fragrância e frescor, e sai pela outra porta.

Essa é a coisa mais fundamental. Se você começar a pensar em termos de tornar seus momentos de êxtase permanentes, você já começou a destruí-los. Quando estes acontecerem, seja grato. Quando se forem, agradeça à existência. Permaneça aberto. Isso irá acontecer muitas vezes, não faça julgamentos, não selecione. Permaneça neutro, sem escolhas.
Sim, haverá momentos quando você irá se sentir miserável. E daí? Existem pessoas que são miseráveis e que nem mesmo conheceram um único momento de êxtase: você é afortunado. Mesmo em sua miséria, lembre-se de que ela não será permanente, também passará, então não se preocupe muito com isso. Fique tranqüilo.

Assim como há o dia e a noite, também há momentos de alegria e de tristeza. Aceite isso como parte da dualidade da natureza, como parte da forma de ser própria das coisas. E você é simplesmente um observador: não se torna nem a felicidade nem a miséria. Felicidade vem e passa, miséria vem e passa. Uma coisa continua sempre presente: aquele que observa, aquele que testemunha.

Aos poucos, fique cada vez mais centrado no observador. Dias e noites virão... vidas e mortes virão... sucesso e fracasso irão ocorrer. Mas se você estiver centrado no observador, pois essa é a única realidade em você, tudo mais é um fenômeno passageiro.

Por um momento, tente sentir o que estou dizendo: seja apenas um observador.

Não se apegue a nenhum momento por este ser belo, e não fuja de nenhum momento por este ser miserável. Pare com isso. Você vem fazendo isso por vidas. Nunca teve sucesso e jamais terá. A única maneira de ir além, de permanecer além, é encontrar um lugar de onde possa observar todos esses fenômenos mutantes sem ficar identificado com eles.

Vou contar uma antiga história Sufi.

Um rei perguntou aos sábios da corte: “Estou fazendo um anel belíssimo para mim mesmo. Consegui um dos melhores diamantes que existe. Quero manter, escondido dentro do anel, uma mensagem que possa me auxiliar num momento de completo desespero. Terá que ser bem pequena para que possa ficar oculta sob o diamante no anel.”

Todos os sábios estavam reunidos, todos grandes eruditos. Poderiam escrever grandes tratados. Mas dar ao rei uma mensagem com apenas duas ou três palavras que pudesse ajudá-lo em momentos de completo desespero... eles pensaram, procuraram em seus livros, mas nada puderam encontrar.

O rei tinha um servo antigo que era quase como seu pai – ele já tinha servido também a seu pai. A mãe do rei havia morrido cedo e esse servo cuidou dele, assim ele não era tratado como um empregado. O rei tinha imenso respeito por ele. O velho disse, “Não sou um sábio, culto, conhecedor de muitos assuntos, mas sei qual é a mensagem, pois só existe uma mensagem. E estas pessoas não podem dá-la a você. Ela só pode ser dada por um místico, por um homem que tenha realizado a si mesmo.”

Em minha longa vida no palácio, encontrei todo tipo de pessoas, e uma vez, um místico. Ele também era um hóspede de seu pai e fui colocado para servi-lo. Quando ele estava para partir, como um gesto de agradecimento por todos os meus serviços ele me deu essa mensagem” e a escreveu num pedacinho de papel, depois dobrou o papel e disse ao rei, “Não leia agora, apenas a mantenha escondida no anel. Só leia esta mensagem quando tudo mais tiver falhado, quando não houver mais saída.

E essa hora não demorou a chegar. O país foi invadido e o rei perdeu seu reino. Ele estava fugindo em seu cavalo para salvar sua vida e os cavalos dos inimigos o estavam seguindo. Ele estava sozinho, e eles eram muitos. Depois ele chegou a um ponto onde a estrada acabava, num lugar sem saída, só havia um despenhadeiro. Cair dali seria o fim. Ele não podia retornar, o inimigo estava ali e ele podia ouvir o som dos cavalos se aproximando. Não podia avançar, não havia saída...

Então, lembrou-se do anel. Ele o abriu, tirou o papel, e havia uma pequena mensagem de enorme valor: simplesmente dizia, “Isso também irá passar.

Um grande silêncio recaiu sobre ele enquanto lia a frase: isso também irá passar. E passou. Tudo passa, nada permanece eternamente nesse mundo. Os inimigos que o seguiam devem ter se perdido na floresta, devem ter tomado o caminho errado. Os cavalos se afastavam aos poucos, até que não era mais possível ouvi-los.

O rei ficou imensamente agradecido ao serviçal e ao místico desconhecido. Aquelas palavras provaram ser milagrosas. Ele dobrou o papel, colocou-o de volta no anel, reuniu seus exércitos e reconquistou seu reino. E quando voltou à capital, vitorioso, havia uma grande celebração por toda a cidade, com música e dança, e ele sentia muito orgulho de si mesmo. O velho serviçal caminhava ao lado de sua carruagem. Ele disse: “Essa também é uma boa hora: leia de novo a mensagem.”

O rei falou: “O que você quer dizer? Sou vitorioso, o povo está celebrando, não estou desesperado, não estou numa situação da qual não há saída.”

O velho serviçal disse, “Escute. Foi isso que o santo disse para mim: esta mensagem não é só para os momentos de desespero, também é para os de grande prazer. Essa não é somente para quando você for derrotado, mas para quando você for vitorioso. Não apenas para quando você for o último, mas também para quando for o primeiro.”

E o rei abriu o anel e leu a mensagem: “isso também irá passar,” e de repente, a mesma paz, o mesmo silêncio no meio da multidão que celebrava alegre, dançando. Mas o orgulho, o ego não estavam mais presentes. Tudo passa.

Ele pediu ao servo que se aproximasse mais da carruagem e se sentasse ao seu lado. Perguntou: “Há mais alguma coisa? Tudo passa... Sua mensagem me ajudou muito.”

O velho servo disse: a terceira coisa que o santo disse foi: lembre-se, tudo passa. Só você permanece. Você permanece sempre como uma testemunha.”

Tudo passa, mas você permanece. Você é a realidade e tudo mais é somente um sonho. Belos sonhos, pesadelos. Mas não importa se é um belo sonho ou um pesadelo, o que importa é aquele que está vendo o sonho. Aquele que vê é a única realidade."