segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Semente da Consciência - (Nisargadatta Maharaj)


"Ele parecia inquieto e agitado.
Seus movimentos eram espasmódicos e ele estava, obviamente, cheio de impaciência. Era um europeu de meia-idade, esguio e em boas condições físicas.
Era sua primeira visita a Maharaj.
Sua agitação atraiu a atenção de todos para ele.
Quando Maharaj olhou para ele, as lágrimas repentinamente correram de seus olhos.
Um olhar compassivo de Maharaj pareceu acalmá-lo um pouco e ele, então, deu as usuais informações sobre si mesmo em poucas palavras.

Disse que tinha sido um estudante do Vedanta por pelo menos vinte anos, mas que sua busca pela verdade havia fracassado.
Estava profundamente desanimado e desiludido e não podia mais continuar sua frustrante busca.
Um lampejo de esperança surgiu para ele quando ele leu o livro de Maharaj Eu Sou Aquilo e sabia que havia encontrado a resposta.
Imediatamente ele juntou a quantidade mínima de dinheiro necessária para uma viagem à Índia, e acabava de chegar a Bombaim.
Com a voz agitada, ele disse “Cheguei agora. Minha busca terminou.”
Lágrimas estavam correndo livremente de seus olhos e ele não podia controlar-se.
Maharaj escutou-o com gravidade e permaneceu sentando por poucos minutos com os olhos fechados, talvez para dar a ele o tempo para se recuperar.

Então, perguntou se ele estava firmemente convencido de que não era o corpo.
O visitante confirmou que estava bastante claro para ele que não era meramente o corpo, mas alguma outra coisa que não o corpo e, como estava claramente explicado no livro, que este algo devia ser o conhecimento ‘eu sou’, o sentido de ser.
Mas, ele acrescentou, não podia entender o que se queria dizer com a sugestão de que ele deveria permanecer continuamente com o conhecimento ‘eu sou’.
O que, exatamente, supunha-se que ele deveria fazer?

“Por favor, Mestre” – disse a Maharaj –, “estou agora insuportavelmente cansado de palavras.
Tenho-as lido e ouvido aos milhões e nada ganhei com elas.
Conceda-me a substância agora, não meras palavras.
Serei eternamente grato a você.

“Muito bem” – disse Maharaj – “Você terá a substância agora.
Certamente, terei que usar palavras para comunicá-la a você.”
Maharaj, então, prosseguiu: Se eu dissesse para inverter a marcha e voltar para a origem de seu ser, teria algum sentido para você?

Em resposta, o visitante disse que seu coração aceitou intuitivamente a verdade da afirmação de Maharaj, mas ele teria que se aprofundar no assunto.

Maharaj, então, disse-lhe que ele devia entender toda situação clara e instantaneamente; isto ele poderia fazer apenas se fosse à raiz do assunto.
Ele deveria descobrir como o conhecimento ‘eu sou’ apareceu pela primeira vez.
A semente é a coisa, disse Maharaj.
Descubra a semente de seu ser e você conhecerá a semente do universo inteiro.

Maharaj continuou: Como sabe, você tem um corpo e, no corpo, está o Prana, ou a força vital, e a consciência (o ser, ou o conhecimento ‘eu sou’).
Agora, este fenômeno total do ser humano é de qualquer forma diferente do das outras criaturas ou mesmo da grama que brota da terra?

Pense profundamente sobre isto.
Suponha que um pouco de água se acumule em seu quintal; depois de um tempo, o corpo de um inseto se forma ali; ele começa a mover-se e sabe que existe.
E, novamente, suponha que um pedaço de pão velho é deixado em um canto por alguns dias; um verme aparece nele e começa a mover-se, e sabe que existe.

O ovo de uma ave, depois de chocado por certo tempo, quebra, repentinamente, e aparece um pequeno pinto; ele começa a mover-se e sabe que existe.
O esperma do homem germinou no útero da mulher e, depois do período de nove meses, nasce como um bebê.
O esperma desenvolveu-se na forma de uma criança plenamente formada que passa pelos estados de vigília e sono e realiza suas funções físicas comuns, e sabe que existe. Em todos estes casos – o inseto, o verme, o pinto e o ser humano – o que realmente nasceu? O que ‘supervisionou’ o processo da concepção ao nascimento?

Não seria o conhecimento ‘eu sou’ que permaneceu latente da concepção ao parto e, no tempo devido, ‘nasceu’?
Este ser, ou consciência, idêntico em todos os quatro casos, achando-se sem qualquer tipo de ‘apoio’, identifica-se erroneamente com a forma particular que assumiu.
Em outras palavras, o que é realmente sem qualquer aspecto ou forma, o conhecimento ‘eu sou’, precisamente este sentido de ser (não ser isto ou ser aquilo, mas tão só consciência), limita-se apenas a uma forma particular e, com isto, aceita seu próprio ‘nascimento’, e daí para frente vive sob a constante sombra do terror da ‘morte’.

Assim nasce a noção de uma personalidade individual, ou identidade, ou ego.
Vê agora a origem desse estado de ‘eu sou’?
Ele não é dependente do corpo para sua existência individual?
E o corpo não é meramente o esperma germinado que desenvolveu a si mesmo?
E, o que é mais importante, é o esperma outra coisa senão a essência do alimento consumido pelos pais da criança?
E, finalmente, não seria o alimento algo constituído pelos quatro elementos (éter, ar, fogo e água) por meio do quinto, a terra?

Assim, segue-se o rastro da semente da consciência até chegar ao alimento, e o corpo é o ‘alimento’ da consciência; assim que o corpo morre, a consciência também desaparece.
E, ainda, a consciência é a ‘semente’ do universo inteiro!

Todo indivíduo tem, sempre que sonha, a experiência idêntica de um mundo sendo criado na consciência. Quando uma pessoa não está totalmente acordada e a consciência é apenas estimulada, ela sonha; e, em seu sonho, naquele ponto mínimo de consciência, cria um mundo de sonhos inteiro, similar ao mundo ‘real’ externo – tudo em um instante – e, naquele mundo, são vistos o sol, a terra com montanhas e rios, construções e pessoas (incluindo o próprio sonhador) comportando-se exatamente como as pessoas no mundo ‘real’.

Enquanto durar o sonho, o mundo do sonho é, de fato, bem real, e as experiências das pessoas no sonho, incluindo o próprio sonhador, parecem ser verdadeiras, tangíveis e autênticas, talvez mesmo mais do que aquelas do mundo ‘real’.
Mas, uma vez que o sonhador acorde, todo o mundo de sonhos com todas as suas ‘realidades’ que existiam se desvanecem na consciência na qual foram criados.

No estado de vigília, o mundo surge por causa da semente da ignorância (Maya, consciência, ser, Prakriti, Ishwara, etc.) e o coloca em um estado de vigília-sonho. Você sonha que está acordado; você sonha que está dormindo – e você não compreende que está sonhando porque ainda está no sonho. De fato, quando você compreende que tudo é um sonho, você já terá ‘despertado’! Apenas o Jnani conhece a vigília e o sonho verdadeiros.

Neste estágio, quando Maharaj perguntou ao visitante se tinha alguma pergunta sobre o que tinha ouvido até o momento, ele perguntou prontamente: “Qual é o princípio, ou o mecanismo conceitual, por trás da criação do mundo?”

Maharaj ficou satisfeito, porque o visitante tinha usado corretamente as palavras ‘mecanismo conceitual’, pois ele freqüentemente nos lembra que toda criação do mundo é conceitual, e que é muito importante lembrar este fato e não o esquecer no meio de toda a profusão de palavras e conceitos.

Maharaj, então, continuou: O estado original – o Parabrahman – é incondicionado, sem atributos, sem forma, sem identidade.
Sem dúvida, este estado não é nada senão plenitude (não um ‘vácuo’ vazio, mas pleno), de modo que é impossível dar-lhe um nome adequado. Visando a comunicação, contudo, um certo número de palavras tem que ser usado para ‘indicar’ aquele estado.

Naquele estado original, anterior a qualquer conceito, a consciência – o pensamento ‘eu sou’ – espontaneamente desperta para a existência.
Como?
Por quê?
Por nenhuma razão aparente – como uma mansa onda sobre a superfície do mar!

O pensamento ‘eu sou’ é a semente do som Aum, o som primordial, ou Nada, no momento da criação do universo.
Ele consiste em três sons: a, u e m. Estes três sons representam os três atributos – Sattva, Rajas, Tamas, os quais produzem os três estados de vigília, sonho e sono profundo (também chamados consciência ou harmonia, atividade e inércia).

Foi na consciência que o mundo surgiu.
De fato, o primeiro pensamento ‘eu sou’ criou o sentido de dualidade no estado original de unicidade.
Nenhuma criação pode aparecer sem a dualidade do princípio da maternidade e paternidade – masculino e feminino, Purusha e Prakriti.

A criação do mundo como uma aparência na consciência tem dez aspectos – o princípio gerador da dualidade; a matéria física e química, sendo a essência dos cinco elementos (éter, ar, fogo, água e terra) em fricção mútua; e os três atributos de Sattva, Rajas e Tamas.

Um indivíduo pode pensar que é ele que atua, mas, verdadeiramente, é a essência dos cinco elementos, o Prana, a força vital, que atua através da combinação particular dos três atributos em uma forma física particular.

Quando a criação do mundo é vista nesta perspectiva, é fácil perceber porque os pensamentos e ações de um indivíduo (o qual é apenas um aparato psicossomático) diferem tanto em qualidade e grau daqueles de milhões de outros; porque, por um lado, existem Mahatmas Ghandis e, por outro, Hitlers.

É um fato evidente que as impressões digitais de uma pessoa não são nunca similares àquelas de qualquer outra pessoa; folhas da mesma árvore são diferentes umas das outras em ínfimos detalhes.

A razão é que as permutações e combinações dos cinco elementos, mais os três atributos em seus milhões de matizes, chegariam a bilhões e trilhões.
Certamente, podemos admirar o que é admirável e amar o que é adorável, mas devemos compreender o que é que realmente amamos e admiramos – não o indivíduo conceitual, mas a maravilhosa habilidade de atuação da consciência que é capaz de desempenhar simultaneamente milhões de papéis nesta representação de sonho que o mundo é!

Para evitar perder-se na desconcertante diversidade do espetáculo de Maya (Lila), Maharaj disse que é necessário, neste estágio, não esquecer a unidade essencial entre o Absoluto e o relativo, entre o não-manifesto e o manifesto.

A manifestação aparece na existência apenas com o conceito básico ‘eu sou’.
O substrato é o númeno, que é a potencialidade total.
Com o surgimento do estado de ‘eu sou’, o númeno se reflete no universo fenomênico, o qual só em aparência será exterior a ele.

Para ver a si mesmo, o númeno se objetiva no fenômeno e, para que esta objetivação aconteça, o espaço e o tempo são os conceitos necessários (nos quais os fenômenos são estendidos em volume e duração).
O fenômeno, portanto, não é algo diferente do númeno, mas o próprio númeno objetivado.

É necessário entender – e nunca esquecer – esta identidade essencial.
Uma vez que o conceito ‘eu sou’ surja, a unidade fundamental fica teoricamente separada, como sujeito e objeto, na dualidade.
Quando a consciência impessoal se manifesta e identifica a si mesma em cada forma física, a noção do eu surge, e esta noção, esquecendo que não tem nenhuma entidade independente, converte sua subjetividade original em um objeto com intenções, necessidades e desejos e é, portanto, vulnerável ao sofrimento.

Esta identidade errada é precisamente a ‘escravidão’ da qual se busca liberação.
E o que é ‘liberação’? Liberação, iluminação, ou despertar, não é outra coisa senão entender profundamente, aperceber-se – (a) que a semente de toda a manifestação é a consciência impessoal, (b) que o que se busca é o aspecto não-manifestado da manifestação e (c) que, portanto, o próprio buscador é o buscado!

Resumindo o discurso, Maharaj disse:
Revisemos tudo isto novamente.

1.No estado original prevalece o Eu sou, sem qualquer conhecimento ou condicionamento, sem atributos, sem forma ou identidade.

2.Então, por nenhuma razão aparente (exceto aquela de que é sua natureza ser assim), surge o pensamento, ou conceito eu sou, a Consciência Impessoal, sobre a qual o mundo aparece como um sonho vívido.

3.A consciência, para se manifestar, necessita de uma forma, um corpo físico, com o qual se identifica e, assim, começa o conceito de ‘escravidão’, com uma objetivação imaginária do ‘eu’. Quando se pensa e se atua do ponto de vista desta auto-identificação, pode-se dizer que se cometeu o ‘pecado original’ de transformar a pura subjetividade (o potencial ilimitado) em um objeto, uma realidade limitada.

4.Nenhum objeto tem uma existência independente por si mesmo e, portanto, não pode despertar do sonho vivente; ainda assim – e esta é a piada – o fantasma individual (um objeto) busca algum outro objeto como o ‘Absoluto’, ou ‘Realidade’, ou o que for.

5.Se isto estiver claro, deve-se inverter o rumo e voltar para descobrir o que se era originalmente (e sempre se tem sido) antes do surgimento da consciência.

6.Neste ponto surge o ‘despertar’ de que não se é nem o corpo nem mesmo a consciência, mas o estado inefável da total potencialidade, anterior à chegada da consciência (na consciência, este estado, seja qual for o nome, pode ser apenas um conceito).

7.E, assim, o círculo está completo; o buscador é o buscado.

Em conclusão, disse Maharaj, deve-se entender profundamente que, como ‘Eu’, se é númeno.
A condição atual da fenomenalidade (cuja semente é a consciência) é temporária, como uma doença ou um eclipse sobre a condição imutável original da numenalidade, e tudo o que se pode fazer é viver o tempo destinado da vida, no fim do qual o eclipse da fenomenalidade termina e a numenalidade prevalece novamente em sua pura unicidade, totalmente inconsciente de sua Consciência.

Durante toda esta exposição, o visitante permaneceu imóvel como se estivesse sob um encantamento. Fez uma ou duas tentativas infrutíferas de falar, mas Maharaj parou-o rapidamente com um gesto firme, e ele permaneceu sentado ali em perfeita paz até depois de outros visitantes terem apresentado seus respeitos a Maharaj e saírem, um por um."


Fonte: "Sinais do Absoluto" Pointers from Nisargadatta Maharaj - edição da Editora Advaita.

O Programa de Remoção da Matriz do Medo Essencial - (Fonte:Além da Ascensão/Joshua David Stone)


“O oposto do amor é o medo.”
(Um Curso Em Milagres)

O Programa de Remoção de Matrizes é uma graça recebida pela Terra para a remoção do medo essencial. Existem somente duas emoções em todo o mundo; AMOR E MEDO. Todas as outras emoções reduzem-se essencialmente a uma dessas duas.
Outra forma de dizer a mesma coisa é afirmar que só existem duas maneiras de pensar: com a mente crística ou com a mente do ego negativo; você pensa com o eu inferior ou com o eu superior; tem emoções e reações fundadas no medo, ou emoções e reações fundadas no amor.

O Programa de Remoção de Matrizes é uma graça divina do Criador, que possibilita que os membros mais maduros da Hierarquia Espiritual, hoje vivendo nos planos ocultos, retirem os fatores do medo essencial da sua mente subconsciente e do seu sistema de quatro corpos.

Via clarividência, o processo pode ser visto como se raízes negras, com muitos tentáculos espalhados pelo corpo, fossem arrancadas da mesma forma que um jardineiro arrancaria uma erva daninha do chão.

As raízes dessa erva daninha do jardim se parecem muito com as raízes emocionais e mentais dos fatores do medo essencial. Quando essas raízes são arrancadas e eliminadas, como se um vácuo as sugasse pelo chackra da coroa, elas são completamente apagadas dos registros da sua alma.

Esse trabalho pode ser feito por qualquer um dos mestres ligados aos sete raios no plano oculto. Sugiro que você peça ajuda a Djwal Khul e a Vywamus, pois eles são muito competentes nessa área. Basta pedi-la! Esse programa de remoção de matrizes é estupendo e nunca esteve disponível.

Você tem o medo arraigado no seu ser, senão não estaria vivendo neste planeta e já teria se “formado” há muito tempo. Pense num medo que você carregue. Peça a Djwhal Khul, a Vywamus e à sua Poderosa Presença do Eu Sou que o removam. Se você não tem o dom da clarividência, e não pode ver o processo acontecendo de fato, pode, assim mesmo, sentir a remoção sutil do medo pelo chakra da coroa.

Sempre que se sentir irritado, ou tiver alguma reação ou emoção negativa, isso é sinal de que o medo foi acionado. Invoque, imediatamente, os mestres ascensionados e peça a remoção desse medo.

Peça também para ser oficialmente inscrito no programa de remoção da matriz do medo em essencial conduzido pela Hierarquia Espiritual. Uma vez inscrito no plano oculto, os mestres trabalharão em você continuamente, sem que sequer tenha de pedi-lo.

Há, porém, uma compreensão extremamente importante que você precisa alcançar em relação a esse processo: 90% a 50% do seu medo essencial pode ser removido, mas ele retornará se a sua consciência, a sua mente racional, não mantiver a filosofia de sempre tentar pensar com a mente crística, e não com a mente do ego negativo. Você não irá reconhecer a Deus a não ser que aprenda a transcender o pensamento do ego negativo, ou eu inferior. É o seu pensamento que cria a sua realidade. Todo sofrimento é auto-induzido. Desde que você aprenda a pensar corretamente, o medo essencial que foi removido não retornará.

Se quiser fazer um excelente bem ao mundo, peça que ele também seja removido da consciência coletiva da humanidade.

Fonte:Além da Ascensão/Joshua David Stone
http://avidaimpessoal.blogspot.com/

Encontrando seu Verdadeiro Ser - (Prem Baba)


"Poderia falar um pouco sobre as diferenças entre o caminho do buscador e do achador?
É muito simples: você busca até achar. Eu, por exemplo, busquei freneticamente, em muitas religiões, escolas espirituais, mestres e livros. Às vezes eu vivia a ilusão de ter encontrado, porém continuava uma angústia - eu sabia que não tinha encontrado, que ainda faltava algo. Até que encontrei meu guru. Quando o encontrei e me entreguei para ele, realmente senti que havia encontrado - ainda carregava uma angústia, mas tinha certeza de que já tinha encontrado o que precisava. De fato, pouco a pouco a angústia foi desaparecendo.

Quanto tempo levou para essa angústia desaparecer?
Foram algumas vidas para eu descobrir que havia encontrado e três anos para a angústia desaparecer completamente. Fiquei três anos brigando com o meu mestre. “Será que encontrei mesmo?”, eu pensava. No fundo sabia que já tinha encontrado. É importante compreender isso: você só recebe iniciação em um Yoga dessa natureza quando já tem um vislumbre da divindade.

Eu tive um vislumbre e pude me entregar, mas após ter passado a graça da iniciação. Obviamente, fui entrando nos meus infernos internos que a própria iniciação puxou. A própria graça do meu guru foi destruindo a ignorância que ainda existia em mim, sendo uma das manifestações justamente a falta de fé, a dúvida, uma dificuldade de me entregar definitivamente, sem reservas.

Fui buscar ajuda para poder me entregar para o meu guru: do Dalai Lama, do Sathya Sai Baba, do Ravishankar e outros mestres que conheci. Fui pedir ajuda porque não conseguia me entregar de verdade, porque existia uma barreira dentro de mim: um orgulho que eu carregava há muitas vidas. Até que consegui, e quando eu me entreguei de verdade, iluminei-me e entrei em Samadhi. Aconteceu o fenômeno: dei o salto.

Compreendi que a entrega é a ante-sala da iluminação. A busca vai purificando a ignorância aparelho para viver essa experiência, por meio da aquisição de conhecimento e práticas. A ignorância nasce dessa idéia de eu, com todas as máscaras.
Todos os mestres que encontrei foram importantíssimos na minha vida. Aprendi, recebi muito e purifiquei uma parte da personalidade que precisava ser purificada. Até que meu sistema todo se preparou para essa experiência, e aí pude vivê-la e entrei em Samadhi. Então, descobri. Encontrei o que buscava depois de tanto tempo. Não sabia nem o que era - apenas tinha uma idéia. O que eu sabia era que estava insatisfeito. Por isso continuava buscando."

Com Deus - (Prem Baba)


Satsang - Índia 2008

domingo, 23 de maio de 2010

Vivência: Dançando a Vida - (Prem Baba)


Mais um tempo de treinamento.

Escolha uma postura estável, confortável, coluna alinhada, a cabeça está no prolongamento da coluna, os olhos estão fechados com suavidade.

Dê uma passada dos pés à cabeça. Observe onde há tensão e desconforto. Se você localizar desconforto em alguma parte, foque aí sua consciência. Se você percebe desconforto em uma área, vá reduzindo essa área até você localizar um ponto, que é o ponto responsável pelo bloqueio da energia.

Dialogue com esse ponto. Pergunte: quem é você? O que é você? Permita que a tensão se revele na forma de um pensamento ou sentimento e simplesmente observe, identifique o padrão, se ele é repetitivo, se é ressentimento, mágoa, culpa, se é algum medo – medo de quê? Perceba a resistência no fluxo da energia. Perceba a resistência ao fluxo da vida, da existência e do momento presente.

A chave para se libertar do desconforto é o perdão, que liberta os ressentimentos e mágoas. E você pode aceitar as coisas como são, relaxando, permitindo-se dançar a dança da vida no ritmo da música.

Não é o ritmo do falso eu que, identificado com o sofrimento, quer fazer a sua própria música. O pequeno eu, que é o primeiro pronome manifesto através da mente, gera o “meu”. Você quer se apropriar da música. Mas a música é toda a existência. Liberte-se do eu e do meu e permita que a existência flua através de você.

Assim, tranqüilize-se mais e mais. Relaxe mais e mais. Não há o que conquistar. A sua mente quer remover a ignorância criada pelo falso eu, assim, permita-se se aquietar mais e mais. Não há necessidade alguma de luta e de esforços porque não há o que conquistar, há só que relaxar e aceitar a vida.

Uma vida onde cada um dá o que pode. Cada um cumpre o seu papel nesse drama cósmico. Aprenda a respeitar o tempo, aprenda a respeitar cada expressão do jeito que ela vem, aprenda a respeitar cada um de seus semelhantes com tudo o que ele está sendo nesse momento, aprenda a olhar através do Eu Inferior, da nuvem de pensamentos, e enxergar o Ser de luz que há nele.

Essa visão só é possível através da presença. Quando seus pensamentos cessam, você pode claramente ver o outro, além da ilusão e da distorção criada pela mente. Assim você o aceita, porque você compreende que ele é tão somente uma personagem nesse drama divino.

O amor se revela quando você pede perdão, e o perdão se revela quando você aceita. E você aceita quando abandona o eu e o meu.

Assim, sinta-se ocupando o seu corpo. Irradie a luz da presença. Visualize-se mergulhado num oceano de luz. Inspire e expire. Amplie cada vez mais a consciência de que você ocupa o corpo.

Ponha foco no silêncio, o silêncio que a tudo permeia. Os sons entram e saem do campo de silêncio, e ele permanece. É nesse silêncio que você deve focar a sua atenção. Ao surgir qualquer pensamento, detenha-o na fonte, perguntando com veemência: a quem surge? Quem sou eu?

Não se deixe levar pelas fantasias e pelos dramas gerados pelo falso eu. Interrompa a fantasia observando a resistência, observando os impedimentos, tomando consciência de sua natureza e libertando-se, tomando a decisão, fazendo a escolha de abrir mão da negatividade e do sofrimento, mantendo a investigação do Ser com constância cada vez mais acentuada.

Quem sou eu?

"Chi" é uma palavra de origem chinesa, que designa a essência ou energia vital do Universo, presente em todos os seres e coisas.



Fonte: http://www.prembaba.org.br/home.htm

A voz do silêncio - (Prem Baba)


"Sinta-se ocupando seu corpo.
Sinta-se presente.
Perceba a presença iluminando cada canto da sua mente.
...

A voz do silêncio é a voz da intuição.
A voz de Deus.
Que se manifesta quando você está na paz de Deus."

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Amma on CNN


July 2007

Você já se vê desvencilhado de tudo o que pertence à dualidade? - (Mensagem de ALPHA, por Célia G.)




"Eu sou Alpha, e venho conversar um pouco.

Você já quer viver no mundo das dimensões superiores?
Você não vê a hora de toda a transição ser completada?
Você já se vê desvencilhado de tudo o que pertence à dualidade?

Acha que sim? Então vamos ver:

O que você sente quando recebe uma crítica a algum trabalho que realizou? Agradece ou se revolta?

O que você sente quando alguém lhe oferece a mão para superar algum bloqueio, alguma dificuldade? Agradece ou se sente inferiorizado?

O que você sente quando percebe o amor que alguém está lhe dedicando? Agradece ou se sente intimidado?

Quantas vezes durante o dia de hoje você utilizou manobras de controle, de manipulação?

Quantas vezes durante o dia de hoje você deixou de dedicar ou retribuir um sorriso?

Quantas vezes durante o dia de hoje você se sentiu crescer diante de alguém que veio lhe pedir uma explicação, um conselho, uma orientação?

Quantas vezes você parou hoje para sentir e ouvir seu coração?

São muitas as perguntas, mas todas muito, muito simples. As respostas, entretanto, podem custar a ser pronunciadas, diria mais, difíceis de serem conscientemente aceitas. Mas seu corpo indicará a resposta, pelo subir da energia, como quando sentimos ao levar um susto, ou ao sermos surpreendidos em algo que preferiríamos esconder.

Não quero que você pronuncie a resposta, não é preciso, apenas sinta o que seu próprio corpo lhe diz. Sim, porque até mesmo seu consciente, seu mental, pode estar querendo te enganar. Seu corpo jamais faria isso. Porque seu corpo segue seu coração, embora você nem sequer imagine isso.

Então, minha vinda hoje foi apenas para ter essa pequena conversa. Eu e seu coração, eu e seu corpo. Porque essa conversa busca a verdade. A única verdade.

De nada vale para a evolução espiritual a ininterrupta leitura de quantas linhas conseguir durante todos os minutos de seu dia. O único e verdadeiro valor é o sentir, é o incorporar e manifestar as verdades de sua alma, de seu coração.

De nada vale para a evolução espiritual você conhecer os fatos, os mensageiros, as mensagens, se, no contato com aqueles que lhe são próximos, o que sai de você é arrogância, superioridade, controle, manipulação.

De nada vale você querer ou saber estar no Serviço da Luz, se assume essa posição como se estivesse assumindo o mais alto cargo de uma empresa, e o exerce sob a forma de domínio, de controle, de chefia.

Não, o verdadeiro trabalhador da luz não é isso. O verdadeiro Serviço não é isso.

Pare um pouco, observe o que você está sinceramente almejando quando diz que está no Serviço. Seja sincero, verdadeiramente sincero consigo mesmo. Será que não existe nesse seu serviço uma velada intenção de aparecer dentre seus irmãos, no sentido de ser visto como superior, como aquele que sabe, como aquele que diz: venham, sigam-me!?

É difícil assumir, eu sei, mas, infelizmente, a vaidade ainda está presente na maioria dos que se dizem trabalhadores da luz.

E não só a vaidade, mas muitos outros atributos característicos dessa dualidade dissociada, como a necessidade do poder, a necessidade de valorização, a necessidade de julgar e de apontar os erros e defeitos que se vê no outro, e isso tudo porque, até então, o que se diz trabalhador da luz ainda não está, efetivamente, na Luz, na Verdade, pois, quando isso ocorre, ele vê a todos como irmãos, como semelhantes, e o único sentimento que lhe invade é o AMOR INCONDICIONAL.

Não há mais revolta, não há mais medo, não há mais vergonha, não há mais comparações, não há mais julgamentos, não há mais um que se sobreponha ao outro, não há mais competição, nada mais há a esconder, a ocultar.

Há sim a bondade, a fraternidade, o ajudar no espírito colaborativo, há o Serviço em nome da Luz, com alegria e amor, e não como responsabilidade, como obrigação, como uma corrida para ver quem chega primeiro ou quem consegue alcançar o prêmio.

O prêmio, esse existe sim, mas é para todos: é um mundo maravilhoso onde não existem mais sombras, onde não existem mais mentiras, onde não existem mais provocações, onde não existe mais a competição que apenas faz aumentar os perdedores.

Então, essa é minha mensagem de hoje: parem, parem e fiquem com vocês, o maior tempo possível. Entendam-se, encaixem-se, aceitem-se, amem-se, sejam apenas AMOR e tenham apenas isso nas mãos no convívio com seus semelhantes.

Assim, tudo fluirá.

Eu, de minha parte, deixo com vocês também meu AMOR.

Nada do que os espera do outro lado do véu pode ser nem mesmo imaginado, por qualquer um de vocês.

Ainda que em muitas ocasiões lhes tenham sido mostradas ou informadas algumas das características dos mundos evoluídos, suas mentes não possuem, eu diria, a capacidade de visualizar a realidade do que é.

Vocês já pararam para imaginar, por exemplo, que os pensamentos são ouvidos por todos? Você já imaginou isso?

Como um ser dessa dualidade, você não pode se ver nessa situação não é mesmo? Como seria se seu interlocutor ouvisse seus pensamentos? Sim, porque frequentemente o ser humano diz algo e pensa o oposto – mantém um sorriso na cara enquanto está extremamente entediado com aquela conversa ou com aquele encontro.

Com esse simples exemplo dá para ter uma pálida idéia do quão diferente é a realidade nas dimensões evoluídas.

Então, meus queridos amigos, não queiram viajar no mundo das idéias limitadas que o ser humano possui.

Sigam as orientações de seu coração, mantenham a conexão com seus guardiões, conservem a vibração na Luz e na Verdade tanto quanto possível, e desempenhem sua realidade ainda nessa dimensão de modo a conservar sempre o amor, a compreensão, a colaboração, a fraternidade.

Não é preciso saber os detalhes de tudo o que acontece, basta apenas saber que todos estão sendo amparados e protegidos e que, quanto mais estiverem no amor, na compreensão, na colaboração, na fraternidade, mais sentirão em sua vida o amor, a compreensão, a colaboração, a fraternidade e nosso apoio incondicional.

Unam-se a seus irmãos, tenham sempre um abraço caloroso e cheio de amor, compartilhem sentimentos e experiências, pois é dando que se recebe. Mas o dar incondicional, não o dar esperando a retribuição.

Pois o dar esperando a retribuição volta à dualidade, ao controle, à manipulação.

Abram-se para o AMOR.

Abram-se para a intuição também. Não façam como esse canal, que precisa ficar com a cabeça quase estourando para perceber que queremos transmitir alguma mensagem.

Por isso, é indispensável parar sempre o mínimo de tempo que seja, para que possam ouvir seu coração, sua intuição, nosso chamado também."






Canalizado por Célia G.
23 de Abril de 2010
Fonte: http://comunidade-espiritual.com/Reginamaste/blog/42-42vamos-parar-um-pouco-42-42-mensagem-de-alpha-por-celia-g/
Pedro Coelho
http://www.luzdegaia.org/

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sudarshan Kriya em casa - (Dicas fisioterapeuta e instrutora Marise Ferrer)



Passo 1:
Crie uma rotina diária, calma e serena, para exercitar a respiração consciente.

Passo 2:
Escolha um ambiente arejado e sem barulho.Não use ar-condicionado ou aparelho de som.

Passo 3:
Sente em uma cama ou superfície plana na qual se sinta realmente confortável. Feche os olhos.

Passo 4:
Apoie a mão espalmada aberta sobre o umbigo.

Passo 5:
Puxe o ar pelo nariz, inspirando profundamente, expandindo seu abdome - mas sem forçar seu limite.

Passo 6:
Solte o ar pelo nariz, contraindo o abdome e expirando profundamente.

Passo 7:
Pense nos movimentos respiratórios que está fazendo. Procure se concentrar apenas neles.

Passo 8:
Aposte numa série de 10 a 15 respirações, ao acordar e ao se deitar. O ideal é fazer sentada pela manhã e deitada à noite, de forma a relaxar mais e se preparar para uma boa noite de sono.

Passo 9:
Após a série, relaxe o corpo.


Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/bem-estar/reportagem/auto-ajuda/sudarshan-casa-422999.shtml

Entrevista com Sri Sri Ravi Shankar - Você anda respirando direito? - (Programa Alternativa Saude)



Conheça um pouco mais sobre o homem que está mudando o mundo e como a respiração pode nos ajudar a ter uma vida mais plena, livre de estresse e tensões.

sábado, 15 de maio de 2010

O tempo fechou... e agora? - (Liane Alves)


A vida muda rápido, a vida muda num instante, você se senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”, escreveu Jane Didion, em seu livro O Ano do Pensamento Mágico (ed. Difel). A morte repentina do marido, que sofreu um enfarte na mesa de jantar, transformou radicalmente a trajetória dessa jornalista americana.

De uma forma ou de outra, todas nós já experimentamos dias que amanhecem como qualquer um e dão uma guinada, abalando nossas estruturas. A psicóloga paulista Sandra Taiar interpreta o modo como respondemos a tais surpresas e mostra como é possível adquirir mais equilíbrio apesar da intensidade das circunstâncias. Psicoterapeuta há 25 anos, ela pratica e pesquisa a metodologia formativa do americano Stanley Keleman, criador da terapia somática formativa, que leva em consideração, entre outras coisas, a influência do corpo, da mente, da emoção e da sexualidade na nossa maneira de pensar e agir. Nessa entrevista, Sandra Taiar nos mostra passo a passo o que acontece conosco depois de um grande choque.



BF | Por que sentimos tanto medo do que é inesperado?
ST | Numa realidade em que nada permanece no mesmo lugar durante muito tempo, o desejo básico da maioria das pessoas é de estabilidade, continuidade e duração. Por exemplo: testemunhamos um número crescente de divórcios e separações, mas o sonho de muitas mulheres ainda é ter uma relação estável e duradoura, como as de antigamente. O mesmo acontece no mundo corporativo, onde o risco de uma demissão ou a descontinuidade de um trabalho O TEMPO FECHOU... E AGORA? está sempre presente. Resultado: quanto mais mudanças nos ameaçam, mais nos apegamos com unhas e dentes a tudo que acena com um mínimo de segurança. Ou seja, desejamos que a vida permaneça a mesma.

BF | Quais as consequências sociais dessa contradição entre o desejo de permanência e a realidade em constante transformação?
ST | Nesse mundo vertiginoso, não somos estimuladas a amadurecer respostas para as sucessivas crises e desafios que enfrentamos. Temos de estar sempre prontas para mudar e, para complicar, somos seduzidas continuamente por imagens idealizadas de perfeição e sucesso e por uma forte pressão por produtividade, sob pena de exclusão. Essa é a grande crise, o pânico de que a qualquer momento podemos ser excluídas e perder territórios conquistados. O medo do inesperado e a impossibilidade de assimilar as mudanças nos levam a situações crônicas de depressão, solidão, vazio e falta de sentido. Na tentativa de compensar o ritmo dessa sociedade, nos apegamos a valores tradicionais, que ainda nos dão a sensação de segurança, como o casamento, a estabilidade no emprego e os papéis femininos tradicionais. Talvez estejamos diante de uma sociedade de transição, que emerge de uma tradicional e estável para outra mais móvel e dinâmica.

BF | Por que é tão difícil aceitar a mudança repentina?
ST | Porque, em parte, precisamos da repetição, do previsível, pois assim construímos nossa estabilidade emocional, profissional, financeira e afetiva. Durante a primeira metade da vida, essencialmente, construímos essa estabilidade. Faz parte dessa fase competir, vencer, justamente com o objetivo de adquirir segurança. Ao mesmo tempo, formas muito rígidas nos asfixiam. Também precisamos do movimento, da mudança e da fluidez. Vivemos em busca de um equilíbrio entre esses dois aparentes paradoxos.

BF | O que acontece quando uma pessoa se vê diante de algo que causa um choque emocional?
ST | A resposta depende da maturidade, do quanto se consegue lidar com a situação ou ser machucado por ela. Ao mesmo tempo, um choque sempre dispara o mecanismo do susto, uma forma de proteção automática diante de situações de emergência, desenvolvida pelo ser humano ao longo da evolução. Diante do choque, de uma dor excessiva, temos três alternativas de atitudes. A primeira seria partir para um enfrentamento e ataque – endurecemos todo o corpo e bombeamos sangue para a parte superior, preparando-nos para lutar. Na segunda, a pessoa não se decide entre o ataque e a vontade de fugir, fica indecisa, sem ação ou tem atitudes conflitantes. Uma terceira atitude é o colapso total (desmaio) ou a fuga, assumindo que somos incapazes de enfrentar a situação. Essas respostas a momentos emergenciais são resultantes do nosso processo evolutivo – cada um de nós tem uma maneira quase padronizada de reagir: há os enfrentadores, os que ficam meio paralisados entre fugir ou enfrentar e há aqueles que preferencialmente decidem não enfrentar e fugir.

BF | A reação diante da mudança repentina depende muito do que a pessoa já vivenciou?
ST | Sim. Todos nós crescemos enfrentando desafios e ameaças. Um acontecimento que é vivido como assimilável por alguém pode ser pesado demais para outra pessoa. E a intensidade dessas agressões depende do momento em que ocorreram em nossa vida, de quantas vezes aconteceram, de onde partiram e de sua duração e gravidade. A reação tem a ver ainda com o tipo de apoio que se recebeu ou não. A ausência temporária dos pais, por exemplo, pode ser vivida como agressão para uma criança pequena e apenas como um desafio para uma criança maior. Uma crise financeira pode ser um estímulo a mudar, mas, se for muito intensa, também pode implicar perdas e desagregação familiar. Em geral, a tendência é repetir um mesmo tipo de reação diante dos choques. Se a repetição for mecânica e automática, porém, é sinal de que temos poucos recursos para encontrar saídas para desafios diferentes.

BF | As pessoas que nos servem de referência também influem no jeito como reagimos?
ST | Sim. A forma de reação das pessoas que representam referências importantes é que nos ajuda a construir respostas às crises. Se tivermos pessoas estruturadas na família, por exemplo, podemos nos fortalecer diante do imprevisto. Da mesma maneira, se já conseguimos superar com relativa facilidade outras mudanças bruscas no passado, essa capacidade também nos ajuda a vencer novos traumas. Quanto mais positivas forem as experiências anteriores e as referências de pessoas próximas diante de uma dor inesperada, mais fácil será a reação e a recuperação.

BF | Depois de um choque inicial, então, o que pode ocorrer?
ST | A resposta imediata é a investigação e o enfrentamento. São momentos em que escolhemos entre avançar ou recuar, enfrentar ou fugir, lutar ou ceder. Se o choque ou a agressão prossegue, podemos ficar excessivamente rígidos, buscando manter a integridade. Se a ameaça continuar, vem a dúvida: enfrentar ou voltar e fugir? O conflito, frequentemente, nos congela na posição de dúvida. Às vezes, a resposta é desistir de lutar, inclusive desmaiar, para diminuir a pressão interna. Essas formas de reação são emocionais e corporais e geralmente devem persistir apenas sob o impacto da emergência. Se elas não são superadas, podem se tornar comportamentos com efeito nefasto, limitando nossa capacidade de responder a outras crises.

BF | Por que algumas pessoas parecem anestesiadas com um choque? Muitas delas buscam viver depois como se nada tivesse acontecido...
ST | Às vezes, precisamos da anestesia para poder suportar uma dor muito forte. É um mecanismo de proteção, desenvolvido no processo de evolução. Porém, se a situação de anestesia se prolonga, se congela no tempo, e se a pessoa prossegue negando a situação desafiadora, então ela será afetada de modo mais extenso, se anestesiando e negando outras situações de vida, o que vai comprometer seu desenvolvimento. Por outro lado, se alguém se congela no estado de alerta extremo, pode se tornar permanentemente tenso, mesmo quando não há ameaça iminente. Quando o medo faz estancar o psiquismo num momento de resposta agressiva, o risco é que a pessoa reaja sempre com agressividade seja qual for a situação. E, nesses casos, o equilíbrio está comprometido, pois o que pode ser natural e aceitável diante de um grande susto passa a ser patológico e prejudicial quando se cristaliza ao longo do tempo. Todas essas respostas são organizadas no próprio corpo, modelando sentimentos, percepções e pensamentos que limitam nossa capacidade de aprender e evoluir diante de encontros e estímulos novos.

BF | O que pode favorecer o processo de descongelamento?ST | Toda mudança precisa de um tempo de maturação, seja ela o nascimento de uma flor, seja o culminar de uma idade, seja uma transformação no modo de viver. É muito difícil viver o fim prematuro e inesperado de um ciclo. Quando uma situação ou um ciclo acaba – ou seja, quando aquilo que era estável já não pode prosseguir ou não faz mais sentido – é preciso reconhecer que algo mudou definitivamente e que a vida não será a mesma. O reconhecimento de um fim é o primeiro passo para a mudança. A vida mudou e não adianta repetir o mesmo padrão. No processo de ending (finalização) – como Stanley Keleman chama o término de um ciclo –, depois da aceitação há um período de desmanche dos antigos padrões, fase extremamente necessária para encerrar uma etapa da vida. Passar de um casamento para outro quase imediatamente, por exemplo, pode significar que trocamos de parceiro apenas para reforçar nossas expectativas não realizadas com o parceiro anterior. Se não nos permitimos o tempo interno necessário para que os antigos padrões se reformulem, como abrir espaço para um novo começo? Não se pode evitar um tempo de luto, de despedida interna. É o que Keleman chama de plano intermediário, uma pausa solitária e curativa necessária para que novas conexões e possibilidades sejam gestadas dentro e fora de nós.

BF | Quando não há essa pausa, acabamos levando velhas formas para novas situações?ST | Sim. Precisamos de um tempo para voltar a pulsar de maneira plena, com energia suficiente para fazer frutificar novos movimentos, ideias ou formas de se relacionar. Quando deixamos um ciclo de fato se encerrar, sem pressa, conseguimos voltar à vida mais íntegras. A pausa faz surgir novos hábitos, encontros, jeitos de fazer as coisas, interesses, necessidades. É extremamente importante ter um tempo para cultivar e experimentar essas novas formas de viver, senão há risco de voltar ao antigo padrão, o que significa retroceder no processo de amadurecimento.

BF | Ao reagir, há algum modo de impedir que o jeito antigo predomine?
ST | Imagine a situação: alguém termina um namoro a duras penas e, quando está conseguindo esquecer, o ex-parceiro pede para voltar. A dificuldade é não saber o que fazer diante de uma situação que nos transporta de volta ao conhecido. Para evitar uma reação automática é preciso identificá-la e estar muito consciente dessa armadilha. Será que você cede fácil sob pressão? Será que fica confusa e não decide o que fazer? Ou logo desiste de mudar? Além de reconhecer o impulso que nos move quando ficamos entre assumir um novo desafio ou voltar ao conhecido, é preciso enxergar e alterar a imagem corporal que assumimos nesses momentos.

BF | Por que é preciso identificar a reação corporal nos momentos de desafio e decisão?
ST | Vamos supor que toda vez que um ex-namorado liga você fique confusa. Meu conselho é observar como o seu físico reage: o coração começa a bater forte? Você fica dividida entre continuar a conversa ou interromper? Se assim for, vai perceber que um lado do seu corpo vai para frente, enquanto outro vai para trás. A respiração pode ficar rápida, superficial: o peito afunda e estufa depressa, a nuca endurece, vem um aperto na garganta... O estômago pode se retrair ou a visão se turvar. Nesse estado, a mente já não pensa com clareza e então você responde o que o outro quer que você responda, e não o que você queria responder. É importante saber como o corpo reage para conseguir desacelerar essas reações físicas automáticas, um grande recurso para evitar comportamentos automáticos. Brecar esses processos automáticos lhe dá tempo de hesitar entre avançar ou recuar, o que significa uma oportunidade de entrar em conexão mais profunda com você mesma e só depois disso agir.

BF | Como se pode relaxar o corpo, livrá- lo do automatismo para obter esse tempo precioso?
ST | Concentrar a atenção na respiração é o caminho para relaxar a tensão muscular, o diafragma, desfazendo a rigidez da coluna e da nuca. Respire, respire, sem pressa. Aos poucos, você vai voltando a sentir os pés no chão, o coração mais ritmado, o fôlego de volta ao normal. Um corpo relaxado ajuda a recobrar a consciência e o controle emocional. Daí, você estará pronta para decidir o que de fato quer. Ao praticar essa desaceleração, recupera-se a chance inestimável de responder de acordo com o que realmente se deseja.



Fonte: Revista Bons Fluidos - Dezembro 2009
http://bonsfluidos.abril.com.br/livre/edicoes/0129/02/o-tempo-fechou-pag-03.shtml

CABALA: manual de instrução da vida - (Luciana Giammarino)


Quando recebi um telefonema da BONS FLUIDOS num final de tarde corrido me dando duas semanas para aprender os passos básicos da Cabala e contar sobre minha experiência nesta matéria, aceitei o desafio sem medo. Confesso que, até então, não sabia praticamente nada sobre o assunto. A não ser que a cantora pop Madonna era adepta. Imaginava ser apenas mais uma entre tantas técnicas esotéricas que pretendem tornar o dia a dia mais fácil. Cheguei a pensar que tivesse a ver com atrair dinheiro, amor ou boas energias. Nada contra essas ferramentas, pois, pessoalmente, até faço uso de algumas delas de vez em quando, mas essa não é a natureza da Cabala. Foi o que descobri logo que comecei minha busca por informações com fontes realmente entendedoras desse conhecimento.

Cabala – ou Kabbalah, em hebraico – é uma sabedoria que explica a origem espiritual do mundo, do ser humano e de tudo o que existe, nos ajuda a entender as leis que regem o Universo e contém as respostas para nossos questionamentos. Ao ouvir essa definição da professora de Cabala Jane Ribeiro, de São Paulo, mas que dá cursos sobre o assunto em todo o Brasil, senti que estava prestes a conhecer uma espécie de “manual de instrução” da vida. Aquele que tanto procuramos, especialmente em momentos difíceis, quando nos questionamos: O que eu estou fazendo aqui? Qual é o sentido de tudo isso? Por que comigo? Fora as clássicas perguntas que nos fazemos desde crianças e que também movem os filósofos ao longo dos séculos: De onde viemos? Para onde vamos? Qual é o propósito da vida? Deus existe? Por que algumas pessoas são ricas e outras pobres? Qual é a minha missão? Para Jane, a Cabala é o caminho daqueles que querem resgatar a felicidade. “Todos nós temos em comum o desejo de ser feliz. No entanto, se não conhecemos as regras do jogo, agimos por tentativa e erro e acabamos sofrendo”, me disse a professora. Apesar de existir desde a criação do mundo, esse conhecimento ficou restrito a alguns cabalistas, por séculos.

INSPIRAÇÃO DIVINA
Segundo a tradição judaica, Abraão, o Patriarca dos hebreus, teria sido o primeiro ser humano a receber de Deus a sabedoria da Cabala. O rabino israelense Joseph Saltoun, que hoje vive no Canadá e veio recentemente a São Paulo, me contou que Abraão foi a primeira pessoa a trazer ao planeta Terra a consciência de que o mundo físico estaria conectado a uma dimensão espiritual. Apesar de seu conhecimento ter sido transmitido, por muito tempo, oralmente, o pai do povo hebreu deixou algumas informações escritas, em hebraico, que ficaram conhecidas como Sefer Yetzirah, ou O Livro da Formação. Esse documento reunia todas as chaves, ou códigos de acesso à sabedoria divina. Ainda que lêssemos a tradução mais conhecida desse material, em inglês, do autor Aryeh Kaplan, sozinhas não seríamos capazes de compreender exatamente o que todas aquelas palavras querem dizer. Cada termo utilizado para se referir à Cabala é um código, desvendado por cabalistas e transmitido pelos professores a quem se interessar por estudá-lo. Isso porque a Cabala fala de uma dimensão espiritual que as palavras humanas, tão limitadas, não seriam capazes de explicar literalmente.

Na medida em que essa sabedoria foi passada adiante, sofreu algumas variações de interpretação que levaram o estudo da Cabala a se ramificar em diferentes vertentes. Às vezes, há divergências de entendimento entre pessoas que seguem uma mesma linha. Quando quis saber qual era a verdadeira Cabala ou a mais ensinada atualmente, Jane Ribeiro me tranquilizou: não há uma linha mais famosa e nem mesmo uma que seja “mais correta”. A diferença entre elas está na metodologia de ensino e na linhagem dos mestres seguidos pelo professor. O que me deixou aliviada foi ouvir de todos os meus entrevistados que “a verdade é uma só”, ou seja, todas as linhas estão falando sobre o mesmo “manual de instruções”, que é divino, único e está além de qualquer interpretação humana. Portanto, cabe a cada estudante de Cabala observar se o método de seu professor faz sentido para si.

Jane Ribeiro, o rabino Joseph e a coordenadora do grupo de estudos de Mística Judaica da Comunidade Shalom, em São Paulo, Rachel Reichhardt, seguem os ensinamentos dos discípulos de Isaac Luria, um cabalista que viveu no século 16 e deu origem à linha luriânica. Já naquela época, ele tentou mudar a percepção de que a Cabala deveria ser restrita. Sua intenção era abrir esse conhecimento para todos, o que só aconteceu centenas de anos mais tarde. No início do século 20, foi construída a primeira escola de Cabala, em Jerusalém, pelo rabino Yehuda Ashlag e, há mais de trinta anos, The Kabbalah Centre é dirigido pelo rabino Philip Berg e sua mulher, que se dedicam a disseminar essa sabedoria ao mundo.

Nem sempre foi assim. Muitos cabalistas foram duramente perseguidos ao longo da história, pelo fato de contrariarem os interesses das classes dominantes. Rachel Reichhardt me contou que, por muitos séculos, também se considerou que apenas homens, judeus, com mais de 40 anos, casados e com filhos poderiam estudar Cabala. Para a tradição judaica, somente aqueles que tivessem os pés no chão, com uma série de preocupações relativas a este mundo físico, seriam capazes de fazer uma conexão com a verdade do universo espiritual. As mulheres teriam uma tendência maior de se perder nesse conhecimento e deixar de se importar com as questões do mundo material. E esse não seria o propósito divino, já que os humanos são seres físicos e precisam aprender com essa experiência terrena. Hoje, qualquer pessoa, independentemente de sexo, nacionalidade, etnia ou religião, e mesmo sem conhecer hebraico, pode não somente aprender Cabala, como também ser preparada por um rabino cabalista para se tornar um professor. Por isso mesmo, algumas escolas têm, inclusive, aulas de Cabala especiais para crianças.

Enquanto ouvia todas essas informações práticas, minha ansiedade apenas aumentava. Mal podia esperar para saber, finalmente, como o mundo funciona e o que os seres humanos estão fazendo aqui. É claro que não obtive todas as respostas, mas a maneira como a Cabala explica a origem do mundo e a missão dos seres humanos mexeu comigo. Ainda que nada disso faça sentido para muita gente, não dá para negar que é, ao menos, uma bela história.

COMO TUDO COMEÇOU
A explicação da origem do Universo se resume a dois personagens: a Luz e o Recipiente. Num dado momento, a Luz, que é puro amor infinito, sentiu vontade de compartilhar todo aquele amor e criou o Recipiente, apenas para receber o que ela tinha a oferecer, numa união perfeita. Só que, um dia, de tanto receber amor, o Recipiente começou a absorver as características da própria Luz e também sentiu necessidade de compartilhar. Como a Luz não podia receber do Reci- piente, este começou a se sentir inferior e, usando de seu livre arbítrio, se separou da Luz e criou o seu próprio mundo, finito. Para a Cabala, esse é o instante que os cientistas definem como Big Bang, a criação do Universo a partir de uma gigante concentração de matéria e energia em um único ponto.

Para a Cabala, os seres humanos são descendentes diretos do Recipiente e, portanto, essencialmente recebedores. Isso explica a imensa dificuldade de doar e compartilhar e o desejo de sempre receber. Basta observar as crianças. Antes de elas aprenderem a dividir com os amigos, são naturalmente egoístas e querem tudo para si. Faz parte da essência humana.

No fundo, não há nada de errado com o fato de desejarmos bens materiais e não-materiais. A grande questão é o propósito com que pedimos e o que fazemos com o que conquistamos. Nosso grande desafio no mundo da matéria é aprender a transformar o egoísmo extremo em que vivemos hoje – e que gera uma série de conflitos internos e externos – num ato de receber para compartilhar amor, alegria, bondade, tempo, saúde e conhecimento. Exatamente como desejava o Recipiente, no momento em que se separou da Luz.

DA TEORIA À PRÁTICA
A sabedoria da Cabala é ampla e vai muito além da explicação sobre a criação do mundo e do ser humano, envolvendo mais uma infinidade de assuntos que não caberiam nem em uma edição inteira da BONS FLUIDOS dedicada ao tema. Isso sem falar nas diversas ferramentas que nos ajudam a adquirir mais consciência sobre as questões divinas, tais como a astrologia e a numerologia cabalísticas, as meditações baseadas em mantras e letras hebraicas.

O encantamento de quem estuda Cabala é algo, no mínimo, curioso. As pessoas que entrevistei foram unânimes em dizer que, depois que entraram em contato com esse conhecimento, assumiram uma nova postura diante da vida e passaram a agir de maneira mais consciente, evitando fazer tudo no automático, como estamos acostumados. Eu poderia resumir todas as exclamações que ouvi em três benefícios principais: 1. a Cabala nos dá um sentimento de pertença ao Universo e nos ajuda a entender que somos parte de um todo maior. Portanto, tudo o que fazemos influencia essa totalidade; 2. tudo no Universo é uma questão de causa e efeito, o que nos estimula a assumir a responsabilidade sobre nossa própria vida, em vez de permanecermos com o costumeiro discurso de vítimas do mundo; 3. quando compartilhamos de coração aberto, a sensação não é a de que estamos perdendo o que temos, mas de que multiplicamos a alegria e o prazer da troca.

Se o que você leu aqui despertou seu interesse pelo assunto, o melhor é procurar por um curso básico de Cabala. Normalmente, eles são divididos em módulos e trabalham alguns aspectos de cada vez. As aulas costumam ser semanais ou mensais, mas não há regras para isso. Se preferir, comece assistindo a uma palestra ou lendo um livro. Para aprender Cabala, não é preciso ter nenhum outro conhecimento prévio e nem mesmo crença religiosa. Jane Ribeiro apenas alerta para que nos livremos de qualquer preconceito antes de iniciarmos a busca por essa sabedoria. É que, enquanto as religiões mostram apenas um ângulo para se entender as questões relacionadas aos seres humanos e restringem a verdade a uma única interpretação, a Cabala nos mostra que todos os ângulos fazem parte da mesma sabedoria divina. Ah! Uma última dica, não tenha pressa em desvendar todos os mistérios do Universo. Quanto tempo alguém demora para estudar a Cabala? Foi exatamente isso que perguntei à Rachel Reichhardt. Ela me respondeu com outra pergunta: Quantos anos você vai viver?

Fonte: Revista Bons Fluidos; dezembro 2009
http://bonsfluidos.abril.com.br/livre/edicoes/0129/04/01.shtml

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Tantra e os Yogas - (Entrevista com Pedro Kupfer)


1) Por que a palavra Tantra está tão relacionada a sexo e libertinagem?
Por causa dos valores sexistas, hipócritas e distorcidos da nossa sociedade em relação à sexualidade. A civilização judaico-cristã é obsessionada com o sexo e incapaz de toma-lo como algo espontâneo ou natural. Uma prova clara disso é a invasão de imagens com forte apelo sexual nas capas das revistas, seja para vender produtos de beleza, seja para vender carros ou o que for. Outra prova é o fato que alguns autodenominados 'mestres' de 'Tantra', 'Yoga sexual' ou assemelhados fazem sucesso prometendo orgasmos infindáveis e iluminação e cobrando mundos e fundos por isso.

Tantra é o nome de um vasto leque de ensinamentos práticos que têm como objetivo expandir a consciência e libertar a energia primal do ser humano, chamada kundaliní. O princípio comum a todos os caminhos práticos do Tantra é que as experiências do mundo material podem usar-se como alavanca para conquistar a iluminação, já que o este é a manifestação de uma outra realidade, sutil e superior, que está conectada com a nossa própria natureza.
Neste contexto, a visão do Tantra associada ao êxtase sexual é pateticamente superficial e parcial, se comparada com a verdadeira tradição. O Tantra não é hedonista nem orgiástico. O objetivo do Tantra é o despertar da força potencial no homem, e isso não é uma tarefa fácil nem que se possa conquistar dando prazer aos sentidos ou alimentando a sexo-dependência.

2) É correto dizermos que alguns conceitos foram distorcidos ao longo do tempo?
Não creio que essa tenha sido uma distorção temporal, mas cultural, que aconteceu aqui no Ocidente quando esses ensinamentos sagrados mudaram de contexto, embora hoje em dia haja distorção destes ensinamentos também na Índia. Ao tirar esse tipo de prática do seu contexto original para adaptá-la ao gosto ocidental, se corre o perigo de reduzir a busca da própria essência a um artigo de consumo, um "produto". Surgem assim adaptações, versões diluídas, para tornar o produto mais palatável e, conseqüentemente, mais vendável.

3) Qual é a origem do Yoga tântrico?
O Tantra é herança e patrimônio da cultura dos rios Indo e Saraswatí, no norte do sub-continente indiano, onde nasceram igualmente o Yoga e o hinduísmo. O culto da Grande Mãe está presente na Índia desde o neolítico (8000 a.C.), mas os mesmos símbolos que o tantrismo utiliza hoje remontam ao paleolítico (20000 a.C.) e estiveram sempre presentes ao longo do continente eurasiano.

O Yoga tântrico assimilou e organizou os rituais da Deusa Mãe, transformando-os num método de emancipação que busca na psique humana a manifestação da própria força da Shaktí. Este movimento teve uma forte influência sobre a religião, a ética, a arte e a literatura indianas, havendo ressurgido com inusitada força entre 400 e 600 d.C., quando chegou a transformar-se numa moda que acabou por influenciar nos modos de pensar e agir da sociedade indiana medieval. Aqui ela se afirma, populariza e estende ainda mais, dando origem a um grande número de correntes e manifestações filosóficas, religiosas, mágicas e artísticas, algumas antagônicas.

4) Existem diferentes tipos de Yoga. Existe um melhor do que o outro?
A modalidade de Yoga escolhida por cada um de nós deve estar em função das nossas expectativas e necessidades. Diferentes formas de Yoga não dão os mesmos resultados com as mesmas pessoas e não há consenso sobre o que deveria ser ensinado em uma aula de Yoga.

Entretanto, é preciso frisar que não existe um Yoga superior, mais completo ou melhor que os demais. Se um professor de Yoga afirmar o contrário, dizendo por exemplo "o meu Yoga é o melhor do mundo", estará se colocando numa postura que fere e ética do sistema e confessando explicitamente que não entendeu uma das partes mais importantes da filosofia, que é a necessidade de respeitar o Dharma, a justiça divina.

Cada método se adapta melhor para objetivos diferentes. O melhor Yoga é aquele que funciona para você, que satisfaz suas necessidades e preenche suas expectativas, sejam elas quais forem. É questão de procurar até achar algo que lhe satisfaça.

5) Poderia descrever brevemente os principais tipos de Yoga?
Vou dar uma lista incompleta, pois seria impossível enumerar todos os Yoga existentes neste espaço limitado. Há muitos métodos diferentes de chegar no objetivo final do Yoga, que é o estado de união consigo mesmo e com a alma cósmica.

Dos sistemas de Yoga que utilizam abordagens físicas, os métodos mais populares no nosso país são o Hatha Yoga, a Yogaterapia, o Ashtanga Vinyasa Yoga e o Iyengar Yoga.

O Hatha Yoga tradicional é sem dúvida o mais difundido e praticado, por ser o que chegou primeiro aqui, nos anos 50, dando origem inclusive a alguns tipos de Yoga que foram criados aqui mesmo no Brasil e que não possuem nenhuma conexão com as tradições filosóficas da Índia.

O Ashtanga Vinyasa Yoga, o Iyengar Yoga, a Yogaterapia e o Power Yoga chegaram muito mais recentemente, mas estão conquistando seu espaço na preferência dos brasileiros, despertando interesse em outros segmentos da sociedade que os originalmente interessados no Hatha Yoga.

Se estiver procurando uma atividade desafiante e energética, onde possa explorar e extrapolar seus limites físicos através de uma malhação consciente, o Ashtanga Vinyasa Yoga, o Iyengar Yoga ou o Power Yoga podem ser extremadamente exigentes, adequadas para atletas e pessoas que gostem de trabalhar o corpo com disciplina e intensidade.

Se for o caso de usar Yogaterapia por indicação médica, se recomendam uma ou duas sessões diárias de exercícios específicos que incluam ásana, pranayama e yoganidra, bem como aconselhamento alimentar. O professor neste caso precisa ter muito estudo e experiência no assunto. Há professores que preferem negar os efeitos terapêuticos do Yoga, o que é muito mais fácil que estudá-los.

Existem muitas outras modalidades que não trabalham o corpo, como o Mantra Yoga, que investiga os efeitos dos sons e das vibrações sutis sobre a consciência; o Bhakti Yoga ou Yoga devocional, conhecido principalmente através do movimento Hare Krishna; o Raja Yoga, que dá muita mais ênfase à prática da meditação; e outros sistemas que visam a atingir o estado de comunhão através de exercícios de auto-reflexão e discriminação, como o Jñana Yoga ou de rituais, como algumas formas ortodoxas de Tantra Yoga.

6) Na sua opinião, como a prática do Yoga vem evoluindo ao longo do tempo?
O Yoga é inerente ao ser humano e permanece sempre vivo na memória coletiva da Humanidade. Sabemos que as crianças fazem espontaneamente técnicas de Yoga, sempre como brincadeira, sempre de forma instintiva. Isto, porque ele faz parte da nossa essência. O Yoga nasce a partir da compreensão das manifestações externas da natureza e suas influências subjetivas sobre a consciência humana.

Durante o processo histórico de formação do Yoga, que durou milênios, foram acrescentando-se novas técnicas, experiências e constatações das sucessivas gerações de praticantes, que por momentos o enriquecem e refinam com novos achados mas às vezes o rebaixam quando, por exemplo, passam a incorporar a pequena magia popular.

Entretanto, por mais que mudem alguns dos seus conteúdos durante essa travessia, a essência do Yoga continua sempre a mesma: mágica, imutável e atemporal. A mensagem do primeiro praticante, atravessando as gerações, continua sendo válida para nós, homens do século XXI.

7) Quais os benefícios que o Yoga pode trazer para seus praticantes?
O Yoga pode literalmente dar uma vida nova a quem o pratica. Através das práticas físicas, adquire-se um corpo novo, mais saudável e flexível, que possibilitará ter uma vida mais longa e com mais qualidade de vida. Adquirindo a capacidade de relaxar, podemos observar o mundo com mais objetividade e sermos mais justos em todas as situações que a vida nos coloca. A prática da meditação é o martelo que destrói a ignorância real, que é a incapacidade de responder perguntas como 'quem sou eu?' ou 'o que estou fazendo nesta vida?'

8) Há quanto tempo você pratica? Como o Yoga influenciou e influencia sua vida?
Pratico há 19 anos. Comecei no Uruguai quanto tinha 16 anos de idade e nunca mais parei. Desde o início percebi que a capacidade de transformação do Yoga poderia me ajudar e ajudar as pessoas a terem uma vida mais feliz e saudável. Vejo a prática mais como uma forma de vida, uma atividade que permeia as 24 horas do meu dia, do que uma série de exercícios que se fazem algumas vezes por semana dentro de uma sala fechada.

O Yoga tem a ver com estar presente em todas as experiências de vida, receptivo e atento para poder realizar o propósito supremo da existência que é desenvolver a natureza divinal no homem. Esse processo de 'divinização' do ser humano inclui uma visão do mundo em que o yogi enxerga o conjunto da sociedade humana como uma única família. Portanto, implica que o praticante fará alguma coisa para melhorar as condições de vida dos seus semelhantes no lugar onde ele mora. Pessoalmente, acredito que é importante reciclar o lixo humano que a sociedade descartou. Para realizar este ideal, dou aulas no presídio masculino da minha cidade, Florianópolis.



Fonte: http://www.yoga.pro.br/

Os Obstáculos no Caminho Segundo Patanjali - (Georg Feuerstein)


O processo yogue, que contraria a tendência exterio­rizante da mente humana vulgar, nem sempre se desenvolve tranqüilamente e sem percalços. Como já afirma o Bhagavad-Gitâ (6.6), oeu pode ser o pior inimigo do Si Mesmo. Patanjali, em seu Yoga-Sûtra(1.30),menciona nada menos que nove obstáculos (antarâya) que podem surgir no decurso da disciplina yogue:

A doença, a apatia, a dúvida, a desatenção, a preguiça, a dissipação, a falsa visão, a não-realização dos estágios [do Yoga] e a instabilidade [nesses está­gios] são as distrações da consciência; são estes os obstáculos.

Todos estes podem ser compreendidos como limi­tações que o próprio ser se impõe e que retardam ou mesmo inviabilizam o processo do Yoga. Podem ser vistos também como expressões do inconsciente que maculam a grande obra yogue e assim preservam o status presente da personalidade não iluminada, do eu não redimido. Mesmo quando o desejo de libertação (mumukshutva) está presente, o aspirante ainda está sujeito às forças antitéticas da Natureza (prakriti) que regem a sua psique. Acontecimentos aparentemente acidentais, como a doença, que frustrara o progresso yogue, são devidos em última análise à frutificação das sementes kármicas (karma-âshaya) e são, portan­to, induzidos pelo próprio ser que os sofre.

É significativo que Patanjali caracterize os nove obstáculos como "distrações da consciência" (citta­vikshepa). São distúrbios ou disfunções, como deixa bem claro o termo vikshepa, derivado do prefixo vi ­("dis") e da raiz verbal kship, que significa "lançar" ou "atirar". Os vikshepas dispersam a concentração mental do yogin e interpõem-se assim no caminho do seu esforço perseverante para cultivar a unicidade ou "unipontualidade" (ekâgratâ) da mente.

Segundo o Yoga-Bhâshya (1.1),os estágios ou níveis (bhûmi) da atividade mental são os seguintes:

1. Inquieta (kshipta) ouagitada em virtude de uma grande preponderância da qualidade rajas, o princípio psicocósmico dinâmico; no Yoga-Bhâshya-Vi­varana de Shankara Bhagavatpâda, a mente nesse estado é comparada a um celeiro excessivamente cheio cujas portas arrebentam.

2. Iludida (mûdha) oufascinada em virtude de um excesso de tamas, o princípio psicocósmico da inércia, que elimina a importante faculdade do discerni­mento (viveka).

3. Distraída (vikhsipta) ouapenas intermitente­mente estável em virtude da presença periódica de sattva, oprincípio psicocósmico da lucidez.

4. Unipontual (ekâgra) ouconcentrada em virtu­de da presença cada vez mais constante de sattva e do gradual predomínio de sattva sobre rajas e tamas.

5. Restrita (niruddha) oucontrolada em virtude da preeminência de sattva; Shankara Bhagavatpâda explica este estado como caracterizado pela ausência de pensamentos.

Os primeiros três níveis são estados mentais tipi­camente experimentados pela pessoa comum. Só os dois últimos descrevem a qualidade da consciência do yogin.

O Yoga-Bhâshya (1.30)explica que as distrações só podem ocorrer enquanto um dos cinco tipos de "flu­tuações" (vritti) mentais está presente. Em outras pala­vras, a mente tem de perceber, perceber erroneamente, imaginar, lembrar ou estar dormindo. Quando essas atividades mentais estão controladas (niruddha), porém, é evidente que os obstáculos mencionados por Patanjali perdem todo o seu poder. Ou seja, o yogin pode ficar doente, mas não será perturbado por sua doença. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o famoso sábio Ramana Maharshi de Tiruvannamalai, que viveu no século XX. No final de sua vida, ele sofria de câncer. A doença deve ter-lhe causado mui­ta dor, mas ele permanecia sereno e, vez por outra, fazia brincadeiras a respeito de seu corpo castigado pela dor e da preocupação que o médico sentia por ele.

Pode-se dizer, portanto, que os obstáculos só o são na medida em que afetam as atividades da mente. No Yoga-Bhâshya-Vivarana (1.30), Shankara Bhagavat­pâda explica da seguinte maneira a palavra antarâya: "Eles se movem numa direção ou criam um intervalo, lacuna ou rompimento - daí [serem denominados] obstáculos." Um "intervalo" (antara) é um rompi­mento da continuidade natural da apercepção pelo Si Mesmo (purusha), que é uma simples testemunha (sâkshin). Em outras palavras, é um momento em que o Si Mesmo se eclipsa e a pessoa se perde na corrente dos pensamentos, sentimentos e sensações que sur­gem em sua consciência. É daí que no Tattva­Vaishâradi (1.30)Vâcaspati Mishra afirma que os obs­táculos são especificamente "obstáculos ao Yoga" (yoga-antarâya) e "distrações em relação à consciên­cia contida pelo Yoga". Em seu Yoga-Bhâshya(1.30), Vyâsa fala dos "adversários do Yoga" (yoga-pratipa­ksha), "obstáculos ao Yoga" (yoga-antarâya) e "mácu­las do Yoga" (yoga-mala). Shankara Bhagavatpâda, no Vivarana (1.30),assevera que todos eles são igual­mente nocivos (tulya-pratyanîka), poisengendram estados mentais (em vez de colaborar com a transcen­dência da mente). Segundo o Vritti de Nâgojî Bhatta, esses nove são produzidos por rajas e tamas e condu­zem a um "estado de múltiplas flutuações" (aneka­vrittitva) da consciência. A Mani-Prabhâ declara: "Distraem a mente e fazem-na decair do Yoga." Essa afirmação encontra eco na Yoga-Sudhâkara-Candrikâ, que denomina-os "obstruções" (vighna).

Como são esses nove obstáculos em seus detalhes? Para lançar [ti: sobre essa questão, vou fazer uso das afirmações encontradas nos diversos comentários escritos em sânscrito sobre o Yoga-Sûtra.



A DOENÇA (Vyâdhi)
Vyâdhi não é definido pelo autor do Yoga-Sûtra, mas a palavra tem o sentido simples de "doença", "enfermi­dade" ou "distúrbio". É derivada dos prefixos vi e â e da raiz verbal dhâ, a qual significa "desfazer-se", "dis­persar-se". Vyâsa define a palavra como "um desequi­líbrio dos `instrumentos' [isto é, os órgãos dos senti­dos], das secreções ou dos humores". Vâcaspati explica: "Os humores - vento, bile e fleuma - são [assim denominados] porque sustentam o corpo. A secreção é uma modificação especial do alimento ingerido sob a forma sólida ou líquida. Os 'instru­mentos' são os sentidos. Um desequilíbrio deles é uma condição de falta ou excesso." 0 Bhoja-Vritti dá "febre, etc." como exemplo das causas de um tal dese­quilíbrio, e o mesmo se encontra na Candrikâ e no Yo­ga-Sudhâkara. Bhâva Ganesha substitui a palavra shleshma por kapha -ambas significam "fleuma" - e explica karana (instrumento) como "pele, olhos, etc." Sua paráfrase de vaishamya (desequilíbrio) é "perda da essência" (svabhâva-pracyava), ou seja, o abando­no do equilíbrio ou da saúde naturais do corpo. Tam­bém o Yoga-Sudhâkara fala dos três doshas (isto é, os humores ou dhâtus).

Shankara Bhagavatpâda diz: "O desequilíbrio é o estado de desigualdade (vishama-bhâva)." Afirma ain­da que o mesmo desequilíbrio é devido ao "uso exces­sivo de uma ou outra substância, etc." Acrescenta que um dhâtu pode aumentar por si mesmo ou em função de fatores exteriores. Menciona sete tipos de rasa ou secreções ("essências"): plasma (também chamado rasa), sangue (lohita), gordura (medas), carne (mâmsa), osso (asthi), medula (majjâ) e sêmen (shukla). Se­gundo ele, o "desequilíbrio dos instrumentos [senso­riais]" é a cegueira, a surdez, etc. Vijnâna Bhikshu, por sua vez, afirma que quando Vyâsa diz saha iti (jun­to com [as flutuações mentais], deve-se entender não uma simultaneidade completa, mas que Vyâsa igno­rou a diminuta fração de tempo que medeia entre a apresentação de um obstáculo e seus efeitos perturbadores sobre a mente.



A APATIA (Styâna)
Styâna (da raiz verbal styâ, que significa "adensar-se") é a apatia mental. O Yoga-Bhâshya (1.30)a define co­mo a "inatividade da mente". Vâcaspati dá "incapaci­dade para a ação". Vijnâna Bhikshu explica akarma­nyatâ ou inatividade como se segue: "Inatividade é a incapacidade de executar o Yoga. [Muito embora pos­sa haver uma] inatividade do corpo [devida à] consti­pação, etc., [não há] obstrução ao Yoga no que diz res­peito à mente. Por isso [Vyâsa] disse `da mente'." Shankara Bhagavatpâda limita-se a citar o Yoga ­Bhâshya e Bhoja faz o mesmo, ao passo que Bhâva Ganesha e Nâgoji Bhatta seguem a exegese de Vâcaspati Mishra. A Mani-Prâbha diz que "a indolência é uma incapacidade para a ação mesmo quando a mente anseia [por ela]". A Candrikâ diz simplesmente que "indolência é inatividade", ao passo que o Yoga-Sudhâ­kara afirma mais especificamente que "a indolência é a inatividade da mente". Pode-se interpretar esse obs­táculo como a procrastinação, uma forma de inércia mental pela qual as ações necessárias são adiadas.



A DÚVIDA (Samshaya)
Desde as épocas mais remotas, a dúvida foi identifica­da como um dos principais obstáculos a realizam espiritual (O Brihad-Aranyaka-Upanishad (4.4.23) declara que so podemos vir a conhecer a Realidade quando estamos livres da dúvida. 0 Bhagavad-Gitâ (4.40) assevera que a dúvida aflige a pessoa a quem falta a fé (shraddhâ) Os efeitos da dúvida podem ser devastadores e, no fim, autodestrutivos. O Matsya­Purâna (110.10) observa que o indivíduo que alimen­ta dúvidas colhe o sofrimento e não os frutos do Yoga.

0 Yoga-Bhâshya (1.30) explica: "A dúvida é o conhecimento que toca ambos os extremos [de um dilema], como `isto talvez seja assim', `isto talvez não seja assim'." Vâcaspati Mishra diz: "Muito embora isto exista pela permanência na forma, a dúvida e o erro não vêem diferenças entre ambos os extremos, que assim se tocam e não se tocam." Shankara Bhagavatpâda afirma: "A dúvida é a noção que toca nos dois extremos do dilema de saber se [um determinado objeto] é um poste ou um homem." Trata-se de um exemplo clássico do Vedânta para ilustrar a vacilação que a pessoa experimenta no estado de dúvida: vemos algo de longe e não sabemos o que é. Pode ser um poste de madeira ou um ser humano. Nossa vida é repleta dessas incertezas que vêm da percepção, mas mais importantes são as incertezas cognitivas: o Si Mesmo eterno é real ou não é? Sou idêntico ao corpo ou não sou? E assim por diante.



A DESATENCÃO (Pramâda)
O caminho yogue depende por completo da atenção e é inviabilizado pela desatenção ou negligência. O Yoga-Bhâshya (1.30) explica este defeito como "o não-cultivo dos meios do êxtase", o que se pode compreender como uma falta de dedicação. Shankara Bhagavatpâda dá como glosa "falta de persistência".



A PREGUIÇA (Âlasya)
Se styâna é a apatia mental, âlasya é a preguiça devida ao peso do corpo (como o que decorre de se comer demais). Segundo o Yoga-Bhâshya (1.30), é a falta de esforço devida ao peso do corpo e da mente, peso esse que como nos informa Vâcaspati Mishra, decorre da preponderância de fleuma (no caso do corpo) e da presença e tamas (no caso da mente). Essa interpretação, porém, não nos permite distinguir adequadamente âlasya de styâna. Infelizmente, nenhum dos comentários nos esclarece quanto a este ponto.



A DISSIPACÃO (Avirati)
Virati vem da raiz verbal ram, que significa "parar" mas também "deleitar-se em". Virati significa, pois, "cessação", muitas vezes no sentido de "renúncia", mas ao mesmo tempo é estreitamente ligada ao termo rati, que tem o sentido de "prazer sexual". Avirati é, neste caso, o oposto de "cessação", e muitos tradutores optaram pelo termo "dissipação" para transmitir o significado da palavra sânscrita. James Houghton Woods, porém, traduziu-a por “mundanidade", baseando-se para tanto no Yoga-Bhâshya (1.30), que define a palavra como "a cobiça da mente sob a forma do apego às coisas". O mecanismo o apego e da cobiça foi formulado ­há muito tempo no Bhagavad-GYtâ (2.62-63):

Quando um homem contempla os objetos, nasce o apego a eles.
Do apego nasce o desejo e do desejo nasce a ira.

Da ira nasce a confusão. A confusão resulta na per­da da atenção.
A perda da atenção destrói a sabedo­ria. Com a perda da sabedoria, ele perece.

O Bhagavad-Gitâ (2.64) nos fornece também um antídoto contra esse processo: permanecer em meio aos objetos dos sentidos, mas mantendo a mente e os mesmos sentidos sob controle. Na tradição vedântica, o termo uparati (quietude) é usado com freqüência para designar o tipo de desapego que o sábio deve cultivar a fim de superar as emoções e atitudes negativas, das quais a tendência à dissipação (avirati) não é a menos importante.



A FALSA VISÃO (Bhrânti-Darshana)
Muito embora a dúvida seja um obstáculo significativo no caminho yogue e traga consigo um certo sofri­mento emocional (inquietude), ela é potencialmente um trampolim para uma visão e uma certeza mais pro­fundas. A falsa visão, por sua vez, envolve uma (pre­matura) sensação de certeza e, por isso, não partilha da agonia da dúvida; não obstante, é potencialmente mais nociva. Isso porque a falsa visão é essencialmen­te um erro (viparyaya). O Yoga-Bhâshya (1.30) explica que, se um praticante de Yoga incorresse no erro de pensar que um determinado estágio de realização yo­gue já é um grau suficiente, deixaria automaticamen­te de progredir na via espiritual. Só o entendimento claro, ou o que se chama de "discernimento" (viveka), pode nos dar uma orientação confiável no caminho de fio de navalha que leva à libertação.



A NÃO-REALIZAÇÃO DOS ESTÁGIOS (Alabdha-Bhûmikatva)
O progresso no caminho yogue varia de pessoa para pessoa e depende da capacidade psicológica do indi­víduo e, num nível mais profundo, do seu karma. Tudo aquilo que representamos no momento presente, representamo-lo em virtude das nossas volições passadas (expressas ou não no nível físico). Nosso DNA é o produto da somatória de todo o nosso pas­sado kármico, e o mesmo se pode dizer, de acordo com o Yoga, das nossas circunstâncias de vida e das experiências que temos e que se impõem a nós. Uma vez que boa parte daquilo que chamamos "mente" depende das funções cerebrais, e uma vez que o cére­bro é determinado pelo DNA, também a nossa vida mental e determinada em grande medida pelo karma. Se não fosse pela nossa natureza essencial (ou seja, o Si Mesmo ou purusha), que é transcendente e eternamente livre, seríamos simples robôs. Optando constantemente pelo Si Mesmo, pela Consciência Pura, podemos superar nossa carga kármica. A opção pelo Si Mesmo se traduz no cultivo da aten­ção e na desativação dos pensamentos, emoções e atitudes negativas.

Trata-se de um processo gradual que, segundo a filosofia yogue, pode prolongar-se por várias existências e envolver muitas ocasiões de aparente fracasso. A vida é uma escola; se não aprendermos com os nos­sos erros, teremos de fazer várias vezes as mesmas lições. A chave do sucesso no Yoga é a perseverança. Como afirma o Yoga-Sütra (1.13):

... [a prática só] se firma [depois de ter sido] cultiva­da adequadamente e ininterruptamente por muito tempo.

Os que ainda não adquiriram a energia e a determinação necessárias são incapazes de alcançar o nível seguinte do processo espiritual. Além disso, uma súbita irrupção de karma - talvez sob a forma de uma doença ou de outra adversidade - pode impedir o praticante de Yoga de seguir em frente.

O Yoga-Sutra (1.30) reconhece a incapacidade de alcançar o estágio seguinte de crescimento interior como um dos nove obstáculos. O Yoga-Bhâshya (1.30) nos diz que por "estágios" (bhûmi) entendem-se aqui os quatro estágios descritos mais adiante por Vyâsa em seu comentário (3.51): 1) prathama-kalpika (fase inicial), (2) madhu-bhûmika, que o Yoga-Bhâshya (1.30) também denomina madhu-matî (melíflua), (3) prajnâ-jyotis (luzda sabedoria) e (4) atikrânta-bhâvaniya (no processo de transcender [todas as coisas]).

O prathama-kalpika-yogin é o praticante (abhyâsin) para quem a luz interior está apenas nascendo. O madhu-bhûmika-yogin játem a sabedoria portadora da verdade (ritam-bharâ prajnâ) mencionada no Yoga-Sû­tra (1.48), que é doce e preciosa como o mel. O prajnâ-jyotir-yogin detém o pleno controle dos órgãos do corpo e dos elementos e é perfeitamente capaz de realizar o estágio restante. O atikrânta-bhâvaniya-yogin transcende todas as coisas e tem como único objetivo a resolução (pratisarga) da mente no âmago transcen­dente da Natureza (prakriti).

Para complicar um pouco as coisas, o Yoga-­Bhâshya (1.1) também aplica, como notamos acima, o termo bhûmi aos níveis de atividade mental, e por isso se torna legítimo perguntar a qual conjunto de estágios ele se refere. Como Patanjali não é específico, a não-realização de um determinado estágio ou a instabilidade em um estágio pode se referir a qualquer estágio ou tipo de estágio. Por outro lado, não se pode duvidar de que o autor do Yoga-Bhâshya (1.30) tem em mente os quatro níveis especificados acima.



A INSTABILIDADE (Anavasthitatva)
Se alcançar um determinado estágio do Yoga é difí­cil, mais difícil ainda, para a maioria dos pratican­tes, é permanecer no estágio já alcançado. Quanto mais elevado o estágio (bhûmi), tanto mais energia (compromisso, unipontualidade, etc.) é necessária para alcançá-lo e conservá-lo. O folclore do Yoga (especialmente o relatado nos Purânas) é repleto de histórias de yogins que, depois de alcançar altos graus espirituais, caíram calamitosamente por apego ou orgulho. Até a realização da libertação, não existe um estágio seguro. Anavasthitatva é a negação de avasthitatva (estabilidade), palavra formada do pre­fixo ava, da raiz verbal sthâ (estar, permanecer) e do sufixo tva ("dade"). Todo o Yoga pode ser visto como um esforço para se alcançar a estabilidade em meio às infindáveis flutuações (vritti) e transformações (parinâma) da Natureza. A estabilidade supre­ma só se encontra no Si Mesmo transcendente, do qual se diz que possui aparinâmitva ou "imobilidade" ou constância.

Patanjali não se contenta em listar os nove obstáculos; no Yoga-Sûtra (1.31), diz ainda o seguinte:

A dor, a depressão, o tremor dos membros e [os erros e] inalação e
exalação são [sintomas] associados às distrações.

Quando, pela desatenção ou pela frutificação do karma, o praticante depara com um ou mais dos nove obstáculos, eles freqüentemente têm repercussões desagradáveis. Patanjali especifica estas quatro: a dor, a depressão, o tremor dos membros e os erros de respiração.



A DOR (Duhkha)
O Yoga é feito para ajudar o praticante a superar o sofrimento (duhkha). Não obstante, quando ele é vitimado por qualquer um dos obstáculos, sua experiência de dor ou sofrimento não diminui, mas aumenta. AV palavra duhkha é composta de dur (mau) e kha (espaço/cubo da roda) e significa literalmente um "mau cubo da roda", ou seja, uma roda que não está nos eixos. O oposto de duhkha é sukha, derivado de su (bom) e kha. Uma tradução contemporânea seria "espaço bom". O sentido da palavra sukha no dicioná­rio é "alegria", "facilidade" ou "prazer". Todos os nove obstáculos tendem a gerar a dor ou o sofrimento. Na verdade, ligam-se inextricavel mente a uma mente que experimenta uma limitação e, portanto, sofre. Na doença, duhkha pode manifestar-se no nível corpóreo, mas provavelmente também no nível mental. Ou senão o praticante de Yoga pode cair vítima da dúvi­da, que traz consigo seu próprio sofrimento. A apatia tem conseqüências dolorosas, e o mesmo se pode dizer da desatenção, da preguiça e da dissipação. Tam­bém não é difícil ver como o fato de não se alcançar um determinado estágio ou de perder o grau já atingi­do podem acarretar muito sofrimento.

O Yoga-Bhâshya (1.31) diz que a dor ou sofrimento (duhkha) é de três tipos: (1) âdhyâtmika causada pelo próprio ser, (2) âdhibhautika - causada por outros seres, e (3) âdhidaivika - causada pelas divinda­des ou por forças naturais.



A DEPRESSÃO (Daurmanasva)
Quando um praticante depara com um ou mais obs­táculos, tem dificuldade para cultivar uma atitude positiva. Muitas vezes o yogin ou a yoginî ficam desencorajados e entram em colapso emocional, como aconteceu com Arjuna no campo de batalha, embora estivesse acompanhado de seu guru, o Senhor Krishna (ver a descrição no Bhagava-Gitâ). Arjuna foi tomado de compaixão (kripâ) por seus parentes e sofreu com a possibilidade de ter de vir a exterminá-los. Krishna admoestou o príncipe a que deixasse de lado seu pesar (shoka), não sucumbisse ao apego (râga) e à fraqueza de coração (hridaya-daurbalya) e não caísse no "estado de um eunuco" (klaibya). Em última análise, o desânimo (vishâda) ou o que Patanjali chama de depressão (daurmanasya) são formas de autocomiseração e resumem-se a uma incapacidade de praticar a transcendência de si mesmo.



TREMOR DOS MEMBROS (Angam-Ejayatva)
O Bhagavad-Gitâ (1.29) diz que Arjuna tremeu diante de seu dilema. Também a raiva nos faz tremer, e a mesma coisa acontece, na verdade, sempre que o nos­so sistema nervoso é excessivamente estimulado. Assim, o tremor dos membros é a manifestação externa da agitação mental (kshobha).



OS ERROS DE INALAÇÃO E EXALAÇÃO (Shvâsa-Prashvâsa)
Os comentários tradicionais compreendem o termo composto shvâsa-Prashvâsa simplesmente como a respiração involuntária que acontece toda vez que não praticamos o controle deliberado da respiração (prânayâma). Parece, porém, que Patanjali tinha outra coisa em mente: aquele tipo de respiração irregular que acompanha a agitação mental e que podemos caracte­rizar como um "erro" de respiração. A palavra "erro" não se encontra no Yoga-Sútra, mas, pelo contexto, parece implicada no composto shvâsa-prashvâsa.

Os nove obstáculos podem ser resolvidos direta­mente no nível da mente. Mesmo assim, as intervenções que partem do corpo como uma dieta correta e um programa adequado de exercícios - podem colaborar. Porém, para fazer uso desses remédios físi­cos, já temos de ter um certo grau de visão correta (samyag-darshana). As muitas práticas do Yoga constituem um todo integrado, mas sempre é preciso começar por algum lugar. Felizmente, a tradição yo­gue nos oferece muitas opções para dar o primeiro passo e, depois, cultivar diligente e perseverantemen­te nossa prática espiritual.



Fonte: Livro – Tradição do Yoga - Cultrix

Espiritualidade e Natureza - (Dalai Lama)


Penso que vocês vieram aqui com alguma expectativa, mas essencialmente eu nada tenho a oferecer-lhes. Quero simplesmente tentar compartilhar algumas de minhas próprias experiências e meus pontos de vista. Cuidar do planeta não é algo especial, algo sagrado, ou algo santo. É como cuidar de nossa própria casa. Não temos outro planeta ou casa a não ser este. Embora haja tantas perturbações e problemas, a nossa única alternativa é esta. Não podemos ir para outros planetas. Veja a lua, por exemplo, ela parece ou surge belamente à distância, mas se for viver lá, será horrível. E isto que eu penso. Então, o nosso planeta azul é muito melhor e mais feliz. Portanto, precisamos cuidar de nosso próprio canto, ou casa, ou planeta.
Afinal, o ser humano é um animal social. Freqüentemente digo aos meus amigos que eles não precisam estudar filosofia, estes assuntos profissionais complicados. Só de olhar estes animais, insetos, formigas, abelhas, etc. inocentes, eu desenvolvo com freqüência algum tipo de respeito por eles. Como? Porque eles não têm qualquer religião, qualquer constituição, qualquer força policial, nada. Mas vivem em harmonia através da lei natural da existência, ou da lei ou sistema da natureza.

O que há de errados em nós, seres humanos? Nós humanos temos inteligência e sabedoria humana. Penso que freqüentemente usamos a inteligência humana de maneira errada ou na direção errada. Como resultado, de certa forma, estamos fazendo certas ações que essencialmente vão contra a natureza humana básica.

De certo ponto de vista, a religião é, um pouco, um luxo. Se você tiver uma religião, ótimo; até sem religião você pode sobreviver e consegue manejar, mas sem afeto humano não consegue sobreviver.

Embora a raiva e o ódio, como compaixão e amor, sejam parte de nossa mente, eu ainda acredito que a força dominante de nossa mente é a compaixão e o afeto humano. Portanto, normalmente chamo estas qualidades humanas de espiritualidade, não necessariamente no sentido de uma mensagem religiosa ou religião. Ciência e tecnologia junto com afeto humano serão construtivas. Ciência e tecnologia sob o controle do ódio serão destrutivas.

Se praticarmos a religião corretamente, ou com sinceridade, podemos ver que a religião não é algo fora de nós, mas algo que está em nossos corações. A essência de qualquer religião é um bom coração. Às vezes chamo amor e compaixão de religião universal. Esta é minha religião. Uma filosofia complicada, isto ou aquilo, às vezes cria mais transtornos e problemas. Se estas filosofias sofisticadas forem úteis para o desenvolvimento do bom coração, então isto é bom: use-as inteiramente. Se estas filosofias ou sistemas complicados se tornarem um obstáculo para o bom coração, então é melhor deixá-las de lado. É assim que eu sinto.

Se olharmos atentamente para a natureza humana, vemos que o afeto é a chave para o bom coração. Penso que a mãe é um símbolo da compaixão. Todos nós temos uma semente do bom coração. O que importa é se cuidamos ou não de realizar o valor da compaixão.

(Um discurso feito no quarto dia do Simpósio Ecumênico de Middlebury sobre religião e o meio ambiente, Universidade de Middlebury, Vermont, EUA, de 14 de setembro de 1990. Traduzido por Marly Ferreira.)



Fonte: http://www.dalailama.org.br/