terça-feira, 6 de abril de 2010

Trecho de Masnavi - Livro II - (Rumi)

O VERDADEIRO AMADO FAZ EXISTIR TODA BELEZA EXTERIOR E TERRENA

"Tudo o que é percebido pelos sentidos, Ele anula,
Mas Ele fixa aquilo que é escondido dos sentidos.
O amor do amante é visível, seu Amado, oculto.
O Amigo está ausente, a agitação que ele causa, presente.
Renuncia a essas afeições pelas formas exteriores,
O amor não depende da forma exterior ou do rosto.
O que quer que seja amado não é mera forma vazia,
Seja ele da terra ou do céu.
Seja qual for a forma pela qual te apaixonaste,
Por que a repudias no momento em que a vida a abandona?
A forma ainda está ali; por que, então, essa aversão a ela?
Ah! amante, considera bem o que realmente é amado;
Se é uma coisa percebida pelos sentidos exteriores,
Então todos os que retém seus sentidos devem ainda amá-lo;
E já que o amor aumenta a constância,
Como pode a constância falhar se a forma subsiste?
Mas a verdade é: os raios do sol batem no muro,
E o muro apenas reflete essa luz emprestada.
Por que dar teu coração a meras pedras, ó simplório?
Vai! Busca a fonte de luz que brilha sempre!
Distingue bem a verdadeira aurora da falsa,
Distingue a cor do vinho da cor da taça,
Para que, em vez dos muitos olhos do capricho,
Um único olho possa ser aberto por meio da paciência e da constância. Então contemplarás as cores verdadeiras em lugar das falsas, E jóias preciosas em vez de pedras. Mas o que é uma jóia? Não, serás um oceano de pérolas; Sim, um sol que se compara aos céus!
O verdadeiro Artífice está escondido em Sua oficina;
Entra nessa oficina e contempla-O face a face.
Posto que o trabalho desse Artífice estende sobre Ele uma cortina
Não podes vê-Lo fora de Seu trabalho.
Como Sua oficina é a morada do Sábio,
Quem O procura fora é ignorante d'Ele.
Vem, então; entra em Sua oficina, que é o Não-ser,
Para que possas ver o Criador e a criação ao mesmo tempo.
Quem viu como é resplandecente a oficina
Vê como é escuro seu exterior.
O Faraó rebelde voltou sua face para o ser (egoísmo)
E forçosamente ficou cego para essa oficina.
Por força, procurou mudar o decreto divino,
Esperando desviar o destino de sua porta.
Enquanto isso, o destino, diante da impotência deste homem engenhoso,
O tempo todo zombava dele em segredo.
Ele assassinou cem mil crianças inocentes
Para que a ordem e o decreto de Allah fossem contrariados.
Para que o profeta Moisés não nascesse vivo,
Ele cometeu mil assassinatos na terra.
Ele fez tudo isso, e no entanto Moisés nasceu,
E foi protegido de sua ira.
Tivesse ele visto a oficina eterna,
Teria refreado mão e pé desses vãos expedientes.
Dentro de sua casa, estava Moisés são e salvo,
Enquanto ele matava em vão os recém-nascidos do lado de fora.
Assim, o escravo dos desejos sensuais que mima seu corpo
Imagina que algum outro homem lhe quer mal,
Dizendo 'este é meu inimigo, e este meu adversário,
Enquanto é seu próprio corpo seu adversário e inimigo.
Ele é como o Faraó, e seu corpo como Moisés —
Ele corre lá fora gritando: "Onde está meu inimigo?"
Enquanto a luxúria está em sua casa, que é seu corpo,
Ele cerra os punhos de raiva dos estranhos."

Um comentário:

Anônimo disse...

Rumi é O poeta por exelência!!! Mestre dos mestres da poesia.
Fala a linguagem da alma do mundo!
Seu legado é fonte de inspiração e luz. Não há palavras para descrever a genialidade transcedental que ele nos faz sentir. Extraordináriamente brilhante!!!