quinta-feira, 2 de julho de 2009

Conheça sua verdadeira identidade - (Sathya Sai Baba)


Data: 26/09/98 – Ocasião: Dasara - Festival das Mães Divinas - Local: Prasanthi Nilayam

"Uma pessoa pode dominar todas as formas de conhecimento,
Pode derrotar seus adversários em um debate,
Pode lutar com valor e coragem em um campo de batalha,
Pode ser um imperador e reinar sobre vastos reinos,
Pode oferecer vacas e ouro como um ato de caridade,
Pode contar as incontáveis estrelas no céu,
Pode recitar o nome das diferentes criaturas viventes sobre a terra,
Pode ser um especialista nas oito formas de Yoga,
Pode até alcançar a lua,
Mas é impossível controlar o corpo, a mente e os sentidos.
Direcione sua visão para o interior e atinja o supremo estado de equanimidade da mente.
(Poema em Télugo)

Manifestações do Amor Divino!
Neste mundo, para que um homem possa realizar qualquer tarefa, são essenciais: o poder da vontade, o poder do discernimento e o poder da ação. O poder da vontade se refere à determinação para tomar a seu cargo uma tarefa. O poder do discerni-mento se refere aos métodos e aos meios a serem adotados para desempenhar a tarefa assumida. Não é suficiente que você tenha o poder da vontade e do discernimento; você precisa ter também o poder da ação.
Se você quer tecer uma peça de pano, você precisa de algodão. O algodão tem que ser transformado
em fios, para que possa ser tecido. Isto se relaciona ao poder da ação. Uma pesquisa sobre o tipo de equipamento necessário para fazer isto se relaciona ao poder do discernimento. O homem tem estas três potencialidades em si próprio, mas isto não é suficiente. Ele precisa utilizá-las em conjunto.

A Causa Primordial da Criação
Eis um pequeno exemplo: suponhamos que você tenha flores, linha e uma agulha; com isto, pode você ter uma guirlanda? Não deve haver alguém para fazer a guirlanda a partir destes objetos? Você tem um recipiente para óleo, um pavio e uma lamparina. Isto irá produzir luz sozinho? Não! Tem que haver alguém para acender o pavio. Você tem ouro, gemas e pedras preciosas; pode você obter jóias a partir destes objetos? Não! Um joalheiro é necessário para produzi-las. Aqui você tem dois tipos de causas:
uma é ”a causa primária”, e a outra é “a causa instrumental”. Um joalheiro produz ornamentos usando ouro, mas quem é aquele que criou o ouro? É Deus! Então, Deus é a causa primária, e o joalheiro é a causa instrumental. Sem o princípio primordial (Deus), a causa instrumental é inútil. Deus, a causa primária, é o criador deste mundo. O Homem, a causa instrumental, está tentando ter a experiência e desfrutar desta criação, mas se esquece da causa primária (Deus) e pensa que ele próprio é o autor, e se orgulha de suas realizações.
Sem a base primordial, o homem não pode alcançar nada. Os estudantes de ciência sabem que duas partes de hidrogênio e uma de oxigênio são combinadas para produzir água. Os cientistas têm orgulho desta realização e ignoram Deus, que é o criador do hidrogênio e do oxigênio. Atualmente, o homem está dominado pela idéia de realizador, esquecendo-se do princípio relativo à base primordial1. O oleiro produz potes, mas sem argila e água ele não pode fazê-los. O oleiro é somente um instrumento, e, portanto, é a causa instrumental, e Deus, que criou a argila e a água, é a causa primordial.
Os indianos acreditam que existem 8.400.000 espécies de seres no mundo. Elas podem ser classificadas em 4 categorias: 1) os que nascem de ovos (andaja); 2) os nascidos do útero (pindaja); 3) os nascidos do suor (swedaja); 4) os nascidos da terra (uthbhija). Existem 2.100.000 espécies em cada uma destas categorias, o que perfaz um total de 8.400.000 espécies. Os seres são muitos, mas o princípio de vida é uniforme em todos eles. Existem inumeráveis ondas no oceano infinito, cada uma
diferente da outra. As ondas podem variar na forma, mas o oceano é a base para todas elas. Do mesmo modo, as 8.400.000 espécies emergiram do oceano de Sath-Chith-Ananda. Todas têm sua origem em Sath-Chith-Ananda.

O Homem é Essencialmente Divino
O que é Sath-Chith-Ananda? Sath é o Ser, que é imutável e eternamente presente. Chith significa Consciência Total. Sath é como o açúcar, Chith como a água. Quando a água e o açúcar são misturados, você não tem nem açúcar nem água, mas uma calda. Similarmente, a combinação de Sath e Chith resulta em Ananda (Bem-aventurança). Em todas as criaturas viventes você encontra esta Sath-Chith-Ananda. Entretanto, o homem não é capaz de entender sua verdadeira identidade, que é Sath-Chith-Ananda, e está em busca da felicidade exterior. É como procurar o seu próprio Ser externamente.
Como o homem encontrará seu Ser Interior externamente? Ele tem que olhar para o interior.
No estado de vigília, existem quatro aspectos – o tempo, a ação, o motivo e o dever. Suponha que você decidiu ir de carro para Bangalore, a fim de participar de um evento. Você parte às 05:00h da manhã e chega a Bangalore às 08:00h da manhã. Aqui, o tempo é de três horas, a ação é viajar de carro, o motivo é o evento, e o dever é a participação nele. Todos estes quatro aspectos estão presentes no estado de vigília. Agora, considere que às 10:00 h da noite você teve um sonho. No sonho, você foi a Bangalore e participou de um evento. Quando você começou? Como você viajou? Quando você chegou? Qual o motivo? Você não sabe. Isto significa simplesmente que os quatro estados mencionados acima não existem no estado de sonho. No estado de sono profundo, não há tempo, motivo, dever e nada do que você faz; você somente tem a experiência da bem-aventurança.
No estado de vigília, você realiza diferentes tarefas com seu corpo. No estado de sonho, você cria tudo, inclusive seu próprio Ser. No estado de sono profundo, você usufrui da Bem-aventurança; você é um e o mesmo nos três estados. Com base nisto, pode-se dizer que o homem é imutável em todos os três períodos de tempo e tem a experiência da bem-aventurança direta ou indiretamente. Ele tem a experiência da unidade em todos os três períodos de tempo. Uma vez que ele entenda este espírito de
unidade, não haverá espaço para diferenças e conflitos. Tão logo você se identifica com seu corpo, encontra somente a multiplicidade.

Os Três Pecados de Shankara
Certa ocasião, Adi Shankara foi a Kashi e orou ao Senhor Vishwanath, dizendo: “Ó Senhor! Eu vim aqui para me redimir dos três pecados que cometi.” Ele não tinha prejudicado ninguém nem roubado algo. Então, por que se considerou um pecador?
Ele explicou o primeiro pecado com as seguintes palavras: “Eu sempre dizia: ‘Tu estás além da palavra e da mente.’ Embora eu soubesse que Tu estás além do pensamento e da palavra, tentei descrever-Te com um conjunto de palavras: Senhor, Senhor das Palavras, Senhor dos Homens, o Maior Senhor.
Cometi o pecado de não praticar o que eu pregava. Este é meu primeiro pecado. Embora eu declarasse que Deus está em todos os lugares, percorri todo o caminho até Kashi para estar em Tua Presença(Darshan), como se Tu estivesses presente somente em Kasi. Eu cometi o pecado de dizer uma coisa e fazer outra. Este é meu segundo pecado. Eu sempre dizia: “Não há pecado, não há mérito, não há alegria e nem arrependimento.” Entretanto, eis-me aqui, orando pelo perdão dos meus pecados. Este é o terceiro pecado que cometi.”
O significado das declarações de Shankara é que a incoerência entre pensamento, palavra e ação é, em si mesma, um pecado. “O mau é aquele que não observa a unidade de pensamento, palavra e ação” e “O nobre é aquele que atingiu a unidade de pensamento, palavra e ação” (textos das Escrituras).

O Nome do Senhor, a Única Salvação
Cada ação de Shankara é um ensinamento para a humanidade. Quando ele estava voltando de Kasi, encontrou uma pessoa que estava tentando memorizar a regra gramatical de Panini pela repetição constante. Shankara decidiu dar-lhe um ensinamento: foi até o homem e perguntou-lhe que benefício ele esperava obter pela repetição da gramática de Panini. O homem disse que poderia se tornar um grande sábio(pandit), juntar-se à corte do rei e ganhar muito dinheiro e ter uma vida feliz. Quando Shankara lhe perguntou o que lhe aconteceria após sua morte, o homem disse que não sabia. Então, Shankara lhe disse:
“Ó homem tolo, entenda que o corpo, o dinheiro e o poder são temporários. Alcance a eterna Bem-aventurança, que você poderá desfrutar mesmo depois da sua morte.” Shankara cantou o seguinte verso:
“Ó homem tolo, cante o nome do Senhor. Quando a hora da morte se aproxima, é somente o Senhor que pode salvá-lo, e não sua gramática.” (Verso em Sânscrito)
Embora Shankara não tivesse nenhum ganho pessoal, ele se esforçou muito pela emancipação da humanidade.

Engaje-se em Ações Sagradas
Não somente Shankara, mas Krishna também fez o mesmo. Na Bhagavad Gita Ele declarou:
“Eu não tenho que fazer nada nestes três mundos, nem ganho nada (com isto). Mesmo assim, para ensinar à humanidade, Eu constantemente me engajo em ações do amanhecer ao anoitecer, de tal modo que as pessoas seguem meu ideal e santificam suas vidas.”
(Verso em Sânscrito)
Somente através da ação o homem pode se redimir. “Você tem direito à ação, mas não aos seus frutos”, e “A humanidade está diretamente ligada à ação” (textos das Escrituras). Ninguém pode despender seu tempo sem se envolver em alguma ação.
Quando Eu pergunto a alguns estrangeiros o que estão fazendo, eles dizem que não estão fazendo nada. Eles pensam que a ação está relacionada ao envolvimento em algum tipo de trabalho ou negócio. Na verdade, nosso processo de inspiração e expiração do ar é também um tipo de ação. Mesmo o movimento das pálpebras é um tipo de ação. Dia após dia, o corpo está engajado em um ou outro tipo de atividade. O caminho mais nobre é engajar o corpo em ações sagradas, como “a prática de ouvir as histórias do Senhor”, “o cântico de Suas glórias”, “a recordação (do Senhor), “a realização do serviço oferecido aos pés de lótus do Senhor”, “a adoração ao Senhor”, “a reverência ao Senhor”, “a atitude de servidor do Senhor”, “a amizade (ao Senhor)”, e “a rendição à vontade do Senhor, auto-entrega”.
Você deve entender que qualquer disciplina espiritual que você pratique, seja repetição do nome, austeridades, yoga, meditação ou cânticos devocionais, é para seu próprio benefício. Deus não necessita delas. Algumas pessoas pensam que a adoração a Deus é para o benefício d’Ele; esta é uma visão equivocada. O que quer que o homem faça é pelo seu próprio interesse e para satisfazer a seus objetivos egoístas.

A Visão do Ser Verdadeiro
Quando você inspira, produz o som “So”, e quando você expira, emite o som “Ham”. Juntos, “Soham” significam “Eu Sou Aquele”, que significa que você é Deus. Quando você começa a repetir “Soham, Soham”, onde está a necessidade de qualquer disciplina espiritual? Onde está Deus? Como vê-lO? Estas questões a respeito de ver e ter a experiência de Deus têm existido desde tempos remotos. Na verdade, você tem que trilhar o caminho espiritual para conhecer sua verdadeira identidade, isto é, a
Divindade. Aquele que conhece sua verdadeira identidade é um verdadeiro aspirante. Sem realizar esta verdade, toda disciplina espiritual será perda de tempo.
“O corpo é concedido para a realização de ações corretas” (texto das Escrituras). Qual é nosso Dharma? O Amor é nosso Dharma. A Verdade é nosso Dharma. A Paz é nosso Dharma. Nós devemos seguir nosso Dharma. A qualidade do açúcar é a doçura: se não é doce, então não é açúcar. Similarmente, o Amor é sua qualidade natural. Sem Amor você não pode ser chamado de ser humano.
Existe Amor em você, mas você o está limitando a sua família, amigos e conhecidos. Mas, lembre-se de que as pessoas de seu convívio irão acompanhá-lo somente até seu enterro. Somente Deus está sempre com você, mesmo depois de sua morte.
“A vida humana é a mais rara” (segundo os texto sagrados). Tal oportunidade tão nobre e sagrada não deve ser desperdiçada. Tendo nascido como ser humano, você deve ter um ideal. Um dançarino sempre mantém o ritmo em sua mente enquanto está dançando. Da mesma forma, você deve sempre lembrar-se de sua divindade inata em qualquer coisa que você faça. Maya (ilusão) é como um Narthaki (dançarino), sempre tentando distrair você. Para controlar este “Nar-tha-ki” você tem que mudar a ordem
das letras e fazer “Kir-tha-na”, isto é, cantar os nomes do Senhor. “Nesta era de Kali, o único refúgio é o nome do Senhor” (dizem as Escrituras).
Muitas pessoas aspiram pela “visão do Ser verdadeiro”. Os ocidentais dizem que querem liberação. Entretanto, eles realmente não sabem o que isto significa. Se você quer ver seu Ser Interno, deve desistir do apego ao corpo e desenvolver apego ao próprio Ser. Somente então você terá a “visão do Ser verdadeiro”. Ao nascer, você chora, “Koham, Koham” que significa “Quem Sou Eu? Quem Sou Eu?” Você não deve morrer com a mesma interrogação em seus lábios. Quando você morrer, deve ser capaz
de afirmar, alegremente: “Soham”, significando “Eu Sou Deus”. Encontrar a resposta para a indagação “Quem Sou Eu?” é a verdadeira Liberação.
Hoje, você tem inquietações sem fim, tais como as relacionadas a nascimento, morte, velhice, perdas, fracassos, vida familiar, etc. Todas elas são criadas por você mesmo. Elas crescem por causa de seu apego e ilusão. Deus não as deu a você. Quem dá e quem recebe, quando você próprio é Deus? Enquanto você tem “Bhrama” – ilusão – você não pode atingir Brahma – Deus. Assim como a cinza cobre o fogo, da mesma forma Maya (a ilusão) oculta sua verdadeira identidade. O fogo é visto quando a cinza é soprada. Similarmente, você [só] pode ter a visão do Ser interno quando abandona o apego ao corpo.

A Divindade Através da Unidade
Vedanta diz: “A Verdade é única, mas os estudiosos se referem a ela por muitos nomes.” A mesma água tem diferentes nomes em diferentes idiomas. Assim também, Deus é Um, mas Ele é reverenciado sob muitas formas e nomes. “Eu” é o primeiro nome de Deus. Tanto o pobre quanto o milionário usam a palavra “Eu”, quando se apresentam. Este “Eu” é sua verdadeira identidade. A letra única “I” (Eu, em Inglês) se refere ao Atma, enquanto a palavra de três letras “eye” (olho, em Inglês, com mesma
pronúncia) se refere ao corpo. O corpo tem três atributos, enquanto o Atma nenhum. O Atma é a suprema Bem-aventurança. Ele é a eterna testemunha e está além de todas as descrições: “Ele é a mesma Divindade que está presente em todos os seres” (texto das Escrituras).
Manifestações do Amor Divino!
Tentem desfrutar e ter a experiência do amor que existe em vocês. Se alguém diz que Deus não existe, responda: “Talvez seu Deus não exista para você, mas Meu Deus existe para mim. Você não tem o direito de questionar a existência de Meu Deus.” Vocês devem argumentar com convicção. Tal argumento irá silenciar a pessoa. Cada um é louco a sua própria maneira. O mundo em si é como um hospício. Existem alguns que obtêm satisfação em se auto-glorificar. Existem outros que agridem e acusam terceiros. Mas, a loucura por Deus é a mais nobre. Deus cuida para que você desista de sua loucura pelo mundo e torne-se louco por Ele. Somente poucos afortunados serão abençoados com esta loucura por Deus. Somente se a humanidade inteira desenvolver esta loucura por Deus, o mundo se livrará dos distúrbios, e a paz prevalecerá.
Estudantes! Manifestações do Amor Divino!
Depois de cada sessão de cânticos devocionais, vocês rezam pela paz no mundo (Loka Samastha Sukhino Bhavantu). Vocês encontram somente “pedaços” (“pieces”, em Inglês), mas não a “paz”(“peace”, em Inglês, com a mesma pronúncia) neste mundo. De fato, se vocês desenvolverem amor e tolerância para com todos os seres, não haverá necessidade de rezar pela paz; o mundo irá se tornar automaticamente uma morada de paz.
Desenvolvam o amor em vocês e compartilhem-no com, pelo menos, 10 pessoas por dia. Existem 950 milhões de pessoas na Índia. Se cada uma começar a compartilhar seu amor com as outras, então todas serão Um. A partir desta unidade, vocês atingirão a Divindade. Onde há erro, há medo; onde há amor, não há medo. “Por que temer quando Eu estou próximo e sou querido?”9 Você deve ter fé total na Divindade. Muitos devotos vêm aqui, mas quantos estão firmes e seguros em sua fé? Todos os desejos
mundanos são negativos em sua natureza. Os sentimentos negativos atrapalham o caminho para serem atingidos os sentimentos positivos. Então, não assimilem sentimentos negativos. Desenvolvam sentimentos positivos e pensem em Deus com fé inabalável.
Bhagavan concluiu seu discurso com o Bhajan “Hari Bhajan Bina Sukha Santhi Nahi”.

Publicação em Português: Eterno Condutor - Vol. 1 - Número 1 - 10/1999
Publicação Original: Sanathana Sarathi - Vol. 42 - Número 1 - 1/1999

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