sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Reconhecimento - "O mestre, o jardineiro e o hóspede"


O anseio da mente é de ser extraordinária. O ego tem sede e fome para que reconheçam que você é alguém. Alguém que realizará esse sonho através da riqueza, ou alguém que realizará o sonho através do poder, ou da política. Pode ser alguém que realizará o sonho através de milagres, de truques, não importa, pois o sonho permanece o mesmo: "É insuportável ser ninguém."

E este é o milagre, quando você aceita sua nulidade, quando você se torna tão comum quanto todos os outros, quando você não quer mais nenhum reconhecimento, quando puder existir como se não existisse. Estar ausente é o milagre.

Essa história é linda, uma das anedotas mais belas do Zen. Bankei é um dos Mestres supremos. Mas também era um homem comum.

Certo dia, Bankei estava trabalhando em seu jardim. Um buscador apareceu, um homem em busca de um Mestre, aproximou-se e perguntou a Bankei, “Jardineiro, onde está o Mestre?”

Bankei sorriu e disse, “Espere. Passe por essa porta, e lá dentro você achará o Mestre.”

Então o homem deu a volta e entrou. Encontrou Bankei sentado num trono, o mesmo homem que ele viu cuidando do jardim. O jovem perguntou, “Você está brincando? Desça desse trono. Isso é sacrilégio! você não tem respeito pelo Mestre.”

Bankei desceu, sentou-se no chão, e disse, “Assim você torna as coisas difíceis. Agora você não irá encontrar o mestre aqui, pois eu sou o mestre.”

Era difícil para esse homem entender que um grande mestre podia trabalhar no jardim, podia ser uma pessoa comum. Ele foi embora, pois não podia acreditar que aquele homem era o mestre, ele não entendeu.

Todos temem ser ninguém. Somente pessoas raras e extraordinárias não temem ser ninguém – um Gautama Buddha, um Bankei. Um ninguém não é um fenômeno comum; é uma das grandes experiências da vida – o fato de que você é, mas ainda assim não é. Que você é pura existência sem nome, sem endereço, sem fronteiras. Nem pecador nem santo, nem inferior nem superior, apenas um silêncio.

Pessoas estão com medo disso porque toda a personalidade delas terá então desaparecido; nome, fama, respeitabilidade, tudo se vai; daí, o medo. Mas a morte vai tirá-las de você de qualquer forma. Aqueles que são sensatos permitem que essas coisas caiam por si mesmo. Assim nada resta para a morte levar. Depois todos os medos desaparecem, pois a morte não pode acontecer a você; já que nada terá restado para ela. A morte não pode matar um ninguém.

Uma vez que você sente essa anulação do ser, você se torna imortal. A experiência de anular o seu ser, de ser ninguém, é o sentido exato do nirvana, do nada, do silêncio absoluto e imperturbável, sem ego, sem personalidade, sem nenhuma hipocrisia. Apenas silêncio - e a sinfonia dos insetos no meio da noite.

Você está aqui de certa forma, e ainda assim não está.

Você está aqui devido a velha associação com o corpo, mas olhe para dentro e verá que não está. E esse insight, essa percepção, onde há puro silêncio e puro estado-de-ser, isso é sua realidade, que a morte não pode destruir. Essa é sua eternidade, sua imortalidade.

Não há nada a temer. Não há nada a perder. E se você acha que perdeu algo – nome, respeitabilidade, fama – estes são sem valor. Estes são brinquedos de crianças, não servem para pessoas maduras. É hora de você amadurecer, hora de você apenas ser.

Seu ser-alguém é tão pequeno. Quanto mais alguém você for, menor é; quanto mais ninguém você for, maior você é. Seja absolutamente ninguém, e você será um com a própria existência.

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