domingo, 12 de fevereiro de 2012
Conta-corrente Relacional - (Oliveira Fidelis Filho)
"Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam,
assim fazei-o vós também a eles." (Jesus)
"Interessante observar as reações dos correntistas, de posse do extrato bancário, diante do caixa eletrônico.
Alguns parecem entrar em transe, hipnotizado pelos mágicos e, por vezes, enigmáticos números. Outros parecem ser abduzidos, tendo a mente arrancada do corpo numa experiência alienígena e, assim, caminham como zumbis, verdadeiros mortos vivos. Outros parecem experimentar o arrebatamento; aliviados e em êxtase, caminham em estado de gozo indizível. Outros parecem ter se deparado com o Juízo Final e, a julgar pelo semblante abatido e a cara fechada, o resultado foi infernal. Outros olham com naturalidade o extrato bancário e tranquilamente prosseguem seu caminho, afinal a fila anda.
Quando puder, observe pessoas retirando o extrato; pode ser muito engraçado. Isso, claro, se a sua conta não estiver estourada.
Os relacionamentos - conjugal, sobretudo - assemelham-se, em alguns aspectos, a uma conta-corrente.
Antes de qualquer coisa, trata-se de conta-corrente conjunta, da qual ambos precisam cuidar. Ambos possuem o mesmo nível de responsabilidade em relação aos depósitos e saques. Manter o saldo positivo será sempre responsabilidade e ganho mútuo, além de enriquecer os que com eles convivem.
Cada um vem para o casamento com valores diferentes a serem depositados, resultantes de heranças financeiras, sociais, intelectuais, emocionais, espirituais e morais. Ser verdadeiro em relação aos próprios valores constitui depósito valoroso, pois os cheques sem fundo acabarão voltando com o tempo, causando prejuízo a ambos.
Considerando que o mesmo objeto, comportamento, palavra ou atitude, possuem valor diferente para cada um dos parceiros, é importante saber o valor atribuído pelo outro. Para tal, nada melhor do que o diálogo. Concordo com Nietzsche quando disse: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?"
É possível permanecer ao lado de alguém na riqueza ou pobreza, na tristeza ou na alegria, na saúde ou na doença, na beleza ou na feiúra, na plástica ou na pelanca, mas fica impraticável quando falta o dialogo.
Na conta-corrente dos relacionamentos, o depósito relaciona-se a comportamentos ricos em amor, enquanto que os saques relacionam-se a atitudes e comportamentos esvaziados de amor. O resultado dos depósitos e dos saques dependerá ainda do amor existente ou inexistente em cada coração: quanto mais amoroso for, mais valorizado será o depósito e menos importância dar-se-á ao saque. O esvaziado de amor e cheio de si mesmo inflaciona os saques e, praticamente, não valoriza os depósitos.
Alguns comportamentos constituem-se em grandes depósitos, tais como o uso generoso das palavras mágicas: por favor, muito obrigado, desculpe, foi um prazer, ou demonstração de cuidado, cooperação, carinho, atenção, disposição para ouvir, generosidade em elogiar, rapidez em agradecer, mansidão no argumentar. Esta lista deve ser acrescida sempre!
Os saques, por sua vez, estão presentes na ausência de gentileza e de atenção, na indiferença, na grosseria das palavras e/ou atos, na crítica, na falta de acolhimento, de perdão, de incentivo, de compreensão, de carinho. Esta lista deve ser diminuída sempre!
Uma conta-corrente relacional "gorda" será, obviamente, resultante de mais depósitos do que de saques, além da capacidade de ambos valorizarem mais os depósitos..
Lembrando Rubens Alves, eu diria que alguns relacionamentos assemelham-se ao jogo de tênis. Um saque, acompanhado de um gemido, inicia todo ponto em um jogo de tênis. O jogo transcorre entre saques e cortadas. O ambiente é silencioso e tenso. Geralmente termina com um potente saque ou uma precisa cortada. O objetivo é eliminar o oponente, apenas um sai vencedor.
Terminada a disputa, cada um segue caminhos diferentes.
Há ainda os relacionamentos semelhantes ao frescobol. Parecido com o tênis, há uma bola, duas raquetes e dois jogadores, entretanto o jogo é puro prazer, deliciosa brincadeira, divertida descontração. Não se explora e nem há prazer no erro do outro, pelo contrário, faz-se todo o esforço para devolver a bola de forma a mais carinhosa e precisa possível. Quem erra não se sente bem, o que provoca o erro tem pressa em se desculpar. Começa e termina entre boas risadas, ambos saem ganhando.
Terminada a brincadeira, seguem juntos na mesma direção."
* Oliveira Fidelis Filho - Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=22307
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário