domingo, 12 de fevereiro de 2012

Amor Incondicional - (Oliveira Fidelis Filho)



"E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará". (I Coríntios 13.1-3).
"Identificando o Amor incondicional.

1. Em primeiro lugar é um "caminho": "Um caminho sobremodo excelente".

A declaração do Apóstolo me faz lembrar o "Nobre Caminho Óctuplo", ensinado por Buda, também conhecido como "o caminho do meio" por ser baseado na moderação e na harmonia; sem cair em extremos.

Trata-se de um caminho pavimentado a partir de "entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta e ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta". Objetiva erradicar a ganância, o ódio, a ilusão. O termo "correto", no Nobre Caminho Óctuplo, denota plenitude e coerência possuindo o sentido de "perfeito" ou "ideal".

No "Caminho Óctuplo", faz-se necessário o "pedágio" da autodisciplina, auto-esforço. É uma estrada aberta e pavimentada pelo próprio caminhante. É a viagem dos "santos" na busca da iluminação.

No "caminho sobremodo excelente", proposto por Paulo, a iluminação rompe a partir da divindade que nos habita, na medida em que se reconhece e permite à essência Crística se expressar no corpo mental, emocional e físico. O que conseqüentemente transbordará em pensamentos, sentimentos, palavras e atos, encharcados de amorosidade, compaixão, misericórdia, benevolência e graça.

Há pessoas que nascem e permanecem com o coração limpo, alma liberta e expandida e, portanto, trilham o "caminho sobremodo excelente" com leveza e naturalidade.

Há, também, os que em algum momento da vida reconhecem a necessidade de evoluir espiritualmente, expandir a consciência, libertar a alma das garras do ego e, para tal, impõem a si mesmos o desafio de enveredar pelo elevado caminho do autoconhecimento, da iluminação, do desapego, do amor incondicional.

Passam a desbravar o caminho elevado a partir de questionamentos e crises que solapam suas crenças e valores oportunizando profundas reflexões, desconstruções e desapegos. Cedem aos anelos da alma em sua crescente vontade de voltar para a Casa.

Há ainda os que "passam pela vida" totalmente alheios aos apelos da alma, satisfeitos com a superficialidade, hipnotizados pelos valores materiais, fanáticos adoradores do ego, não passando de "encarnações" perdidas.

Em cada uma destas realidades existenciais há uma variedade de níveis e momentos que precisam ser reconhecidos e amorosamente respeitados. No que tange a evolução espiritual e expansão de consciência não somos iguais!

No mestre Jesus, o Amor incondicional se apresentou plenificado. De tal forma encarnou esta expressão de Vida que se sentiu congruentemente autorizado a dizer "Eu sou o caminho", ou seja, em mim o caminho se fez. Do Mestre é, também, o desafio: "Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celeste". Tal perfeição é referendada no Amor divino que "faz nascer o sol sobre maus e bons".

Em Jesus mais que técnicas, práticas ou rituais religiosos ou espiritualistas, mais que pressupostos ideológicos, filosóficos, teológicos ou teosóficos é a Essência Crística, que libertada de todo os condicionamentos, de toda as sombras, de todas as construções, ilusões e projeções do ego se expressa. Nele o Amor incondicional transfigura o homem desfigurado na medida em que oportuniza a plena expressão da divindade. Na dimensão Crística o homem tem a chance de ser o que em verdade é: Amor, Verdade, Vida.

É "um caminho sobremodo excelente", pois disponibiliza, aos que por ele transitam a segurança da Paz, significativas vivências e as mais agradáveis recordações.

Quem se move por este caminho leva na bagagem pensamentos, sentimentos, palavras e atos acondicionados em embalagem perfumadas de benevolência, compaixão, misericórdia, perdão e acolhimento. Esparge a sua volta o bom perfume Crístico, deixa atrás de si um rastro de Luz.

2. Em segundo lugar, transforma as palavras em harmoniosas melodias.
"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine".

Sem Amor, as palavras, sejam em que língua forem, não passam de sons irritantes e agressivos.

O amor incondicional não pode ser definido pelo brilhantismo da oratória, entretanto, é o que reveste de brilho o discurso, o ensino, o diálogo, o que empresta sentimento de acolhimento a qualquer linguagem. O Amor incondicional torna uma língua compreensível mesmo para quem não a conhece. Torna fluida a comunicação tanto para o intelectual como para o analfabeto. Em sua ausência as palavras tornam-se estridentes e agressivas, na sua presença as palavras deixam de ser necessárias.

3. Em terceiro lugar, define o real valor de quem se entende possuidor de uma grande fé ou conhecedor dos mistérios e da ciência.
"Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei".

Sem Amor incondicional o que se fala sobre a divindade, sobre a espiritualidade, sobre Deus, torna-se uma afronta ao próprio Deus. Sem ele todo conhecimento, independente da área, bem como as mais extraordinárias exibições de fé não agregam nenhum valor ou benefício a quem a possui. Sem o Amor toda espiritualidade, religiosidade, práticas e exercícios espirituais tornam-se estéreis e enfadonhos. Sem Amor a verdade, longe de libertar, aprisiona e fere.

4. Em quarto lugar, Sem Amor incondicional toda a "boa obra" em nada beneficia quem a realiza.
"E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará".

Muito das "boas obras" são movidas por desejos de satisfazer o próprio ego, de ser visto, aplaudido, reconhecido. Por sentimento de inferioridade, de culpa ou necessidade de auto-expiação e ainda com o objetivo de maquiar a própria imagem, de ser "politicamente correto". Nas motivações políticas e religiosas o objetivo é, quase sempre, a barganha, o desejo de levar vantagem, de se garantir "assim na terra como no céu".

O Amor incondicional adorna com expansão de consciência e evolução espiritual o protagonista do silêncio, das palavras e das ações. Faz ecoar dentro do ser altruísta a freqüência divina, oportuniza o reverberar da vibração Crística tornando a alma grávida de puro deleite. Ao coração enamorado do Amor Incondicional é permitido degustar o genuíno sabor da doação expurgada de toda sombra. Não se trata de fazer para Deus, é um fazer em Deus."




* Oliveira Fidelis Filho - Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/c.asp?id=29486

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