terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Chega de rótulos! - (Glauco Tavares)
Escrito por Glauco Tavares em 25 de Novembro de 2009
A visão deste artigo está sob a luz da filosofia oriental, que preza o “estar” em relação ao “ser”.
Quantos rótulos ou apelidos você teve na infância? Eu me lembro de dois que acabei incorporando durante anos de minha vida:
1) Anão: eu era bem pequeno, confesso... Não sou gigante hoje em dia, mas tenho 1,73 metros. Eu carreguei este rótulo durante anos, sempre me sentia menor em qualquer lugar.
2) Topo Gigio: você lembra aquele rato orelhudo da TV? Também passei anos achando que ao invés de orelhas eu tinha um par de asas.
Resumindo, durante muito tempo eu me achava filhote do dumbo, pequeno e orelhudo.
Depois que crescemos os rótulos mudam e passamos à estressado, zen, egoísta, desapegado, mal humorado, ansioso, esforçado, empresário, gordo, magro, feio, bonito, médico, engenheiro, professor, dentre inúmeros outros. Infelizmente temos o péssimo hábito de reduzir uma pessoa a um estado ou uma profissão.
Quando afirmarmos que alguém “é” algum exemplo citado acima ou outro, estamos cometendo um grande equivoco. Na verdade todos “estão” alguma coisa, mas não “são”.
Durante meus devaneios pensei que pelo fato de acharmos que os outros “são” ou que nós “somos” alguma coisa podemos assumir um grande nível de apego por este título, e convenhamos que apego seja algo complicado de se trabalhar. Ninguém gosta de perder o que possui, por isso, gerar apego pelo “ser” alguma coisa pode nos trazer conseqüentemente sofrimento.
Um exemplo simples pode ser como uma pessoa que assumi o rótulo de ser corredor, esportista, e durante um determinado momento tem problema na sua coluna que a impede de praticar atividade física, como correr. O que acontece quando a pessoa acha que ela “é” um corredor? Ela sofre.
O mesmo pode-se dizer de um relacionamento. Quando achamos que “somos” casados parece que este “ser” cria poder sobre o outro, ao passo que simplesmente “estamos” casados. Ou no caso de uma profissão como a minha: professor de yoga, eu não “sou” professor eu apenas “estou”.
“Ser” alguma coisa aprisiona, enjaula, enquanto “estar” liberta e abre novas possibilidades. Quando “estamos” alguma coisa pode ser mais fácil de deixarmos, talvez por isso seja tão difícil nos livrarmos de hábitos e comportamentos uma vez que pensamos que “somos” daquele jeito, quando na verdade apenas “estamos”. Seria como uma roupa que vestimos, “estamos” com ela e no outro dia não mais, é simples, ninguém chora quando tira uma camiseta.
A única certeza que eu tenho de “sermos” algo é “sermos” uma centelha divina, o atman, o purusha, o nosso eu interior.
Tratei de tudo isso acima para dizer que recebi um novo rótulo, agora não mais de anão nem de topo gigio, mas de cristão. Este rótulo veio em função de alguns de meus artigos citarem o nome de Jesus Cristo.
Só que o pior rótulo não é aquele que as pessoas colocam em nós, mas aqueles que nós vestimos como verdade.
Primeiro que eu não teria problema algum em “ser” cristão, mas este rótulo não colocou em mim, pois eu apenas “estou” cristão assim como sempre “estarei” budista em função dos meus anos de estudo sobre a vida de Sidarta Gautama. Meus estudos atuais estão voltados para a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo e a mística cristã, que por respeito a tudo que ele nos deixou e a todo o misticismo cristão posso afirmar que “estarei” sempre cristão.
Nos próximos anos pretendo “estar” judeu, islâmico, taoísta e outros. Minha grande jornada visa Deus, manifestar meu eu interior, a centelha divina que está em mim. Logo, estudar a vida de seres que tiveram esta consciência irá apenas colaborar para meu processo espiritual.
Nós “somos” divinos, embora muitas vezes nos esqueçamos disso. Fora isso, sempre “estaremos” alguma coisa.
Pensemos bem, nós não temos o direito de limitar a infinita capacidade humana a um simples rótulo.
Fonte: http://glaucotavares.blogspot.com/
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