sábado, 16 de maio de 2009

Relacionamento - (Adyashanti)


"Quando consideramos o tema do relacionamento, é importante que não limitemos nossa consideração somente ao relacionamento entre seres humanos, mas que o alarguemos para incluir nosso relacionamento com a vida toda. Do limitado ponto de vista do ego, o relacionamento é sempre entre dois objetos – entre um “eu” pessoal e alguma outra coisa além de mim. É desse ponto de vista limitado que a maioria dos seres humanos começa a considerar o que seja um relacionamento iluminado. Contudo, para descobrirmos o que é um relacionamento iluminado, é imperativo que se questione o que é a realidade do ego como entidade separada. Pois, enquanto percebermos o nosso eu como sendo um ego separado, o relacionamento iluminado com os outros e com a vida como um todo permanecerá uma impossibilidade.

P: Quando penso no meu relacionamento com a vida, acho que quero evitar os desafios quotidianos. Minha esperança é que, quando eu me iluminar, a vida será mais fácil para mim.

A: Se quiseres ser livre, não podes te esconder de nada. Muitos buscadores espirituais usam práticas como meios de evitar muitos aspectos de si mesmos. O problema com isso é que, enquanto tu estiveres evitando alguma coisa, não estarás vivendo na verdade. Estarás evitando a verdade. Ninguém jamais se iluminou por evitar a verdade. Se quiseres ser livre, deves encarar a ti mesmo e encarar a vida como ela é. Não uses a espiritualidade ou experiências espirituais como algo para te esconderes por trás. Enquanto estiveres evitando partes de ti mesmo ou da vida em geral, então mesmo experiências e revelações espirituais muito profundas terão em ti muito pouco efeito permanente. Não apenas busques transcender a vida, mas dá-te conta de que tu és toda a Vida. Tu és a própria Vida.
P: Qual é a relação certa a se ter com as experiências espirituais?
A: O que é importante com as experiências espirituais é como tu te relacionas com elas. Duas pessoas podem se relacionar com a mesma experiência de maneiras muito diferentes. Uma pode libertar-se em consequência de uma experiência espiritual profunda, enquanto outra se prenderá a velhos hábitos de condicionamento, apego e ego. Tudo depende da tua prontidão e disposição de te abandonares ao Desconhecido e viveres a partir dessa situação preciosa e misteriosa. A questão é: Será que estás pronto a desistir de tudo quando Deus vier bater à tua porta? Essa disposição de te abandornares completamente e te renderes ao divino determina quão livre por fim te tornarás. O que quer que retiveres para ti mesmo será a tua prisão. Meu conselho é que entregues todo o teu coração, mente, corpo e alma à Graça quando ela chegar. Pergunta-te agora: Estou pronto?
P: Existe essa coisa de um relacionamento íntimo dar apoio ao outro conscientemente rumo à liberdade?
A: Se por "apoio" queres dizer "encorajar a liberdade no outro", então esta é a própria essência de uma relação embasada na Liberdade. Contudo, muitos buscam apoio nos relacionamentos como compensação para a sua própria falta de determinação e dedicação à Verdade. Essa dependência, mascarada como apoio, é algo que muitos buscadores espirituais pedem a seus parceiro(a)s, porque ainda não o encontraram dentro de si mesmos. O apoio, enquanto relacionado à Verdade, é mais como uma mão que se mantém aberta na qual alguém pode se expor, se quiser. Não é compensação.
O relacionamento baseado na Verdade, o que significa um relacionamento livre de dependências e exigências, está centrado na celebração. É uma união mútua por nenhum outro motivo senão estar juntos. A investigação profunda da pergunta "Quem é o outro?" pode levar à vivência direta de que o outro é o nosso próprio Ser -- que de fato não existe o outro. Contudo, tenho visto que, para a maioria dos buscadores, mesmo essa revelação vivencial não basta para transformar a maneira dolorosa de eles se relacionarem.

Para chegar a essa transformação profunda, é preciso uma investigação muito profunda das implicações intrínsecas à revelação vivencial de que não existe o outro. É na vivência diária dessas implicações que fracassam muitos buscadores. Por quê? Porque, fundamentalmente, a maioria das pessoas quer manter-se separada e no controle. Simplificando, a maioria das pessoas quer continuar sonhando que são especiais, únicas e separadas. Querem permanecer separadas mais do que querem acordar para a unidade perfeita de um Desconhecido que não deixa espaço para nenhuma separação do todo.
Enquanto perceberes que alguém está te refreando, não estarás assumindo responsabilidade total pela tua própria libertação. Libertação significa que tu te sustentas livre de fazer exigências aos outros e à vida para seres feliz. Quando descobres que tu mesmo nada mais és do que Liberdade, paras de impor condições e exigências que precisem ser satisfeitas para seres feliz. É no abandono total de todas as condições e exigências que se descobre que a Libertação é quem ou o que tu És. Então, o amor e a sabedoria que fluem de ti têm um efeito libertador sobre os outros.
P: Será que temos a responsabilidade de expor as falhas um do outro a fim de auxiliar no crescimento e superação dos pontos cegos?
A: Muita gente pensa que o propósito do relacionamento é trabalhar suas "neuras", mas eu acho que não é para isso que servem os relacionamentos. Acho que trabalhares tuas "neuras" é tarefa própria tua, não do relacionamento. Tu é que te trabalhas. Estás sozinho(a) na descoberta da Verdade, na descoberta do Bem-Amado. Isso cabe a ti. Quando tiveres clareza sobre isso, o relacionamento poderá florescer. Se isso não estiver claro, vocês sempre estarão usando um ao outro para trabalharem suas "neuras" e vocês se tornarão duas ferramentas: Eu te mostro o teu lixo, tu me mostras o meu e nós fazemos de conta que isso é uma coisa boa.

Despertar para a verdade da Unidade significa despertar do sonho de um 'eu' pessoal e de 'outros' pessoais, para a constatação de que não existe o outro. Muitos buscadores espirituais tiveram vislumbres da Unidade absoluta de toda a existência, mas poucos são capazes de, ou estão dispostos a, cumprir as várias implicações desafiadoras inerentes a essa revelação. A revelação da Unidade, de que não existe o outro, é a constatação da máxima natureza impessoal de tudo quanto pareça ser tão pessoal. Aplicar essa constatação ao âmbito das relações pessoais é algo que a maioria dos buscadores acha extremamente desafiador. Este é o motivo número um pelo qual tantos buscadores nunca chegam a repousar completamente na liberdade do Ser Absoluto."

Intimidade - (Gangaji)


Encontro Público em Mill Valley, Califórnia
27 de outubro de 2002

"Freqüentemente, quando as pessoas vêm me ver ou falar comigo, eu pergunto o que é que elas querem. Portanto, pergunto o mesmo a você: o que você quer? Esta é uma pergunta muito importante. Não há nada de errado em querer alguma coisa. Não se trata disso. Portanto, por favor, não tire disso a conclusão espiritual de que "Eu não deveria querer" e, portanto, "Eu não quero realmente nada". Investigue isto realmente: o que você quer? O que você quer de mim? O que você quer destes encontros? O que você quer de si mesmo?
Se você está aqui porque quer que eu lhe dê alguma coisa, eu lhe digo que não posso lhe dar nada. Não estou oferecendo nada. Não estou oferecendo o lar ou iluminação. Não estou oferecendo refúgio da tempestade ou habilidades desenvolvidas. Não estou oferecendo escapatória. Este não é o meu objetivo em sua vida, mesmo que não haja nada de errado em se oferecer isto. O que estou lhe oferecendo é a mim mesma. E o que quero de você é você mesmo, porque então a integridade que sou eu é ainda mais íntegra, mais total. Ela já é completamente inteira mas, curiosamente, não está limitada por qualquer definição de inteireza. Ela está sempre vendo a si mesma como ainda mais completa. É este o papel que desempenhamos um para o outro. Mas, se nos aproximarmos querendo alguma coisa um do outro (especialmente algo que achamos que não temos), a possibilidade de darmos um ao outro o nosso próprio ser passa despercebida.
Claro, já eu disse a palavra "ser", temos que tirar um momento para definir "ser". Não estou falando do "ser" como personalidade, como experiência intelectual, como compreensão intelectual, como experiência emocional ou até mesmo como proximidade física, embora tudo isto não esteja separado de mim mesma, de você. Estou oferecendo o ser que é ilimitado. Não quero dizer com isso o ser que é maior do que o "pequeno ser". No ilimitado, medidas como "maior do que" ou "melhor do que" ou "para além de" são ridículas. Elas não têm qualquer sentido no ilimitado. Portanto, não estou falando do "ser maior". Estou falando de mim mesma. Estou falando de você. Estou falando da chama eterna do Ser, da qual o corpo, a personalidade, as emoções e a compreensão são apenas centelhas. Estas centelhas são belos reflexos e manifestações desta chama, mas, como centelhas, destinam-se a aparecer e morrer. Não estão separadas de mim mesma, o Ser, o Ser Único, todavia, nesta inseparabilidade, elas são limitadas. Portanto, eu compartilho a mim mesma com você e quero que você compartilhe a si mesmo comigo. As pessoas chamam isso de "coração", mas normalmente isso é traduzido e compreendido como uma espécie de ser emocional. Estou falando da verdade de si mesmo. Não é que sua personalidade, seu entendimento, suas perguntas, seus relatos ou suas dúvidas estejam separados disso e não possam existir nisso, mas o que quero de você é você mesmo. O que quero lhe dar, o que posso lhe dar é a mim mesma, e só isso. Na minha experiência, isso é mais do que suficiente, mas se você quer algo mais de mim, é muito importante ver isto imediatamente. Desta maneira, você não desperdiçará o seu tempo ou o meu, porque quem sabe quanto tempo estas centelhas vão durar? No âmbito temporal, existem limites. É importante reconhecê-los, curvar-se diante deles e, assim, libertar-se destes limites.
Estes encontros são construídos de uma maneira semelhante à maneira como o meu mestre se reunia com as pessoas; ao apresentar-se, a oferta se revelava nele e através dele. Passei muitos encontros explicando o que é esta oferta. Domingo passado, mais uma vez, fui tomada pela humildade ao ver como ela é continuamente mal-entendida, primorosamente, perfeitamente mal-entendida. Talvez o mal-entendido seja o que nos mantém nos reunindo para compartilhar o Ser Único. Portanto, vou continuar a delinear o que a graça de meu mestre revelou em mim, e convidarei você a esta percepção, a esta revelação. Mas tudo isto leva realmente à experiência muito possível, preciosa e indefinível de entregar-se plena e completamente, neste momento."

Fonte: http://www.gangaji.org/

O sábio e o buscador - (Swami Sambodh Naseeb)

"Um sábio não é um buscador. O buscador ainda está em busca de paz, ainda está evitando sofrer. O sábio não evita mais nada, apenas e simplesmente deixou de seincomodar com as polaridades da vida – com a tristeza e a alegria..Aceitou a dualidade do viver. Não porque ele tem muito conhecimento,mas porque seu coração falou tão alto que o sentido da vida agoraé o viver de cada momento. Então, na simplicidade, no momento a momento,vai se descobrindo que a vida nos oferece a cada instante dádivas que passamos por cima. Por quê?
Porque o apego aos pensamentos e desejos não nos deixa vivenciar e sentir o coração amoroso que somos."
Fonte: http://naodual.blogspot.com/2009/05/o-sabio-e-o-buscador.html

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A arte de estar com o outro - (Osho)


"A pessoa que não é capaz de estar com os outros,
de relacionar-se,
achará muito difícil relacionar-se consigo mesma,
porque a arte de relacionar-se é a mesma.
Seja relacionar-se com os outros ou consigo mesmo,
não faz muita diferença: é a mesma arte.

Essas artes têm que ser aprendidas juntas,
simultaneamente;
elas são inseparáveis.

Esteja com as pessoas,
não inconscientemente,
mas bem conscientemente.
Relacione-se com as pessoas
como se você estivesse cantando uma canção,
como se você estivesse tocando numa flauta;
cada pessoa precisa ser pensada como um instrumento musical.
Respeite-as, ame-as e adore-as,
porque cada pessoa é uma face oculta do divino.

Portanto seja bem cuidadoso,
bem atento.
Lembre-se do que você está dizendo;
lembre-se do que você está fazendo.
Pequenas coisas bastam para destruir relacionamentos,
e pequenas coisas tornam relacionamentos tão belos.
Às vezes basta um sorriso,
e o coração do outro se abre para você;
às vezes basta um olhar errado em seus olhos,
e o outro se fecha -
é um fenômeno delicado.

Pense nisso como uma arte:
assim como o pintor é muito vigilante
do que ele está fazendo na tela,
cada simples traço irá fazer muita diferença.
Um pintor verdadeiro pode mudar toda a pintura
apenas com um simples traço.

A vida tem que ser aprendida como uma arte:
muito cuidadosamente,
bem deliberadamente.

Assim, o relacionamento com os outros
precisa se tornar um espelho:
veja o que você está fazendo,
como você está fazendo isso e o que está acontecendo.
Que está acontecendo ao outro?
Você está tornando a vida dele mais miserável?
Você está provocando sofrimento nele?
Você está criando um inferno para ele?
Então retire-se.
Mude suas maneiras.
Embeleze a vida ao seu redor.

Deixe que cada pessoa sinta
que o encontro com você é uma dádiva:
apenas por estar com você algo começa a fluir, a crescer,
algumas canções começam a surgir no coração,
algumas flores começam a se abrir.

E quando você estiver sozinho,
então sente-se totalmente em silêncio,
absolutamente em silêncio,
e observe a si mesmo.

Assim como o pássaro tem duas asas,
deixe amor e meditação serem suas duas asas.
Crie uma sincronicidade entre eles,
assim eles não estarão de maneira alguma
em conflito um com o outro,
mas cuidando um do outro,
alimentando um ao outro,
auxiliando um ao outro.
Esse vai ser o seu caminho:
a síntese entre amor e meditação."

(The Rainbow Bridge - #24)

Desejos ... mundanos ou de Deus? - (Gangaji)


"Na maioria, todos já experimentaram como a perseguição dos desejos mundanos geralmente leva à perpetuação do sofrimento. Dessa experiência resulta a constatação de que geralmente se paga um preço pela satisfação desses desejos. Esse preço é a sua energia de vida, a sua concentração e determinação. É claro que você pode obter prazer na satisfação dos desejos mundanos e passar pela dor da perda. Contudo, o verdadeiro aprofundamento de uma vida não acontecerá enquanto você não estiver disposto a perceber a limitação dos desejos mundanos. Uma vez percebido isso, você pode experimentar uma sutil, porém mortal transferência, dos desejos mundanos para o âmbito dos desejos espirituais. O desejo da verdade, enquanto considerado um desejo elevado, ainda o deixa a perguntar-se por que o seu sofrimento continua.

O desejo de liberdade, amor, verdade ou Deus não é um problema. Meu mestre, Papaji, dizia que, se você deseja a liberdade acima de tudo mais, este desejo em si aniquilará todos os outros desejos; e isso é verdade. Este desejo engole todos os outros desejos. Portanto, o desejo de iluminação não é o problema. O problema é a expectativa de que a iluminação venha a lhe dar certos resultados ou que venha fazer você ter uma certa aparência ou sentir-se de um certo modo. Daí surge confusão e questionamento: por quê, se só o que se deseja é a iluminação, ainda não se tem a experiência de paz permanente?

Eu encorajo você a investigar realmente a sua própria mente e verificar se há alguma imagem de verdade, de liberdade, de iluminação ou de Deus. Se houver uma imagem, experimente o seguinte: Largue-a. E agora veja se há alguma expectativa associada a Deus, tal como: se você estiver sendo sincero com Deus, Deus há de lhe dar saúde perfeita, riqueza perfeita, felicidade eterna, etc. Examine a sua mente e veja se há expectativas de que a constatação de Deus ou da verdade vá lhe dar algum alívio da vida ou algum controle sobre a vida. Agora, para fins de investigação, solte essas expectativas. Abandone-as. Desista delas. Se você está esperando um determinado estado de clareza, de êxtase oceânico ou certeza do seu objetivo no mundo, simplesmente largue isso para você poder simplesmente estar aqui. Abandone tudo. Quando você não tem nada, tem somente a si mesmo. E quando você verdadeiramente tem a si mesmo, você está desperto para quem você verdadeiramente é. Se você desejar ser livre, e não der a esse desejo nenhuma forma, expectativa ou pensamento, mas apenas lhe permitir estar, então esse verdadeiro desejo revelará o inteiro universo conhecido e desconhecido. Toda partícula se revela única, e esta única é você. No próprio instante em que você acha que o seu desejo de Deus, liberdade ou verdade deva produzir um determinado resultado, aparência ou sentimento, você já turva a pureza desse desejo verdadeiro. O desafio no coração de qualquer buscador espiritual, por mais bela e essencial que possa ser a busca, é parar de buscar qualquer coisa para preencher esse desejo final.

O desafio é deixar que a sua vida inteira preencha esse desejo. Você pode oferecer todo o resto da sua vida a esse desejo sem saber qual será o resultado, sem saber se você estará arruinado, sem teto, rico ou famoso. Você pode dar o que você tem, que é a vida neste momento, à verdade, à liberdade, a Deus. Como outra oportunidade de auto-investigação, convido-o a fazer-se a seguinte pergunta: O que é que a iluminação vai me dar? Dependendo de quão disposto você esteja a dizer a verdade, as possibilidades deste tipo de investigação não têm limites. Investigação não tem nada a ver com resposta certa, mas tem tudo a ver com dizer a verdade. Tire só um momento para considerar realmente: Que tal se a iluminação não lhe der nada, mas nada mesmo? Que tal se você não ganhar nenhuma coisa – física, mental, emocional ou circunstancial? A verdade é que a iluminação não vai lhe dar uma só coisa sequer. Está disposto a suportar essa verdade? Se estiver, você está livre. Se não estiver, sua mente ainda está presa a alguma coisa que você espera que vá lhe dar liberdade.

No coração de todo ser humano com quem falo, tenho visto um comando para, de certo modo, encontrar verdadeira felicidade, verdadeira realização. Às vezes esse desejo é até mais forte do que o instinto de sobrevivência. Como você sabe por sua própria experiência, a busca da felicidade pode enveredar por vários caminhos. De maneira instintiva, pode ser uma busca de prazer, conforto, segurança, ou uma busca de alguma posição conhecida na multidão humana. Geralmente, quando atingimos um determinado nível de sucesso em termos de prazer, conforto, segurança e posição, reconhecemos que nenhuma dessas coisas satisfaz verdadeiramente este comando profundo, este clamor mais profundo por felicidade. Podemos até ter momentos de linda revelação e certamente momentos de prazer, porém, ainda assim, geralmente por baixo de tudo isso está o medo de que nunca venhamos a encontrar paz permanente ou felicidade verdadeira. Ou o medo de perdermos qualquer paz ou felicidade que tenhamos atingido causa-nos tensão e contração já que constantemente procuramos nos apegar. Normalmente sentimos uma profunda desconfiança de que a paz e a felicidade sejam realmente possíveis.

Às vezes, numa vida abençoada, surge o clamor pela busca espiritual, pela busca de Deus, pela busca da verdade. Reconhecemos que o normal significa “não dê ouvidos a esse comando”. Deixamos de lado o que chamamos de “vida mundana” e voltamo-nos para uma vida espiritual.

Infelizmente, o mesmo condicionamento que dirigia a vida mundana geralmente tenta dirigir a vida espiritual igualmente e então se torna uma busca de prazer espiritual, conforto espiritual, conhecimento espiritual ou segurança espiritual. Mais cedo ou mais tarde, você terá que se desiludir com essa busca também. Você encontra prazer, obviamente; alcança espaços de êxtase; sente-se seguro quando percebe que Deus ou a verdade está presente e sente-se confortado quando se sente amparado por essa presença. Porém, até reconhecer que jamais esteve separado dela, você será continuamente impelido a encontrá-la nalguma outra parte, a encontrar Deus, baseado na crença ou na esperança de que Deus vá lhe dar felicidade. Esta crença ou esperança fundamenta-se numa compreensão bem infantil do que seja Deus – uma coisa, uma força, um lugar que lhe possam conceder prazer, conforto e segurança eternos.

Descobri que na verdade é impossível encontrar a felicidade. Enquanto estiver buscando encontrar a felicidade “nalgum lugar”, você estará ignorando o que é felicidade. Enquanto estiver procurando encontrar Deus em algum outro lugar, você estará ignorando a verdade essencial de Deus, que é onipresença. Quando busca encontrar felicidade nalgum outro lugar, você está ignorando a sua verdadeira natureza, que é felicidade. Você está se ignorando.

Eu gostaria de lhe oferecer o convite e o desafio de você parar de se ignorar e simples, radical e absolutamente ficar quieto – deixar de lado, por um momento apenas, todas as suas idéias de onde está Deus, ou de onde está a verdade, ou de onde você está. Pare de olhar para qualquer lugar. Pare de buscar. Simplesmente seja/esteja. Não estou falando de ficar num estupor ou de entrar em transe, mas de entrar mais fundo no silêncio do seu coração, onde a revelação da onipresença pode revelar-se como a sua verdadeira natureza. Estou lhe pedindo para ficar quieto em pura presença. Não criar isso, nem sequer o convidar, mas simplesmente reconhecer o que está sempre aqui, quem você sempre é, onde Deus sempre está.

Neste momento, por mais que você esteja buscando, pare. Quer esteja buscando paz e felicidade num relacionamento, num trabalho melhor, ou mesmo na paz mundial, apenas por um só momento pare absolutamente. Nada há de errado com essas buscas, mas, se você está engajado nelas para obter paz ou obter felicidade, você está ignorando a base de paz que já está aqui. Uma vez que você descubra esta base de paz, então quaisquer buscas em que você se engaje serão informadas por esta descoberta. Então o que você descobriu você trará naturalmente para o mundo, para a política, para os seus relacionamentos.

Esta descoberta tem ramificações complexas e infinitas, mas sua essência é muito simples. Se você parar com toda atividade, só por um instante, nem que seja por um décimo de segundo, e simplesmente ficar completamente quieto, reconhecerá a intrínseca amplidão do seu ser, que já é feliz e está em paz consigo mesmo.

Por causa do nosso condicionamento, normalmente desconsideramos esta base de paz com um imediato “Sim, mas e a minha vida? Tenho responsabilidades. Preciso me manter ocupado. O absoluto não se relaciona com o meu mundo, minha existência”. Esses pensamentos condicionados apenas reforçam mais condicionamento. Porém, se você tirar um momento para reconhecer a paz que já está viva dentro de si, então, na verdade, você terá a escolha de confiar em todos os seus empenhos, em todos os seus relacionamentos, em todas as circunstâncias da sua vida. Não significa que a sua vida estará isenta de conflitos, desafios, dores ou sofrimentos. Significa que você terá reconhecido um santuário onde a verdade de você mesmo está presente, onde a verdade de Deus está presente, independentemente das circunstâncias físicas, mentais ou emocionais da sua vida.

Este é um convite para o centro do seu ser. Não se trata de religião ou ausência de religião. Não se trata sequer de iluminação ou ignorância. Trata-se da verdade sobre quem você é, a qual está mais próxima e mais profunda do qualquer coisa que se possa nomear.

A qualquer momento, numa fração de segundo, há a possibilidade de reconhecer a ilimitada, infinita e eterna verdade divina de você mesmo. Diferentes culturas espirituais têm dado nomes diferentes a experiências da verdade. Céu, nirvana, ressurreição, iluminação, satori, samadhi – todos são nomes que apontam para esta beleza divina suprema, inominável, vazia de sofrimento e preenchida pela graça.

O reconhecimento desta verdade – é só disso que trata este artigo. Se você não conseguir reter na memória uma só palavra sobre isso, simplesmente perfeito! Meu mestre me dizia que o ensinamento mais verdadeiro é como um pássaro a voar no céu: não deixa rastros que possam ser seguidos, todavia não se pode negar sua presença."

Advaita - (Swami Sambodh Naseeb)

"Só há uma alma
Só há um Deus
Só há um espírito
Só há um amor
Só há um momento: AQUI-AGORA
Só há um mestre: Consciência

Na ilusão da mente
O UM parece ser MUITOS
É como uma sala cheia de espelhos
Todos refletem você!
Lembre-se disso e investigue em sua vida.
Tenha muita reverência por cada pessoa
que passa por você.
Cada pessoa é um Mestre.
Porque você é um Mestre.
E porque o Mestre é apenas UM.
Você é Deus manifesto como corpo e mente.
Mas sua essência é puro silêncio e paz.
Aprenda a sentir este silêncio!
Meditação é abrir os olhos para esta verdade suprema.

DEUS É TUDO QUE HÁ !"

terça-feira, 12 de maio de 2009

Child in us - (Enigma)

(Extraído do livro Maha Gita Purusham do Bem-aventurado de Sri Maha Krishna Swami)

"A felicidade perfeita
Não haverá de visitar-nos amanhã
A menos que nossos corações
Repousem hoje nela.
Não há paz futura
Que não esteja oculta
No fugaz momento presente.

Às vezes, sente-se
Que a felicidade
Está sendo obscurecida
Pelo próprio mundo.
Mas a tristeza não é
Senão uma nuvem escura.
Atrás dela,
Ao nosso alcance,
Está a felicidade perfeita.
Podemos vivê-la se soubermos
Sentir e conhecer o Ser.
E, por isso, é necessário
Manter-se em silêncio,
Meditar e devocionar.

Não podemos aceitar
Os momentos de alegria
Como simples momentos.
Eles guardam
A divina essência.

O Ser é eternamente bondoso
E de amor sem fim,
Mas os dons que ele nos doa,
Julgamo-los
Pelo aspecto externo.
Em tudo que existe
Está sempre
O Supremo e Divino Ser.

Apresse-se para sentir
A presença do Ser Supremo.
Liberte as veias
Do curso do sangue.
Entreabra os olhos
E deixe entrar a luz.
Procure a sua essência
Em si mesmo
E depois tome consciência
Do seu próprio Ser."

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Batendo à porta da Bem-Amada - (Rumi)

"Alguém bateu à porta da Bem-Amada, e uma Voz lá de dentro perguntou:
- Quem está aí?
E ele respondeu - Sou eu.
A Voz então disse:
- Esta casa não conterá nós dois.
E a porta continuou fechada. Então o Amante foi para o deserto e na solidão jejuou e orou. Retornou depois de um ano e bateu novamente à porta. E de novo a Voz perguntou:
- Quem é?
E o Amante respondeu:
- És tu mesma!
E a porta lhe foi aberta."



"Eu olhei em torno, procurando-O. Ele não estava na Cruz. Dirigi-me ao templo do ídolo, ao antigo pagode; nenhum sinal Dele era visível ali. Fui então para a Caaba; Ele não se achava naquele refúgio de velhos e jovens. Perguntei a Ibn Sina (Avicena) do Seu estado; Ele não se achava ao alcance de Ibn Sina. Olhei para o meu próprio coração. Aí eu O vi. Ele não estava em nenhum outro lugar."



"Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança."



"FICA
Tocaste a órbita do coração celeste,
agora fica aqui.
Pudeste ver a lua nova
agora fica.

Sofreste em excesso por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

Teu tempo acabou.
Escutaste tudo o que se pode dizer
sobre a beleza desse amante,
fica aqui agora.

Juraste em teu coração
que havia leite nesses seios,
agora que provaste desse leite,
fica."

Minha Herança: Uma Flor - (Vanessa da Mata)



"Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio

Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei

Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre

A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho, nem uma arma ou uma pedra
Eu deixarei

A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranqüilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si

E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu

Achei você no meu jardim"

Corações distantes - (Meher Baba)



Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:
“Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?”

“Gritamos porque perdemos a calma” disse um deles.

“Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?” Questionou novamente o pensador.

“Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça”, retrucou outro discípulo.

E o mestre volta a perguntar: “Então não é possível falar-lhe em voz baixa?”

Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
Então ele esclareceu:

“Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.”

Por fim, o pensador conclui, dizendo:

"Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".

O que a visão do Advaita Vedanta e de Cristo querem dizer com “Tudo é Um com Deus”? - (Swami Sambodh Naseeb)

"A resposta é simples: a mente humana é o que cria separação. Tudo é Um na visão original, que é a visão do Pai Eterno. Sem o instrumento chamado mente não é possível ver a vida como ela se apresenta agora, com toda essa diversidade de corpos, mentes, animais, universos, enfim, toda a criação que está diante de nossos olhos.

Vamos dar um exemplo para podermos visualizar este complexo percebimento. Imagine que esta Inteligência a que chamamos Deus, em si mesma seja pura potencialidade de Amor e Sabedoria. Deus (sozinho) é pura bênção e perfeição, porque em si mesmo não tem opostos, não pensa, não tem sentimentos. Apenas É.

Deus apenas É. Em seu estado original aquilo que chamamos Deus apenas É. Em Si mesmo contém todas as coisas, todas as energias muldidimensionais. Mas essa energia mutidimencional, esta abundância de criatividade não está manifestada. O que quer dizer isto? Em seu estado original Deus está passivo, não age, não se relaciona, apenas É esta potencialidade infinita que guarda em Si mesmo.

Como Deus se manifesta? Como ele poderia desfrutar de sua magnitude suprema? Como ele poderia pensar e se relacionar com sua criatividade?

Nós pensamos que a criação foi criada num certo dia, mas em verdade a criação sempre existiu. Talvez de formas diferentes, em mundos diferentes, mas sempre existiu. Porque? Simplesmente porque Deus não existe e nunca existiu sozinho. Seu modo de ser é também pensar, relacionar-se e sentir. Quando Deus pensa em si mesmo ele pensa através de uma mente. Quando Deus quer sentir a si mesmo, ele sente através de uma mente. Quando Deus quer ter sensações, ele tem sensações através de um corpo.

Ou seja, Deus e seus filhos são uma única substância inseparável. A criatura e o criador não são dois – são Um. A existência não é algo mecânico, ela é orgânica. Toda a existência é o corpo de Deus – é isso que todos os sábios vem dizendo há milênios. Você não existe como uma ilha, todos nós somos partes uns dos outros, todos participamos da criação não como algo separado, mas como membros e corpos dessa criação chamada Deus manifesto.

Deus não-manifesto é Deus passivo, energia pura, sem dualidade, puro potencial. Deus manifesto é Deus em ação. Deus em ação é toda a criação, todos os universos, todos os seres. Deus ativo é o que a religião Cristã chamou de “Seus Filhos”.

Há separação entre a onda e o oceano? A onda está separada daquilo que chamamos oceano? Qual a distinção dos dois então? No nome e na forma. Um chama-se onda e outro oceano – distinção no nome. E na forma? Um sobe e desce,e outro está sempre no mesmo lugar. As ondas são impermanentes, estão sempre mudando. O oceano está sempre ali.

Deus é o oceano. Os filhos são as ondas. Não há real separação e não ser pelo nome e pela forma.

Quando uma pessoa cresce, é Deus que cresce. Quando uma pessoa ama, é Deus que ama. Quando uma árvore floresce, é Deus que floresce. Quando uma flor desabroxa, é Deus desabroxando.Deus é o perfume presente em todas as coisas, porque na verdade tudo é Um. Na onda existe a presença do oceano. Porque o oceano e a onda não são duas coisas. Deus está na criação assim como o oceano está nas ondas. Não ha separação em verdade."

Fonte: http://naodual.blogspot.com/2009/05/tudo-e-um.html

sexta-feira, 1 de maio de 2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Eros e Psique - (Fernando Pessoa)


"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."

O Girassol - (Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, em "O Guardador de Rebanhos")


"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

quarta-feira, 29 de abril de 2009

La bailarina del templo" - Shokry Mohamed

"La ví bailando en la oscuridad,
bailaba para si misma,
y vive consigo misma.
La ví bailar y oí sus suspiros.
La ví bailar en silencio,
bailaba sin música, sin melodía.
Bailaba sobre los ritmos del silencio asesino.
Bailaba sobre la luz de la extrema oscuridad.
Se movía de un sitio a otro.
Sin esposas ni ataduras,
solo, existía ella
y nada sino ella.
Dejó de moverse en la oscuridad,
se sentó en el suelo
para recuperar el aliento.
El aliento se agotó
en el gran baile,
el baile de si misma."
(La bailarina del templo" - Shokry Mohamed)





segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fique com o Desconhecido - (Papaji)


"Tudo que você é apegado, tudo que você ama,
Tudo que você sabe, algum dia irá embora.
Saber isso, e que o mundo é a sua mente
onde você cria, brinca, e sofre
é conhecido como discriminação.
Discrimine entre o Real e o Irreal,
O conhecido é irreal e vai ir e vir
Então fique com o Desconhecido, o Inalterável, a Verdade."


"Deixe que haja PAZ e AMOR entre todos os seres do universo.
Deixe que haja PAZ, deixe que haja PAZ.
OM Shanti, Shanti, Shanti"


"Ser é o que você é
Você é aquele Insondável
Onde toda experiência e conceitos aparecem.
Ser é o Momento em que não há o ir e vir.
Isto é o Coração, a Fonte, o Vazio.
Isto brilha de Si, por Si, em Si.
Ser é o que dá o sopro a Vida.
Você não precisa procurar por Isto, Isto está Aqui.
Você é Isto através do que você procura.
Você é Isto que você procura !
E Isto é Tudo o que é.
Somente o Ser é."


"Você é Aquele que está cônscio
Da consciência dos objetos e idéias.
Você é Aquele que é ainda mais silencioso do que consciente.
Você é a Vida que precede o conceito de vida.
Sua natureza é silencio e isto não é alcançável,
Isto sempre é.
Você é o Vazio, a Suprema Essência:
Remova o Vazio do Vazio
Deixe somente o Vazio pois não há nada além disso.
Vazio está entre o “é” e o “não é”
E nada esta fora do Vazio então isto é Cheio.
Para ser Livre, você precisa da firme convicção
De que você é este Substrato, esta Paz, este Vazio.
Tudo emerge disso,
Baila em volta disso
E retorna para Isto.
Como o Oceano emerge numa onda para dançar,
Assim, você é este Vazio Dançante!"

Você usa muleta? - (Glauco Tavares)

(escrito em São Paulo, no dia 19 de Março de 2009)

"Durante a minha leitura do livro "Como um místico amarra os seus sapatos" uma, das várias histórias, me chamou a atenção:

"Foi a muito, muito tempo. Num casebre muito pobre junto aos portões de entrada da cidade vivia um eremita. Ele era venerado como um asceta santo, muitas pessoas procuravam seus conselhos. Até o rei já tinha ouvido falar dele. Ele quis conhecer esse homem de qualquer maneira. Um dia ele foi até o casebre e perguntou-lhe se não queria mudar-se para o palácio.

- Se o senhor quiser -respondeu o eremita - Posso ir a qualquer lugar.

O rei ficou surpreso, mas não deixou isso transparecer. Ele havia imaginado que o eremita aceitaria seu convite. Um verdadeiro eremita não deveria recusar a oferta? O rei começou a ter dúvidas. Mas como ele já havia feito o convite, levou o homem ao palácio onde mandou que lhe preparassem um belo quarto e uma boa refeição.

E o que fez o eremita? Ele usufruiu do belo quarto e da boa comida. No dia seguinte também, e no seguinte ao seguinte. Esse homem, que dizia ser um asceta, deixou-se tratar muito bem no luxuoso palácio. O rei estava profundamente decepcionado. Depois de uma semana ele falou diretamente ao estranho hóspede:

- Desculpe-me, mas simplesmente não consigo entender como você, um asceta, pode viver em um palácio. Qual a diferença entre você, um homem santo, e eu, um rei?

- Se o senhor quer ver a diferença, então venha comigo para fora da cidade.

Os dois se puseram a caminho. Caminharam por muito tempo sobre campos ensolarados, bosques úmidos e aldeias isoladas. E quanto mais caminhavam, mais impaciente o rei ficava. Quando anoiteceu ele pediu ao eremita insistentemente que finalmente respondesse à sua pergunta.

- Eu lhe direi apenas uma coisa - respondeu ele - Não voltarei mais. Seguirei adiante. O senhor virá comigo?

O rei sacudiu a cabeça.
- Não posso. Não posso abandonar meu reino e meu palácio. Além disso tenho uma família.
- Está vendo a diferença? Eu posso seguir adiante, não deixei nada para trás. Desfrutei das comodidades do palácio. Mas não me apeguei a elas. Por isso eu posso agora seguir adiante.
- Por favor, não faça isso - disse o rei - Volte comigo ao palácio.
- Para mim não faz diferença se volto ao palácio com o senhor ou sigo adiante. Mas se eu voltar, também voltarão suas dúvidas. Por isso, por amor ao senhor, eu seguirei adiante."

Esta história me fez refletir se estamos realmente prontos para largarmos tudo e mesmo assim ainda sermos felizes. No Yoga este conceito é conhecido como Santosha, contentamento e aceitação, ou seja, nossa felicidade e nossa paz independente da situação externa.

Não pensei sobre isso no sentido de sermos um eremita e abandonarmos o mundo, mas no sentido de aceitarmos as mudanças do ciclo da vida e nos conformarmos com as novas situações, que nem sempre vão ao encontro de nossas expectativas.

Mas vejo que muito mais do que nós deixarmos algo, seria o nosso entendimento de deixarmos ir embora algo ou alguém o que não nos pertence. Tenho como ponto de observação a seguinte frase quando estou nestes momentos de aceitar ou não o distanciamento de algo: "O universo é sábio. O que for meu por direito divino venha até o mim, o que não for, que ele leve embora".

Como disse acima, tenho momentos que estou pronto e outros não, por isso ainda faço uso desta frase. Mas vejo isso como algo positivo, pois se consigo ter este discernimento é sinal que estou no caminho certo para trabalhar com meu apego. Pois estou atento a ele e consigo enxergar a hora que ele está presente e a hora que não está. Sendo assim, fica mais fácil lidarmos com algo que conhecemos do que com um fantasma, neste caso o "fantasma do apego".

Outra pergunta que me fiz foi com relação ao desequilibrio que estas mudanças da vida causam em nossa felicidade. Refleti e percebi que usamos várias "muletas" para nos sentirmos felizes: o trabalho, o status social, o relacionamento, os filhos, o carro, o relógio, o celular de última geração dentre várias outras. Por isso, quando a vida nos retira algo que funciona como uma "muleta" nos ficamos infelizes. Qual a muleta que você está usando para manter a sua felicidade?"

Fonte: Blog de Glauco Tavaares - http://glaucotavares.blogspot.com/2009/04/voce-usa-muleta.html

domingo, 26 de abril de 2009

Músicas que "tocam a alma"!

"Quando o coração de alguém começa a rir, muitos outros corações começam a ser tocados"

Raga Anandi Kalyan - (Ravi & Anoushka Shankar)




So Much Magnificence - (Miten & Deva Premal)




Quando a gente ama - (Oswaldo Montenegro)

domingo, 19 de abril de 2009

Você precisa do passado - (Papaji - Traduzido por Shanti)


“Você precisa do passado e pensamentos para sofrer,
Você não precisa de nada para ser livre
O peso do passado descansa em seu peito e destrói sua vida e sua liberdade.
Remova-os encontrando a origem do pensamento EU.
A liberdade o espera, mas você esta engajado em alguma outra coisa
Não se amarre a qualquer coisa do passado ou do futuro, porque isso não funciona!
Seja apegado somente a este Momento.
Quando você segura alguma outra coisa alem de sua verdadeira natureza
Você se sentira em distúrbio
Por apegar-se a coisas passageiras
Você declara a você mesmo
Que não é a completude em que tudo está
Possuir é um véu, uma mentira
Ser é totalidade, dessa forma não é possível possuir ou desejar
Todos são budas, você tem que quebrar o apego, a identificação,
Você deve renunciar, senão você trapaceia com você mesmo
Na roda da vida e da morte com todos os seus apegos
O apego é um demônio, o apego é um problema
Porque nosso apego acaba sendo nossa realidade
Somente em Satsang isso é removido
Não deixe sua mente ir para fora do seu coração!
Todo mundo esta perdido nestes apegos de fora,
Não somente você.
Se qualquer desses apegos dá a você felicidade e paz mental
Então esteja com ele, pois não é chegado o tempo de deixa-lo.
Mas se você vê a cobra picando seu calcanhar, então é o tempo de deixa-lo.
Não tem uso experimentar o que já foi experimentado.
Se você sabe que o fogo queima, não tem necessidade de ser queimado novamente.
Igual a isto, evite apegos como o fogo porque eles queimarão você.
Quando sua intoxicação depende de alguma outra coisa, você esta enganando a
você mesmo.”


“Somente a Verdade é e você é Ela!
Você é a Consciência imutável onde todas as atividades acontecem.
Negar isso é sofrer, saber disso é Liberdade. E não é difícil realizar isso porque essa é sua
Verdadeira Natureza. Simplesmente pergunte ‘QUEM SOU EU?’, e observe
cuidadosamente.
Não faça esforço, nem emita nenhum pensamento. Olhe internamente, aproxime-se com
toda devoção e fique no Coração. Continue vigilante e você verá que nada aflora. Este é o
truque de como manter a mente quieta e alcançar a Liberdade. Isto não leva tempo porque a
Liberdade é sempre Aqui. Você simplesmente deve observar: de onde surge a mente? De
onde vem os pensamentos? Qual é a fonte do pensamento? Então você poderá ver que tem
sido sempre Livre e que tudo tem sido um sonho”.

Eu confio que vocês todos são leões -- (Papaji)


"Toda ignorância começou com os pastores. Pastores são para
ovelhas. Eu confio que vocês são leões. Leões não são para serem arrebanhados;
aonde eles andam é sua própria trilha. Não há rebanho de leões; há somente
rebanho de ovelhas. Vocês são todos leões – então vá pelo seu caminho. Não
andem em caminhos batidos feito ovelhas; um após o outro. Não sigam nenhum
caminho. Leões, não seguem um ao outro como as ovelhas.
A maioria das pessoas são ovelhas, seguem pastores pelo mundo
todo. A religião começou com pastores e as pessoas os seguem como ovelhas.
Mas aonde vocês forem serão leões, e não há caminhos para leões. Onde o leão
andar, é o caminho. Para o leão o não-caminho, é o único caminho. Então não se
coloque no meio de ovelhas precisando de um pastor. O seu caminho é o nãocaminho
– isso é saber quem você é. Isto é não seguir como uma ovelha. Este é
um novo caminho, decididamente desconhecido. Uma vez conhecido, isto é bem
conhecido. Aquele que sabe completou o propósito do esforço de toda vida
humana. Ele é feliz e em paz. Ele aproveita ambos: aqui e depois.
Por favor, não se torne uma ovelha. Não siga ninguém. Não olhe aqui
e ali. Não olhe para nenhum lugar. Pare de procurar. Pare toda sua imaginação
pelo futuro e conceitualização do passado. Mantenha seu ser neste momento, que
é um não-momento.
Descubra de onde esse momento vem, de onde o tempo vem, de onde
o pensamento surge, e você verá que você sempre esteve em casa. Você não
precisa de mais nada!"

PAPAJI – Trecho de Satsang
Traduzido em amor e gratidão por Shanti

Sonhos - Por Sadhu Arunachala (Major Alan Chadwick)




“Somos feitos da mesma coisa que os sonhos e nossa curta vida é rodeada por
um sono.”
(Shakespeare)


Shakespeare realmente sabia sobre o que estava falando e isto não era
somente efervescência poética. Maharishi costumava dizer exatamente a mesma
coisa.
Suponho que eu tenha questionado Bhagavan sobre esse assunto com
mais freqüência do que outros, apesar de algumas dúvidas sempre
permanecerem para mim. Ele sempre avisou que assim que uma dúvida fosse
esclarecida, outra surgiria no lugar da primeira, num processo sem fim.
“Mas Baghavan”, eu repetia, “sonhos são desconexos, enquanto que o
estar acordado continua de onde havia parado e é tido por todos como algo
contínuo”.
“Você diz isso nos seus sonhos?” Bhagavan perguntava. “Eles pareciam
perfeitamente consistentes e reais enquanto aconteciam. Somente agora,
enquanto acordado, é que você questiona a realidade da experiência. Isto não tem
lógica.”
Bhagavan se recusava a ver a menor diferença entre os dois estados, e
nisso ele concordava com todos os grandes Videntes Advaitas. Alguns
questionaram se Sankara não teria traçado uma linha de diferença entre estes
dois estados, mas Bhagavan persistentemente negava isto. “Sankara só fez esta
divisão aparente para o propósito de uma exposição mais clara”, Maharishi
explicava.
Mesmo que eu tentasse alterar meu modo de perguntar, a resposta que eu
recebia era sempre a mesma:
“Coloque suas dúvidas dentro do próprio sonho. Você não questiona o estar
acordado quando você está acordado, você o aceita. E o aceita da mesma
maneira que você aceita os seus sonhos. Vá além desses dois estados, e do
terceiro – o sono profundo. Estude-os a partir daquele ponto de vista. Você está
estudando uma limitação do ponto de vista de outra limitação. Poderia algo ser
mais absurdo? Vá além de todas as limitações, e então volte com suas dúvidas.”
Apesar disso, as dúvidas ainda permaneciam. De algum jeito, eu sentia,
enquanto sonhava, que havia algo de irreal nos sonhos; não era sempre, mas
alguns lampejos vez ou outra.
“Isso também não vive acontecendo com você enquanto você está
acordado?” Bhagavan perguntava. “Às vezes você não sente que o mundo em
que você vive e as coisas que estão acontecendo não são reais?”
Mais uma vez, apesar de tudo isso, a dúvida persistia.
Porém, em uma manhã, me aproximei do Baghavan e, para seu
encantamento, entreguei-lhe um papel, onde estava escrito o seguinte:
“Bhagavan se lembra que eu expressei minhas dúvidas sobre a
semelhança entre o sonhar e o estar acordado. Na manhã de hoje, a maior parte
dessas dúvidas foram esclarecidas pelo seguinte sonho, que me pareceu
particularmente objetivo e real:
Eu estava discutindo filosofia com alguém e pontuei que todas as
experiências eram subjetivas, e que não havia nada além da mente. A outra
pessoa negava, mostrando o quão sólido as coisas eram e quão reais as
experiências pareciam, e que isso não poderia ser somente imaginação.
Eu respondia: ‘Não, nada é mais do que um sonho. Sonhar e estar
acordado são exatamente a mesma coisa.’
‘Você diz isso agora’, ele respondeu, ‘mas você nunca diria uma coisa
dessas no seu sonho.’
E então, eu acordei.”
De “Call Divine”, Março de 1954
(Tradução livre: Dênis Elias)

sábado, 18 de abril de 2009

No amor ... - (Jalaluddin Rumi)


"Sai do círculo do tempo
e entra no círculo do amor.
Desce à rua das tavernas
e senta entre os beberrões.

Se queres a visão secreta,
fecha teus olhos.
Se desejas um abraço,
abre teu peito.

Se anseias por uma face com vida,
rompe este rosto de pedra.
Por que hás de pagar o dote da vida
a essa velha bruxa, a terra?

Mil gerações já gozaram
do que agora tens.
Prova a doçura em tua boca
que antes foi flor, abelha e mel.

Vamos, aceita esta pechincha:
dá uma única vida
e leva uma centena."




"Existe melhor solução que a loucura?
Cem âncoras despedaçadas por causa da loucura.

Quantos pela razão se tornaram infiéis?
Alguém jamais viste infiel por loucura?

A tristeza engordou, então vai, torna-te louco,
A tristeza definha por causa da loucura.

À taverna aonde vão os loucos de amor,
Vá logo, e toma da taça oferecida pela loucura.

Infelizes, foram eles, e sem nenhum proveito,
Os sultões turcos, privados da loucura.

Felizes e vitoriosos, amados da fortuna,
os ginetes guerreiros, por causa da loucura.

Tu sobes aos céus, semelhante à Jesus,
Se tens por auxílio a pluma da loucura.

Ó tu, Chams de Tabriz, impelido por teu amor,
Cem portas se me abriram pela loucura"




"Dentro deste mundo há outro mundo
impermeável às palavras.
Nele, nem a vida teme a morte,
nem a primavera dá lugar ao outono.

Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes,
até mesmo as rochas e as árvores exalam poesia.
Aqui, a coruja transforma-se em pavão,
o lobo, em belo pastor.

Para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes;
e se queres passear por esses lugares,
basta expressar o desejo

Fixa o olhar no deseto de espinhos
Já é agora um jardim florido!
Vês aquele bloco de pedra no chão?
já se move e dele surge a mina de rubi

Lava tuas mãos e teu rosto
nas águas deste lugar,
que aqui te preparam um fauto naquete.
Aqui, todo ser gera um anjo;
e quando me vêem subindo aos céus
os cadáveres retornam à vida.

Decerto viste as árvores crescendo da terra,
mas quem há de ter visto o nascimento do Paraíso?
Viste também as águas dos mares e rios,
mas quem há de ter visto nascer
de uma única gota d'agua
uma centúria de guerreiros?

Quem haveria de imaginar essa morada,
esse céu, esse jardim do paraíso?
Tu, que ouves este poema, traduze-o.
Diz a todos o que aprendeste neste lugar"




Sama III/IV
"Viemos girando
do Nada, espalhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculo
e nós ao centro dançamos com elas.
Como a pedra do moinho,
em torno de Deus
gira a roda do céu.
SEGURA UM RAIO DESSA RODA E TERÁS A MÃO DECEPADA!!

Girando e girando
essa roda dissolve todo e qualquer apego.
- Não estivesse apaixonada, ela mesma gritaria - BASTA! até quando há de seguir esse giro?
Cada átomo gira desnorteado, mendigos circulam entre as mesas,
cães rondam um pedaço de carne,
o amante gira em torno
de seu próprio coração.

Envergonhada diante de tanta beleza,
giro ao redor de minha vergonha.

Vem!
Ouve a música do Sama.
Vem unir-te ao som dos tambores! aqui celebramos:
Somos todos a verdade!

Em êxtase estamos.
Embriagados, sim, mas de um vinho que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós em nada parecerá ao que somos.
Giramos e giramos em êxtase.
esta é anoite do Sama
Há luz agora - Luz! Luz!

Eis o Amor verdadeiro
Que diz à mente: adeus.
Este é o dia do adeus.
- Adeus! Adeus!

Todo coração que arde
nesta noite
é amigo da música.

Ardendo por teus lábios
meu coração
transborda de minha boca.

Silêncio!
És feito de pensamento, afeto e paixão.
O que sobra é nada além de carne e ossos.

Por que nos falam de templos de oração, de atos piedosos?
Somos o caçador e a caça,
outono e primavera, noite e dia,
o Visível e o Invisível
Somos o tesouro do espírito.
Somos a alma do mundo,
livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos do tempo nem do espaço
nem mesmo da terra que pisamos.
No amor fomos gerados,
No amor nascemos."

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"Qualquer caminho é apenas um caminho, e não há ofensa para si ou para outro em abandoná-lo se é isto que o seu coração diz a você...
Olhe para cada caminho bem de perto, estudando-o cuidadosamente.
Experimente-o quantas vezes achar necessário.
Então pergunte a você mesmo, e somente a você mesmo uma questão: "Esse caminho tem um coração? Se ele tem, é um bom caminho; se não tem, é inútil".
D. Juan, "brujo" Yaqui, orientador de Carlos Castañeda

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Amor - (Khalil Gibran)



~ O Amor ~
(Gibran Kahlil Gibran)
"Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança."

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ensinamentos - (Sri Nisargadatta Maharaj)

"A verdadeira felicidade não pode ser encontrada em coisas que mudam e se vão. Prazer e dor se alternam inexoravelmente. A felicidade vem do Eu Real e pode ser encontrada somente nele. Encontre o seu Eu Real (swarupa) e tudo mais virá com ele."




Você tem apenas dois caminhos: você pode dar o seu coração e mente à auto-descoberta, ou aceitar as minhas palavras com confiança e agir com base nelas. Em outras palavras, ou você tornar-se completamente auto-centrato, ou completamente não-auto-centrado. É a palavra “completamente” que é importante. Você deve ser extremo para alcançar o Supremo.

Existe um caminho aberto a todos, independentemente de seu estágio e estilo de vida. Todos estão conscientes de si mesmos. O aprofundamento e alargamento da autoconsciência é o caminho real. Quer você chame isso de plena consciência, testemunhar, ou apenas atenção – é para todos. Ninguém é imaturo para isso e ninguém falhará.

Você não é nada observável ou imaginável. No entanto, sem você não pode haver nem percepção nem imaginação. Você observa o coração sentindo, a mente pensando, o corpo agindo – o próprio ato de perceber mostra que você não é o que percebe. Pode haver qualquer experiência, qualquer percepção sem você?

Falando genericamente, existem dois caminhos: externo e interno. Ou você vive com alguém que conhece a Verdade e se submete completamente à sua influência e instrução, ou então você busca o guia interior e segue a luz interior onde quer que ela o leve. Em ambos os casos os seus desejos pessoais e medos devem ser desconsiderados. Você aprende ou por proximidade ou por investigação, o caminho passivo ou ativo.

Rejeite todos os pensamentos exceto um: o pensamento “eu sou”. A mente irá se rebelar no início, mas com paciência e perseverança ela sucumbirá e permanecerá quieta. Uma vez que você torne-se silencioso, as coisas começarão a acontecer naturalmente e bem naturalmente, sem nenhum interferência de sua parte.

Mantenha em mente o sentimento “eu sou”, mergulhe nele, até que sua mente e esse sentimento tornem-se um. Através de tentativas repetitivas você esbarrará no equilíbrio correto de atenção e afeição, e sua mente ficará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento “eu sou”. O que quer que faça, diga, ou pense, este sentimento de ser imutável e terno permanece como o pano de fundo da mente, sempre presente.

Se você confia em mim, acredite quando eu lhe digo que você é a pura Percepção que ilumina o campo da consciência e seus infinitos conteúdos. Perceba isso e viva de acordo com tal verdade. Se você não acredita em mim, então se volte para dentro e investigue “quem sou eu?” ou então concentre sua mente no “eu sou”, que é o ser puro e simples.

Qualquer vício ou fraqueza que nós descobrimos e entendemos suas causas e natureza é superado pelo nosso próprio saber; o inconsciente se dissolve ao emergir ao consciente.

Assim que você perceber que a pessoa nada mais é do que uma sombra da realidade, mas não a realidade em si, você cessa de sofrer e preocupar-se. Você concorda em ser guiado de dentro, e a vida se torna uma jornada rumo ao desconhecido.

Tudo o que é, sou eu, tudo o que existe, é meu. Antes de todos os inícios, após todos os fins – EU SOU.

Para saber o que você é você precisa primeiro investigar e saber o que você não é. E para saber o que você não é você precisa observar-se cuidadosamente, rejeitando tudo o que não necessariamente acompanha o fato básico: “eu sou”. [...] Separe de forma consistente e perseverante o “eu sou” do “isto” e “aquilo”, e tente sentir o que significa apenas ser, sem ser “isto” ou “aquilo”. Todos os nossos hábitos vão contra isto, e a tarefa de lutar contra eles é longa e às vezes difícil, mas a clara compreensão ajuda muito.

Nutrir idéias como “eu sou um pecador” ou “eu não sou pecador”, é pecado. Identificar-se com o particular é todo o pecado que há. O impessoal é real; o pessoal surge e desaparece. “Eu sou” é o Ser impessoal. “Eu sou isso” é a pessoa. A pessoa é relativa, enquanto que o puro Ser é fundamental.

Quando você começa a questionar o seu sonho, o despertar não está longe.

Minha experiência é que tudo é felicidade. Mas o desejo por felicidade causa dor. Assim, a felicidade se torna uma semente de dor. Todo o universo de sofrimento nasce do desejo. Abandone o desejo por prazer e você nem mesmo saberá o que é a dor.

Tudo deve ser levado ao escrutínio e o desnecessário deve ser cruelmente destruído. Acredite em mim, não pode haver destruição demais. Pois na Realidade nada possuí valor intrínseco. Seja apaixonadamente desapaixonado – isso é tudo.

Assim como o gosto do sal está em todo o grande oceano, e cada gota de água do mar carrega o mesmo sabor, assim cada experiência me dá o toque da realidade, a realização sempre nova de meu próprio ser.

A humildade e o silêncio são essenciais a qualquer buscador, por mais avançado que seja.

Na verdade cada passo lhe traz ao seu objetivo, porque estar sempre a caminho, aprendendo, descobrindo, desdobrando, é seu eterno destino. Viver é o único propósito da vida. O Eu Real não se identifica com sucesso ou fracasso – a própria idéia de tornar-se isso ou aquilo é impensável.

Ninguém jamais falha no Yoga. A batalha é sempre ganha, pois é uma batalha entre o verdadeiro e o falso. O falso não tem chance alguma. [...] Tudo é uma questão de ritmo de progresso. Os rápidos não são melhores que os lentos. Amadurecimento rápido e amadurecimento devagar alternam. Ambos são naturais e certos. [...] Ainda sim, tudo isto está na mente apenas. Como eu vejo, não há nada disso. No grande espelho da consciência as imagens surgem e desaparecem, e apenas a memória lhes dá continuidade. E a memória é material – destrutível, perecível, passageira. Sobre essa fundação frágil nós construímos nosso sentimento de existência pessoal – vago, intermitente, ilusório.

Assim como um homem que tem dor de cabeça conhece a dor e também que ele não é a dor, eu também conheço o sonho, eu sonhando, e eu não sonhando – tudo ao mesmo tempo. Eu sou o que sou antes, durante, e depois do sonho. Mas o que eu vejo no sonho, isso eu não sou.

A própria idéia de ir além do sonho é ilusória. Por que ir a lugar algum? Apenas perceba que você está sonhando um sonho que chama de mundo, e pare de procurar por saídas. O sonho não é seu problema. Seu problema é que você gosta de uma parte do sonho mas não da outra. Ame tudo, ou nada, e pare de reclamar. Quando você vir o sonho como um sonho, terá feito tudo que é necessário fazer.

Você precisa de maturidade de mente e coração, e ela vem através da aplicação esforçada, na sua vida diária, de tudo aquilo que você tenha aprendido, por menor que seja.

A vida é o supremo Guru; esteja atento a suas lições e obedeça a suas instruções. Quando você personaliza a sua fonte, você tem o Guru exterior; quando você toma os ensinamentos diretamente da vida, o Guru está no interior. Lembre, questione-se, reflita, viva com ele, ame-o, cresce nele, cresça com ele, faça-o seu – o ensinamento de seu Guru, interior ou exterior.

A mente pura vê as coisas como elas são – bolhas na consciência. Essas bolhas estão aparecendo, desaparecendo, e reaparecendo – sem ter uma existência real. Nenhum causa em particular lhes pode ser apontada, já que cada uma é causada por todos e afeta a todas.

O que foi alcançado poderá ser perdido novamente. Apenas quando você realizar a verdadeira paz, a paz que você nunca perdeu, esta paz permanecerá contigo, já que ela nunca esteve longe. Ao invés de buscar algo que você não tem, descubra aquilo que você nunca perdeu.

A felicidade de ser completamente livre é indescritível.

Esses são todos sinais de um crescimento inevitável. Não tenha medo, não resista, não atrase. Seja o que você é. Não há nada a temer. Confie e tente. Experimente honestamente. Dê uma chance ao seu verdadeiro Ser para que ele molde a sua vida. Você não se arrependerá.

O que é o nascimento e a morte senão o início e o fim de uma seqüência de eventos na consciência? (...) Tenha o seu ser fora deste corpo de vida e morte e todos os seus problemas cessarão. Eles existem porque você acredita que nasceu para morrer. Desiluda-se e liberte-se. Você não é uma pessoa."

Ensinamentos - (Ramana Maharshi)


"Pode haver espaço, pode haver tempo, exceto para mim mesmo?
O espaço e o tempo me atam, apenas se sou o corpo.
Eu não estou em nenhuma parte, eu sou sem tempo.
Eu existo em toda parte e sempre"



"Se a pessoa se entregar completamente, não sobrará ninguém para fazer perguntas ou para ser levado em consideração. Ou os pensamentos são eliminados agarrando-se o pensamento raiz, o “eu”, ou a pessoa se entrega incondicionalmente ao Poder Maior. Esses dois são os únicos caminhos rumo à Realização."



"Seu dever é SER, e não ser isso ou ser aquilo. “Eu sou o que eu sou” resume toda a verdade. O método é “fique em silêncio”. O que significa o silêncio? Significa destrua-se, pois qualquer forma é causa de problemas.

Não há mistério maior que este: que sendo a Realidade nós buscamos alcançar a Realidade. Nós pensamos que existe algo ocultando a Verdade e que isso deve ser destruído a fim de que possamos atingir a Verdade. É ridículo. Chegará o dia em que você vai rir de todos os seus esforços pretéritos. Aquilo que será no dia em que você rir também é aqui e agora.

A liberação, que é bem-aventurança, é natural a todos

A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação.

Apenas o ego é prisão, e a sua própria natureza,

livre do contágio do ego, é liberação.

Não há engano maior do que acreditar que a liberação,

Que está sempre presente como a sua verdadeira natureza,

será alcançado em um tempo futuro.

Até mesmo o desejo pela liberação é fruto da ilusão.

Portanto, permaneça em silêncio.

Se você permanecer como mera consciência, “eu sou”, a ignorância não existirá. Portanto, a ignorância é falsa; apenas a Consciência é real.

Para a aquietação da mente não há nenhum outro meio mais eficaz do que a auto-inquirição. Através dos outros métodos a mente apenas parecerá ter se aquietado, mas não será extinta; ela surgirá novamente.

Este é o método direto. Todos os outros métodos só podem ser praticados retendo-se o ego, e neles surgem muitas dúvidas, enquanto que a pergunta última é apenas atacada no final. Mas neste método, a pergunta última é a única pergunta e ela é levantada desde o começo.

A auto-inquirição o leva diretamente à Auto-Realização, pois remove os obstáculos que fazem você acreditar que o Eu Real ainda não foi alcançado.

A diferença entre a meditação e a auto-inquirição é que a meditação requer um objeto sobre o qual se foca a atenção, enquanto que na auto-inquirição há apenas o sujeito e nenhum objeto.

Pedir que a mente destrua a mente é como fazer do ladrão o policial: ele irá com você e vai parecer que ele prendeu o ladrão, mas nada será feito. Então o que você precisa fazer é olhar para dentro e ver de onde a mente surge. Uma vez que você vir a Fonte da mente, ela desaparecerá.

O primeiro pensamento a surgir na mente é o pensamento-eu. Todos os outros inumeráveis pensamentos surgem apenas depois do pensamento-eu e têm nele sua origem. Em outras palavras, apenas depois do pronome de primeira pessoa, “eu”, surgir, é que os pronomes de segunda e terceira pessoa, “tu” e “ele”, ocorrem para a mente; estes não subsistem sem aquele.

Como todos os outros pensamentos só podem surgir depois do aparecimento do pensamento-eu, e como a mente nada mais é do que um conglomerado de pensamentos, é apenas [voltando a atenção ao pensamento-eu] através da inquirição “Quem sou eu?” que a mente será extinta. Além disso, o pensamento-eu – implícito na investigação “Quem sou eu?” – destruirá todos os outros pensamentos e, como a vareta usada para avivar a fogueira, no final ele mesmo será consumido.

Você não precisa eliminar nenhum falso “eu”. Como pode o “eu” eliminar a si mesmo? Tudo o que você precisa fazer é encontrar a Fonte do “eu”, e permanecer lá. O seu esforço só pode levá-la até este ponto. A partir daí o Transcendental vai tomar conta de si mesmo. Você não pode fazer mais nada então. Nenhum esforço pode chegar até Ele.

O pensamento-“eu” é como um fantasma que, apesar de ser impalpável, surge simultaneamente com o corpo, vive e desaparece junto com ele. A consciência “eu sou o corpo/este é meu corpo” é o falso eu. Abandone-a. Você pode fazer isso buscando a fonte do sentimento “eu”. O corpo não diz “eu sou”. É você que diz “eu sou o corpo”. Descubra o que é este “eu”; busque sua fonte e ele desaparecerá."

sábado, 4 de abril de 2009

A maestria dos humores - O Segredo do Anel

"Pensar que “Eu sou a mente”, é ser não perceptivo. Saber que a mente é apenas um mecanismo exatamente como o corpo, saber que a mente está separada... A noite chega, a manhã vem: você não fica identificado com a noite. Você não diz, “eu sou a noite”, não diz “eu sou a manhã”. A noite chega, a manhã chega, o dia vem, novamente a noite vem. A roda prossegue girando, mas você permanece alerta sabendo que você não é nenhuma dessas coisas.

O mesmo é o caso com a mente. Raiva vem, mas você esquece e fica zangado. Ambição chega, você esquece e se torna a ambição. Ódio vem, você esquece e se torna o ódio. Isso é falta de percepção.

Percepção é observar que a mente está cheia de ambição, cheia de raiva, cheia de ódio ou repleta de desejos, mas você é simplesmente um observador. Então você pode ver a ambição surgindo, tornando-se uma grande nuvem escura, depois dispersando-se – e você permanece intocado. Quanto tempo isso pode durar? Sua raiva é momentânea, sua ambição é momentânea, seu desejo é momentâneo. Basta observar um pouco e você ficará surpreso: tudo isso vem e vai. E você fica aí impassível, tranquilo, calmo.



A coisa mais básica a ser lembrada é que, quando você está sentindo-se bem, em um estado de êxtase, não comece a pensar que isso vai ser seu estado permanente. Viva o momento de forma tão feliz e alegre quanto possível, sabendo perfeitamente bem que isso veio e irá passar, assim como uma brisa entra em sua casa, com toda sua fragrância e frescor, e sai pela outra porta.

Essa é a coisa mais fundamental. Se você começar a pensar em termos de tornar seus momentos de êxtase permanentes, você já começou a destruí-los. Quando estes acontecerem, seja grato. Quando se forem, agradeça à existência. Permaneça aberto. Isso irá acontecer muitas vezes, não faça julgamentos, não selecione. Permaneça neutro, sem escolhas.
Sim, haverá momentos quando você irá se sentir miserável. E daí? Existem pessoas que são miseráveis e que nem mesmo conheceram um único momento de êxtase: você é afortunado. Mesmo em sua miséria, lembre-se de que ela não será permanente, também passará, então não se preocupe muito com isso. Fique tranqüilo.

Assim como há o dia e a noite, também há momentos de alegria e de tristeza. Aceite isso como parte da dualidade da natureza, como parte da forma de ser própria das coisas. E você é simplesmente um observador: não se torna nem a felicidade nem a miséria. Felicidade vem e passa, miséria vem e passa. Uma coisa continua sempre presente: aquele que observa, aquele que testemunha.

Aos poucos, fique cada vez mais centrado no observador. Dias e noites virão... vidas e mortes virão... sucesso e fracasso irão ocorrer. Mas se você estiver centrado no observador, pois essa é a única realidade em você, tudo mais é um fenômeno passageiro.

Por um momento, tente sentir o que estou dizendo: seja apenas um observador.

Não se apegue a nenhum momento por este ser belo, e não fuja de nenhum momento por este ser miserável. Pare com isso. Você vem fazendo isso por vidas. Nunca teve sucesso e jamais terá. A única maneira de ir além, de permanecer além, é encontrar um lugar de onde possa observar todos esses fenômenos mutantes sem ficar identificado com eles.

Vou contar uma antiga história Sufi.

Um rei perguntou aos sábios da corte: “Estou fazendo um anel belíssimo para mim mesmo. Consegui um dos melhores diamantes que existe. Quero manter, escondido dentro do anel, uma mensagem que possa me auxiliar num momento de completo desespero. Terá que ser bem pequena para que possa ficar oculta sob o diamante no anel.”

Todos os sábios estavam reunidos, todos grandes eruditos. Poderiam escrever grandes tratados. Mas dar ao rei uma mensagem com apenas duas ou três palavras que pudesse ajudá-lo em momentos de completo desespero... eles pensaram, procuraram em seus livros, mas nada puderam encontrar.

O rei tinha um servo antigo que era quase como seu pai – ele já tinha servido também a seu pai. A mãe do rei havia morrido cedo e esse servo cuidou dele, assim ele não era tratado como um empregado. O rei tinha imenso respeito por ele. O velho disse, “Não sou um sábio, culto, conhecedor de muitos assuntos, mas sei qual é a mensagem, pois só existe uma mensagem. E estas pessoas não podem dá-la a você. Ela só pode ser dada por um místico, por um homem que tenha realizado a si mesmo.”

Em minha longa vida no palácio, encontrei todo tipo de pessoas, e uma vez, um místico. Ele também era um hóspede de seu pai e fui colocado para servi-lo. Quando ele estava para partir, como um gesto de agradecimento por todos os meus serviços ele me deu essa mensagem” e a escreveu num pedacinho de papel, depois dobrou o papel e disse ao rei, “Não leia agora, apenas a mantenha escondida no anel. Só leia esta mensagem quando tudo mais tiver falhado, quando não houver mais saída.

E essa hora não demorou a chegar. O país foi invadido e o rei perdeu seu reino. Ele estava fugindo em seu cavalo para salvar sua vida e os cavalos dos inimigos o estavam seguindo. Ele estava sozinho, e eles eram muitos. Depois ele chegou a um ponto onde a estrada acabava, num lugar sem saída, só havia um despenhadeiro. Cair dali seria o fim. Ele não podia retornar, o inimigo estava ali e ele podia ouvir o som dos cavalos se aproximando. Não podia avançar, não havia saída...

Então, lembrou-se do anel. Ele o abriu, tirou o papel, e havia uma pequena mensagem de enorme valor: simplesmente dizia, “Isso também irá passar.

Um grande silêncio recaiu sobre ele enquanto lia a frase: isso também irá passar. E passou. Tudo passa, nada permanece eternamente nesse mundo. Os inimigos que o seguiam devem ter se perdido na floresta, devem ter tomado o caminho errado. Os cavalos se afastavam aos poucos, até que não era mais possível ouvi-los.

O rei ficou imensamente agradecido ao serviçal e ao místico desconhecido. Aquelas palavras provaram ser milagrosas. Ele dobrou o papel, colocou-o de volta no anel, reuniu seus exércitos e reconquistou seu reino. E quando voltou à capital, vitorioso, havia uma grande celebração por toda a cidade, com música e dança, e ele sentia muito orgulho de si mesmo. O velho serviçal caminhava ao lado de sua carruagem. Ele disse: “Essa também é uma boa hora: leia de novo a mensagem.”

O rei falou: “O que você quer dizer? Sou vitorioso, o povo está celebrando, não estou desesperado, não estou numa situação da qual não há saída.”

O velho serviçal disse, “Escute. Foi isso que o santo disse para mim: esta mensagem não é só para os momentos de desespero, também é para os de grande prazer. Essa não é somente para quando você for derrotado, mas para quando você for vitorioso. Não apenas para quando você for o último, mas também para quando for o primeiro.”

E o rei abriu o anel e leu a mensagem: “isso também irá passar,” e de repente, a mesma paz, o mesmo silêncio no meio da multidão que celebrava alegre, dançando. Mas o orgulho, o ego não estavam mais presentes. Tudo passa.

Ele pediu ao servo que se aproximasse mais da carruagem e se sentasse ao seu lado. Perguntou: “Há mais alguma coisa? Tudo passa... Sua mensagem me ajudou muito.”

O velho servo disse: a terceira coisa que o santo disse foi: lembre-se, tudo passa. Só você permanece. Você permanece sempre como uma testemunha.”

Tudo passa, mas você permanece. Você é a realidade e tudo mais é somente um sonho. Belos sonhos, pesadelos. Mas não importa se é um belo sonho ou um pesadelo, o que importa é aquele que está vendo o sonho. Aquele que vê é a única realidade."

quinta-feira, 19 de março de 2009

Não-Mente - (Tarô da Transformação)


O Definitivo e o Inexprimível
O estado da não-mente é o estado do divino. Deus não é um pensamento mas a experiência de estar sem pensamentos. Ele não é um conteúdo na mente; ele é a explosão quando a mente fica sem conteúdo. Este não é um objeto que você possa ver; é a própria capacidade de ver. Não é o que é visto senão aquele que vê. Ele não é como as nuvens que se jutam no céu, mas o próprio céu quando não há nenhuma nuvem. Ele é esse céu vazio.

Quando a consciência não estiver indo para algum objeto externo, quando não houver nada para ver, nada para pensar, somente vacuidade ao redor, assim você recai em si mesmo. Não há para onde ir - a pessoa relaxa na própria fonte do ser, e essa fonte é Deus.

Seu ser interior é simplesmente o céu interior. O céu é vazio, mas é esse céu vazio que contém todas as coisas, toda a existência, o Sol, a Lua, as estrelas, a Terra, os planetas. É o céu vazio que dá espaço para tudo que é. É esse céu vazio que é a base de tudo que existe. Coisas vêm e vão e o céu permanece o mesmo.

Exatamente da mesma maneira, você tem um céu interior; esse também é vazio. Nuvens vêm e vão, planetas nascem e desaparecem, estrelas surgem e morrem, e o céu interior permanece o mesmo, intocado, imaculado. Chamamos esse céu interior de sakshin, a testemunha – e esse é todo o objetivo da meditação.

Vá para dentro, desfrute o céu interior. Lembre-se, o que quer que você possa ver, você não é isso. Se puder ver pensamentos, então você não é pensamento; se puder ver seus sentimentos, então você não é seus sentimentos; se puder ver seus sonhos, desejos, memórias, imaginações, projeções, então você não é nenhum deles. Prossiga eliminando tudo que você possa ver. Desse modo, um dia, o momento especial chega, o momento mais significante na vida de uma pessoa, quando nada resta para ser rejeitado. Tudo que foi visto desaparece e somente aquele que vê está ali. Este observador é o céu vazio.
Conhecer isso é não ter o que temer, e conhecer isso é estar repleto de amor. Conhecer isso é ser Deus, é ser imortal.

Somos as únicas criaturas ... - (Deepak Chopra)


"Somos as únicas criaturas na face da terra capazes de mudar nossa biologia pelo que pensamos e sentimos!
Nossas células estão constantemente bisbilhotando nossos pensamentos e sendo modificados por eles.
Um surto de depressão pode arrasar seu sistema imunológico; apaixonar-se, ao contrário, pode fortificá-lo tremendamente.

A alegria e a realização nos mantém saudáveis e prolongam a vida.
A recordação de uma situação estressante, que não passa de um fio de pensamento, libera o mesmo fluxo de hormônios destrutivos que o estresse.

Quem está deprimido por causa da perda de um emprego projeta tristeza por toda parte no corpo - a produção de neurotransmissores por parte do cérebro reduz-se, o nível de hormônios baixa, o ciclo de sono é interrompido, os receptores neuropeptiídicos na superfície externa das células da pele tornam-se distorcidos, as plaquetas sanguíneas ficam mais viscosas e mais propensas a formar grumos e até suas lágrimas contêm traços químicos diferentes das lagrimas de alegria.

Todo este perfil bioquímico será drasticamente alterado quando a pessoa encontra uma nova posição.
Isto reforça a grande necessidade de usar nossa consciência para criar os corpos que realmente desejamos.

A ansiedade por causa de um exame acaba passando, assim como a depressão por causa de um emprego perdido.

O processo de envelhecimento, contudo, tem que ser combatido a cada dia.
Shakespeare não estava sendo metafórico quando Próspero disse: "Nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos."

Você quer saber como esta seu corpo hoje? Lembre-se do que pensou ontem
Quer saber como estará seu corpo amanhã? Olhe seus pensamentos hoje!

Ou você abre seu coração, ou algum cardiologista o fará por você!"

quarta-feira, 18 de março de 2009

Todos somos um - Chimarruts

Deixe a paz entrar no seu coração
Com tudo de bom que a terra nos trás
Nossos pés descalços no chão
Sentindo a vida e a criação

Deixe o pensamento voar
E o vento elevar sua imaginação
E ao corpo todo tocar
Seus olhos fechar terás a visão

Deixe a água purificar
Os seus sentimentos quando chorar
Pois em cada gota que há
Há um pouco do todo de todo o mar

Deixe a chama então transformar
Toda a tristeza em vontade de sonhar
Transformando corpo em luz
O amor e a esperança é quem nos conduz

Somos a luz desse mundo
Somos o sol dessa terra
Somos a nuvem do céu
Somos a onda do mar
Somos a luz desse mundo
Somos o sal dessa terra
Somos todos filhos da terra
E todos somos um

VIVA O PRESENTE - Monja Coen


Uma vez um jovem que havia mudado de emprego muitas vezes veio me visitar, e me contou seus sonhos. Ele queria ser isto e ele queria aquilo. É bom ter sonhos sobre o futuro. Você pode ir além dos seus limites e conseguir mais. Mas não é sábio esquecer que, embora uma visão do futuro seja necessária para colocar você no caminho agora, se você mantiver seus olhos focados no horizonte muito adiante, você não verá o buraco aos seus pés. E você cairá de costas sem ter para onde ir. Se os seus sonhos vão ser apenas sonhos ou se os sonhos se tornarão realidade, depende de como você está vivendo agora.

Mestre Dôgen (1200-1253) expressou iluminação com esta frase: "O desabrochar da ameixeira é a primavera". Mais tarde essas pétalas caem no chão. Se a maneira na qual vivemos nos dá a alegria da primavera também pode levar embora a alegria da primavera e trazer a dureza do inverno. Mesmo que o grande caminho da vida se abra à nossa frente, a nossa maneira de viver pode não usar as oportunidades. Por outro lado, um grande portão de aço, sem nenhum sinal de abertura, pode abrir-se de par em par devido a algum esforço que hoje fazemos.

As pessoas cujas vidas têm sido infelizes ou cheias de atos vergonhosos geralmente ficam esmagadas pelo grande peso do seu passado e é difícil para elas recomeçarem. Mas não são os erros que arruínam uma pessoa, é o constante pensar sobre eles. Seja quão maravilhosa tenha sido sua vida no passado, quando o presente não é bom, simplesmente não é bom. E também é verdadeiro que seja quão infeliz ou vergonhosa sua vida tenha sido no passado, se você está bem agora, você está bem. Se você se desanima por causa dos enganos passados, isto, na verdade, depende de sua atitude atual em relação a eles. Você tem que aceitar que o seu passado fez o que você é, mas não determina como viver o presente. Assim não existe realmente uma má experiência. É importante ser capaz de aceitar essas experiências como valiosas, digeri-las para que se tornem alimento do presente.

Se pessoas de muita idade ou doentes com pouca esperança no futuro compararem sua fragilidade presente com o vigor de sua juventude, apenas se tornariam mais frágeis, tristes. Não é sábio comparar.

De Shundo Ayoama, trecho do texto " Beleza da Transciência ", publicado na revista Dharma World da Kosei Publishing Co. em 1995

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009