"Recebi recentemente uma interessante mensagem de um praticante fazendo, em nome do Yoga tântrico, uma série da categóricas afirmações sobre o Yoga Sutra. Dentre outras coisas, afirmava o colega que a obra clássica de Patañjali não menciona prana, chakras, nadis nem kundalini. Como discordo completamente dessa opinião, escolhi deliberadamente o título provocativo deste texto, com o objetivo de instigar a curiosidade do amigo leitor em relação ao pouco conhecido vínculo entre o Yoga Clássico de Patañjali e o Yoga tântrico (do qual o Hatha faz parte). Digo isso porque chamar Patañjali de “tântrico” pode ser considerado uma blasfema em certos círculos de Yoga, já que há algumas pessoas que têm medo da kundalini e de todos os assuntos relacionados a esta força.
Assim como o praticante que me motivou a escrever sobre este interessante assunto, muitas pessoas estão acostumadas a ver o Yoga de Patañjali como algo distante das muitas formas de Yoga tântrico que são praticadas hoje em dia, das quais o Hatha é a mais conhecida. O fato é que o Yoga Sutra menciona sim, explicitamente, chakras, nadis e prana. No entanto, não dá aos chakras o nome de chakras, nem os lista na ordem ou segundo a nomenclatura que recebem do tantrismo. Igualmente, fazendo este texto alusão à kundalini, não usa esse nome para designar a força potencial que conduz à iluminação. Considerando que Patañjali viveu muitos séculos antes dos primeiros textos de Yoga tântrico serem escritos, acreditar que isso pudesse acontecer seria uma atitude inocente da nossa parte.
É sabido pelos estudantes de Yoga que diversos termos foram utilizados por diferentes autores para se referir aos mesmos princípios, como é o caso da identidade entre Purusha e Atman, o que acontece, por exemplo, no próprio Yoga Sutra ou na Bhagavad Gita. Também é conhecido o fato de que certos termos mudam de significado de acordo com o contexto e a época em que são usados. Um exemplo é a palavra chitta, que no Yoga Sutra de Patañjali designa o complexo intelecto-ego-mente, e no Tattva Bodha de Shankaracharya, a capacidade de lembrar. Neste caso, a linguagem que Patañjali usa para se referir àquilo que o tantrismo chama de chakras, nadis e kundalini, é bem diferente do vocabulário dos próprios textos tântricos, como era de se esperar.
A modo de introdução poderíamos dizer igualmente que o chamado Yoga tântrico, do qual nasceu o Hatha, possui uma riquíssima linguagem figurada, chamada sandhabhasha, “linguagem crepuscular”, ou ainda abhiprayika vachana, “afirmação intencional”. O obscuro desta linguagem, cheia de metáforas que são de difícil compreensão se não tivermos à mão os códigos corretos para decifrá-las, pode levar o estudante a pensar que está diante de algo totalmente diferente da tradição maior do Yoga, representada pelo Yoga Sutra e os textos anteriores a ele. Assim, kundalini, que simboliza o despertar da consciência, é descrita como uma serpente ígnea que “dorme” no centro de energia da base da coluna vertebral, chamado muladhara chakra. Os chakras são centros de força vital que se encontram ao longo do eixo central do corpo, e estão ligados por uma série de canais energéticos chamados nadis, que coincidem em grande parte com os meridianos da energia mencionados na medicina chinesa.
No entanto, o fato da iluminação ser comparada nos textos tântricos à ascensão de uma serpente de fogo pelo canal central de energia que é a contraparte sutil e vital da coluna vertebral, não significa que os humanos tenhamos uma cobra guardada na ponta inferior da coluna vertebral que pode explodir a qualquer momento. O fato dos chakras serem descritos nos textos como “rodas” de energia não significa que esses dispositivos vão aparecer numa ressonância magnética, como alegam alguns céticos que tentam desqualificar este sofisticado modelo do psiquismo humano. Kundalini, chakras e nadis devem ser corretamente compreendidos: eles são representações simbólicas da potencialidade psíquica humana, que deve ser cuidadosamente desenvolvida.
Alguns praticantes de Tantra Yoga tendem a enxergar a si próprios e ao sistema que professam como algo isolado da tradição maior. No entanto, o vínculo entre a visão tântrica e o não-dualismo do Vedanta, que permeia todas as escrituras do Yoga, aparece já nas primeiras Upanishads. A Katha Upanishad (II:1,10) afirma: “O que está aqui, está lá; o que está lá, está igualmente aqui”. Ora, acontece que este ensinamento é praticamente idêntico ao que aparece num texto medieval tântrico chamado Vishvasara Tantra: “O que está aqui, está em toda parte. O que não está aqui, não está em parte alguma”.
O grande estudioso indiano T. M. P. Mahadevan, afirma em sua obra Outlines of Hinduism (p.180): “No Kularnava Tantra, Shiva diz a Parvati que não há diferença entre a filosofia religosa do Tantra e a verdade do Veda: tasmati vedatmakam shastram viddhi kaulatmakam priye: “Portanto, Ó querida, saiba que a Escritura que é da natureza do Veda é da natureza do Tantra”.” Fica assim, portanto, estabelecida a relação entre o Tantra e o conhecimento ancestral dos Vedas, que é claramente não-dual.
É verdade que o Tantra resgata elementos ancestrais, que datam do culto à Magna Mater, a Grande Deusa, cujos elementos estão presentes ao longo do continente eurasiático desde o paleolítico. Há alguns meses foi achada na Alemanha mais uma escultura da Grande Deusa feita de marfim de mamute, que data de pelo menos 35.000 anos atrás, batizada “Vênus de Hohle Fels”. No entanto, não devemos pensar que a literatura do tantrismo seja oriunda daquela recuada data. Aquilo que chamamos Tantra, segundo o estudioso Mircea Eliade (Yoga: Imortalidade e Liberdade, pág. 171), surgiu entre os séculos IV e VI da nossa era. Admite-se atualmente que os textos daquilo que conhecemos hoje como Yoga tântrico tenham surgido a partir do século IX d.C. Dentre eles, os mais importantes são o Kularnava, o Kalachakra, o Guhyasamaja, o Vishvasara, o Sadhanamala, o Mahanirvana Tantra e o Satchakra Nirupana, este último atribuído ao sábio Purnananda Swami de Assam, e datado do século XVI. Ou seja, todos estes textos são muito posteriores, mas muito mesmo, à obra de Patañjali, que data do século IV a. C.
O Yoga “tântrico”, antes de Patañjali.
Se, por outro lado, continuarmos nossa procura pelo Yoga de inspiração “tântrica” nas Upaniads, iremos nos encontar com algo muito parecido com ele na Shvetashvatara, a “Upanishad do Cavalo Branco” (shveta = “branco”, ashva = “cavalo”), uma das primeiras e mais importantes. Vejamos alguns poucos trechos deste shastra: “Mantendo o corpo firme, como as três partes eretas [tronco, pescoço e cabeça], o sábio dirige os sentidos e a mente ao interior do coração. Brahman é o barco em que ele atravessa o rio do medo.” (II:8). “Controlando sua força vital (prana), com seus movimentos controlados, o sábio inspira pelas narinas, com a respiração restringida. Livre de distrações, que ele controle sua mente, como o condutor controla os cavalos rebeldes.” (II:9). “Não conhece doença, velhice nem sofrimento aquele que forja seu corpo no fogo do Yoga. Atividade, saúde, libertação dos condicionamentos, circunspeção, eloqüência, cheiro agradável e pouca secreção, são os sinais pelos quais o Yoga manifesta seu poder.” (II:12-13).
O primeiro parágrafo faz clara alusão à importância do alinhamento postural durante a prática de Yoga. Uma das maneiras mais eficientes de se manter a conexão com o coração mencionada no texto, é justamente cultivando-se uma postura ereta e relaxada. A segunda citação deixa clara a conexão entre pensamento e respiração, outro dos temas fundamentais do Hatha. Essa conexão aparece de forma clara na Hatha Yoga Pradipika (II:2): “Enquanto a respiração (prana) for irregular, a mente permanecerá instável; quando a respiração se acalmar, a mente permanecerá imóvel e o yogi conseguirá a estabilidade. Por conseguinte, deve-se controlar a respiração [praticando-se o pranayama]”. Em outro trecho (IV:21), a mesma obra afirma: “Aquele que detém o alento, detém também o pensamento. Aquele que domina o pensamento, domina igualmente o alento.”
A idéia de forjar o corpo no fogo do Yoga, presente no terceiro trecho aqui citado, é central à prática do Hatha, que busca a transubstanciação do corpo mortal em um corpo divino, com a dureza do diamante (vajradeha). Essa idéia está presente na Gheranda Samhita (I:24): “Assim como um jarro de argila crua, jogado neste mundo, o corpo decai rapidamente. É preciso endurecé-lo, forneando-o no fogo do Poder, para fortalecé-lo e purificá-lo”.
A “vitória” sobre o sofrimento, a velhice e a morte também é um tema recorrente na literatura do Hatha. A lista dos benefícios advindos da prática que aparece na Shvetashvatara Upanishad é similar em tom e conteúdo a muitas outras que aparecem nas obras posteriores: “A perfeição do corpo físico [manifesta-se como] beleza, graça, força, e a dureza e o brilho do diamante”, Yoga Sutra de Patañjali (III:47).
“Quando se aperfeiçoa o Hatha Yoga, aparecem os seguintes sinais: agilidade física, brilho no rosto, manifestação da vibração sutil interior (nada), olhar penetrante e claro, saúde, controle do fluido seminal (bindu), aumento do fogo digestivo e total purificação das nadis”. Hatha Yoga Pradipika, II:78. Em outro trecho (III:30), esta mesma obra diz que certas práticas do Yoga “protegem contra a morte e a velhice, aumentam o fogo gástrico e proporcionam poderes paranormais (siddhis).”
A Katha Upanishad (II:3,16), um dos mais antigos textos de Yoga de que temos conhecimento, descreve um fenômeno curiosamente similar ao da ascensão de kundalini ao longo do eixo central da coluna vertebral, conforme descrita nos textos tântricos posteriores: ““A partir do coração, surgem os cento e um caminhos (nadis) da força vital. Um deles conduz ao topo da cabeça. Esse caminho conduz à imortalidade. Os outros, à morte”.
Desfazer o anáhata granthi, o “nó” energético do chakra cardíaco, é outro processo ligado ao despertar de kundalini que aparece citado na mesma obra (II:3,15): “Desfazendo os nós que estrangulam o coração, o mortal torna-se imortal. Essa é a síntese dos ensinamentos das escrituras”.
Da mesma maneira, a Maitri Upanishad indica a prática de pranayama como o meio mais importante para se alcançar a estabilidade da mente. O texto chega a mencionar a prática que seria conhecida posteriormente como khechari mudra, que consiste em recolher e elevar a língua, pressionando-a no palato mole, como forma de evitar que o bindu, néctar lunar, se disperse a partir do soma chakra. Esta é uma das principais práticas dos Yogas tântricos, como o Hatha e o Laya Yoga. Nesse sentido, concluímos que o Yoga tântrico não está separado nem é diferente de outros métodos como o Mantra ou o Ashtanga Yoga. Essas formas de Yoga, bem como outras não mencionadas, se entremeam e interpenetram num grau tão profundo que é quase impossível diferenciá-las.
De volta ao Yoga Sutra.
Como o amigo leitor já deve saber, o Yoga Sutra não é um texto para iniciantes. Assim sendo, o estilo em que está escrito evita, dentre outras muitas coisas, a descrição detalhada do processo do despertar de kundalini, bem como deixa de mencionar listas completas de itens como os cinco pranas, os sete chakras, etc. No entanto, as meditações e diferentes maneiras de usar chakras, nadis e pranas, estão listadas no terceiro capítulo, enquanto que a manipulação da energia vital (prana) e o fruto dessa prática, aparece com detalhes no fim do segundo capítulo. O manipura é chamado nabhi chakra ("chakra do umbigo", III;30), o anahata é chamado hrdaye ("do coração" III:34), o vishuddha é chamado kantha kupe ("poço" da garganta, III;31), o sahasrara é chamado murdha jyoti ("luz [que brilha] na cabeça", III, 33). Patañjali propõe, no sutra III:32, uma meditação na kurma nadi.
O primeiro dos sutras acima mencionados diz: “[Meditando sobre] o chakra do umbigo, ganha-se conhecimento sobre a estrutura do corpo.” O segundo ensina: “[Aplicando samyama na] região do coração [anahata chakra], o yogi adquire conhecimento de sua própria consciência”. O terceiro: “[Exercendo samyama sobre] o centro da garganta [vishuddha chakra], cessam a fome e a sede”. O quarto aforismo reza: “[Meditando na] luz do alto da cabeça [sahasrara chakra] obtém-se a visão dos siddhas, [seres que atingiram a perfeição]”. O último dos acima citados diz: “[Pelo samyama sobre] kurmanadi (meridiano da “tartaruga”, na traquéia), o yogi estabiliza seu corpo”. A kurma nadi, ou meridiano kurma, é o condutor do kurma vayu, a força vital responsável pela visão, o piscar dos olhos e a estabilidade, tanto corporal quanto emocional e mental. Ela é localizada entre a traquéia e a parte posterior da depressão jugular. O kurma vayu é bem conhecido na tradição do Yoga tântrico: uma menção a ele aparece na obra The Serpent Power (O Poder Serpentino), de Sir John Woodroffe (p. 78).
O prana é mencionado em I:34: “Ou, pela expiração e a retenção do prana [a mente pode igualmente estabilizar-se]”. O udana vayu, um dos cinco pranas, bem conhecidos pelos praticantes de Yoga tântrico, está mencionado exatamente com esse nome em III:40: “Pelo domínio do ar vital udana desenvolve-se o poder de levitação sobre a água, o lodo, os espinhos e demais”. Há uma série de cinco sutras, começando em II:49, que menciona explicitamente o processo de manipulação do prana através do pranayama, que curiosamente culmina numa interessante descrição da visão da “luz interior” (prakasha). Eles são os seguintes: “O pranayama consiste na regulação da inspiração e da expiração. [O pranayama consta de] modificações externas, internas ou retenção [da força vital]. É regulado por lugar, estação e número [e torna-se progressivamente] mais prolongado e sutil. O quarto tipo [de pranayama, chamado kevala kumbhaka] transcende as esferas interna e externa. Assim, dissipa-se o véu que encobre a luz [do conhecimento]... e a mente torna-se apta para a concentração”.
Até onde sabemos, kundalini ativa, dentre outras formas, se manifesta como uma luz brilhante, exatamente como descreve o texto acima. Devemos considerar que a descrição deste fenômeno nos Sutras seja apenas uma coincidência, em relação ao processo de despertar de kundalini que o Yoga tântrico ensina? Depois de estudar este texto com atenção, podemos concluir que o sábio Patañjali sim, menciona no Yoga Sutra os temas chakras, nadis e prana. Portanto, como praticantes de Yoga tântrico, acredito que não devamos desconsiderar o que Patañjali tem a dizer sobre aquilo que praticamos.
Afirmar o contrário é teimar em separar e ver de forma parcial e compartimentada uma tradição muito ampla e única, que se manifestou ao longo dos milênios de diversas maneiras e através de diversas linguagens simbólicas. Espero, com este texto e as comparações que ele apresenta, ter contribuído para o aprofundamento da correta compreensão dessa vasta, única e profunda corrente tradicional que é o Yoga. Acredito que, para essa compreensão, é de imensa utilidade perceber a continuidade dessa tradição para além das diferentes linguagens simbólicas que foram usadas ao longo do tempo para transmiti-la, ao invés de nos centrar nas diferenças, rótulos e métodos, que podem criar abismos entre os praticantes. Namaste!"
Autor: Pedro Kupfer - 01 de Janeiro de 2010
Fonte: www.cadernosdeyoga.com.br
sábado, 30 de outubro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
As Carícias e o Iluminado - (José Ângelo Gaiarsa)
"Chega de viver entre o medo e a Raiva! Se não aprendermos a viver de outro modo, poderemos acabar com a nossa espécie.
É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante e competitivo, mostrar amor é... um mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar, cobrar... Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro- e pronto! O pesquisador B. Skinner mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos recompensados; aqueles baseado na dor precisam ser reforçados sempre senão desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de começarmos um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.
Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar - com o outro. Tudo tem que ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...
Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que as estrelas num céu invernal.
"Desejo", do latim de-sid-erio, provém da raiz "sid", da língua zenda, significando ESTRELA, como se vê em sideral, relativo às estrelas.
Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde vai, conhecer a direção...
"Gente é para brilhar", diz mestre Caetano.
Gente é, demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais complexa máquina neuromecânica do Universo conhecido. Diz o Psicanalista que todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência.
A mim parece que sofremos de mania de pequenez.
Qual o homem que se assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu primo..."Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que a nossa estrela determina.
O Medo - eis o inimigo.
O medo, principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos - sempre pronto a criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente dele.
Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele também pode tentar ser livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem correntes de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal - invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até elogiam!
Por que vivemos fazendo isso uns com os outros - vigiando-nos e obrigando-nos - todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado - pequenos, pequenos. Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos a ser, todos, anões. Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?
Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes, inaparentes, "normais"- normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego- melhor ainda. Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal...
Quem é o iluminado?
No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportável para todos os próximos, que são indignos.
Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade"(convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.
Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.
Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor, porque sorri e é feliz.
Como pode, esse louco?
Como pode estar - e viver! - sempre tão fora da realidade - que é sombria, ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados, desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...
Ah! Os outros...
(Fossem todos como eu, tão bem-comportados, tão educados, tão finos de sentimentos...) O que não se compreende é como há tanta maldade num mundo feito somente de gente que se considera tão boa. Deveras, não se compreende.
Menos ainda se compreende que de tantas famílias perfeitas - a família de cada um é sempre ótima - acabe acontecendo um mundo tão infernalmente péssimo.
Ah! Os outros... Se eles não fossem tão maus - como seria bom...
Proponho um tema para meditação profunda; é a lição mais fundamental de toda a Psicologia Dinâmica:
Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem se fomos bem tratados.
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se só fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos ou ele acaba.
Amar o próximo não é mais idealismo "místico"de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar ou liquidaremos com a nossa espécie.
Ou aprendemos a nos tratar bem - a nos acariciar - ou nos destruiremos.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias ... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu espelho!
Carícias... Envolvência ( quem não se envolve não se desenvolve...), ondulações, admiração, felicidade, alegria em nós - eu e os outros.
Energia poderosa na ação comum, na co-operação. Na co-munhão.
Só a União faz a força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse FAZER o que essas verdades nos sugerem, em vez de críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.
Nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - o nos danamos - todos juntos."
Fonte: http://www.agenciapar.com.br/
É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante e competitivo, mostrar amor é... um mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar, cobrar... Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro- e pronto! O pesquisador B. Skinner mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos recompensados; aqueles baseado na dor precisam ser reforçados sempre senão desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de começarmos um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.
Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar - com o outro. Tudo tem que ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...
Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que as estrelas num céu invernal.
"Desejo", do latim de-sid-erio, provém da raiz "sid", da língua zenda, significando ESTRELA, como se vê em sideral, relativo às estrelas.
Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde vai, conhecer a direção...
"Gente é para brilhar", diz mestre Caetano.
Gente é, demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais complexa máquina neuromecânica do Universo conhecido. Diz o Psicanalista que todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência.
A mim parece que sofremos de mania de pequenez.
Qual o homem que se assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu primo..."Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que a nossa estrela determina.
O Medo - eis o inimigo.
O medo, principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos - sempre pronto a criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente dele.
Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele também pode tentar ser livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem correntes de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal - invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até elogiam!
Por que vivemos fazendo isso uns com os outros - vigiando-nos e obrigando-nos - todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado - pequenos, pequenos. Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos a ser, todos, anões. Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?
Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes, inaparentes, "normais"- normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego- melhor ainda. Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal...
Quem é o iluminado?
No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportável para todos os próximos, que são indignos.
Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade"(convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.
Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.
Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor, porque sorri e é feliz.
Como pode, esse louco?
Como pode estar - e viver! - sempre tão fora da realidade - que é sombria, ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados, desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...
Ah! Os outros...
(Fossem todos como eu, tão bem-comportados, tão educados, tão finos de sentimentos...) O que não se compreende é como há tanta maldade num mundo feito somente de gente que se considera tão boa. Deveras, não se compreende.
Menos ainda se compreende que de tantas famílias perfeitas - a família de cada um é sempre ótima - acabe acontecendo um mundo tão infernalmente péssimo.
Ah! Os outros... Se eles não fossem tão maus - como seria bom...
Proponho um tema para meditação profunda; é a lição mais fundamental de toda a Psicologia Dinâmica:
Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem se fomos bem tratados.
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se só fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos ou ele acaba.
Amar o próximo não é mais idealismo "místico"de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar ou liquidaremos com a nossa espécie.
Ou aprendemos a nos tratar bem - a nos acariciar - ou nos destruiremos.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias ... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu espelho!
Carícias... Envolvência ( quem não se envolve não se desenvolve...), ondulações, admiração, felicidade, alegria em nós - eu e os outros.
Energia poderosa na ação comum, na co-operação. Na co-munhão.
Só a União faz a força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse FAZER o que essas verdades nos sugerem, em vez de críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.
Nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - o nos danamos - todos juntos."
Fonte: http://www.agenciapar.com.br/
sábado, 2 de outubro de 2010
Karma é fatalidade? - (Pedro Kupfer)
"Na tradição shivaísta, Garuda, o deus-águia, aparece como guardião do deus Shiva. Um antigo texto chamado Shiva Purana conta que, uma vez, Garuda, montando guarda no alto do Monte Kailash, morada de Shiva, reparou num pequeno pássaro que cantava entre as rochas. O poderoso deus-águia ficou maravilhado pelo contraste entre a majestade da vasta cordilheira do Himalaia e a delicadeza dessa pequena criatura. Disse para si mesmo: 'Que maravilhosa é natureza! A mesma Consciência que criou as imensas montanhas, fez igualmente este pequeno pássaro, e ambos são igualmente admiráveis'.
Nesse mesmo momento, Yama, o Senhor da Morte, apareceu na distância, cavalgando seu búfalo negro. Garuda reparou que o deus da Morte, ao se aproximar, olhou com curiosidade para o pequeno pássaro ao passar, mas continuou andando, pois ia ao encontro de Shiva. Considerando aquele olhar de Yama como um presságio da morte para o pequeno pássaro, Garuda, cujo coração é cheio de compaixão, decidiu salvá-lo. Pegando com delicadeza o frágil pássaro entre suas poderosas garras, voou para muito longe, até a beira do rio Ganges. Lá, encontrou um lugar que lhe pareceu suficientemente seguro, com abundante água, vegetação e alimento. Deixando o pássaro sobre uma rocha, retornou para seu posto no alto do Monte Kailash.
Quando o Senhor da Morte estava retornando do seu encontro com Shiva, Garuda perguntou-lhe: 'Yama, quando você chegou, observei que se deteve para observar aquele pequeno pássaro. Posso saber porque?' Yama respondeu: 'Quando olhei para o pássaro, soube que ele iria imediatamente encontrar a morte nas mandíbulas de uma serpente píton. Como esse tipo de serpente não vive aqui, no alto do Monte Kailash, achei isso muito curioso'. Novamente, Garuda maravilhou-se, desta vez, pela inevitabilidade do karma.
Definindo o karma
Lendo esta historinha, podemos pensar que karma seja uma espécie de destino inevitável. No entanto, a idéia de karma como destino ou fatalidade está longe do que esta palavra sânscrita realmente significa. Karma quer dizer 'ação', e define não apenas as coisas que fizemos e fazemos, mas igualmente os resultados que derivam dessas ações. Esse termo é usado para definir o princípio de causa e efeito que rege todas as relações no universo. Esse conceito abrange absolutamente todos os feitos dos homens e suas conseqüências ao longo do tempo, em nível coletivo e individual.
A doutrina do karma é uma das mais profundas contribuições do pensamento oriental à humanidade nos campos da metafísica, a ética, a espiritualidade e a visão da relação entre o homem e o universo. Podemos definir o karma como uma lei de responsabilidade pessoal, da qual ninguém pode fugir, e que funciona por si mesma. A lei do karma nos ensina que qualquer ação que façamos inevitavelmente produzirá frutos. Dependendo da natureza das nossas ações, esses frutos serão bons ou não.
A intenção daquele que age determina o caráter moral da ação e suas conseqüências. Por exemplo, ferir alguém sem intenção não gera uma retribuição negativa no futuro. A visão que surge da lei do karma está baseada na razão e não na fé cega: ela fornece uma explanação razoável e racional para o sofrimento humano, já que se considera que o karma opera autonomamente, guidado pelo livre arbítrio de cada um e que, conseqüentemente, aquilo que somos hoje é o resultado do que fizemos ontem. Portanto, não há fatalidade ou destino marcado.
Podemos distinguir as seguintes regras na lei do karma:
1. Atos bons produzem frutos bons. Atos errôneos produzem resultados errôneos.
2. Boas ações conduzem à felicidade. Ações contra o bem comum levam ao sofrimento.
3. Quem age bem, torna-se bom. Quem age equivocadamente, sofre e faz sofrer.
4. Os resultados das ações são limitados. Portanto, os karmas se esgotam, cedo ou tarde.
5. Cada um constrói sua própria vida e seu próprio destino.
6. Aquele que realiza uma ação colhe inevitavelmente seus resultados.
Liberdade, ação e conseqüência
A lei do karma nos ensina que somos dotados de livre arbítrio e que cada um é responsável por seus próprios atos, e arquiteto do seu próprio destino. Precisamos aprender a usar a nossa liberdade em consonância com o bem comum, de maneira que possamos evitar machucar, ferir ou fazer sofrer os demais seres vivos: homens, animais e plantas.
Um antigo texto védico chamado Shatapatha Brahmana (VI:2:2:27), afirma que 'todos os homens nascem neste mundo moldados por si mesmos'. Isso significa que cada um traça seu próprio destino. As ações passadas podem condicionar o presente, mas nunca determinar o futuro de maneira fixa ou inamovível.
Aceitar com gratidão os resultados das nossas ações, quaisquer eles forem, é a essência do Karma Yoga, o Yoga da ação consciente. Podemos escolher o que fazemos, mas não temos escolha sobre os resultados das nossas ações, pois elas já aconteceram. Isso é regulado pela lei do karma. Não existem nem julgamento, nem juiz. Somente leis imutáveis.
Podemos usar nossa liberdade para definir o que fazemos, mas não temos escolha nem liberdade em relação aos resultados das nossas ações. Porém, o grande problema é que não sabemos disso, e ficamos o tempo todo tentando manipular os resultados. Ficamos constantemente tentando mudar aquilo que não pode ser mudado. Isso é uma fonte de infelicidade e sofrimento contínuo e nasce, em última análise, da incapacidade de perceber que existe uma limitação em nossos poderes, e uma diferença entre o que pode e o que não pode ser mudado.
Um mundo para chamar de seu?
É preciso compreender que não estamos no controle de nada. Nós não acrescentamos nem um só grão de areia às praias, não contribuímos com uma só gota de água à imensidade dos oceanos, nem sequer construímos nosso próprio corpo. Essas realidades foram recebidas por nós, seres vivos, junto com o presente da vida. Constatando isto, compreendemos que:
1. não controlamos a natureza,
2. não controlamos o que os demais fazem, e
3. não controlamos nossas próprias emoções.
Podemos aprender, sim, a administrar as emoções, mas não as controlamos. Não podemos nadar contra a corrente. Precisamos aprender a relaxar, respirar e ir com o fluxo. O mesmo vale em relação à maneira mais saudável de lidar com nossas emoções. Compreendendo isto, e honrando a fonte do oceano das emoções, poderemos eliminar as resistências internas e fontes de conflito, compreendendo que há coisas que precisamos aceitar como são por não podermos mudá-las (os resultados das ações), e que há coisas que podemos sim modificar (a escolha das ações que estamos fazendo agora).
Quando compreendemos que as leis da natureza regulam os resultados das ações, relaxamos, e vemos tudo como expressão da graça da criação. Assim aprendemos a aceitar em paz e com gratidão o que estiver fluindo em nossa direção, relaxamos e aceitamos tudo o que vem e vai, tudo o que ganhamos ou perdemos. Nunca cresceremos interiormente se não soubermos aceitar, se não pararmos de nos defender ou atacar, se não pararmos de ver o mundo como um lugar hostil.
Aceitação é a chave
A atitude de aceitação grata é o que abre o coração. Deveríamos aprender a aceitar, e esquecer crenças e padrões mecânicos como 'eu deveria ter feito isto', 'estou arrependido', etc. Ao invés disso, poderíamos pensar 'isto é o que eu fiz ou disse, e foi o melhor que podia fazer ou dizer, dadas as circunstâncias', ou 'sou totalmente perfeito dentro da minha imperfeição'.
Ao mesmo tempo, precisamos ter certeza de não estarmos fugindo às nossas responsabilidades, nem escapando das funções que devemos desempenhar, pois tanto as responsabilidades quanto as funções nos ajudam a crescer. Somente poderemos ser felizes ao aceitarmos as coisas como são, e aceitarmos a realidade como ela é. Assim, poderemos viver uma vida feliz e livre de conflitos, agindo de modo consciente, em harmonia com os valores universais e compreendendo as leis naturais, que regem toda a existência. Namaste!"
Autor: Publicado originalmente na revista Prana Yoga Journal: www.eyoga.com.br
Fonte: www.yoga.pro.br
Nesse mesmo momento, Yama, o Senhor da Morte, apareceu na distância, cavalgando seu búfalo negro. Garuda reparou que o deus da Morte, ao se aproximar, olhou com curiosidade para o pequeno pássaro ao passar, mas continuou andando, pois ia ao encontro de Shiva. Considerando aquele olhar de Yama como um presságio da morte para o pequeno pássaro, Garuda, cujo coração é cheio de compaixão, decidiu salvá-lo. Pegando com delicadeza o frágil pássaro entre suas poderosas garras, voou para muito longe, até a beira do rio Ganges. Lá, encontrou um lugar que lhe pareceu suficientemente seguro, com abundante água, vegetação e alimento. Deixando o pássaro sobre uma rocha, retornou para seu posto no alto do Monte Kailash.
Quando o Senhor da Morte estava retornando do seu encontro com Shiva, Garuda perguntou-lhe: 'Yama, quando você chegou, observei que se deteve para observar aquele pequeno pássaro. Posso saber porque?' Yama respondeu: 'Quando olhei para o pássaro, soube que ele iria imediatamente encontrar a morte nas mandíbulas de uma serpente píton. Como esse tipo de serpente não vive aqui, no alto do Monte Kailash, achei isso muito curioso'. Novamente, Garuda maravilhou-se, desta vez, pela inevitabilidade do karma.
Definindo o karma
Lendo esta historinha, podemos pensar que karma seja uma espécie de destino inevitável. No entanto, a idéia de karma como destino ou fatalidade está longe do que esta palavra sânscrita realmente significa. Karma quer dizer 'ação', e define não apenas as coisas que fizemos e fazemos, mas igualmente os resultados que derivam dessas ações. Esse termo é usado para definir o princípio de causa e efeito que rege todas as relações no universo. Esse conceito abrange absolutamente todos os feitos dos homens e suas conseqüências ao longo do tempo, em nível coletivo e individual.
A doutrina do karma é uma das mais profundas contribuições do pensamento oriental à humanidade nos campos da metafísica, a ética, a espiritualidade e a visão da relação entre o homem e o universo. Podemos definir o karma como uma lei de responsabilidade pessoal, da qual ninguém pode fugir, e que funciona por si mesma. A lei do karma nos ensina que qualquer ação que façamos inevitavelmente produzirá frutos. Dependendo da natureza das nossas ações, esses frutos serão bons ou não.
A intenção daquele que age determina o caráter moral da ação e suas conseqüências. Por exemplo, ferir alguém sem intenção não gera uma retribuição negativa no futuro. A visão que surge da lei do karma está baseada na razão e não na fé cega: ela fornece uma explanação razoável e racional para o sofrimento humano, já que se considera que o karma opera autonomamente, guidado pelo livre arbítrio de cada um e que, conseqüentemente, aquilo que somos hoje é o resultado do que fizemos ontem. Portanto, não há fatalidade ou destino marcado.
Podemos distinguir as seguintes regras na lei do karma:
1. Atos bons produzem frutos bons. Atos errôneos produzem resultados errôneos.
2. Boas ações conduzem à felicidade. Ações contra o bem comum levam ao sofrimento.
3. Quem age bem, torna-se bom. Quem age equivocadamente, sofre e faz sofrer.
4. Os resultados das ações são limitados. Portanto, os karmas se esgotam, cedo ou tarde.
5. Cada um constrói sua própria vida e seu próprio destino.
6. Aquele que realiza uma ação colhe inevitavelmente seus resultados.
Liberdade, ação e conseqüência
A lei do karma nos ensina que somos dotados de livre arbítrio e que cada um é responsável por seus próprios atos, e arquiteto do seu próprio destino. Precisamos aprender a usar a nossa liberdade em consonância com o bem comum, de maneira que possamos evitar machucar, ferir ou fazer sofrer os demais seres vivos: homens, animais e plantas.
Um antigo texto védico chamado Shatapatha Brahmana (VI:2:2:27), afirma que 'todos os homens nascem neste mundo moldados por si mesmos'. Isso significa que cada um traça seu próprio destino. As ações passadas podem condicionar o presente, mas nunca determinar o futuro de maneira fixa ou inamovível.
Aceitar com gratidão os resultados das nossas ações, quaisquer eles forem, é a essência do Karma Yoga, o Yoga da ação consciente. Podemos escolher o que fazemos, mas não temos escolha sobre os resultados das nossas ações, pois elas já aconteceram. Isso é regulado pela lei do karma. Não existem nem julgamento, nem juiz. Somente leis imutáveis.
Podemos usar nossa liberdade para definir o que fazemos, mas não temos escolha nem liberdade em relação aos resultados das nossas ações. Porém, o grande problema é que não sabemos disso, e ficamos o tempo todo tentando manipular os resultados. Ficamos constantemente tentando mudar aquilo que não pode ser mudado. Isso é uma fonte de infelicidade e sofrimento contínuo e nasce, em última análise, da incapacidade de perceber que existe uma limitação em nossos poderes, e uma diferença entre o que pode e o que não pode ser mudado.
Um mundo para chamar de seu?
É preciso compreender que não estamos no controle de nada. Nós não acrescentamos nem um só grão de areia às praias, não contribuímos com uma só gota de água à imensidade dos oceanos, nem sequer construímos nosso próprio corpo. Essas realidades foram recebidas por nós, seres vivos, junto com o presente da vida. Constatando isto, compreendemos que:
1. não controlamos a natureza,
2. não controlamos o que os demais fazem, e
3. não controlamos nossas próprias emoções.
Podemos aprender, sim, a administrar as emoções, mas não as controlamos. Não podemos nadar contra a corrente. Precisamos aprender a relaxar, respirar e ir com o fluxo. O mesmo vale em relação à maneira mais saudável de lidar com nossas emoções. Compreendendo isto, e honrando a fonte do oceano das emoções, poderemos eliminar as resistências internas e fontes de conflito, compreendendo que há coisas que precisamos aceitar como são por não podermos mudá-las (os resultados das ações), e que há coisas que podemos sim modificar (a escolha das ações que estamos fazendo agora).
Quando compreendemos que as leis da natureza regulam os resultados das ações, relaxamos, e vemos tudo como expressão da graça da criação. Assim aprendemos a aceitar em paz e com gratidão o que estiver fluindo em nossa direção, relaxamos e aceitamos tudo o que vem e vai, tudo o que ganhamos ou perdemos. Nunca cresceremos interiormente se não soubermos aceitar, se não pararmos de nos defender ou atacar, se não pararmos de ver o mundo como um lugar hostil.
Aceitação é a chave
A atitude de aceitação grata é o que abre o coração. Deveríamos aprender a aceitar, e esquecer crenças e padrões mecânicos como 'eu deveria ter feito isto', 'estou arrependido', etc. Ao invés disso, poderíamos pensar 'isto é o que eu fiz ou disse, e foi o melhor que podia fazer ou dizer, dadas as circunstâncias', ou 'sou totalmente perfeito dentro da minha imperfeição'.
Ao mesmo tempo, precisamos ter certeza de não estarmos fugindo às nossas responsabilidades, nem escapando das funções que devemos desempenhar, pois tanto as responsabilidades quanto as funções nos ajudam a crescer. Somente poderemos ser felizes ao aceitarmos as coisas como são, e aceitarmos a realidade como ela é. Assim, poderemos viver uma vida feliz e livre de conflitos, agindo de modo consciente, em harmonia com os valores universais e compreendendo as leis naturais, que regem toda a existência. Namaste!"
Autor: Publicado originalmente na revista Prana Yoga Journal: www.eyoga.com.br
Fonte: www.yoga.pro.br
Entrevista com o mestre Dalai Lama - (Adam Yauch)
Sua Santidade Tenzin Gyatso, o 14° Dalai Lama do Tibet, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1989. Adam Yauch é integrante dos Beastie Boys e co-fundador do Milarepa Fund. Texto gentilmente cedido por Adriano Morallis.
Adam Yauch: Poderia falar sobre a responsabilidade universal?
Dalai Lama: Eu acredito que o perdão, a bondade e a compaixão são qualidades importantes porque sevem como um fundamento para a calma e estabilidade mentais, e o futuro da humanidade depende disso. É meu dever, como cidadão deste planeta, contribuir o melhor que eu puder para a o bem-estar universal. A tecnologia está transformando o mundo em uma comunidade global e todos nós estamos relacionados uns com os outros. Muitas das questões atuais, tais como a destruição do meio ambiente e os sistemas econômicos em vigor, transcendem as fronteiras e portanto são questões globais. Então, todos precisam compartilhar de um senso de responsabilidade universal. Sempre achei que as pessoas são as mesmas, em todos os lugares. As diferenças de raça, cultura e religião não são importantes. Já que somos todos os mesmos, precisamos ter um senso de responsabilidade pelo bem-estar de cada um.
AY: E como poderíamos ver o entendimento budista de interdependência nos termos de direitos humanos?
DL: A violação dos direitos humanos hoje é um sintoma com causas subjacentes; então, para reduzir ou remover completamente as violações dos direitos humanos, precisamos lidar primeiro com suas causas. Poderiam ser motivos políticos ou econômicos. Em alguns casos, as violações de direitos humanos podem ser baseadas em vingança pessoas ou por parte dos governantes. Então, poderiam haver muitos motivos subjacentes para as violações dos direitos humanos.
AY: Poderia falar um pouco sobre a situação do Tibet?
DL: Sim, mas primeiro devemos achar alguma base comum para o nosso diálogo e nossas negociações. Estou pronto para negociar, em qualquer lugar, a qualquer hora, sem pré-condições. A coisa mais importante, em qualquer lugar ou hora, é um ambiente livre para trocar diferentes idéias. A independência pertence legitimamente aos tibetanos. Desde que os chineses ocuparam o Tibet, e apesar de algumas mudanças positivas, as pessoas têm sofrido tremendamente, imensamente. Como resultado, a maioria do povo tibetano, incluindo os jovens comunistas tibetanos, não querem viver sob a dominação chinesa. Mas também não é realista pensar na independência completa. Então, eu estou procurando um Caminho Intermediário.
AY: Nós não estamos esperando muito para lidar com esta situação?
DL: No conflito bósnio, senti que a comunidade internacional estava atrasada. Estes eventos infelizes tinham muitas causas e condições que tomaram anos para se desenvolver. Se tivéssemos tomado conhecimento na época em que estas causas e condições estavam se desenvolvendo, talvez teria sido muito mais fácil lidar com elas. Exceto se nós fizermos uma investigação no nível causal, exceto se nós tivermos uma atenção específica, muitas vezes não é muito visível o que está errado. Não é sempre óbvio que as causas estão construindo uma crise potencial; depois percebemos que deveríamos ter tido maior atenção com o que estava acontecendo.
AY: Eu ouvi você dizer, em entrevistas anteriores, que as autoridades chinesas, apesar de terem causado tanto destruição no seu país, têm sido um grande mestre para você. Muitas vezes, no Ocidente, é realmente mais fácil ver seus inimigos como inimigos e seus amigos como amigos.
DL: Os conceitos de "amigo" e "inimigo" realmente dependem de muitas condições. A verdade é que o status de nossos amigos e inimigos pode mudar em um ano, uma década ou muitas décadas. Nossos inimigos não são necessariamente inimigos permanentes, nem nossos amigos são amigos permanentes. Acho que nossas percepções de "amigo" e "inimigo" dependem de nossas atitudes mentais. Na realidade, inimigos e amigos não possuem um status permanente. Por causa disso, você pode se encorajar em práticas de troca de idéias, que podem permitir que você faça a mudança dentro de si.
AY: Os não-budistas podem praticar essa troca de idéias?
DL: Os cristãos acreditam que todos os seres foram criados por Deus; então, mesmo no senso cristão, todos os seres são irmãos e irmãs. Nessa base, você pode praticar a troca de idéias. Mesmo os não-cristãos podem praticar a troca de idéias com seus amigos. Mas não sei sobre estender isso aos seus inimigos (risos). Talvez você deva esperar até que o inimigo lhe dê um presente (mais risos).
AY: Foi difícil ser reconhecido como o Dalai Lama quando era jovem?
DL: Como um jovem garoto, às vezes eu pensava que seria mais fácil ser uma pessoa comum do que ser o Dalai Lama. Geralmente, eu tinha esses sentimentos sozinho em minha sala no Palácio Potala, que era muitas vezes frio e desconfortável. Eu queria ver as crianças voltando para casa, após cuidarem dos animais, e ouvi-las cantando e rindo, enquanto eu tinha que ficar sentado em minha sala solitária e recitar orações difíceis. Mas quando cresci, eu entendi o objetivo da vida, que para mim é viver pelo benefício da humanidade e dos seres suscetíveis. Os humanos têm inteligência e determinação, e podemos usar estas qualidades para encarar nossos problemas. Também é bom que existam os desafios, pois deste modo podemos exercer estas qualidades. Deste ponto de vista, saber que somos capazes de solucionar nossos próprios problemas pode nos dar força interior.
AY: Como nós, enquanto indivíduos, podemos contribuir para melhorar o mundo?
DL: Eu sinto que, como indivíduos, precisamos desenvolver a compaixão e um senso de fraternidade. Por compaixão, não entendo simplesmente como sentir complacência. A compaixão propriamente dita significa um sentimento de proximidade com os outros e, junto com isso, um senso de responsabilidade. Acredito que, ao nascer, todos os seres humanos estão livres da ideologia mas não da afeição. Apesar do ódio e dos sentimentos negativos serem parte da natureza humana, o amor e a compaixão dentro de nós são ainda maiores.
Autor: Adriano Morallis
Fonte: www.dalailama.org.br/ensinamentos/adam.php
Adam Yauch: Poderia falar sobre a responsabilidade universal?
Dalai Lama: Eu acredito que o perdão, a bondade e a compaixão são qualidades importantes porque sevem como um fundamento para a calma e estabilidade mentais, e o futuro da humanidade depende disso. É meu dever, como cidadão deste planeta, contribuir o melhor que eu puder para a o bem-estar universal. A tecnologia está transformando o mundo em uma comunidade global e todos nós estamos relacionados uns com os outros. Muitas das questões atuais, tais como a destruição do meio ambiente e os sistemas econômicos em vigor, transcendem as fronteiras e portanto são questões globais. Então, todos precisam compartilhar de um senso de responsabilidade universal. Sempre achei que as pessoas são as mesmas, em todos os lugares. As diferenças de raça, cultura e religião não são importantes. Já que somos todos os mesmos, precisamos ter um senso de responsabilidade pelo bem-estar de cada um.
AY: E como poderíamos ver o entendimento budista de interdependência nos termos de direitos humanos?
DL: A violação dos direitos humanos hoje é um sintoma com causas subjacentes; então, para reduzir ou remover completamente as violações dos direitos humanos, precisamos lidar primeiro com suas causas. Poderiam ser motivos políticos ou econômicos. Em alguns casos, as violações de direitos humanos podem ser baseadas em vingança pessoas ou por parte dos governantes. Então, poderiam haver muitos motivos subjacentes para as violações dos direitos humanos.
AY: Poderia falar um pouco sobre a situação do Tibet?
DL: Sim, mas primeiro devemos achar alguma base comum para o nosso diálogo e nossas negociações. Estou pronto para negociar, em qualquer lugar, a qualquer hora, sem pré-condições. A coisa mais importante, em qualquer lugar ou hora, é um ambiente livre para trocar diferentes idéias. A independência pertence legitimamente aos tibetanos. Desde que os chineses ocuparam o Tibet, e apesar de algumas mudanças positivas, as pessoas têm sofrido tremendamente, imensamente. Como resultado, a maioria do povo tibetano, incluindo os jovens comunistas tibetanos, não querem viver sob a dominação chinesa. Mas também não é realista pensar na independência completa. Então, eu estou procurando um Caminho Intermediário.
AY: Nós não estamos esperando muito para lidar com esta situação?
DL: No conflito bósnio, senti que a comunidade internacional estava atrasada. Estes eventos infelizes tinham muitas causas e condições que tomaram anos para se desenvolver. Se tivéssemos tomado conhecimento na época em que estas causas e condições estavam se desenvolvendo, talvez teria sido muito mais fácil lidar com elas. Exceto se nós fizermos uma investigação no nível causal, exceto se nós tivermos uma atenção específica, muitas vezes não é muito visível o que está errado. Não é sempre óbvio que as causas estão construindo uma crise potencial; depois percebemos que deveríamos ter tido maior atenção com o que estava acontecendo.
AY: Eu ouvi você dizer, em entrevistas anteriores, que as autoridades chinesas, apesar de terem causado tanto destruição no seu país, têm sido um grande mestre para você. Muitas vezes, no Ocidente, é realmente mais fácil ver seus inimigos como inimigos e seus amigos como amigos.
DL: Os conceitos de "amigo" e "inimigo" realmente dependem de muitas condições. A verdade é que o status de nossos amigos e inimigos pode mudar em um ano, uma década ou muitas décadas. Nossos inimigos não são necessariamente inimigos permanentes, nem nossos amigos são amigos permanentes. Acho que nossas percepções de "amigo" e "inimigo" dependem de nossas atitudes mentais. Na realidade, inimigos e amigos não possuem um status permanente. Por causa disso, você pode se encorajar em práticas de troca de idéias, que podem permitir que você faça a mudança dentro de si.
AY: Os não-budistas podem praticar essa troca de idéias?
DL: Os cristãos acreditam que todos os seres foram criados por Deus; então, mesmo no senso cristão, todos os seres são irmãos e irmãs. Nessa base, você pode praticar a troca de idéias. Mesmo os não-cristãos podem praticar a troca de idéias com seus amigos. Mas não sei sobre estender isso aos seus inimigos (risos). Talvez você deva esperar até que o inimigo lhe dê um presente (mais risos).
AY: Foi difícil ser reconhecido como o Dalai Lama quando era jovem?
DL: Como um jovem garoto, às vezes eu pensava que seria mais fácil ser uma pessoa comum do que ser o Dalai Lama. Geralmente, eu tinha esses sentimentos sozinho em minha sala no Palácio Potala, que era muitas vezes frio e desconfortável. Eu queria ver as crianças voltando para casa, após cuidarem dos animais, e ouvi-las cantando e rindo, enquanto eu tinha que ficar sentado em minha sala solitária e recitar orações difíceis. Mas quando cresci, eu entendi o objetivo da vida, que para mim é viver pelo benefício da humanidade e dos seres suscetíveis. Os humanos têm inteligência e determinação, e podemos usar estas qualidades para encarar nossos problemas. Também é bom que existam os desafios, pois deste modo podemos exercer estas qualidades. Deste ponto de vista, saber que somos capazes de solucionar nossos próprios problemas pode nos dar força interior.
AY: Como nós, enquanto indivíduos, podemos contribuir para melhorar o mundo?
DL: Eu sinto que, como indivíduos, precisamos desenvolver a compaixão e um senso de fraternidade. Por compaixão, não entendo simplesmente como sentir complacência. A compaixão propriamente dita significa um sentimento de proximidade com os outros e, junto com isso, um senso de responsabilidade. Acredito que, ao nascer, todos os seres humanos estão livres da ideologia mas não da afeição. Apesar do ódio e dos sentimentos negativos serem parte da natureza humana, o amor e a compaixão dentro de nós são ainda maiores.
Autor: Adriano Morallis
Fonte: www.dalailama.org.br/ensinamentos/adam.php
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