sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sri Sarada Devi - videos




Unsolicited Grace: Accounts of Holy Mother Sri Sarada Devi



quinta-feira, 30 de julho de 2009

Monja Coen por Monja Coen




Meu nome é Coen. É um nome composto de dois caracteres chineses. "Co" significa "só" ou "um só, única" (como monos em latim) e "en" significa "círculo perfeito" ou "compleição, perfeição". Há um poema Chinês muito antigo no qual esses caracteres aparecem.
Mente-lua
Única e perfeita
A luz permite todas as formas
Quando luz e formas não são
O que é?
Os poemas Zen budistas são geralmente intrigantes. Manifestam o estado iluminado superior ou conduzem a questionamentos que encorajam a penetração no cerne do ser.
Vocês fizeram um momento de meditação hoje, antes do início deste encontro? Não? Então os convido. Vamos nos sentar sem recostar nas poltronas mantendo as costas retas, os pés firmes no chão, paralelos. Vamos procurar encontrar nosso ponto de equilíbrio balançando o corpo para a esquerda e para a direita como um pêndulo. Ao perceber o centro físico de seu corpo, fique aí. Solte o ar pela boca, profundamente. Esvazie os pulmões de ar e a mente de todos os pensamentos, idéias, conceitos. Coloque as mãos no mudra cósmico, ou seja, a direita por baixo e a esquerda sobre ela, ambas com as palmas para cima, apoiando as costas das mãos no colo e tocando com os dedos mínimos o abdômen. Os polegares em linha reta se tocam de leve, como se houvesse uma finíssima folha de papel entre eles. A ponta da língua no palato atrás dos dentes frontais. Os olhos pousados, entreabertos, num ângulo de 45 graus. Soltando todo o ar, vamos perceber tudo o que é neste instante. Vamos encontrar o ponto de equilíbrio perfeito. Exatamente aqui, exatamente agora. Foco firme e perfeito abrange toda a vida do universo.
Isto é Zen.
Zen significa um estado de meditação profunda. Não é algo que possa ser comprado em alguma loja. Nós temos de fazê-lo!
A palavra vem do sânscrito Dhyana ou Jhana, que os chineses chamaram de Ch'na e os japoneses de Zen.
O Buda histórico, Xaquiamuni, que viveu cerca de 600 anos antes de Cristo, torna-se Buda através da meditação, através do Zen. Num tratado muito antigo, transcrito de um país para outro por monges discípulos de Buda, o Livro da Transmissão da Luz - anais da transmissão dos ensinamentos de mestre a discípulo em sucessão histórica - o episódio de Xaquiamuni Buda é o Prólogo.
Segundo essa narrativa Xaquiamuni Buda sentou-se em Zen por uma semana. As ervas cresceram entre seus braços e pernas, um pássaro fez o ninho na sua cabeça, e teias de aranha cobriram seu corpo. Imóvel e irremovível assim permaneceu.
Na manhã do oitavo dia, depois de sete dias e sete noites de meditação profunda, durante a qual percebeu sua mente cheia de dúvidas, incertezas e tentações, tendo sido de permanecer focalizado no instante absoluto, ao ver a estrela da manhã, subitamente despertou e exclamou:
- Eu e todos os seres do céu e da terra, simultaneamente, nos tornamos o Caminho.
O Caminho é em todos nós! O ser iluminado percebe isto com clareza consciente.
Uma vez perguntaram a Buda:
- O que é a Verdade? Viemos discutir a verdade.
- Então não é sobre a verdade que nós vamos falar, porque a verdade não se discute - ela é! Sendo assim é impossível discutir a verdade.
Quando falamos o verdadeiro, todos entendemos. Não é verdade?
Quando não é a verdade se manifestando sabemos. Por quê?
Não é apenas porque lemos ou estudamos em algum lugar, mas porque todos nós sabemos em nós. Somos a manifestação da verdade do universo.
Há um monge que viveu na China por volta do século VIII. Seu nome era Gensha Shibi. Era uma pessoa simples, um pescador. Uma noite saiu como sempre para pescar com seu pai. O mar estava revolto, Águas turbulentas, ventania. O idoso pescador caiu do barco. O filho tentou, em vão, salvá-lo.
No vazio da noite escura as nuvens se abriram e a lua despejou-se no mar.
Foi nessa circunstância que ele entendeu aquilo que os monges estavam comentando alguns dias atrás. Os reverendos falavam sobre a lua na água, sobre a iluminação da mente, a paz de Nirvana. Gensha Shibi se aquietou.
Ao voltar à praia, deixou seu barco de pesca e foi para o mosteiro.
Anos e anos se passaram. Foi nomeado Abade Superior. Respeitado por monges e leigos que se juntavam para ouvir seus ensinamentos do Darma.



- O universo é uma jóia arredondada. Somos a vida do universo em constante transformação. Não há fora nem dentro.
Quando percebemos o que Gensha Shibi percebeu, quando penetramos no ponto de equilíbrio central do ser como Xaquiamuni Buda, a paz se manifesta, a verdadeira compreensão superior.
Conecta-se com o despertar a noção de profetas de tolerância. Mas creio que hoje em dia temos de ir um passo adiante da tolerância apenas. É preciso conhecer e respeitar as diferenças, compreender.
O XIV Dalai Lama, Tenzin Gyatzo, embora não seja de minha tradição japonesa e sim do Tibet, é muito respeitado por todos religiosos. Seus seguidores o consideram uma manifestação de Kanzeon Bodhisatva, em Sânscrito é Avaloktesvara Bodhisatva, o bodhistava da Compaixão. Na cosmologia budista, bodhisatva não é um ser humano que se tornou uma divindade ou que era um santo. Seria alguma coisa como se nós falássemos da "santidade", a santidade ela mesma, que pode se manifestar em qualquer um de nós, e que às vezes se manifesta e de outras vezes desaparece. Há momentos em que somos bons e há um momento em que somos maus, por exemplo. Avaloktesvara Bodhisatva.é a capacidade de compaixão total.



Eu nunca encontrei com o Dalai Lama pessoalmente. A última vez em que ele esteve no Brasil, em Curitiba, quase, por um fiozinho, nos encontramos. Mas não foi possível. Tenho acompanhado seus ensinamentos e sua vida pelos livros, filmes, revistas.
Uma de suas histórias é muito interessante. Um monge foi preso, quando a China invadiu o Tibet. Foi torturado e passou por grandes dificuldades. Quando esse aluno é solto, vai se encontrar na Índia com o Dalai Lama. O seguinte diálogo ocorre:
- O que foi mais difícil para você durante esse tempo que esteve preso na cadeia: as torturas físicas, a fome, o medo, as torturas mentais? O que foi mais difícil para você suportar?
- Por um instante, quase que por um breve instante, quase deixei de sentir compaixão por aqueles que me torturavam.
Isso é que é o mais temível: perder a capacidade de tolerância, de compreensão, de compaixão pelo outro... Isso é que é terrível, isso é que é amedrontador.
Mahatma Ghandi usou uma frase que eu acho maravilhosa:
- Devemos ser a transformação que nós queremos do mundo.
Como é que nós queremos este mundo? Depende de cada um de nós, do que fizermos.
Xaquiamuni Buda dizia.que há tantos Budas quanto grãos de areia no Ganges.
Outro aspecto importante é saber que os seres iluminados não estão isentos de discriminações. Isto é um assunto muito sério. Em minhas últimas etapas de treinamento, no Japão, fizemos estudos que poderiam ser chamados de Budismo Crítico. Nós começamos a reler todos os textos sagrados e rever toda a nossa prática religiosa sob o prisma de: será que nós discriminamos ou será que nós permitimos no passado que discriminações, injustiças, guerras e perseguições fossem feitas em nome do Budismo e dos Budas?
Foi um trabalho sério e muito difícil que continua...
Sob o prisma inter disciplinar Xaquiamuni Buda é importante ao transformar todo o sistema de castas da Índia. Ele não nega o sistema de castas (e isso é interessante), mas o vê de uma forma diferente. A casta não é por nascimento, mas sim por comportamento, atitude, gestos, palavras e pensamentos.
"Aquele que age, fala e pensa como um brâmane é um brâmane".
Ele aceitava todos na sua comunidade, igualmente.
Certa feita Xaquiamuni Buda andava por uma rua e do lado oposto caminhava um jovem limpador de fossas, carregando nas costas um recipiente com tudo o que havia tirado das fossas. Quando vê Xaquiamuni Buda se aproximando, fica terrivelmente amedrontado, porque o sistema de castas não permitia um paria se aproximar de alguém de uma casta qualquer. E nessa sua aflição, não tendo para onde fugir, tropeça, cai, espalhando as fezes e urina no meio da rua. . Xaquiamuni Buda se aproxima e o ajuda a se levantar. Este jovem se torna um monge. Assim havia entre sua comunidade pessoas de todas as castas e mesmo aqueles que eram considerados parias (sem casta). Ele teve muitos seguidores.
Também teve seus desafetos. Devadata, um de seus primos monge, era muito ciumento. A comunidade de Buda crescia com muitos discípulos. Devadata querendo ser o líder, ter seus próprios discípulos, provoca cisões. Chega a tentar matar Buda, jogando uma pedra de cima de uma montanha. Buda nunca ficou com raiva dele, nunca sentiu rancor, nunca quis fazer nenhum mal a ele. Os sutras contam que no momento da morte Devadata se arrepende e roga por Buda.
O inferno tenebroso que se abrira imediatamente se transforma num mundo um pouco melhor.
Nesse relato há dois aspectos importantes. Um é que nunca, em nenhum momento, em nenhum sutra(sermão de Buda), em nenhum relato, Xaquiamuni Buda age como violência, com raiva, com rancor ou não-compreensão.
O segundo aspecto é a força do arrependimento. Pode transformar situações.
Entrando aqui a noção do livre arbítrio. Embora o Budismo ensine um universo de causas, efeitos e condições, não é pré-determinismo. Nossa ações transformam. Herdamos inúmeras coisas do passado, não só o DNA, o nosso corpo, a nossa maneira de ser, a nossa educação que recebemos, os nossos pais, as coisas que nos influenciaram na infância, tudo isto está em nós. Está nos formando, entretanto cabe a cada um discernir, escolher como ser.
No convento em que vivi por oito anos, no Japão, a Abadessa constantemente nos lembrava de uma jovem que perdera ambos os braços. Mesmo sem eles tornara-se monja, poetisa, escritora e pintora. Fazia tudo com os pés e a boca.
- O que é que você está reclamando? Você tem as suas duas mãos, você tem seus pés, você tem sua boca e você tem seu corpo, tanta coisa que você pode fazer, Esforce-se!.



Não havia sido fácil para essa monja. Teve momentos de desespero, tristeza, mas persistia - assim como fizera Xaquiamuni Buda sob a árvore da iluminação. Isso impedia o mal, protegendo a pessoa dentro de um campo de força positivo - a nossa determinação. A determinação e a persistência estão muito ligadas com a fé.
Às vezes me perguntam qual é a fé no budismo, se o budismo não fala de Deus. A palavra "Deus", o conceito de Deus não é importante no Budismo. A fé é nos Três Tesouros: Buda - Ser Iluminado, Darma - Lei Verdadeira e Sanga - Comunidade de praticantes em harmonia.
Quando Buda teve a experiência de iluminação, pensou:
- Não vão me entender, ninguém vai me compreender... Eu não vou falar nada, eu vou ficar na montanha em meditação...
Nisso ouve a voz de Brama, que é a divindade superior do hinduísmo.
- Vá e faça como já fizeram todos os Budas do passado! Use meios, expedientes e analogias, mas faça com que as pessoas tenham a mesma percepção que você!
Quando perguntavam a Buda qual a causa primeira, neste universo de causas, condições e efeitos, ele silenciava. Não-palavras...
Certa ocasião fazia uma palestra na PUC em São Paulo quando um dos alunos me perguntou
- E como é Deus para você?
Eu falei:
- Primeiro me diga como é para você. Qual é seu conceito de Deus?O que você está chamando de Deus? Eu não sei o que você está chamando de Deus...
O Professor de Teologia, Fernando Althmeyer interferiu:
- Deus vem de Zeus. E Zeus é "Oh". Não é isto? Aquilo a que não pode se dar nome.
Lembrei-me de uma história Zen, contada por um monge nos Estados Unidos, por volta da década de 30:
" Uma pessoa queria chegar ao fim do mundo. Andou, andou, andou, subiu, desceu, subiu montanhas, desceu montanhas, finalmente chegou ao topo da montanha mais alta e disseram para ele:
- Aqui o mundo acaba!...
Ele deu mais alguns passos e encontrou-se frente a um precipício imenso
Nesse local havia muitas pessoas que tendo chegado ao fim daquilo que conheciam paravam abismadas ou retrocediam ao conhecido.
O praticante Zen nem para nem retrocede. Avança e se entrega àquilo que é absolutamente desconhecido, onde não há mais palavras, não há mais conceitos, não há idéias... Muitas pessoas voltam desse ponto pensando:
- Eu cheguei até onde eu podia ir. Até aqui é o que eu conheço, é até onde a minha maneira de pensar alcança. Se for além daquilo que a minha maneira de pensar alcança, eu não posso penetrar!...
O Mestre Zen diz:
- Aqui e agora é o local e o momento certo. Dê o salto quântico, o encontro com o que nós chamamos no budismo de "eu verdadeiro"."
Esse encontro com o "eu verdadeiro" é que nos permite maior flexibilidade. Isso não implica que imediatamente fique isento de discriminações, como comentei anteriormente acerca do Budismo Crítico.
Xaquiamuni Buda, por exemplo, não queria ordenar mulheres. A primeira monja, Mahaprajapati, segue-o por anos.
Uma das vezes em que Buda vai fazer uma palestra, ela está na porta esperando com os pés ensangüentados, sujos... Mahaprajapati era uma nobre, ela não andava tanto assim... Ananda, que era o atendente de Buda,vendo-a, se apieda e interfere junto ao Mestre.
Xaquiamuni Buda durante sua palestra diz:
- Todos os seres igualmente são seres iluminados, todos sem exceção. Não tem nada a ver com etnia, com inteligência, com nível de aprendizado - todos nós somos seres iluminados. Mas se não houver prática, não há essa percepção. É a própria prática a manifestação do ser iluminado em nós.



Então Ananda levanta-se:
- Todos com certeza?
- Com certeza!
- As mulheres também?
- Claro, as mulheres também, claro!
- Então por que o senhor não ordena as mulheres?
Foi assim que Xaquiamuni Buda iniciou as ordenações femininas.
Foi uma grande mudança, importantíssima! As mulheres eram consideradas seres inferiores, que deveriam ser tocadas com a mão esquerda, considerada impura.
Há pouco tempo o Dalai Lama estava com um grupo de monges e pediu a uma das monjas, que é uma monja do Havaí (que eu até cheguei a conhecer há alguns anos atrás), discípula dele, que conduzisse a meditação. Todos se sentaram e ela começou a meditação de forma inusitada.
- Vamos supor que todas as imagens de Buda fossem femininas, vamos supor que o Dalai Lama fosse uma mulher, vamos supor que quem fizesse a recepção e servisse chá fossem os homens, os monges, vamos supor que as mulheres todas tivessem acesso aos níveis superiores de educação e de ensinamento, e que os monges não...
No final o Dalai Lama chorou:
- Perdão, nunca havia pensado nisso... Nunca havia percebido que nós discriminamos. Eu me comprometo a transformar isso, a mudar.
Eu comecei a praticar nos EUA no começo dos anos 80. Logo, depois de uns dois ou três meses de prática, pedi para ser ordenada monja. Pedia insistentemente porque o meu professor Maezumi Roshi dizia:
- Você nasceu de uma família católica cristã, você não entende nada de budismo, como que você vai virar budista? Não, não é assim, sem entender não pode...
- O tempo que senhor quiser eu fico...
Minha mãe, que é Católica Apostólica Romana, me questionava muito.
- Por que você não se torna freira, minha filha? Se você quer servir a Deus seja uma freira católica... Por que escolher uma religião do outro lado do mundo?
Seu questionamento foi muito importante. Eu precisava responder a ela. Afinal o cristianismo também viera de terras distantes.
Xaquiamuni Buda exortava seus discípulos:
- Vocês não podem ser ordenados sem o consentimento de seus pais. O questionar de minha mãe tornou-se o meu próprio. Estaria traindo Jesus? Então tive um sonho, uma visão, na qual Xaquiamuni Buda e Jesus conversavam como dois grandes amigos e tudo que me parecia tão pesado não existia. Imagine se seres superiores ficariam discutindo, escolhendo: "este é meu... pegou o meu, vamos brigar!" Essas são nossas fantasias. Telefonei para minha mãe. Antes que eu pudesse falar ela me abençoou dizendo:
- Minha filha, eu já entendi, eu a abençôo. Você estará servindo a Deus.
Feliz, fui falar com meu professor. Ele abriu seu calendário e marcou a ordenação. Foi em 14 de janeiro de 1983.
Conheci nessa época, em Los Angeles, o monge Thich Naht Hahn, do Vietnã. Ele é um exemplo vivo de tolerância, de compaixão iluminada. Sempre ajudou os carentes, principalmente os refugiados de guerra. Certa feita estava na Malásia, um dos países que às vezes aceitava, às vezes não aceitava os refugiados. Dois barcos estavam no porto, esperando a decisão das autoridades. O monge se esforçava tentando conseguir alimentos e água para os refugiados. Eram mais de 800 pessoas. Estava uma noite em seu quarto de hotel quando ouviu batidas fortes na porta:
- Polícia! Aqui está sua passagem de volta para Paris ( ele morava em Paris e até hoje vive na França). O sr. saia imediatamente do país, o sr. está sendo um desacato às autoridades locais, não queremos mais o sr. aqui, o sr. saia!
- Ele disse: - Mas eu tenho pessoas, muitas, dependem de mim...
- Não queremos saber, a passagem está aqui, no primeiro vôo amanhã cedo, prepare as malas, viremos buscá-lo!...
Ele ficou desesperado. Ele, que costumava dizer às pessoas cheias de rancor, querendo vingança " chamem pela paz que a paz vem, procure a paz no seu coração!" de repente ele se viu furioso:
- Eu estou com raiva. Estão condenando à morte estas 800 famílias. Não é possível!
Sem conseguir se sentar ele caminhava pelo aposento, coordenando sua respiração com seus passos:
- Eu clamo pela paz..., eu clamo pela paz..., eu invoco a paz..., eu invoco a paz...
Assim respirando e caminhando foi se acalmando. Não sentiu ódio das pessoas, do governo. Lembrou-se de alguém, de um cartão recebido na embaixada. Telefonou, conseguiu adiar o seu vôo algumas horas, tempo suficiente para pôr alimento e água no navio, que pudessem pelo menos tentar um novo porto.
É disto que precisamos em nossa vida. Essa é a mensagem que eu gostaria de trazer para vocês hoje. Quando nos desesperamos, quando parece que não há solução, tantas injustiças, indignidades contra mim, contra a humanidade... Nunca lute! Nós não lutamos pela paz, nós construímos a paz. É diferente. Não se luta, constrói-se com a não-violência ativa, a ação de respeito pelo outro, porque o ser que está agindo injustamente erradamente, discriminando, ferindo, injuriando merece compaixão, e ensinamento.
Não há uma pessoa má, um país inimigo.
Existem situações frutos da ganância, raiva, ignorância - os três venenos que atacam o ser humano.
Contra a ganância, existe a doação: em vez de querer mais e mais para si, passamos a compartilhar, a doar.
Contra a raiva: a compreensão, a compaixão, a tolerância.
Contra a ignorância: a sabedoria iluminada.
Que possamos todos acessar à Sabedoria Iluminada e à Compaixão Suprema fazendo o bem a todos os seres.

Fonte: http://www.monjacoen.com.br

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sarada Devi, a Santa Mãe


"Viva em santa companhia. Tente ser puro. E tudo será alcançado gradualmente. Ore a Sri Ramakrishna. Eu estou com você. Por que temer? No tempo certo Ele fará tudo para você."



Sri Sarada Devi (1853-1920) é chamada afetuosamente de "Santa Mãe" por milhões de pessoas ao redor do mundo. Sarada Devi foi a esposa de Ramakrishna, companheira espiritual e uma gigante em espiritualidade por seu próprio mérito. Viveu uma vida muito simples, despretenciosa e extraordinariamente modesta, mesmo assim sua vida e ensinamentos ressoam com a verdade da mais alta realização espiritual. Como a grande discípula de Swami Vivekananda, Sister Nivedita escreveu: “Nela se vêem realizadas aquela sabedoria e doçura que a mais simples das mulheres pode alcançar. E ainda, para mim a grandeza da sua cortesia e sua mente incrivelmente aberta são quase tão maravilhosas quanto a sua santidade. Sua vida é expressa no intenso silêncio da oração.”


Seu Nascimento

A uns cem quilometros a oeste de Calcutá, está situada a pequena aldeia de Jayrambati, onde nasceu a Santa Mãe. Apesar de ser uma aldeia atrasada, a vida transcorria bastante feliz, antes de ser invadida pela malária, que fez estragos durante a segunda metade do século dezenove.
A monotonia da vida dos aldeões, com frequência, era interrompida pela celebração das grandes festas religiosas hindus, tais como Durga Puja, Kali Puja, Dol Purmina, etc, e pelo culto especial que se rendia a várias deidades, entre elas, Shitala, Dharma, Shantinath ( a imagem de Shiva ) e Simhavahini, que era a Deidade tutelar de Jayrambati.
Sri Sarada Devi nasceu em 22 de dezembro de 1853, e foi a primera filha de Ramachandra Mukherji e Shiamasundari Devi. Nascida e criada na atmosfera rural de Jayrambati, ela recebeu a mesma educação das aldeãs pobres da India, pertencentes às castas altas. Era demasiado séria e recatada para entregar-se aos jogos infantis, como faziam as meninas da sua idade.
Aghormani, que foi sua companheira de jogos costumava dizer: A Santa Mãe era muito simples em seus hábitos. Durante as brincadeiras, gostava de fazer papel de dona de casa. Entre seus brinquedos haviam bonecas; mas ela costumava adorar muito devotadamente, com flores e folhas de bilva, as imagens em argila de Kali e Lakshmi. Uma vez, por ocasião do Yagaddhatri Puja, estava meditando tão profundamente que chegou a identificar-se com a deidade a tal ponto, que Ramhridai Ghoshal de Haldepukur, ao vê-la, experimentou grande assombro e reverência.

O Casamento
Enquanto a pequena Sarada crescia, em outra parte da India a grande alma a qual ela estava destinada passava por um grande período de desenvolvimento espiritual. Sri Ramakrishna,nascido em 1836 em Kamarpukur, como terceiro filho de Khudiram Chatterji, se havia tornado, em 1855, em sacerdote de Kali, no templo de Dakshineswar. Desde a infância tinha un temperamento muito devoto e místico. Perdeu todo interesse pela vida mundana, e todo seu tempo passava em um estado de absorção e práctica de austeridades. Se entregou totalmente à oração e à contemplação, esquecendo de comer e dormir; não se dava conta do passar dos dias e das noites. Fizeram então Sri Ramakrishna retornar à casa paterna para administrar-lhe algum tratamento;quando então estando Ramakrishna mais calmo resolveram aplicar-lhe um remédio mais drástico: Arranjariam um casamento para ele.Pensaram que um casamento seria a melhor maneira de atar sua mente ao mundo.
Em seguida começaram as buscas de uma noiva conveniente;mas não foi tarefa fácil. A família Chatteryi era pobre, e as somas que os pais que tinham filhas para casar pediam como dote eram supeiores aos recursos do senhor Rameswar. Para surpresa de todos Ramakrishna aceitou a ìdéia de casar-se e vendo frustrados os esforços de seus pais para arranjar-lhe uma noiva disse:
"Vã é a vossa busca neste ou outro lugar. Ide a Jayrambati e alí,na casa de Ramachandra Mukherji.achareis aquela que está destinada para mim". Pouco tempo depois em maio de 1859 celebrou-se o casamento entre a pequena Sarada e Sri Ramakrishna."

A Divina Esposa de Sri Ramakrishna
A Santa Mãe teve a oportunidade de se familirizar com Sri Ramakrishna por volta de 1867, muito depois do casamento. Sri Ramakrishna não se descuidou dela. Tomou-a sob Seus cuidados e, gradativamente, carinhosamente, impartiu-lhe profundo conhecimento do caráter humano, ensinando-a como viver no espirito de completa resignação a Deus. Ele, literalmente, adorou-a como a Divina Mãe. Afirmando que ela e a Mãe Kali do templo, eram uma só, despertou nela o sentido de maternidade a todas as criaturas. O relato de sua vida simples, austera, auto-apagada e maternalmente amante de todos, é realmente ímpar e ultrapassa todos os exemplos. Sua vida foi uma longa quietude de oração e de singular devoção. Com transbordante afeto, a Santa Mãe era o consolo infalível a todo coração amargurado que buscava refúgio em Seus santos pés, paz eterna e liberação das ansiedades e tribulações da vida do mundo. Homens e mulheres que se aproximavam dela para serem desafogados da extrema tensão de suas aImas afligidas, tornavam-se recipientes de suas bençãos imortais e de doces palavras de amor e sabedoria que acalmavam as dôres pungentes de seus corações, para sempre. Sua vida foi a síntese perfeita dos supremos ideais de Gñana, Bhakti e Karma, raramente encontrados, em tão harmoniosa união, em qualquer parte do mundo. Em sua vida de pura simplicidade, pureza, piedade e auto-dedicação, o hindu atual descobriu a perfeição do ideal da feminilidade, que tanto tem solidificado sua cultura. Ela era única em ser a espôsa dedicada, a perfeita Sannyasini, a mãe afetuosa ,mestra e preceptora. A Santa Mãe entrou em Mahasamadhi a 20 de juiho de 1920, em Calcutá.

O Magnetismo da Personalidade de Sarada Devi
Qual é a fonte do magnetismo deste nome e desta personalidade? Mesmo um tênue conhecimento da sua vida nos fará concluir que este magnetismo não provém de quaisquer aspectos da sua personalidade que sejam reconhecidos pelo mundo moderno como significativos em uma mulher. Por todos os aspectos externos, a Santa Mãe era bastante comum, ou mais que comum. Rústica na simplicidade, quase que iletrada, tímida e modesta, estava a quilômetros de distância do tipo de mulher moderna ativa, educada e independente. E ainda assim, sua vida encontra poderosos ecos de receptividade no coração de todos os homens e mulheres, por mais simples ou modernos que possam ser. É evidente que ela captou, na sua vida e ser, o valor fundamental que reside por trás da feminilidade da mulher e que transcende todas as distinções baseadas meramente no sexo e seus atrativos. Este fato sozinho explica o seu apelo universal, representando, como ela foi, não um tipo meramente nacional ou racial, mas a realização da mulher como mulher, a realização, em carne e osso, do Eterno Feminino.

Sarada Devi: Sua Eminência Espiritual
O próprio Sri Ramakrishna reconheceu a eminência espiritual de Sri Sarada Devi. Diferente do rumo geral dos aspirantes espirituais que abandonam todos os contatos mundanos ao entrarem na vida religiosa, para quem existe as sanções das leis religiosas e costumes por trás deles, Sri Ramakrishna acolheu Sarada Devi ao seu lado quando ela, no devido tempo, veio requerer seus direitos junto a ele. É um episódio profundamente comovedor das suas vidas, que ajuda a revelar a essência dos dois. Sri Ramakrishna estava em Dakshineswar, passando por verdadeiras tempestades de estados e experiências espirituais; exceto por duas ocasiões das suas curtas visitas à aldeia natal, ele não havia se encontrado com sua legítima esposa nesses dose longos anos e aparentemente parecia ter se esquecido dela.
Sarada Devi, então com dezoito anos, entrou em seu quarto tarde da noite depois de uma árdua jornada da sua aldeia natal na companhia de seu pai. Ela tinha receios em seu coração devido aos rumores que tinha ouvido em sua aldeia sobre a transtornada condição mental de seu marido, e sobre o seu conhecimento da completa indiferença que ele demonstrava pelos assuntos mundanos. Mas Sri Ramakrishna, embora um pouco surpreso com a sua chegada inesperada, a acolheu com muita cordialidade, acomodando-a em seu próprio quarto para facilitar ao atendimento médico e cuidados necessários ao seu corpo acometido pela doença e pela fadiga durante a longa caminhada. Ela reconheceu nele o mesmo amável e divino marido que havia conhecido durante as suas visitas anteriores à aldeia. Um dia, quando ela estava mais confortável, Sri Ramakrishna lhe falou assim:
'Quanto a mim, a Divina Mãe mostrou-me que Ela habita em toda mulher, e sendo assim, aprendi a olhar para toda mulher como Mãe. Essa é uma idéia que posso ter sobre você; mas se você deseja me arrastar para o mundo, como me casei com você, estou a seu dispor.'
A essa complicada questão de seu marido divino, Sarada Devi deu esta simples resposta:
'Por que eu desejaria arrastar sua mente para o plano mundano? Eu vim somente para ajudá-lo no caminho escolhido. Desejo apenas viver com você, servi-lo e aprender com você.'
Esta resposta de sua pura e imaculada esposa agradou imensamente a Sri Ramakrishna, que experimentou uma grande ascensão de força espiritual. Sua missão, no mundo, de fazer a humanidade se tornar consciente da sua natureza divina inata não seria um esforço solitário; ele reconheceu em Sarada Devi uma companheira em sua nobre missão; com um ano da sua chegada, ele confirmou a verdade desta elevada consideração da sua esposa através do Shodasi puja em 1872. Desde então até o final da vida dele, por quatorze anos inteiros, Sarada Devi serviu a pessoa de Sri Ramakrishna e a um grande número de discípulos e devotos que o visitavam, com uma rara devoção e uma impessoalidade sem par na história humana. Foi também o período da sua intensa educação espiritual sob a orientação de seu divino esposo. Ela se referia a este período como uma experiência contínua de intensa felicidade. Por meses viveram no mesmo quarto e dormiram na mesma cama, sem qualquer traço de pensamento carnal em mente. Suas mentes planavam constantemente na região da divina consciência e felicidade; cada um foi transfigurado pelo outro; e ambos se tornaram instrumentos para o cumprimento da vontade divina. O imenso reservatório de energia espiritual--divina shakti—que foi gerada pelas sâdhanâs de Sri Ramakrishna e Sarada Devi encerram a promessa da evolução espiritual da humanidade moderna que lamentavelmente sente sua trágica pobreza espiritual em meio à abundante riqueza material.

Seu Papel como Mestra Espiritual
Sri Ramakrishna deixou este mundo em 1886. Sarada Devi tinha então trinta e três anos. Tendo vivido num plano não físico de relacionamento com seu marido, ela não experimentou o sentimento de viuvez quando da morte deste. Para ela, ele continuou a ser uma realidade vivente até o final dos seus dias. E pelos trinta e quatro anos seguintes, ela viveu uma vida complexa em seus papéis e variada em sua riqueza, doce e silenciosa, que ganhou para si o carinhoso título de 'Sri Ma', 'a Santa Mãe', pelo qual passou a ser conhecida. Ela foi convocada a ser a guia espiritual dos monges da Ordem Ramakrishna, constituída inicialmente pelos discípulos diretos de Sri Ramakrishna sob a liderança do Swami Vivekananda; e a ser guru de um crescente círculo de homens e mulheres famintos de espiritualidade. Sua eminência espiritual e o poder divino da sua personalidade capacitaram-na a desempenhar este significativo papel com facilidade e naturalidade. Mas foi no papel de uma mulher do lar, no seio do seu próprio círculo familiar constituído por seus irmãos de sangue, cunhadas, e sobrinhos, que a santa mãe manifestou uma faceta exclusiva do seu caráter e personalidade. É este aspecto da sua personalidade que provê um magnífico exemplo de espiritualidade prática capaz de inspirar a todos os homens e mulheres. A monja brilhou através da dona de casa, e ambas brilharam através do coração de uma mãe amantíssima. Longe de se esquivar de um mundo de distrações, ela o abraçou, envolvendo-o em seu amor. E no meio de milhares de distrações, preservou a naturalidade e a paz de sua personalidade.

Sua Maternidade de Natureza Divina
Verificação é prova de uma teoria ou de uma afirmação. Somente o teste da vida demonstra a genuinidade de uma virtude moral ou de um valor espiritual; virtudes são melhor examinadas no infortúnio que na boa fortuna. É bastante fácil manter-se a postura e a elegância nos bons tempos; mas é somente no mau tempo que comprovamos a sua genuinidade. A tranqüilidade, postura, elegância, e o espírito de amor incondicional e serviço impessoal, que Sarada Devi expressou em sua vida diária no contexto de um ambiente altamente perturbador de total materialidade, a possessão deste poder por um homem ou uma mulher os torna puros e santos. A expressão deste poder na vida é amor.
Sarada Devi foi a verdadeira personificação desta pureza, santidade, e amor que é o significado do ideal de maternidade em sua melhor e mais elevada acepção. Sua pureza está incorporada no coração de cada mulher. Uma mulher comum apreende em sua vida somente uma fração deste ideal pelo qual ela resplandece em terna amabilidade e santidade. Uma função meramente biológica se torna elevada graças ao insuflo de um valor espiritual. Mas este valor espiritual resplandeceu em sua plenitude, ainda que fora do contexto biológico, na personalidade da Santa Mãe, demonstrando por isso o ideal em sua forma simples. Fora a abundância do seu coração, ela deu seu amor a todos sem qualquer distinção, justificando assim o carinhoso epíteto de ‘Santa Mãe’.
Fora do comum em todos os valores básicos de caráter e personalidade, porém ocultando-os sob o manto da simplicidade na esfera do físico e social, a Santa Mãe ilude a compreensão das mentes comuns, mas revela a sua verdadeira forma a todos os buscadores dos valores fundamentais. Não disse Sri Ramakrishna sobre ela? 'Ela é Sarasvati, a deusa da Sabedoria, que veio para distribuir conhecimento espiritual à humanidade.' E não disse ela com respeito si mesma: 'Sri Ramakrishna deixou-me aqui para manifestar o ideal da Maternidade Divina.'

Fonte:http://www.vedantarj.org.br/SITE/Portugues/VEDANTA/maedivina.htm

Ensinamentos de Sathya Sai Baba


"Onde está a Retidão? Ela está em sua conduta, em seus pensamentos, em suas palavras e em suas ações. A Retidão mora em seu coração. Quando os impulsos que surgem do coração são expressos em palavras, isso é Verdade (Sathya). Traduzir tais palavras em ação é Retidão (Dharma). Para tudo isso, o Amor é o requisito principal. Amor na ação é Retidão. Amor na fala é Verdade. Amor no pensamento é Paz Interior. Amor na compreensão é Não-violência. Quando você percebe que Deus está em todos, você praticará a não-violência. Deus é somente um, embora Ele possa ser adorado em Formas diferentes e através de Nomes diferentes: Rama ou Krishna, Alá ou Jesus, Hari ou Sai."


"Deus é o amor encarnado. Esse amor brilha igualmente em cada ser humano. A fragrância de uma flor permanece a mesma se a flor estiver na mão direita ou na esquerda. Igualmente, Deus não faz qualquer tipo de distinção, tais como favorecidos e excluídos. Mas as pessoas de mente estreita não podem entender facilmente a imparcialidade do Divino. Cada um percebe os poderes e os atributos de Deus de acordo com suas próprias concepções e experiências limitadas. Pessoas diferentes, dependendo de suas próprias preferências ou aversões, atribuem ao Divino as diferenças que existem em suas próprias mentes. Deus não faz distinções, como bom e mau, agradável e repugnante, pernicioso e virtuoso. A árvore do sândalo concede sua fragrância até mesmo ao machado que a derruba. Do mesmo modo, Deus está sempre preparado para amar, nutrir e proteger todos igualmente."


"Você tem hoje, no mundo, homens de riqueza, de força, de erudição e de virtude. Mas há poucos que perceberam o Ser Superior. Ignorando o Ser Superior, de que servem todas as outras posses, que são temporárias e evanescentes? De que serve o conhecimento sobre o mundo, quando você não está ciente de si mesmo? É por isso que a Filosofia Védica (Vedanta) roga a cada um para que descubra a verdade sobre si mesmo. Autoconhecimento é a chave para todo o conhecimento. Para isso, você deve aproximar-se da pessoa certa para lhe ensinar os meios para descobrir seu verdadeiro Ser. Se não estiver preparado para empreender essa auto-indagação, cultive a fé, se não em Deus, pelo menos em seu próprio Ser. O homem que não tem fé em si mesmo não pode ter fé em ninguém; ele não pode ter fé em Deus. Torne a fé (Vishwasa) sua respiração vital (Shwasa)."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dançar é minha prece mais pura - (video e poesia)



"Dançar é minha prece mais pura
Momento em que meu corpo vislumbra o divino,
Em que meus pés tocam o real
Religiosidade despida de exageros,
Desejo lascivo, bordado de plenitude
Através de meus movimentos posso chegar ao inatingível
Posso sentir por todos os corpos,

abraçar com todo
o coração,
E amar com os olhos
Cada gesto significativo desenha no espaço o infinito,
Pairando no ar, compreensão e admiração
Iniciar uma prece é como abrir uma porta
Um convite a você, para entrar em meu universo
O mágico contorna minha silhueta, ao mesmo tempo
Que lhe toco sem tocar
Nada a observar, só a participar
Esta prece ausente de palavras
É codificada pela alma
E faz-nos interagir, de maneira sublime e hipnótica
Quando eu terminar esta dança,
Estarei certa de que não seremos os mesmos."



"Vê-la dançar é participar da força criadora que vibra no Cosmos; massa negra e pulsante explícita nos olhos e cabelos de Jhade. (...) Mãos se elevam em serpente e cortantes transformam em som o poder telúrico de seu ventre. Que os sons, manifestos em seu corpo, subam de encontro com o Eterno e sejam ouvidos além do tempo." (por W. Hassan)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Desejo - (Gangaji)


Encontro Público em Marin County, Califórnia - 2 de março de 2003

"Uma das áreas mais delicadas da compreensão espiritual, e talvez a que tenha sido mais mal-entendida, tem a ver com a questão do desejo. Não me lembro do que as religiões ocidentais dizem sobre ele, mas lembro que o Budismo basicamente afirma que o desejo é a causa do sofrimento. No passado, eu entendia que isso significava que desejo era ruim. Portanto, eu tinha que começar desejando me livrar do desejo; este era meu desejo total. E toda vez que eu sofria, isso era prova de que eu desejava alguma coisa e, assim, meu desejo de me livrar do desejo aumentava. E que peso eu estava carregando! Até que cheguei a um ponto em que fui dominada pelo sentimento da futilidade de tentar cortar o desejo pela raiz, seja através da prática da meditação, de retiros ou da prática da atenção passiva. Fui dominada pela sensação de fracasso. Tudo que eu desejava àquelas alturas era um mestre; isso era tudo que eu sabia. E o meu mestre apareceu: Papaji. E me disse: "Se você deseja a liberdade acima de tudo mais, isso vai satisfazer todos os outros desejos. Este desejo satisfaz todos os desejos". Como o reconheci como meu mestre, escutei muito atentamente e me rendi ao simples, vasto e antigo desejo de liberdade. E este desejo satisfez todos os outros desejos, mas não de uma maneira que possa ser entendida mentalmente.

Por isso, hoje quero falar brevemente sobre o desejo. Podemos falar sobre o desejo egóico e o desejo verdadeiro. Ou podemos falar sobre o desejo em fixação e o desejo natural: o desejo celular de viver, de se alimentar.

Mas, para falarmos muito simplesmente, podemos discutir o desejo que não causa problemas e o desejo que causa problemas. Se não transformarmos o desejo em algo que causa problemas, algo errado, poderemos simplesmente observá-lo, para que possamos dizer a verdade com habilidade. Há uma espécie de maturidade que pode surgir quando simplesmente se diz a verdade.

Se há um desejo de amor, não há problema. Mas, se há um desejo de que o amor se manifeste de uma determinada maneira, numa determinada hora, isto é um problema. Se ele não se manifestar desta maneira determinada, há sofrimento; e se o amor se manifestar da maneira desejada, acredita-se que se manifestou assim por causa do desejo. Então, há um desejo adicional de mantê-lo, de se apegar a ele, de protegê-lo; e isso alimenta mais desejo. O desejo de amor, desprovido de qualquer forma, é na verdade o desejo de si mesmo. Não há problema então, porque o amor está aqui, mesmo que não seja da forma que você acha que deveria estar, que você aprendeu, ou que lhe ensinaram que estaria aqui.

Se há um desejo de paz, isto é bonito e verdadeiro. Mas, se é um desejo de paz nos seus próprios termos, da maneira e quando você a imagina, este é um desejo problemático. Se há um desejo de justiça, este é um desejo natural. Mas, se há vestígios de vingança, ódio ou medo neste desejo de justiça, ele é problemático. Pode haver um desejo de liberdade, mas se há uma idéia de como a liberdade deve se manifestar, de que ela pode ser limitada, este é um desejo que causa problemas. Será que esqueci algum desejo? O desejo da verdade é um belo desejo. Quando surge na consciência, o desejo da verdade é um acontecimento importante e evolutivo. Mas, se for simplesmente atirado no velho caldeirão de sempre, ele vira "eu e minha verdade, da maneira como eu a vejo"; ou "a verdade da maneira que acho que deveria ser". Isto causa muitos problemas para todo mundo. Quanto mais profundo o desejo, maior o potencial para causar problemas.

A verdade é que esses desejos realmente surgem e eles não são um problema. O problema é o que a mente, o entendimento ou o condicionamento fazem com o desejo, na esperança de escapar ao seu poder. O desejo de amor é poderoso. O desejo de liberdade, de verdade, de paz, é enorme. Este poder é uma espécie de tortura. E, com o desejo de fugir a esse desconforto, há uma tendência a criar receitas de como satisfazê-lo, como conservar esta satisfação ou que aparência ela deve ter. Não sou contra visualizações, formulações ou o estabelecimento de objetivos. Tudo isto tem seu lugar. De verdade, tudo tem seu lugar. Mas, para o nosso propósito, a visualização neste contexto é inútil; ela é um obstáculo e uma distração. A paz verdadeira, o amor verdadeiro, a verdade verdadeira, a verdadeira justiça, a verdadeira liberdade, o verdadeiro você, não podem ser visualizados. Paz mundial? Sim, visualize-a. Isto é útil. Isto mantém a mente ocupada. Justiça mundial? Visualize-a. Mas justiça, verdade, amor, a paz que é eterna, tudo isto está aqui agora: presente em plena experiência de ausência de amor, a experiência de guerra, de injustiça, ou na experiência de ego. Isto precisa ser comunicado. Esta é a tarefa que me foi dada e é dada a você, ou não estaríamos tendo esta conversa."

Pensamentos - (Simone)



"Pensamentos que me afligem
Sentimentos que me dizem
Dos motivos escondidos
Na razão de estar aqui
As perguntas que me faço
São levadas ao espaço
E de lá eu tenho todas
As respostas que eu pedi
Quem me dera
Que as pessoas que se
encontram
Se abraçassem
Como velhos conhecidos
Descobrissem que se amam
E se unissem na verdade dos
amigos

E no topo do universo
Uma bandeira
Estaria no infinito iluminada
Pela força desse amor
Luz verdadeira
Dessa paz tão desejada
Pensamentos que me afligem
Sentimentos que me dizem
Dos motivos escondidos
Na razão de estar aqui
E eu penso
Nas razões,na existência
Contemplando a natureza nesse
mundo
Onde às vezes
Aparentes coincidências
Têm motivos mais profundos
Se as cores
Se misturam pelos campos
É que flores diferentes vivem
juntas
E a voz dos ventos
Na canção de Deus
Responde todas as perguntas
Pensamentos que me afligem
Sentimentos que me dizem"
(Composição: Roberto Carlos/Erasmo Carlos)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Átma vichára, a meditação no Ser - (Ramana Maharshi)



"Quem sou eu, que não sou este corpo?
Sou o ser (que é imaterial, imutável e imperecível).
Quem sou eu, que não sou esta mente que pensa?
Sou o ser (que é serenidade e paz).

Quem sou eu, que não sou os cinco sentidos?
Sou o ser (que é silêncio e comunhão).
Quem sou eu, que não sou as emoções?
Sou o ser (que é ponderação e equilíbrio).

Quem sou eu, que não sou sensações?
Sou o ser (que é satisfação).
Quem sou eu, que não sou desejo, necessidade, vontade?
Sou o ser (que é plenitude).

Quem sou eu, que não sou passado, presente e nem futuro?
Sou o ser (que é atemporal, eterno).
Quem sou eu, que não sou ego, personalidade?
Sou o ser (que é tudo).

Quem sou eu, que não sou os papéis que represento?
Sou o ser (que é a verdadeira natureza, a verdadeira identidade).
Quem sou eu, que não sou individualidade?
Sou o ser (que é uno).

Quem sou eu, que não sou orgulho e vaidade?
Sou o ser (que é simplicidade).
Quem sou eu, que não sou insegurança e medo?
Sou o ser (que é luz)."


* Esta técnica é a que melhor exemplifica o Jñána Yoga, o Yoga do conhecimento verdadeiro. Átma vichára é o questionamento sobre a natureza real da alma. Esta técnica tem como objetivo eliminar as falsas idéias sobre o Eu e o ego, e nos ensinar a separar o espectador do espetáculo, a consciência que vê e o que é visto.

(Extraído do livro Guia de Meditação)

(Bhagavad Gita, II.62,63,65)

"O pensar em objetos dos sentidos
Fará com que você se apegue a eles.
Fique apegado e tornar-se-á viciado;
Impeça os seus vícios e ficará colérico;
Fique irado e sua mente tornar-se-á confusa;
Conturbe sua mente e esquecerá a lição da experiência;
Esqueça a experiência e perderá o discernimento;
Perca o discernimento e perderá o único objetivo da vida.
A mente descontrolada
Não percebe que o Atman está presente:
Como pode ela meditar?
Sem a meditação, onde estará a paz?
Sem paz, onde estará a felicidade?"

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Para além da noite escura da alma - (Gangaji)


(Intensivo em San Diego, Califórnia - 7 de março de 1997)

"Há um determinado nó na investigação espiritual que precisa ser desfeito, que necessita ser desemaranhado. Ele não é novo. Você certamente já ouviu falar dele. Trata-se da tendência e o hábito de buscar a verdade, a perfeição ou a realização fora de si mesmo. É importante compreender como isso acontece. E talvez esta compreensão possa ser o meio de desatar este nó tão apertado.

No decorrer de uma vida, pode ocorrer um momento precioso e importante, no qual se reconhecem os maus hábitos, os vícios, o horror, a violência e a imundície que temos chamado de "eu". É um grande choque, um grande abalo; isso é muito importante, caso contrário, o horror e a imundície simplesmente continuam a ser acumulados, em nome e a serviço da exultação de "mim" e da "minha história". Este reconhecimento é um choque espiritual, e pode haver (e geralmente há) um grande estremecimento, seguido de um desejo de descobrir o que é verdadeiro, o que é real, o que é puro, o que é sagrado, o que é livre. Portanto, a busca começa "lá fora".

Temos muitos exemplos primorosos de "lá fora". Em todas as épocas, houve sábios, santos, messias, homens e mulheres para quem podemos apontar e dizer: "Está presente neles. Por que não consigo chegar lá?" Então, há muitas tentativas de consertar o que se percebe como revoltante e limitado, para que possa ser mais como o que se imagina que é puro e sagrado. Todos vocês já tentaram isso. Isso não é nenhuma novidade, certo? Há esforço e trabalho, um sentido de estar ganhando terreno, e uma sensação de estar perdendo terreno, até que, finalmente, ocorre um outro grande choque espiritual. Eu o chamo de "a grande desilusão". Quando se reconhece que toda tentativa de consertar o caráter, a personalidade, os hábitos ou os vícios nem sequer toca aquele o abismo de separação entre quem você é e a própria perfeição, há uma grande desilusão. Um abismo enorme aparece então. Este é o anseio da alma por Deus. E você vê claramente que todo o esforço, a luta, a áspera escalada, com todos os seus ganhos, ainda não tocaram a profundeza deste anseio. Isto é crucial. Esta é a noite escura da alma. É o reconhecimento de que "Eu nunca conseguirei fazer isso. Eu tentei, trabalhei duro, mas jamais conseguirei fazê-lo."

Há muitos caminhos que podem desviá-lo deste momento. Você pode encorajar a si mesmo com pensamentos como este: "Sim, você pode fazer isso. Espere e Deus virá até você. Esforce-se mais. Não desanime."

Mas, em vez de seguir qualquer um destes atalhos, eu o convido a deixar-se cair no fio desta espada de dois gumes: a desilusão e o anseio. Caia bem no meio, para que a espada dilacere este sentido de um abismo de separação. Caia direto dentro do abismo. Recuse-se a seguir qualquer caminho que possa lhe trazer conforto ou esperança ou, a estas alturas, até uma crença. Na verdade, disponha-se a encarar a espada, e deixe que ela dilacere o seu coração.

Este é o verdadeiro convite do satsang. É um convite radical: aceitar não se mover diante do anseio, da desilusão, para descobrir: Quem sou eu, realmente? O que está aqui realmente? É aceitar ver o que existe em um nível mais profundo do que a percepção; o que é mais profundo do que se percebe com os sentidos. É aceitar morrer. Todo o condicionamento é para não morrer. Todo o apoio, a esperança e a crença são de que "Eu não vou morrer", ou "Se eu morrer, irei para o céu, onde me encontrarei com minha avó, ou meus amigos que já foram antes de mim". Por debaixo de todas estas esperanças e crenças está este anseio. Convido você a mergulhar neste anseio. Não na história do anseio, mas no próprio anseio. Ele não está separado da desilusão. A verdadeira desilusão é sagrada: a ilusão é destruída. E o que não pode ser imaginado, o que não se sujeita à estimulação da mente é revelado.

É maravilhoso encontrar alguém, ou viver um momento que abala a ilusão e, embora isto mereça ser reverenciado, é muito importante ver como a mente individual cria um abismo de separação. Todos os grandes mestres disseram que "Você e eu somos um", "Eu e meu pai somos um" ou "Tudo é o mesmo Ser." É irônico como a mente transforma isto em uma ilusão de separação: "Ele e seu pai são um", "Ela e eles são o mesmo", ou "Tudo é um, menos eu; eu fui excluído." Isso soa familiar, não é? Esses hábitos do pensamento são fortes e são reforçados mais ainda, mesmo com as melhores intenções. Com a disposição de parar de alimentar estes hábitos de pensamento, o anseio e a desilusão são encarados diretamente, assim como Cristo na cruz encarou o aparente abandono de Deus.

Isto é oferecido a todos. De alguma maneira, você aceitou o convite até um certo ponto. Mas há sempre mais. Vá mais fundo, penetre mais profundamente, até você, finalmente, não conseguir encontrar distinção entre dentro e fora, entre pai e filho, entre Deus e alma, entre mim e você. Esta é a possibilidade revelada pelo convite ao satsang. Isto é possível para você também. Não se limita ao Buda ou a Cristo. Não se limita a Ramana. Não se limita a Gangaji. Não se limita a nada, e este é o maior ensinamento. Ela é ilimitada. A presença de Deus é onipresente; está em toda parte, o tempo todo.

Esta é a promessa de todos os grandes ensinamentos. É a mensagem que o guru do meu guru transmitiu a ele. É a mensagem que meu guru transmitiu a mim. É a mensagem que é livremente transmitida a você. É a mensagem que vem do mais íntimo do seu ser. A disposição de entrar está em simplesmente receber o que já existe no mais íntimo do seu ser. Não um outro dia, mas agora mesmo: sempre agora. E eu lhe dou as boas-vindas. Dou-lhe as boas-vindas ao entrar. O que parece estar fora também está dentro.

Duas semanas atrás eu não sabia o que era satsang nem quem era Gangaji. Mas quando vi o seu vídeo e olhei em seus olhos, o anseio foi preenchido. Não vi uma forma, vi meu coração."

Que sorte que o anseio estava tão perto, que já não estava mais escondido. De alguma maneira, ele eclodiu para encontrar a si mesmo.

Quarenta e tantos anos de anseio...

Quarenta milhões de anos! Muito mais do que esta vida, na verdade. Você nem precisa acreditar em reencarnação. Nossos genes são codificados pelas vidas de nossos ancestrais e os desejos, realizações e decepções de, pelo menos, quarenta milhões de anos.

O que você acaba de dizer foi perfeito. Descreveu esta jornada. Há duas semanas, fiquei apavorada quando tive que encarar completamente o terror de cair sobre aquela espada... E foi... Todo o terror passou. A idéia de que somos este pequeno conceito imaginado é uma grande mentira. Até aquele momento, o terror era apenas um pensamento, apenas uma história, algo pelo que eu tinha que passar. Estou tão contente.

Eu estou tão contente! Que boas novas!

Aquela profundeza me aterrorizava, porque eu não sabia quem eu era; estava com tanto medo de vivenciar o que estava do outro lado. Isto aconteceu em conseqüência de um ajuste de contas com o fato de ter sido abandonada. Eu tinha imaginado que morreria e, num certo sentido, morri. Mas o jeito é passar por isso. Estou tão grata por ter confiado o suficiente, e ter visto que o convite era para receber, para render-me àquilo que somos. Até aquele momento de entrega, doce rendição, eu nunca tinha vivido a entrega em minha vida. Por isso estou tão agradecida, porque ouvi o seu chamado. Eu não percebo você na forma. Vejo meu coração em você."

Sim, seu coração aí e seu coração aqui. Estas são boas novas para todo o planeta. As reverberações destas boas novas são imensas. O cosmos inteiro participa deste despertar.

Então, agora eu caminho como amante, em vez de tentar ser amada e o meu anseio mais profundo (porque ele se aprofunda cada vez mais) é que aqueles que tiverem contato comigo também perceberão você em mim.

Aleluia! Isso mesmo. Que todos os seres despertem para si mesmos.

O repouso é profundo.

Sim.

Eu te amo.

Namastê."

Agora: onde o dentro mora - (Satyaprem)



"Você tem que se acomodar no silêncio do Agora. Só tem um lugar para ficar, e esse lugar lhe é dado, naturalmente, de presente. Ele é absolutamente o lugar mais relaxante de você Ser. Seja Agora! E veja o que você colhe desse "Ser Agora".

Se você se aquieta, você nota que aqui e agora não tem mente. E mesmo que ela apareça, como você não está a alimentando, ela desaparece. É como se a energia que estava focada antes em algum lugar, é desfocada. O seu corpo-mente tem sempre um impulso, porque a natureza do corpo-mente é movimento. Parada, a mente não existe. Ela sabe que parada, some. Então, ela se alimenta, ela tem sempre que fazer alguma coisa. É o movimento da mente e do corpo que faz a manutenção da idéia que você tem de quem você seja. Se você começa a se aquietar, essa idéia não é mais retroalimentada. Essa idéia começa a sumir e começa a aparecer algo novo: você começa a se tornar consciente de que você não é o que você pensa que é.

Você permanece sendo quem você pensa que é, simplesmente, relembrando o passado. Sua memória tem um poder e se você nota isso, você pára de contar sua história e começa a ficar no Silêncio. Então, a história do Silêncio - que não é uma história - começa a ser contada para você. Agora você olha para o Agora. E, nisso, nasce um "novo você".

A ênfase em olhar para dentro tem que ser absoluta. Se você olhar para o lado externo, o que você vê? Limitação, em todos os lugares. Se você olhar para fora, tudo o que você vê é limite, inexoravelmente. Se você vê isso, você tem que antever que esse corpo e essa mente têm limites, porque eles foram criados por pessoas altamente limitadas pelo tempo, pela cultura imposta. Claro que você pode trabalhar isso, mas, mesmo assim, não há ilimitado na mente e no corpo.

A partir daí nasce uma outra possibilidade: como não olhar para o outro com compaixão, se você tem limites também? Nasce uma relação diferente. Você não mais exige do outro algo que ele não tenha condições de lhe dar. Você não está aqui para preencher o outro, porque o seu preenchimento não vem de fora para dentro, e sim: de dentro para fora.

A ênfase é: vá para dentro! E na medida em que você vai para dentro, você vê que as pessoas estão nesse atropelo, nessa ansiedade, nessa angústia, nesse medo, porque tudo que elas têm está do lado de fora. Você tem que começar a ver isso no seu dia-a-dia. Comece agora! Este é um bom momento.

Neste instante: quem é você? Para onde você olha para responder esta pergunta? Olhe para dentro! Comece a entender o que "dentro" seja. E, de dentro, não pode surgir resposta nenhuma, a não ser Silêncio, relaxamento e paz. Toca nisso, se desmancha nisso... Já está aqui e agora!

Meditação, então, não é uma técnica ou algo a ser feito, é algo inerente, que está dentro de você. Basta olhar para dentro."


Trecho do Satsang em Avaré/SP, 05 de junho de 2004.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

UMA CANÇÃO DE SAMADHI - (Traduzida do Bengali)

"Veja! O sol não mais existe, nem a graciosa lua,
Toda luz se extinguiu; no grande vazio do espaço
Flutua como uma sombra a imagem do universo.

No vazio da mente involuída, lá flutua
O universo que se move, ergue-se e de novo cai,
Afunda de novo, incessantemente, na corrente do "Eu".

Lentamente, bem lentamente, a multidão de sombras,
Entrou no ventre original e fluiu sem cessar,
Pela única corrente do "Eu sou", "Eu sou".

Veja! Tudo parou, mesmo aquela corrente não flui mais,
Vácuo mergulhado no vácuo - para além de toda palavra e mente!
Para aquele cujo coração, em verdade, tudo compreende." (IV. 498)

O DIVINO – UMA CERTEZA CONCRETA - (Aurobindo)


Comecei a escrever sobre a dúvida, mas mesmo ao fazê-lo, sinto-me assaltado pela "dúvida" se qualquer quantidade de escritos ou de outra coisa poderá algum dia persuadir a eterna dúvida no homem, que é a penalidade de sua ignorância natural. Em primeiro lugar, escrever adequadamente, significaria algo de 60 a 600 páginas, mas nem mesmo 6.000 páginas convincentes convenceriam a dúvida. Porque a dúvida existe por si mesma; sua verdadeira função é duvidar sempre e, mesmo quando convencida, continuar ainda duvidando. É apenas para persuadir aquele que a alimenta a lhe dar casa e comida que ela pretende ser uma honesta pesquisadora da verdade. Esta é uma lição que aprendi com a experiência, tanto de minha própria mente como a dos outros; o único meio de se livrar da dúvida é tomar a discriminação como o próprio detector da verdade e falsidade e, sob sua guarda, abrir a porta livre e corajosamente à experiência.

Não obstante, comecei a escrever, mas não principiei pela dúvida, mas pela procura de Deus como uma certeza concreta, tão concreta como qualquer dos fenômenos físicos captados pelos sentidos. Ora, de certo o Divino deve ser tal certeza, não apenas tão concreta, mas mais concreta do que qualquer coisa percebida pelo ouvido, ou pela vista, ou pelo tato, no mundo da matéria, mas é uma certeza, não do pensamento mental, mas da experiência essencial. Quando a Paz de Deus desce sobre você, quando a Presença Divina se faz sentir dentro de você, quando a Ananda* se precipita sobre você como um mar, quando você é levado como uma folha ao vento pelo sopro da Força Divina, quando o Amor desabrocha e flui de você sobre toda criação, quando o Divino conhecimento inunda-o como uma luz que ilumina e transforma num momento tudo que antes era sombrio, triste e obscuro, quando tudo o que é, se torna parte da Realidade única, quando a Realidade é tudo à sua volta, você sente, de repente, pelo contato espiritual, pela visão interior, e mesmo pelo próprio físico, em todo lugar, você vê, ouve e toca apenas o Divino. Então você pode muito menos duvidar Dele ou negá-Lo do que poderia negar ou duvidar da luz do dia ou do ar ou do sol no céu - porque destas coisas físicas você não pode ter certeza, porque elas são o que seus sentidos lhas representam ser; porém nas experiências concretas do Divino, a dúvida é impossível.

Quanto à permanência, você não pode esperar, desde o começo, permanência de experiências espirituais iniciais somente uns poucos as têm e mesmo para eles a alta intensidade não está sempre presente; para a maioria, a experiência vem e se retira para detrás do véu, esperando que a parte humana esteja preparada e pronta para suportar e reter seu crescimento e sua subseqüente permanência. Porém, duvidar dela por essa razão seria irracional ao extremo. Não se duvida da existência do ar porque um vento forte não está sempre soprando ou da luz do sol porque a noite intervém sobre a aurora e o crepúsculo. A dificuldade reside na consciência humana normal para a qual a experiência espiritual vem como algo anormal e é de fato supranormal. Esta débil normalidade limitada, a princípio, acha até mesmo difícil conseguir algum toque desta experiência supranormal maior e mais intensa; ou ela a consegue diluída em seu próprio estofo embotado da experiência mental ou vital, e quando a experiência espiritual vem realmente, em seu próprio poder esmagador, muitas vezes ela não a pode suportar ou quando o consegue, não a pode conservar e guardar. Contudo, se uma brecha tiver sido feita nas paredes construídas pela mente contra o Infinito, a brecha se alarga, às vezes vagarosamente, às vezes rapidamente, até não existir mais parede alguma e se estabelecer a permanência.


(Texto extraído do inspirado livro “Sabedoria de Sry Aurobindo” – Editora Shakti.)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Poesias e Pensamentos - Lya Luft


Guardei-me para Ti
"Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.

É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei."



Canção do Amor Sereno
"Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua , e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina."



Canção para um Desencontro
"Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo
um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho, dos teus
desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.

Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca
deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia."



"A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida. Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença. Não importando nada."

Desejo - A Tigela de Esmolas Mágica - (Osho)


Quando você deseja algo, sua alegria depende disso. Se esta for retirada de você, você se sente miserável. Se for dada a você, você ficará feliz, mas só por uns momentos. Isso também precisa ser compreendido. Sempre que seu desejo é realizado, ele o é apenas naquele momento em que você sente o prazer. É passageiro, pois assim que você conseguir o que queria, sua mente novamente começa a desejar mais, desejar outras coisas.

A mente existe no ato de desejar e, portanto, a mente nunca pode deixá-lo sem desejos. Se você não estiver desejando nada, a mente morre imediatamente. Esse é todo o segredo da meditação.


Um mendigo bate à porta do palácio do imperador de manhã cedo. O imperador estava saindo para passear pelo seu lindo jardim e não havia nenhum guarda com ele para impedir a aproximação do pedinte.

O imperador disse: “O que você quer?” O mendigo respondeu: “Antes de perguntar isso, pense duas vezes!” O imperador nunca tinha visto um homem tão valente. O imperador havia lutado em guerras, obtido vitórias, havia deixado claro que ninguém era mais poderoso do que ele, mas, subitamente, esse pedinte lhe dizia: “Pense duas vezes naquilo que está dizendo, pois você talvez não seja capaz de realizá-lo.”

O rei disse: “Não se preocupe, isso é problema meu. Diga apenas o que quer e será feito!”

O mendigo disse: “Você vê minha tigela de esmolas? Quero que ela seja preenchida! Não importa com o quê, a única condição é que ela fique cheia. Você ainda pode dizer não, mas se disser sim, estará correndo um risco.”

O imperador riu. Só uma tigela de esmolas!... e o mendigo pedia para ele ter cuidado? Ele ordenou a seu primeiro-ministro que enchesse a tigela com diamantes, para que esse mendigo soubesse com quem ele estava falando.

O mendigo disse novamente: “Pense duas vezes.” E logo ficou claro que o mendigo estava certo, pois no instante em que os diamantes foram colocados na tigela de esmolas, simplesmente desapareceram!

Os boatos se espalharam rapidamente pela região. Milhares de pessoas vieram para ver o fenômeno. Quando as pedras preciosas acabaram, o rei disse: “Tragam todo o ouro e prata, tragam tudo! Todo meu reino, toda minha integridade está em jogo.” Mas no final da tarde tudo havia desaparecido e sobraram somente dois pedintes. Um deles era o imperador.

O imperador disse: “Antes que lhe peça perdão por não ter escutado seu aviso, por favor, me diga o segredo dessa tigela de esmolas.”

O mendigo disse: “Não há nenhum segredo. Eu a poli, fiz com que se parecesse com um prato, mas é um crânio humano. Você pode colocar o que quiser aí dentro que irá desaparecer.”

Essa história é significativa. Você já parou para pensar na sua própria tigela de esmolas? Tudo some: poder, prestígio, respeito, riquezas. Tudo isso desaparece e sua tigela de esmolas continua abrindo a boca e pedindo mais. E esse ‘mais’ o tira daqui. Esse desejo lhe afasta desse momento.

Há somente dois tipos de pessoas no mundo: a maioria corre atrás de sombras e suas tigelas de esmolas permanecerão vazias até que eles entrem em seus túmulos. Uma minoria bem pequena, uma pessoa em cada milhão, pára de correr, põe de lado todos os desejos, não pede mais nada. E subitamente encontra tudo dentro de si.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Alguém Total - (Ceumar)



"Vem me abraçar, vem
Vem reparar bem
Quem é que abraçou quem
Pois vou lhe abraçar também

Quem dá um abraço
Não sabe se deu
Ou se devolveu
Ou se perdeu
Quando o abraço sai alguém e não volta
Não envolveu
Anunciou
Renunciou
Dissolveu

Quem quer um pedaço
Um pouco de alguém
Abraçando tem
E ainda mais
Se o abraço for além de um minuto
Aí é fatal
Envolveu
Você tem
Um alguem Total"


*"Será que o valor de uma coisa deve ser medido pelo seu preço? O que realmente conta é o amor e a devoção com que ela é oferecida."
( Sri Sarada Devi)

UMA SALVA DE PALMAS PARA O EGO! - (Fonte: ESPAÇO DE HANKARRA)

Encerrou-se mais uma peça no palco do universo.

De forma clássica e categóriga mais um ego findou sua apresentação!

Muitos aplaudiram de pé sua atuação magnífica! Cheia de fervor, cheia de emoção, cheia de tensão do início ao fim.

O ego sentia-se satisfeito com sua performance! Sentia-se no auge da carreira!

Causou em muitos expectadores sentimentos de medo, pavor, curiosidade, aflição, angústia, desprezo, ódio, melancolia, raiva e muita tristeza.

Em outros momentos arrancou sorrisos, gargalhadas, manifestou simpatia, atenção, sinceridade, cautela e acima de tudo amor. Ele sabia como cativar o público.

Sabia fazer com que cada um mergulhasse em seus mais profundos sentimentos.

Os corações oscilavam de um extremo a outro ao participarem daquele espetáculo. Era um artista de primeira linha...

Depois da salva de palmas, tudo ficou escuro e o silêncio imperou no ambiente. Não ouvia mais ninguém!


- Mas como se o teatro estava lotado? - O ego perguntava-se silenciosamente.


A luz se fez novamente. Ouviu o barulho de vidros se estilhaçando pelo chão.

Desceu apressado até as cadeiras que se encontravam vazias e teve a sensação de dejà-vu.

E a sensação de que aquilo já havia acontecido se confirmou, ao verificar que o público não passava de um amontoado de espelhos.


- Não pode ser! Era tudo real. Havia pessoas me assistindo. Acompanharam-me do início ao fim...


E mais uma vez o ego passava pelo mesmo tormento. Sentia-se enganado, sentia-se sozinho.


- Toda esta encenação para no final descobrir que todos eram apenas meras projeções do mim mesmo?!

- E quanto a todos aqueles sentimentos? Os suspiros, os cochichos, a conversa entre o público?


Ele estava mais uma vez arrasado! Não esperava apenas aplausos, mas também honras, louvores e graças por esta que classificava como sendo a melhor encenação dos últimos tempos!

Não havia mais nada, senão cacos espalhados pelo chão.

Caiu em prantos! Viu-se perdido. O desespero estava estampado em seu semblante. Dava gargalhada como se aquilo não estivesse acontecendo novamente.

Tentou fugir daquele lugar, porém não existia uma única saída.

A luz se apagou novamente. Era possível ver apenas alguns focos de luz, através de pequenas frestas na parede.

Passou anos preso no teatro escuro...

Ouviu novamente um ruído. Eram vozes! Olhou por uma gretinha e viu uma fila se formando do lado de fora.


Uma voz chamou-lhe a atenção! Ela vinha de dentro do teatro.

Assustado percebia que ela chamava-lhe pelo nome.


- Ego! Preciso de você aqui em cima. Vamos encenar mais uma vez.


Não havia reconhecido aquela voz que lhe era familiar.


- Não sei quem é você. Mas sinto que te conheço... Onde esteve todos estes anos em que fiquei preso dentro deste maldito teatro?


- Sempre estive, não estava. Portanto nunca estive, estou. Tudo o que foi feito e que logo depois se desfez e que agora se faz novamente é a manifestação de meu amor, que você traduz como palavras, pessoas, vozes, aplausos, sentimentos, espaço e tempo.

Antes de recomeçar, digo-lhe apenas uma coisa: Meu amor, equilíbrio absoluto, tem o objetivo de lhe dar a chance de sair de vez deste teatro.


Fez-se silêncio novamente. As luzes se acenderam.

Logo depois, as portas do teatro se abriram dando início a um novo espetáculo!



Fonte: http://hankarralynda.blogspot.com/2009/07/uma-salva-de-palmas-para-o-ego.html

domingo, 12 de julho de 2009

Long Time Sun - (Snatam Kaur)

Ahimsa e Ação - (Amma)



"Filhos, ahimsa (princípio da não-violência) deve se tornar um voto em nossa vida. Ahimsa evita o sofrimento do próximo que causamos através de nossas atitudes, palavras e pensamentos."

"Qualquer ação feita com a atitude correta, entendimento e discriminação nos leva para mais perto da Liberação. Mas se a mesma ação é feita sem a atitude correta, ela criará apego. A ação pode tanto criar purificação, que ajudará na realização da natureza divina, ou irá adicionar mais e mais à já existente negatividade, e eventualmente causará enorme sofrimento. Sempre que você estiver fazendo algo, faça com consciência. Se você estiver sempre atento, você irá lentamente perceber o peso desnecessário dos pensamentos negativos que você carrega. Estar sempre alerta ajuda a deixar todo peso cair e atingir a liberdade."

"Um Carma-Iogue é aquele que sempre lembra de Deus através de toda ação que está engajado. Um sadhak (aspirante espiritual) trabalha vendo Deus em tudo. Isso significa que ele oferece toda ação e seus frutos aos Pés de Deus. Sua mente não está no trabalho mas sim em Deus. Tudo depende da prática. Em outras palavras, aquele que pensa nos frutos da ação enquanto faz um trabalho, não irá fazê-lo colocando toda sua atenção, aplicando seu talento e habilidade. Ele deverá esquecer dos frutos para poder receber todo benefício do trabalho que faz. A sinceridade no trabalho que se faz é essencial. Se as ações são feitas com sinceridade e de coração, deverão resultar em bons frutos. Se do contrário, você se preocupa com os resultados, não só você falhará em colocar o esforço necessário, mas também não se terá o resultado esperado. Um pouco de dedicação é necessária para toda e qualquer ação. É como carregar um balde d'água na cabeça, pode-se até dançar, mas se a mente se distrair e perder a atenção, o balde cairá. Assim é como devemos agir. Qualquer coisa que se faça, a mente deve estar focalizada em Deus."

sábado, 11 de julho de 2009

Instâncias do Agora - (Eckhart Tolle & Krishnamurti)



Paulo Aza

Um homem que ama é puro ainda que possa ser sexual - (Krishnamurti)


"O homem intelectual, cheio de conhecimentos – o conhecimento é diferente da sabedoria -, o homem que tem esquemas, que quer salvar o mundo, que está cheio de conceitos, de projeções mentais, esse é o homem que está preso no sexo. Por causa da superficialidade de sua vida, do vazio de seu coração, o sexo se torna importante; e isso é o que está acontecendo na presente civilização. Temos cultivado excessivamente o nosso intelecto, e a mente se encontra presa em suas próprias criações, tais como o rádio, o automóvel, os entretenimentos mecânicos, o conhecimento tecnológico e aos diversos hobbies aos quais a mente se entrega. Quando uma mente se acha assim presa, para ela existe somente um alivio: o sexo. Senhores, observem o que ocorre com cada um de vocês, não olhem para outra pessoa. Ela é árida, vazia, opaca, tediosa, não é assim? Recorrem aos seus serviços, desempenham tarefas, repetem seus mantras, praticam seus rituais. Quando se encontram no serviço, estão submetidos, embotados, são obrigados a seguir uma rotina; em sua religião, se tornam mecânicos, aceitam meramente a autoridade.

Assim, religiosamente, no mundo dos negócios, na sua educação, na sua vida cotidiana, o que de fato ocorre? Não existe um estado de ser criativo, não é verdade?Não são felizes, não possuem vitalidade, não são pessoas alegres. Tanto no intelectual como no religioso, econômico, social e político, estão embotados, regimentados, não é assim? Essa regimentação é o resultado de seus próprios temores, de suas próprias esperanças e frustrações; e posto que para uma ser humano tão atrapalhado não há liberação possível, é natural que recorra ao sexo para liberar-se; ali pode dar-se o gosto, ali pode buscar a felicidade. Deste modo, o sexo se torna automático, habitual, rotineiro; e isso também chega a ser um processo embotador e nocivo. De fato, essa é a vida de vocês; verão que é assim se a consideram, se não tratam de se iludir, de buscar por mecanismos de fuga. O fato real é que não são criativos. Podem engendrar criaturas, inumeráveis criaturas, porém, isso não é uma ação criativa, é uma ação acidental da existência.

Portanto, uma mente que não é alerta, vital, um coração que não é afetuoso, pleno, como pode ser criativo? E, ao não serem criativos, vocês buscam estímulo por meio do sexo, do entretenimento, dos cinemas, teatros, observando como outros interpretam enquanto vocês permanecem como meros expectadores; outros pintam a paisagem ou dançam, e vocês não são mais do que observadores. Isso não é criação. Assim mesmo, no mundo são impressos tantos livros porque vocês tão somente lêem. Não são criadores. Onde não há criação, a única liberação é mediante ao sexo, e então, convertem suas esposas em prostitutas, Senhores, vocês não tem idéias das implicações, da perversidade, da crueldade de tudo isto. Se é que se sentem incomodados. Não pensam sobre isso. Fecham suas mentes; em conseqüência, o sexo se tornou um imenso problema na moderna civilização: ou a promiscuidade ou o hábito mecânico doa Lívio sexual no matrimonio. O sexo continuará sendo um problema, no entanto não há um estado criativo do ser. Vocês podem usar o controle da natalidade, podem adotar diversas práticas, porém, não estão livres do sexo. A sublimação não é liberdade, nem o é a repressão nem o controle. Existe liberdade somente quando há afeto, quando há amor. O amor é puro e, quando falta o amor, tratar de nos tornar puros mediante a sublimação do sexo é mera estupidez. O fator purificante é o amor, não o nosso desejo de ser puros. O homem que ama é puro ainda que possa ser sexual; e sem amor, atualmente o sexo é o que é em suas vidas: uma rotina, um processo desagradável, algo para ser evitado, ignorado, para prescindir dele para comprazer-se nele."

OBRAS COMPLETAS, Volume V – Bangalore, 8 de agosto de 1948

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Crer ... - (Luiz Antonio A Gasparetto )


"Então eu estou aqui
E você também
Me permita ser o teu espelho esta noite
E cantar em mim o teu encanto
Tua estranheza e teu espanto
Como quem sabe no fundo
Que não há distâncias neste mundo
Pois somos uma só alma
Me permita ser esta noite
A voz que te canta e te encanta de si
Que te faz sentir-se e parar
Como quem volta para casa
e resolve se amar.
Somos livres e não possuímos as pessoas
Temos apenas o amor por elas e nada mais
E é preciso ter coragem para ser o que somos
sustentar uma chama no corpo
sem deixar a luz se apagar
É preciso recomeçar no caminho que vai para dentro
vencendo o medo imaginado
assegurar-se no inesperado
confiando no invisível
desprezando o perecível
na busca de si mesmo
Ser o capitão da nau
no mais terrível vendaval
Na conquista de um novo mundo
mergulhar bem fundo
para encontrar nosso ser real
E rir pois tudo é brincadeira
Que cada drama é só nosso modo de ver
A vida só está nos mostrando
Aquilo que estamos criando
Com nosso poder de crer"


*** Poema compartilhado por "minha amiga e irmã de alma" Dagmar Witt.
Todo o meu amor!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Amor - (Krishnamurti)


"A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança atrai a insegurança. Já encontrastes alguma vez segurança em alguma de vossas relações? Já? A maioria de nós quer a segurança no amar e no ser amado, mas existirá amor quando cada um está a buscar a própria segurança, seu caminho próprio? Nós não somos amados porque não sabemos amar.

Que é o amor? Esta palavra está tão carregada e corrompida, que quase não tenho vontade de empregá-la. Todo o mundo fala de amor - toda revista e jornal e todo missionário discorre interminavelmente sobre o amor. Amo a minha pátria, amo o meu rei, amo um certo livro, amo aquela montanha, amo o prazer, amo minha esposa, amo a Deus. O amor é uma idéia? Se é, pode então ser cultivado, nutrido, conservado com carinho, moldado, torcido de todas as maneiras possíveis. Quando dizeis que amais a Deus, que significa isso? Significa que amais uma projeção de vossa própria imaginação, uma projeção de vós mesmo, revestida de certas formas de respeitabilidade, conforme o que pensais ser nobre e sagrado; o dizer "Amo a Deus" é puro contra-senso. Quando adorais a Deus, estais adorando a vós mesmo; e isso não é amor.

Incapazes, que somos, de compreender essa coisa humana chamada amor, fugimos para abstrações. O amor pode ser a solução final de todas as dificuldades, problemas e aflições humanas. Assim, como iremos descobrir o que é o amor? Pela simples definição? A Igreja o tem definido de uma maneira, a sociedade de outra, e há também desvios e perversões de toda espécie. A adoração de uma certa pessoa, o amor carnal, a troca de emoções, o companheirismo - será isso o que se entende por amor? Essa foi sempre a norma, o padrão, que se tornou tão pessoal, sensual, limitado, que as religiões declararam que o amor é muito mais do que isso. Naquilo que denominam "amor humano", vêem elas que existe prazer, competição, ciúme, desejo de possuir, de conservar, de controlar, de influir no pensar de outrem e, sabendo da complexidade dessas coisas, dizem as religiões que deve haver outra espécie de amor - divino, belo, imaculado, incorruptível.

Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher.

Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor? O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor a outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familial ou não familial? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção? O amor é prazer e desejo? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos idéias a respeito do amor, idéias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos.

Assim, para examinarmos a questão do amor - o que é o amor - devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer coisa em o que deveria ser e o que é, é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.

Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressá-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar, rejeitarei tudo o que a Igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda a humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos? Vejo-me confuso, dilacerado pelos meus próprios desejos e, assim, digo entre mim: "Primeiro, dissipa a tua confusão. Talvez tenhas possibilidade de descobrir o que é o amor através do que ele não é".

O governo ordena: "Vai e mata, por amor à pátria!" Isso é amor? A religião preceitua: "Abandona o sexo, pelo amor de Deus". Isso é amor? O amor é desejo? Não digais que não. Para a maioria de nós, é; desejo acompanhado de prazer, prazer derivado dos sentidos, pelo apego e o preenchimento sexual. Não sou contrário ao sexo, mas vede o que ele implica. O que o sexo vos dá momentaneamente é o total abandono de vós mesmo, mas, depois, voltais à vossa agitação; por conseguinte, desejais a constante repetição desse estado livre de preocupação, de problema, do "eu". Dizeis que amais vossa esposa. Nesse amor está implicado o prazer sexual, o prazer de terdes uma pessoa em casa para cuidar dos filhos e cozinhar. Dependeis dela; ela vos deu o seu corpo, suas emoções, seus incentivos, um certo sentimento de segurança e bem--estar. Um dia, ela vos abandona; aborrece-se ou foge com outro homem, e eis destruído todo o vosso equilíbrio emocional; essa perturbação, de que não gostais, chama-se ciúme. Nele existe sofrimento, ansiedade, ódio e violência. Por conseguinte, o que realmente estais dizendo é: "Enquanto me pertences, eu te amo; mas, tão logo deixes de pertencer-me, começo a odiar-te. Enquanto posso contar contigo para satisfação de minhas necessidades sociais e outras, amo-te, mas, tão logo deixes de atender a minhas necessidades, não gosto mais de ti". Há, pois, antagonismo entre ambos, há separação, e quando vos sentis separados um do outro, não há amor. Mas, se puderdes viver com vossa esposa sem que o pensamento crie todos esses estados contraditórios, essas intermináveis contendas dentro de vós mesmo, talvez então - talvez - sabereis o que é o amor. Sereis então completamente livre, e ela também; ao passo que, se dela dependeis para os vossos prazeres, sois seu escravo. Portanto, quando uma pessoa ama, deve haver liberdade - a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria.

No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender - em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer e o desejo.

O amor não é produto do pensamento, que é o passado. O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor. O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.

Não sabeis o que significa amar realmente alguém - amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem comparar - não sabeis o que isso significa? Quando há amor, há comparação? Quando amais alguém de todo o coração, com toda a vossa mente, todo o vosso corpo, todo o vosso ser, existe comparação? Quando vos abandonais completamente a esse amor, não existe "o outro".

O amor tem responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras? Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigado a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo. Quando há amor, não há dever nem responsabilidade.

A maioria dos pais, infelizmente, pensa que são responsáveis por seus filhos, e seu senso de responsabilidade toma a forma de preceituar-lhes o que devem fazer e o que não devem fazer, o que devem ser e o que não devem ser. Querem que os filhos conquistem uma posição segura na sociedade. Aquilo a que chamam responsabilidade faz parte daquela respeitabilidade que eles cultivam; e a mim me parece que, onde há respeitabilidade, não existe ordem; só lhes interessa o tornar-se um perfeito burguês. Preparando os filhos para se adaptarem à sociedade, estão perpetuando a guerra, o conflito e a brutalidade. Pode-se chamar a isso zelo e amor?

Zelar, com efeito, é cuidar como se cuida de uma árvore ou de uma planta, regando-a, estudando as suas necessidades, escolhendo o solo mais adequado, tratá-la com carinho e ternura; mas, quando preparais os vossos filhos para se adaptarem à sociedade, os estais preparando para serem mortos. Se amásseis vossos filhos, não haveria guerras.

Quando perdeis alguém que amais, verteis lágrimas; essas lágrimas são por vós mesmo ou pelo morto? Estais pranteando a vós mesmo ou ao outro? Já chorastes por outrem? Já chorastes o vosso filho, morto no campo de batalha? Chorastes, decerto, mas essas lágrimas foram produto da autocompaixão ou chorastes porque um ente humano foi morto? Se chorais por autocompaixão, vossas lágrimas nada significam, porque estais interessado em vós mesmo. Se chorais porque vos foi arrebatada uma pessoa em quem "depositastes" muita afeição, não se trata de uma afeição real. Se chorais a morte de vosso irmão, chorai por ele! É muito fácil chorardes por vós mesmo porque ele partiu. Aparentemente, chorais porque vosso coração foi atingido, mas não foi atingido por causa dele; foi atingido pela autocompaixão, e a autocompaixão vos endurece, vos fecha, vos torna embotado e estúpido.

Quando chorais por vós mesmo, será isso amor? - chorar porque ficastes sozinho, porque perdestes o vosso poder; queixar-vos de vossa triste sina, de vosso ambiente - sempre vós a verter lágrimas. Se compreenderdes esse fato, e isso significa pôr-vos em contato com ele tão diretamente como quando tocais uma árvore ou uma coluna ou uma mão, vereis então que o sofrimento é produto do "eu", o sofrimento é criado pelo pensamento, o sofrimento é produto do tempo. Há três anos eu tinha meu irmão; hoje ele é morto e estou sozinho, desolado, não tenho mais a quem recorrer para ter conforto ou companhia, e isso me traz lágrimas aos olhos.

Podeis ver tudo isso acontecer dentro de vós mesmo, se o observardes. Podeis vê-lo de maneira plena, completa, num relance, sem precisardes do tempo analítico. Podeis ver num momento toda a estrutura e natureza dessa coisa desvaliosa e insignificante, chamada "eu" - minhas lágrimas, minha família, minha nação, minha crença, minha religião - toda essa fealdade está em vós. Quando a virdes com vosso coração, e não com vossa mente, quando a virdes do fundo de vosso coração, tereis então a chave que acabará com o sofrimento.

O sofrimento e o amor não podem coexistir, mas no mundo cristão idealizaram o sofrimento, crucificaram-no para o adorar, dando a entender que ninguém pode escapar ao sofri mento a não ser por aquela única porta; tal é a estrutura de uma sociedade religiosa, exploradora.

Assim, ao perguntardes o que é o amor, podeis ter muito medo de ver a resposta. Ela pode significar uma completa reviravolta; poderá dissolver a família; podeis descobrir que não amais vossa esposa ou marido ou filhos (vós os amais?); podeis ter de demolir a casa que construístes; podeis nunca mais voltar ao templo.

Mas, se desejais continuar a descobrir, vereis que o medo, não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não é amor, a posse e o domínio não são amor, responsabilidade e dever não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de não ser amado não é amor, que o amor não é o oposto do ódio, como também a humildade não é o oposto da vaidade. Dessarte, se fordes capaz de eliminar tudo isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos dias depositada numa folha, então, talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou sequiosamente.

Se não tendes amor - não em pequenas gotas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre. Intelectualmente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar? Poderá uma autoridade, um método, um sistema ensinar-vos a amar? Se alguém vo-lo ensina, isso não é amor. Podeis dizer: "Eu me exercitarei para o amor. Sentar-me-ei todos os dias para refletir sobre ele. Exercitar-me-ei para ser bondoso, delicado e me forçarei a ser atencioso com os outros"? - Achais que podeis disciplinar-vos para amar, que podeis exercer a vontade para amar? Quando exerceis a vontade e a disciplina para amar, o amor vos foge pela janela. Pela prática de um certo método ou sistema de amar, podeis tornar-vos muito hábil, ou mais bondoso, ou entrar num estado de não violência, mas nada disso tem algo em comum com o amor.

Neste mundo tão dividido e árido não há amor, porque o prazer e o desejo têm a máxima importância, e, todavia, sem amor, vossa vida diária é sem significação. Também, não podeis ter o amor se não tendes a beleza. A beleza não é uma certa coisa que vedes - não é uma bela árvore, um belo quadro, um belo edifício ou uma bela mulher; só há beleza quando o vosso coração e a vossa mente sabem o que é o amor. Sem o amor e aquele percebimento da beleza, não há virtude, e sabeis muito bem que tudo o que fizerdes - melhorar a sociedade, alimentar os pobres - só criará mais malefício, porque, quando não há amor, só há fealdade e pobreza em vosso coração e vossa mente. Mas, quando há amor e beleza, tudo o que se faz é correto, tudo o que se faz é ordem. Se sabeis amar, podeis fazer o que desejardes, porque o amor resolverá todos os outros problemas.

Alcançamos, assim, este ponto: Poderá a mente encontrar o amor sem precisar de disciplina, de pensamento, de coerção, de nenhum livro, instrutor ou guia - encontrá-lo assim como se encontra um belo pôr-de-sol?

Uma coisa me parece absolutamente necessária: a paixão sem motivo, a paixão não resultante de compromisso ou ajustamento, a paixão que não é lascívia. O homem que não sabe o que é paixão, jamais conhecerá o amor, porque o amor só pode existir quando a pessoa se desprende totalmente de si própria.

A mente que busca não é uma mente apaixonada, e não buscar o amor é a única maneira de encontrá-lo; encontrá-lo inesperadamente e não como resultado de qualquer esforço ou experiência. Esse amor, como vereis, não é do tempo; ele é tanto pessoal como impessoal, tanto um só como multidão. Como uma flor perfumosa, podeis aspirar-lhe o perfume, ou passar por ele sem o notardes. Aquela flor é para todos e para aquele que se curva para aspirá-la profundamente e olhá-la com deleite. Quer estejamos muito perto, no jardim, quer muito longe, isso é indiferente à flor, porque ela está cheia de seu perfume e pronta a reparti-lo com todos.

O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de toda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito.

Podeis perguntar: "Se encontro esse amor, que será de minha mulher, de minha família? Eles precisam de segurança". Fazendo essa pergunta, mostrais que nunca estivestes fora do campo do pensamento, fora do campo da consciência. Quando tiverdes alguma vez estado fora desse campo, nunca fareis uma tal pergunta, porque sabereis o que é o amor em que não há pensamento e, por conseguinte, não há o tempo. Podeis ler tudo isto hipnotizado e encantado, mas ultrapassar realmente o pensamento e o tempo - o que significa transcender o sofrimento - é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada "amor".

Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há, então, o amor."

Krishnamurti - Do livro: Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix - Páginas 71 a 78